} Crítica Retrô: Os Olhos Sem Rosto / Eyes Without a Face / Les Yeux san visage (1960)

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Thursday, September 7, 2017

Os Olhos Sem Rosto / Eyes Without a Face / Les Yeux san visage (1960)

ESTE ARTIGO CONTÉM SPOILERS

THIS ARTICLE HAS SPOILERS
Os créditos surgem acompanhados por uma música sinistra de parque de diversões. A tela está quase preta, mas podemos sentir que estamos nos movendo pelas árvores que passam – seríamos nós passageiros em uma carruagem fantasma? Não, nós estamos apenas no carro de uma mulher que carrega um cadáver no banco de trás. Do cadáver, ela quer apenas o rosto. O filme começou há cinco minutos e já sentimos vários arrepios na espinha.

The credits roll accompanied by a sinister merry-go-round music. The screen is nearly black, but we can sense we’re moving by the trees passing by us – maybe we’re passengers in a phantom carriage? No, we’re riding along a woman who carries a lifeless body in her car. From the body, she wants just the face. We’re five minutes into the film and already have chills down our spines.
Agora vemos um cientista dando uma palestra sobre como evitar a rejeição em transplantes de órgãos. Assim como na palestra que abre “O Médico e o Monstro”, de 1931, um cientista fala abertamente na frente de um grupo de pessoas sobre os próximos passos de sua perigosa próxima experiência.

Now we have a scientist giving a lecture about how to avoid rejection in organ transplantations. Just like in the opening lecture from 1931’s “Dr Jekyll and Mr Hide”, a scientist discusses in front a group of people the steps of his next dangerous experiment.
O cientista é o Dr Génessier (Pierre Brasseur), cuja filha desapareceu recentemente. Ela foi vítima de um acidente de carro e ficou com o rosto desfigurado. Ela fugiu da clínica onde recebia tratamento. Só que nada disso aconteceu – o pai a tirou da clínica e começou a fazer experiências com transplantes faciais nela.

The scientist is Dr Génessier (Pierre Brasseur), whose daughter disappeared recently. She was a victim in a car crash and her face was left disfigured. She ran away from the clinic where she was been treated. Except she didn’t – her father took her away and started experimenting with facial transplantation surgery on her.
A filha, Christiane (Edith Scob) não está nada feliz. Ela vive trancada em uma luxuosa mansão, e precisa usar uma máscara para cobrir suas feridas. Ela passa por diversas cirurgias perigosas e complexas, mas seu corpo rejeita os novos rostos. E de onde vêm os rostos? Bem, de jovens mulheres raptadas e mortas pelo Dr Génessier e sua assistente Louise (Alida Valli), que, aliás, era a mulher dirigindo o carro na primeira cena. Louise oferece um quarto para uma moça alugar e lá vai – começa o corte.

The daughter, Christiane (Edith Scob) is not happy at all. She lives locked in a lavish mansion, wearing an ugly mask to cover her wounds. She goes through several dangerous and complex surgeries, but her body keeps rejecting the new faces. And where do the faces come from? Well, from young women kidnapped and killed by Dr. Génessier and his assistant Louise (Alida Valli), who, by the way, was the woman driving the car in the opening scene. Louise offers the girl a room to rent, and there they go – cutting her mercilessly.
Por falar em corte, preciso dar um alerta de gatilho em potencial: há uma sequência altamente gráfica envolvendo uma cirurgia no meio do filme. Primeiro, Christiane tira a máscara e a mais nova vítima, Edna (Juliette Mayniel) vê o rosto dela sem estar coberto. É uma revelação ao estilo “Fantasma da Ópera”, com uma imagem desfocada que aos poucos revela um rosto destruído. Logo após este momento, acontece a cirurgia. É o básico da cirurgia plástica dos anos 60: o Dr Génessier marca o local com um lápis e ali faz o corte, de onde sai muito sangue – falso, obviamente. Não há problema em se sentir enojado e fechar os olhos – ou ficar com as mãos no seu próprio rosto para ter certeza de que ele ainda está lá, como eu fiz enquanto via.

Since we’re talking about cutting, a trigger warning must be given: there is a very graphic surgery scene in the middle of the movie. First, Christiane takes off her mask and the newest victim, Edna (Juliette Mayniel) sees her face without a mask. It’s a “Phantom of the Opera”-style revelation, with an unfocused image that slowly reveals a destroyed face. Right after this moment, the surgery happens. It’s 1960’s plastic surgery 101: Dr Génessier marks the place with a pencil, then comes the cutting and the fake blood. It’s OK to be disgusted and to look away – or to keep touching your face to make sure it’s still there, like I did while watching.
Como poderíamos classificar Génessier enquanto cientista: bom, maluco ou solitário? De certa maneira ele é bom, porque quer ver a filha feliz e perfeita novamente. Mas para conseguir isso ele se torna um cientista maluco e mata mulheres para pegar os rostos delas e transplantar em Christiane. Mas acima de tudo, eu acredito que ele é solitário. Ele perdeu a esposa quatro anos antes do acidente com Christiane, e agora a filha é tudo para ele. Ele se sente responsável pelo acidente e quer consertar as coisas – mesmo que para isso ele deixe um rastro de sangue e destrua muitas outras vidas. Dito isso, podemos sentir a solidão e o vazio de sua alma em seu rosto sem expressão – porque mesmo sem um rosto, Christiane é mais expressiva que o pai, e usa apenas os olhos para isso.

How would we classify Génessier as a scientist: good, mad or lonely? In a sense he is good, because he wants to see his daughter happy and perfect again. But in order to do this he goes mad and kills women to get their faces to transplant in Christiane. But above all, I believe he is lonely. He lost his wife four years before Christiane’s accident, and now the girl is everything to him. He feels responsible for the accident and wants to fix things – even if this leaves blood everywhere and destroys many other lives. That being said, we can feel the loneliness and the emptiness of his soul by his face without an expression – yes, because even without her face, Christiane is more expressive with her eyes than his father with his full face.
Todos os atores no filme estão muito bem. Esta foi a primeira vez que eu vi Pierre Brasseur em um filme, mas ele esteve em outras produções famosas que eu ainda pretendo ver. Alida Valli é linda e assustadora, e Edith Scob – que trabalha no cinema até hoje – é simplesmente maravilhosa. O diretor Georges Franju foi muito feliz na escolha da trilha sonora – ou na escolha de não ter trilha sonora em algumas sequências, como na da cirurgia. Ao contrário da cena do chuveiro de “Psicose”, nós não podemos imaginar esta cena acompanhada de nenhuma música – o que simplesmente arruinaria o clima de tensão.

Everybody in this movie is extremely good. This was the first time I saw Pierre Brasseur in a movie, but he made many other famous films I have yet to see. Alida Valli is gorgeous and scary, and Edith Scob – who is still making movies nowadays – is simply wonderful. Director Georges Franju is very successful in the choice of the music – or the choice of not having music in some sequences, like the surgery. Unlike “Psycho”’s shower scene, we can’t imagine this scene accompanied by any song – it’d simply ruin the tense effect.
“Os Olhos sem Rosto” foi, assim como muitos filmes revolucionários, mal recebido pelo público e pelos ditos “críticos”. A cena da cirurgia foi censurada em diversos mercados estrangeiros, e causou frisson nos países em que foi exibida sem cortes. Como filme de terror, “Os Olhos sem Rosto” é um os melhores do gênero. Mas como o próprio Franju considerava que este era um filme sobre angústia, devemos dizer: “Os Olhos sem Rosto” é o melhor filme sobre angústia já feito.

“Eyes Without a Face” was, like many groundbreaking films, received badly by the public and the so-called “critics”. The surgery scene was often censored in foreign markets, and caused frisson wherever it was fully exhibited. As a horror movie, “Eyes Without a Face” is one of the best of the genre. But since Franju himself considered it an anguish movie, we must say: “Eyes Without a Face” is the best anguish movie ever made.


This is my contribution to the Movie Scientist blogathon, hosted by Christina at Christina Wehner and Ruth at Silver Screenings

6 comments:

Caftan Woman said...

You wrote a moving and emotional piece on this classic horror film. I could definitely feel that anguish.

Silver Screenings said...

I had to laugh when you said you kept touching your face while watching this film. I would probably do the same thing!

This film sounds horrifying and sad and VERY thought-provoking, all at the same time. How far would we go to help a person we cherish?

Thanks for joining the blogathon, and for sharing this thoughtful essay with us.

Unknown said...

Yikes, I wanted to touch my face while reading about the surgery! This sounds very chilling and tragic at the same time. And your screen shots of the daughter wearing the mask are haunting.

I had been considering watching this, but didn't know too much about it. I definitely want to see it now; though, like you, I might look away during the surgery. :)

Thanks for such a lovely review of this film and for joining the blogathon!

Chloe the MovieCritic said...

Just reading about it gives me the chills!

JT said...

I love this movie! She's so ghostly and creepy through so much of it, and the gruesomeness Franju got away with is impressive for its time.

Amy Condit said...

Thank you for writing about this film! I'm scared to see it, but I'm eager to watch it now after reading your thoughts about it.

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