Eu tenho uma confissão a fazer: eu quase nunca
choro em casamentos vendo filmes. Em geral eu consigo separar a experiência
fílmica das minhas emoções, e assim sou capaz de analisar um filme
criticamente. Mas eu também tenho um calcanhar de Aquiles. E minha fraqueza é
esta: filmes envolvendo idosos. Talvez porque eu fui criada pelos meus avós,
não consigo ver pessoas de idade sofrendo, por isso filmes como “As Memórias de
Marnie” (2015) conseguem partir meu coração de pedra. E “A Cruz dos Anos”
(1937) simplesmente esmagou minha alma.
I have a confession to
make: I almost never cry in weddings watching movies. I often separate my
viewing experience from my emotions and I'm able to analyze a film critically.
But I also have a cryptonit. And my weakness is this: films involving the
elderly. Maybe because I was raised by my grandparents I can't see old people
suffering, so films like “When Marnie was There” (2015) break my stone heart.
And, man, “Make Way for Tomorrow” (1937) really crushed my soul!
“A Cruz dos Anos” começa com o casal idoso Lucy
(Beulah Bondi) e Barkley Cooper (Victor Moore) reunindo todos os seus filhos
para comunicá-los que a casa deles foi tomada pelo banco, e eles não têm mais
onde morar. Eles têm cinco filhos, todos crescidos, alguns inclusive casados, e
nenhum deles quer acolher os pais. Então, eles decidem que o pai vai para a
casa de um deles e a mão para a de outra.
“Make Way for Tomorrow” begins with elderly couple Lucy (Beulah Bondi)
and Barkley Cooper (Victor Moore), who reunite all their children to tell their
house has been taken by the bank, and they have nowhere else to live. They have
five children, all grown up, some of them married, and no one wants to take
their parents in. So, they decide the father will go to one house and the
mother to other.
O que você mais deve ter com os idosos é
paciência. Nenhuma das “novas famílias” parece ter um pouquinho de paciência
sequer com Lucy e Barkley. Barkley inclusive tenta, com otimismo, conseguir um
trabalho e reconquistar o controle financeiro sobre sua vida, de modo que ele
possa voltar a viver com Lucy em uma casa só deles. Mas quem queria um velho
como empregado em 1937? Quem quer hoje?
The main thing you must
have with the elderly is patience. None of the “new families” seem to have any
patience with Lucy and Barkley. Barkley even tries, optimistically, to look for
a job and regain financial control of his life, so he can move in with Lucy
again in a place that is their own. But who wanted an old man as an employee in
1937? Who wants one now?
Lucy também está otimista com relação ao futuro,
e sua neta de 17 anos ri deste fato e diz para a avó “cair na real”. A resposta
de Lucy para a pestinha é educada e poética, mas a atitude da garota me fez
refletir.
Lucy is also optmistic
about the future, to what her 17 year-old granddaughter laughs and tells her
grandma to “face facts”. Lucy's answer to the little brat is polite and
poetical, but the girl's attitude made me think.
Barbara Read, que interpretou a neta Rhoda, tinha
20 anos quando “A Cruz dos Anos” foi lançado. Ela morreu sem chegar à
“velhice”: ela tinha 45 anos quando
cometeu suicídio. Ela era tão despreocupada e cheia de vida no filme, e em
menos de 30 anos estava morta. Todos os personagens despreocupados e cheios de
vida do filme estão mortos hoje. Nós estamos todos despreocupados e cheios de
vida em um minuto, piscamos, os anos passam e nós também sentimos o peso da
cruz dos anos.
Barbara Read, who played
granddaughter Rhoda, was 20 when “Make Way for Tomorrow” was released. She died
without reaching “old age”: she was 45 when she commited suicide. She was so
carefree and full of life in the film, and in less than 30 years she was gone.
All the carefree and full of life characters in the film are also gone now. We
are all carefree and full of life in a minute, we blink, the years pass and we
have to make way for tomorrow, too.
Em uma sequência emocionante, Lucy e Barkley têm
uma última tarde juntos antes de serem cruelmente separados. No bar de um
hotel, eles se lembram dos velhos tempos, das pessoas daquele tempo, algo que
meus avós também fazem muito. Depois de assistir ao filme, eu entendi que nós
não devemos interromper estes momentos, mas sim ficarmos felizes porque a
reminiscência os deixa contentes.
In a heartfelt sequence,
Lucy and Barkely have one last afternoon together before being cruelly
separated. In a hotel bar, they reminisce about the old times and the old
folks, something my grandparents do a lot, too. After watching the film, I
understood that we mustn't interrupt these moments, but be happy because
reminiscing makes them happy.
O diretor Leo McCarey decidiu fazer este filme
após a morte de seu pai – ele não pôde ir ao funeral porque ficou muito doente
durante a filmagem de outro filme. McCarey tratou o projeto com grande amor e
interesse, trabalhando um ano inteiro nele, aceitando um salário reduzido e
brigando com Adolph Zukor, chefe da Paramount, que queria um final feliz.
Quando McCarey ganhou o Oscar de Melhor Diretor no ano seguinte por “Cupido é
Moleque Teimoso”, ele declarou que havia ganhado o prêmio pelo filme errado –
mostrando como ele levava “A Cruz dos Anos” em maior consideração.
Director Leo McCarey
decided to do this film after his father's death – he wasn't able to attend the
funeral because he got very sick on the set of a film. McCarey held the project
with special love and interest, working a full year on it, accepting a reduced
salary and fighting Adolph Zukor, Paramount's boss, who wanted a happy ending.
When McCarey got the Best Director Oscar the following year for “The Awful
Truth”, he said he got the award for the wrong film – showing how much he took
“Make Way for Tomorrow” in consideration.
Em 1937, a expectativa de vida nos Estados Unidos
era de 58 anos para homens e 62 para mulheres. Ambos Lucy e Barkley tinham mais
de 70, mas seus intérpretes eram mais jovens. Victor Moore tinha 61 anos em
1937, já havia trbalhado no vaudeville e em diversas comédias mudas. Ele viveu
até os 86. Beulah Bondi tinha apenas 49 anos quando “A Cruz dos Anos” foi
feito, e era uma famosa atriz de teatro que interpretou diversas mães no
cinema. Ela viveu até os 91.
In 1937, life expectancy
in the US was 58 years for men and 62 for women. Lucy and Barkley are both past
70, but the actors were not. Victor Moore was 61 in 1937, had already worked in
vaudeville and numerous silent comedies. He lived to be 86. Beulah Bondi was
only 49 when “Make Way for Tomorrow” was made, and was an accomplished stage
actress who played mostly mothers onscreen. She lived to be 91.
Orson Welles disse que “A Cruz dos Anos” era
capaz de fazer uma pedra chorar – acho que ele estava se referindo a mim!
George Bernard Shaw escreveu uma carta parabenizando McCarey pelo excelente
film. Yasujirô Ozu se inspirou neste filme para fazer sua obra-prima, “Era uma
vez em Tóquio” (1953). Ao final, Lucy e Barkley, assim como Blanche Dubois,
dependeram da bondade de estranhos, e não puderam confiar em seus próprios
filhos. E, ao final, eu chorei.
Orson Welles once said
that “Make Way for Tomorrow” could make a stone cry - I think he was referring
to me! George Bernard Shaw wrote a letter congratulating McCarey for the
terrific film. Yasujirô Ozu was inspired by this film to make his masterpiece,
“Tokyo Story” (1953). In the end, Lucy and Barkley, like Blanche DuBois,
depended on the kindness of strangers, and couldn't trust their own children.
And, in the end, I sobbed.
This is my contribution to the “No, YOU’RE crying” blogathon, hosted by Debbie at Moon in Gemini.
8 comments:
I am a crier. I admit it. And Make Way for Tomorrow pushes me to the edge. While sobbing I am shouting at the screen for one of those kids to do something - to do the right thing. My heart breaks just thinking about the betrayal and the lame justifications.
You did a wonderful job writing about this emotional film.
I said in my own post I don't like sobbing sentimental stories. Probably because I do get emotional sometimes and I do not like the way that makes me feel about myself in general. Which may make you wonder why I joined this blogathon in the first place... I'm crazy, a complete lunatic, that's why... Good review.
I'd like to see this movie one day, but honestly, I don't know if I could sit through it.
You almost made me a little teary reading this review! I admit I've never heard of this film, but I would really like to see it after reading your post. I'll track it down on a day I need a good cry.
I've got this one checked out from the library right now, so I'll be watching it very soon!
I've seen this film--not that long ago in fact--and it's lovely. I didn't know that detail about McCarey's father, which gives the story even more meaning. It's also a very rare film that has ageing as its subject matter.
Thank you so much for joining in the blogathon!
Desde o Barba Ruiva do Kurosawa que eu não chorava tanto ao assistir um filme...
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