} Crítica Retrô: César e Cleópatra (1945)

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Monday, November 2, 2015

César e Cleópatra (1945)

Você deve saber que Elizabeth Taylor foi a primeira atriz de cinema a receber um milhão de dólares por um único filme: “Cleópatra”, em 1963. Antes dela, outras atrizes já haviam interpretado a mais famosa rainha do Egito, entre elas Theda Bara, Claudette Colbert e Vivien Leigh. Apenas Leigh pôde viver Cleópatra com uma surpreendente dose de humor, e um estilo muito parecido com o de Scarlett O’Hara, sua mais famosa personagem. Embora seja o Júlio César interpretado por Claude Rains o grande herói da história, todos os olhares se voltam para a mais bela joia do Nilo quando ela surge na tela.
Cleópatra é mostrada como uma jovem divertida, ingênua e muitas vezes inconsequente. Ela é um produto da dominação de Júlio César. Ele a toma como pupila e lhe ensina a comandar um reino com firmeza. O primeiro encontro dos dois se dá aos pés de uma esfinge, e aqui a voz aguda da inexperiente Cleópatra já denuncia sua ingenuidade. César a convence a levá-lo ao palácio, sem dizer-lhe quem realmente é. Ele dá suas primeiras lições sobre como tratar os escravos e como ter confiança. Quando Cleópatra descobre quem é seu conselheiro, a empatia já está formada.
César agora está instalado dentro do palácio, e toma decisões sobre a própria política do Egito. Um impasse ocorria entre Cleópatra e seu irmão / esposo (porque os nobres egípcios se casavam com seus irmãos para manter a pureza do sangue, algo que surpreende os romanos). Ptolomeu (Anthony Harvey), fraco e despreparado para governar o Egito, logo estará fora da questão, apesar dos esforços de seu gordo tutor Pothinus (Francis L. Sullivan).
A trajetória da Cleópatra de Vivien Leigh curiosamente muito se assemelha à de Scarlett O'Hara. Ela inclusive conta com uma “babá” ao estilo de Mammy (Hattie McDaniel): a fiel e inconformada Ftatateeta (Flora Robson). Da menina mimada e ingênua à mulher forte e tirana, Vivien passeia com a mesma graça, seja ela Scarlett ou Cleópatra na tela. Linda e de olhar penetrante (em especial nos close-ups perto do final), ela reproduz com muito charme a cena histórica em que Cleópatra é dada de presente para César, enrolada em um grande tapete. Nesta cena também merece destaque o entregador do tapete, o siciliano Apollodorus (Stewart Granger), em um traje romano minúsculo.
A era de ouro dos épicos bíblicos e históricos só aconteceria na década seguinte, e talvez “César e Cleópatra” seria melhor se fosse feito dez anos depois. A verdade é que alguns elementos grandiosos das superproduções em Cinemascope ou de Cecil B. DeMille já estavam ali presentes, e é o cenário que se destaca, junto com a surpreendente e maravilhosa mímesis de um pôr do sol nas areias do deserto egípcio.
Se você prestou atenção aos créditos, viu o nome de George Bernard Shaw. O dramaturgo escreveu a peça “César e Cleópatra” em 1898, e ela foi encenada pela primeira vez em 1901. Em 1945, a ideia era ter Vivien Leigh como Cleópatra e John Gielgud como Júlio César, mas Gielgud recusou o papel devido à sua antipatia para com o diretor e produtor Gabriel Pascal. Entre 1951 e 1952, Vivien Leigh interpretou Cleópatra nos palcos, em uma dupla sessão com Laurence Olivier ao seu lado, nos papéis de Júlio César e Marco Antônio. Fui durante uma das apresentações da peça que ela foi informada de que havia ganhado seu segundo Oscar.
E a empreitada de 1945 se transformou em uma grande peça de teatro filmada. Os diálogos são típicos do teatro, a ação é quase nula (não que isso seja ruim), e às vezes as imagens em locação se parecem mais com sets unidimensionais que locais reais. O esforço para filmar foi extremo, com uma custosa viagem ao Egito para buscar areia (!!!), gravações na Inglaterra (durante a Segunda Guerra Mundial, o que fazia com que as filmagens fossem interrompidas diversas vezes por bombardeios) e até a construção de uma esfinge cenográfica gigante. Quem pagou mais caro, entretanto, foi Vivien Leigh: grávida, ela foi obrigada pelo diretor a fazer uma cena arriscada sem dublê, escorregou no chão do palácio e sofreu um aborto espontâneo. Vivien jamais perdoou o diretor Gabriel Pascal pelo ocorrido.
Situado entre uma comédia histórica e um épico prematuro, “César e Cleópatra” ainda merece ser visto. Há, é claro, a especulação de como seria o filme se Olivier interpretasse César, uma vez que Claude Rains funciona mais como uma figura paterna para a Cleópatra de Vivien Leigh. Entre a eterna Scarlett e o eterno Capitão Renault não há nenhuma tensão sexual, e muito menos indícios do início de uma bela amizade.


This is my contribution to the Vivien Leigh and Laurence Olivier blogathon, hosted by Wolffian Classics Movies Digest.

5 comments:

Anonymous said...

This is quite a lovely post. I did not know there was a film version of Shaw's Caesar and Cleopatra! I enjoyed this, excellent research. I was sorry to read about Leigh's miscarriage but other than the sad backstory, this film looks like a lot of fun! Well done, my dear!
-Summer

Pedrita said...

esse eu não vi. só conheço o com a elizabeth taylor. falei de filme clássico no meu blog. beijos, pedrita

Carol Caniato said...

Olha, eu acho que nunquinha na vida vi um único filme sobre a Cleópatra! É estranho porque conheço a história e sinto que já vi algum, mas não hahaha Tenho que consertar essa situação!

Claudio said...

Li numa entrevista em que Vivien Leigh conta fez a composição da personagem baseada em um gato e assistindo ao filme dá para notar isso, sua Cleopatra tem gestos bem felinos, é muito interessante e mais uma maravilhosa interpretação de uma das minhas atrizes favoritas.

Claudio said...

Li numa entrevista em que Vivien Leigh conta fez a composição da personagem baseada em um gato e assistindo ao filme dá para notar isso, sua Cleopatra tem gestos bem felinos, é muito interessante. O filme tem um ritmo muito lento e é um pouco cansativo, mas vale pena assistir para ver mais uma maravilhosa interpretação de uma das minhas atrizes favoritas.

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