} Crítica Retrô: A Cruz dos Anos / Make Way for Tomorrow (1937)

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Friday, May 12, 2017

A Cruz dos Anos / Make Way for Tomorrow (1937)

Eu tenho uma confissão a fazer: eu quase nunca choro em casamentos vendo filmes. Em geral eu consigo separar a experiência fílmica das minhas emoções, e assim sou capaz de analisar um filme criticamente. Mas eu também tenho um calcanhar de Aquiles. E minha fraqueza é esta: filmes envolvendo idosos. Talvez porque eu fui criada pelos meus avós, não consigo ver pessoas de idade sofrendo, por isso filmes como “As Memórias de Marnie” (2015) conseguem partir meu coração de pedra. E “A Cruz dos Anos” (1937) simplesmente esmagou minha alma.

I have a confession to make: I almost never cry in weddings watching movies. I often separate my viewing experience from my emotions and I'm able to analyze a film critically. But I also have a cryptonit. And my weakness is this: films involving the elderly. Maybe because I was raised by my grandparents I can't see old people suffering, so films like “When Marnie was There” (2015) break my stone heart. And, man, “Make Way for Tomorrow” (1937) really crushed my soul!
A Cruz dos Anos” começa com o casal idoso Lucy (Beulah Bondi) e Barkley Cooper (Victor Moore) reunindo todos os seus filhos para comunicá-los que a casa deles foi tomada pelo banco, e eles não têm mais onde morar. Eles têm cinco filhos, todos crescidos, alguns inclusive casados, e nenhum deles quer acolher os pais. Então, eles decidem que o pai vai para a casa de um deles e a mão para a de outra.

Make Way for Tomorrow” begins with elderly couple Lucy (Beulah Bondi) and Barkley Cooper (Victor Moore), who reunite all their children to tell their house has been taken by the bank, and they have nowhere else to live. They have five children, all grown up, some of them married, and no one wants to take their parents in. So, they decide the father will go to one house and the mother to other.
O que você mais deve ter com os idosos é paciência. Nenhuma das “novas famílias” parece ter um pouquinho de paciência sequer com Lucy e Barkley. Barkley inclusive tenta, com otimismo, conseguir um trabalho e reconquistar o controle financeiro sobre sua vida, de modo que ele possa voltar a viver com Lucy em uma casa só deles. Mas quem queria um velho como empregado em 1937? Quem quer hoje?

The main thing you must have with the elderly is patience. None of the “new families” seem to have any patience with Lucy and Barkley. Barkley even tries, optimistically, to look for a job and regain financial control of his life, so he can move in with Lucy again in a place that is their own. But who wanted an old man as an employee in 1937? Who wants one now?
Lucy também está otimista com relação ao futuro, e sua neta de 17 anos ri deste fato e diz para a avó “cair na real”. A resposta de Lucy para a pestinha é educada e poética, mas a atitude da garota me fez refletir.

Lucy is also optmistic about the future, to what her 17 year-old granddaughter laughs and tells her grandma to “face facts”. Lucy's answer to the little brat is polite and poetical, but the girl's attitude made me think.
Barbara Read, que interpretou a neta Rhoda, tinha 20 anos quando “A Cruz dos Anos” foi lançado. Ela morreu sem chegar à “velhice”: ela tinha  45 anos quando cometeu suicídio. Ela era tão despreocupada e cheia de vida no filme, e em menos de 30 anos estava morta. Todos os personagens despreocupados e cheios de vida do filme estão mortos hoje. Nós estamos todos despreocupados e cheios de vida em um minuto, piscamos, os anos passam e nós também sentimos o peso da cruz dos anos.

Barbara Read, who played granddaughter Rhoda, was 20 when “Make Way for Tomorrow” was released. She died without reaching “old age”: she was 45 when she commited suicide. She was so carefree and full of life in the film, and in less than 30 years she was gone. All the carefree and full of life characters in the film are also gone now. We are all carefree and full of life in a minute, we blink, the years pass and we have to make way for tomorrow, too.
Em uma sequência emocionante, Lucy e Barkley têm uma última tarde juntos antes de serem cruelmente separados. No bar de um hotel, eles se lembram dos velhos tempos, das pessoas daquele tempo, algo que meus avós também fazem muito. Depois de assistir ao filme, eu entendi que nós não devemos interromper estes momentos, mas sim ficarmos felizes porque a reminiscência os deixa contentes.

In a heartfelt sequence, Lucy and Barkely have one last afternoon together before being cruelly separated. In a hotel bar, they reminisce about the old times and the old folks, something my grandparents do a lot, too. After watching the film, I understood that we mustn't interrupt these moments, but be happy because reminiscing makes them happy.
O diretor Leo McCarey decidiu fazer este filme após a morte de seu pai – ele não pôde ir ao funeral porque ficou muito doente durante a filmagem de outro filme. McCarey tratou o projeto com grande amor e interesse, trabalhando um ano inteiro nele, aceitando um salário reduzido e brigando com Adolph Zukor, chefe da Paramount, que queria um final feliz. Quando McCarey ganhou o Oscar de Melhor Diretor no ano seguinte por “Cupido é Moleque Teimoso”, ele declarou que havia ganhado o prêmio pelo filme errado – mostrando como ele levava “A Cruz dos Anos” em maior consideração.

Director Leo McCarey decided to do this film after his father's death – he wasn't able to attend the funeral because he got very sick on the set of a film. McCarey held the project with special love and interest, working a full year on it, accepting a reduced salary and fighting Adolph Zukor, Paramount's boss, who wanted a happy ending. When McCarey got the Best Director Oscar the following year for “The Awful Truth”, he said he got the award for the wrong film – showing how much he took “Make Way for Tomorrow” in consideration. 
Em 1937, a expectativa de vida nos Estados Unidos era de 58 anos para homens e 62 para mulheres. Ambos Lucy e Barkley tinham mais de 70, mas seus intérpretes eram mais jovens. Victor Moore tinha 61 anos em 1937, já havia trbalhado no vaudeville e em diversas comédias mudas. Ele viveu até os 86. Beulah Bondi tinha apenas 49 anos quando “A Cruz dos Anos” foi feito, e era uma famosa atriz de teatro que interpretou diversas mães no cinema. Ela viveu até os 91.

In 1937, life expectancy in the US was 58 years for men and 62 for women. Lucy and Barkley are both past 70, but the actors were not. Victor Moore was 61 in 1937, had already worked in vaudeville and numerous silent comedies. He lived to be 86. Beulah Bondi was only 49 when “Make Way for Tomorrow” was made, and was an accomplished stage actress who played mostly mothers onscreen. She lived to be 91.
Orson Welles disse que “A Cruz dos Anos” era capaz de fazer uma pedra chorar – acho que ele estava se referindo a mim! George Bernard Shaw escreveu uma carta parabenizando McCarey pelo excelente film. Yasujirô Ozu se inspirou neste filme para fazer sua obra-prima, “Era uma vez em Tóquio” (1953). Ao final, Lucy e Barkley, assim como Blanche Dubois, dependeram da bondade de estranhos, e não puderam confiar em seus próprios filhos. E, ao final, eu chorei.

Orson Welles once said that “Make Way for Tomorrow” could make a stone cry - I think he was referring to me! George Bernard Shaw wrote a letter congratulating McCarey for the terrific film. Yasujirô Ozu was inspired by this film to make his masterpiece, “Tokyo Story” (1953). In the end, Lucy and Barkley, like Blanche DuBois, depended on the kindness of strangers, and couldn't trust their own children. And, in the end, I sobbed.


This is my contribution to the “No, YOU’RE crying” blogathon, hosted by Debbie at Moon in Gemini.

8 comments:

Caftan Woman said...

I am a crier. I admit it. And Make Way for Tomorrow pushes me to the edge. While sobbing I am shouting at the screen for one of those kids to do something - to do the right thing. My heart breaks just thinking about the betrayal and the lame justifications.

You did a wonderful job writing about this emotional film.

Quiggy said...

I said in my own post I don't like sobbing sentimental stories. Probably because I do get emotional sometimes and I do not like the way that makes me feel about myself in general. Which may make you wonder why I joined this blogathon in the first place... I'm crazy, a complete lunatic, that's why... Good review.

Rich said...

I'd like to see this movie one day, but honestly, I don't know if I could sit through it.

Silver Screenings said...

You almost made me a little teary reading this review! I admit I've never heard of this film, but I would really like to see it after reading your post. I'll track it down on a day I need a good cry.

Josh Wilson (fforfilms.net) said...

I've got this one checked out from the library right now, so I'll be watching it very soon!

Debbie Vega said...

I've seen this film--not that long ago in fact--and it's lovely. I didn't know that detail about McCarey's father, which gives the story even more meaning. It's also a very rare film that has ageing as its subject matter.

Thank you so much for joining in the blogathon!

Blogger said...
This comment has been removed by a blog administrator.
Ari Timpin de Almeida Pinto said...

Desde o Barba Ruiva do Kurosawa que eu não chorava tanto ao assistir um filme...

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