} Crítica Retrô: Monstros / Freaks (1932)

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Saturday, July 9, 2016

Monstros / Freaks (1932)

O ano era 2009, e eu era uma recém-chegada no mundo do cinema. Tinha 16 anos e era fácil de impressionar. Não sei por que abri uma lista com o título “os 10 filmes mais impressionantes da história”. Lá, na 10ª posição, uma imagem já me assustou: o Homem-Torso de “Monstros”, um estranho filme de 1932 que eu desconhecia. Era um filme sobre um circo de horrores, feito com membros do circo de horrores. Eu fui perseguida por aquela imagem durante um bom tempo – e, claro, resolvi não assistir ao filme quando ele passou na televisão.

The year was 2009, and I was a newcomer to the film world. I was 16 and easily impressed. I don’t know why I opened a list with the title “the 10 most horrifying films ever”. There was, in the 10th place, an image that scared me: the Living Torso from “Freaks”, a weird 1932 film I hadn’t heard about until then. It was a film about a freak show, with real freak show attractions as actors. I was haunted by that image for a good time – and, of course, I decided not to watch the film when it was on TV. 


Mas chega uma hora em que temos de enfrentar nossos medos – mesmo que eles estejam na figura de um filme de mais de 80 anos e apenas uma hora de duração. De 2009 até hoje, enfrentei outros medos – e inclusive vi American Horror Story: Freak Show, que se passa em um show de horrores com muito sangue.

But there comes a time when we have to face our fears – even if they appear to us as an 80 year-old, 60 minute-long film. From 2009 until today, I faced other fears – and even watched American Horror Story: Freak Show, that is set in a circus with a lot of blood. 


Em geral, os mais assustadores filmes de terror não têm nenhum monstro ou atividade paranormal: o horror surge quando nos damos conta do que um ser humano é capaz de fazer com o outro. O que o diretor Tod Browning queria que assustasse o público é a maneira fria como a trapezista Cleopatra (Olga Baclanova) e seu parceiro Hercules (Henry Victor) planejam ficar com a fortuna do anão Hans (Harry Earles), que está apaixonado por Cleopatra.

In general, the scariest horror films don’t have any monster or supernatural activity: the source of horror is what a human being is willing to do with another human being. The one thing director Tod Browning wanted to cause repulsion in the audience was the way trapeze girl Cleopatra (Olga Baclanova) and her partner Hercules (Henry Victor) plan to get the money from the dwarf Hans (Harry Earles), who is in love with Cleopatra.


O filme sofre um pouco por não ter atores profissionais nos papéis de Hans e Daisy. Entretanto, as lágrimas de Daisy na cena do casamento compensam todos os erros, e dão início à cena mais emblemática do filme. Como Pauline Kael disse, “Monstros” é ótimo, mas teria sido ainda melhor e mais poderoso se fosse um filme mudo.

The film suffers a little because Hans and Daisy are not played by Professional actors. However, Daisy’s tears in the wedding scene compensate all the mistakes, and mark the beginning of the most emblematic scene in the film. As Pauline Kael said, “Freaks” is great, but would have been better and more powerful had it been a silent film.


Como um longo texto que precede o filme nos conta, a humanidade sempre amou a beleza – e talvez você, cinéfilo, conhece alguém que se recusa a ver um filme que “não seja bonito”. Mas o que pode ser considerado “bonito”? A beleza não está nos olhos de quem a vê?

As a long text before the movie tells us, the humanity has always loved beauty – and maybe you, cinephile, know some people who won’t watch a movie because “it’s not beautiful”. But what can be considered “beautiful”? Isn’t beauty in the eyes of the beholder?

O problema é que as pessoas normalmente não conseguem ver além das aparências. Esta é a lição do filme: algumas pessoas podem ser lindas por fora, mas são podres por dentro.

The problem is that people can’t usually see through the appearance. This is the lesson of the film: some people can be beautiful on the outside, but rotten inside.


Mas o público e o alto escalão da MGM ficaram chocados com as “aberrações”. Há, sim, situações chocantes, como por exemplo o casamento de uma das irmãs siamesas, sendo que a outra não gostava do noivo... mas teria de dividir a cama com ele e sentir as mesmas coisas que a irmã.

But the audience and MGM’s high chiefs were shocked only with the “freaks”. There are shocking moments, indeed, like when one of the conjoined twins gets married and the other twin, who doesn’t like her sister’s groom, has to share the bed with him and feel everything the sister does with him.


O resultado do escândalo foi um longo corte no filme, com 30 minutos extras hoje considerados perdidos, e que certamente fariam toda a diferença na narrativa. Mais uma vez, a intolerância e a hipocrisia ganharam. Não duvido que as pessoas que mais reclamaram do filme não estavam enojadas com as “aberrações”, mas sim consigo mesmas e com seu comportamento em relação àqueles deficientes.

The result of the scandal was a long second cut, with 30 extra minutes that today are considered lost, and that certainly would shine a new light in the storytelling. Once again, intolerance and hypocrisy won. I have no doubt that the people who complained the most about the film weren’t disgusted by the “freaks”, but by themselves and their behavior towards those handicapped people.


Se você já sofreu bullying, ou se já foi chamado de aberração, este filme será doloroso de assistir. Em 2009, ano em que ouvia falar pela primeira vez deste filme, estava no pior momento da minha vida. Infelizmente, eu não tinha um grupo de amigos com um código de honra, prontos a se vingarem por mim. Foi bom eu não ter visto o filme naquela época. E, quando finalmente o vi, não precisei aprender a lição: eu já sabia que o segredo da vida é tolerância, sempre.

If you’ve ever been bullied, if you’ve been ever called a freak, this film will be painful to watch. In 2009, the year I first heard about this film, I was in the lowest point of my life. Unfortunately, I didn’t have a group of friends with an honor code to avenge me. It was good that I didn’t watch the film back then. And, when I finally saw it, I didn’t have to learn the lesson: I already knew that the secret of a good life is tolerance, always.

This is my contribution to the Hot and Bothered: the films of 1932 blogathon, hosted by Aurora and Theresa at Once Upon a Screen and CineMaven’s Essays from the Couch.

11 comments:

Pedrita said...

eu sou fascinada por esse gênero. ontem vi da academia de palhaços nosferatu em homenagem ao de murnau. nossa, demais. ainda não falei no meu blog. concordo, os assustadores às vezes nem são tão macabros assim. o q mais me assustou foi o primeiro carrie a estranha. nunca esqueci. o clima de tensão era insuportável. o iluminado dá essa sensação tb. interessante q eu li o livro e dá tensão, mas o jogo de palavras tem outros aspectos. nossa, quero muito ver esse. amei o post. beijos, pedrita

Caftan Woman said...

"Freaks" is a movie that touches my heart. Your honest assessment of such an important film is inspiring.

Hugo said...

É um filmaço, que vai além dos personagens com deficiência. É uma história de amor, ódio, preconceito e vingança.

Hoje, na época da hipocrisia do politicamente correto, seria impossível rodar um filme como este. Tod Browning seria atacado de todas as formas.

Abraço e uma ótima semana.

Hal C. F. Astell said...

Great choice! I adore this film, which tells everyone who's different that it's OK, you have a family. Gooble, gobble, we accept you.

Virginie Pronovost said...

This was a very special film! Excellent and thoughtful review Leticia. I really enjoyed it! :) Don't forget to read mine as well!

https://thewonderfulworldofcinema.wordpress.com/2016/07/10/the-strangeness-of-rich-and-strange/

Anonymous said...

Hi Le. This is an extremely well written article. Somehow this film has managed to elude for years, but now after reading this, I must check it out.

I also invite you to read my article for the blogathon

https://crystalkalyana.wordpress.com/2016/07/11/red-dust-1932/

Irish Jayhawk said...

I love this film. As you say, this film does a great job of pulling back the covers on the definition of beauty. And what's most important? The beauty of the heart, not the superficial exterior shell. I love how this film shows what a strong bond this circus family shares. And just like any real family, not every moment is rosy and people can make mistakes but it's very real. And in the trenches, they stick together. Great piece, Le!

Silver Screenings said...

Loved this review because you shared your personal connection. (I'm sad to hear you had such a low point in life, but glad to hear that's in the past. I'm also glad you didn't watch the film back then!)

Our society has a very narrow definition of beauty and we need more films to help us change that. Your review of Freaks will go a long way towards that, I hope :)

tracyhepburnfan said...

Great article! I love how personal you made it. I think you will draw more people to see this movie.

Unknown said...

Freaks is one of the great horror films out there. I love its odd ball point of view, it is such a unique film for that or any period.

Anonymous said...

Beautiful Analysis!!
I've heard of this, but am yet to see it!! I'd love to.
Being bullied is something, I've been through too.
I like the way you've mentioned how people only see the outer beauty.
I loved AHS:Freak Show, as well!
After reading your post, am even more keen on checking this out.

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