Arrisco-me
dizendo que 1939 foi o ano mais importante para o século XX. Em 1939 começou a
Segunda Guerra Mundial, conflito que marcaria a história da humanidade. Em 1939
a Guerra Civil Espanhola terminou. Em 1939 Batman fez sua primeira aparição nos
quadrinhos. E em 1939 os westerns ressuscitaram – e não somente eles, também
alguns dos “venenos de bilheteria”, as personas non gratas de Hollywood.
Marlene Dietrich foi uma delas.
Em
“Atire a Primeira Pedra / Destry Rides Again”, temos todos os elementos que
povoam um gênero cinematográfico e o imaginário sobre o Velho Oeste. Saloon?
Temos. Muita bebida? Temos. Xerifes? Temos. Jogos de pôquer? Temos. Bêbados e
músicos malucos? Temos. Tiroteio? Temos. Pegue seu chapéu e não se esqueça das
esporas: o western está mais vivo do que nunca.
Após o
xerife Keogh (Joe King) ser assassinado a mando do inescrupuloso Kent (Brian
Donlevy), dono do saloon, o prefeito aponta Washington Dimsdale (Charles
Winninger), um músico bêbado, como novo xerife. Mas Washington é mais esperto
do que parece e, para moralizar a cidade, chama Tom Destry Jr. (James Stewart),
filho do homem que “limpou Tombstone”.
Mas
Destry não parece nem um pouco perigoso: alto, sorridente, cavalheiro, tem como
hobby fazer pequenas esculturas de madeira e, para completar, não carrega
consigo uma arma. Por isso ele se torna motivo de escárnio para a dançarina
Frenchy (Marlene Dietrich). Conseguirá Destry, sem usar violência, provar que o
xerife Keogh foi assassinado e colocar os criminosos na cadeia?
São
responsáveis pelo humor do filme Mischa Auer, como o ciumento vagabundo Boris,
e Charles Winninger, excelente ator que em 1953 protagonizaria o belo e
esquecido filme de John Ford “O Sol Brilha na Imensidão / The Sun Shines Bright”.
Em
1939, a carreira de James Stewart se consolidava. É neste ano que ele
interpreta seu melhor e mais visceral papel (porém não o mais famoso) em “A
Mulher faz o Homem / Mr Smith Goes to Washington”. Stewart só ficou com o papel
de Destry porque Gary Cooper pediu um salário alto demais e foi dispensado pela
produção. Com Marlene Dietrich, ele protagoniza uma das melhores brigas de
saloon de todos os tempos (deixando para trás John Wayne e Randolph Scott em “Indomável
/ The Spoilers”, de 1942).
Em
1938, um infeliz proprietário de cinema chamado Harry Brandt escreveu um artigo
listando os “venenos de bilheteria”, atores e atrizes que recebiam altos
salários em seus estúdios, mas cujos filmes não eram sucesso de bilheteria. Na
lista negra estavam Dietrich, Katharine Hepburn, Joan Crawford, Mae West, Greta
Garbo, Kay Francis e Fred Astaire. O artigo teve grande impacto no meio
cinematográfico, e 1938 foi um ano de vacas magras e poucas oportunidades para
os artistas citados.
Quase
todos os venenos de bilheteria deram a volta por cima. Em 1939, Garbo fez “Ninotchka”
e Crawford fez “As Mulheres / The Women”. Em 1940, Hepburn voltou triunfante
com “Núpcias de Escândalo / The Philadelphia Story” e Mae West se juntou a W.C.
Fields para “Minha Dengosa / My Little Chickadee”. Fred Astaire voltou a
dançar, nos anos seguintes, com Eleanor Powell, Rita Hayworth e Cyd Charisse.
Marlene
Dietrich, após negar uma oferta do Terceiro Reich para voltar para a Alemanha e
se tornar “estrela nazista”, foi convencida a participar de “Atire a Primeira
Pedra / Destry Rides Again” por dois dos homens mais importantes de sua vida:
Josef Von Sternberg e Erich Maria Remarque. Remarque inclusive argumentou que
participar de um western faria com que o público americano simpatizasse com
Marlene, e assim ela poderia combater os nazistas.
Marlene
havia deixado a Paramount depois de ser chamada de veneno de bilheteria. Em
1939, a Universal Pictures já havia passado por sua fase áurea com Drácula,
Frankenstein e derivados. O estúdio sobreviva com Deanna Durbin e filmes de
baixo orçamento, e vez ou outra recebia algum astro “emprestado” de outro
estúdio. A mistura de humor e ação do filme foi certeira, e “Atire a Primeira
Pedra / Destry Rides Again” foi muito elogiado.
Divertido,
100% western, com um final coerente para o romance sub-explorado de Destry e
Frenchy (que espelharia o romance real acontecendo entre Stewart e Dietrich),
este filme é uma pérola do prolífico e seguro diretor George Marshall.
This is
my contribution to the Universal Pictures Blogathon, hosted by Constance and Diana
Metzinger at Silver Scenes.
6 comments:
não vi. beijos, pedrita
I love Dietrich in Westerns - I've reviewed another one of hers, but I think this one is better. Really enjoyed your piece, Le.
"Destry Rides Again" is one of my favourite films and I absolutely adore Dietrich as Frenchy. Wonderful choice and article for the blogathon.
Marlene sempre charmosa.
Adoro ela.
Gosto muito dela cantando também. Me inspira a aprender alemão.
Beijos <3
You picked a great film to write about, my dear, and did it beautifully. I am not a big Marlene fan, but how can you not love her in this?
I didn't know there were so many stars who were considered "box office poison" in 1938. Must've been even harder for them back then than it would be today, since the studios controlled their careers.
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