} Crítica Retrô: Johnny Guitar (1954)

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Friday, August 5, 2011

Johnny Guitar (1954)

Estou em dívida com o western. Embora seja um gênero masculino por excelência, tais filmes me agradam bastante. Um dos motivos é o uso das cores, fato observado apenas no cinema clássico. A paisagem árida e bege do Oeste americano faz contraste com o azul do céu sem nuvens (não consigo me lembrar de um faroeste em que chova), os tons vibrantes das roupas de cowboys e, é claro, o sangue derramado em tiroteios e duelos. Também é um gênero recheado de clichês: o mocinho, o bandido, o saloon, a bebedeira, a donzela indefesa...



“Johnny Guitar” subverte todos esses clichês. Para começar, é protagonizado por duas mulheres fortes, a determinada Vienna (Joan Crawford) e a mal-amada Emma (Mercedes McCambridge).  Apesar disso, o próprio título é um nome masculino. Johnny Guitar (Sterling Hayden) é um antigo namorado de Vienna que está de volta à cidade e promete ajudá-la a impedir a construção de uma ferrovia que iria destruir seu saloon.  Emma, além de apoiar a construção da ferrovia, quer enforcar o homem por quem era apaixonada, que a recusou e, para completar, participou da morte do irmão da moça. Este homem, Dancin´Kid (Scotty Brady), envolve-se em um assalto a banco que é o estopim para a perseguição generalizada (e liderada por Emma) a Vienna.

Escrito por um redator na lista negra americana, Ben Maddow, a história pode ser lida como uma crítica ao macarthismo: Emma seria responsável pela caça às bruxas, porém ela própria é hipócrita e frustrada (no quesito romance). Se esse viés poílitco está um pouco oculto, o lado feminista está escancarado. Óbvio, pois o faoreste é estrelado por duas mulheres. O que não poderíamos esperar é um embate antológico entre elas ao final, com tamanho estilo que as deixa no mesmo patamar de caubói de John Wayne. Além do duelo, muitas das falas demonstram um feminismo impensável para a época das ferrovias e xerifes.

A sempre ótima Mercedes McCambridge e a imponente Joan Crawford brigavam feio mesmo quando as câmeras estavam desligadas. Joan queria Claire trevor para o papel de Emma, mas teve de se contentar com Mercedes, mais jovem do que ela. Crawford chegou a rasgar e espalhar o figurino da colega pelo set após uma discussão. Por causa disso, Mercedes passou a chegar mais cedo e gravar o que progamou para o dia antes de Joan aparecer.   

Nicholas Ray, diretor de clássicos como “Juventude Transviada / Rebel without a Cause” (1955) e “55 Dais em Pequim / 55 Days in Peking” (1963), além de assinar o roteiro, faz aqui mais um grande trabalho, sobretudo com relação às cores. O uso da tecnologia Trucolor ajudou a criar um efeito barroco peculiar neste faroeste. A solteirona Emma veste-se sempre de preto. Vienna usa preto quando é a mulher forte e decidida, branco quando se passa por vítima e vermelho (camisa vermelha e calça de brim) quando está fugindo ao lado de Johnny. Mais uma vez Ray veste seu protagonista de vermelho para destacar sua luta íntima (quem não se lembra da jaqueta vermelha de James Dean em “Juventude Transviada”?). E assim como no filme sobre delinquência juvenil, neste vemos também personagens maltratados pela vida, marginalizados à sua maneira, mas sem toques psicanalíticos que culpam e mostram traumas do passado. São os personagens de Ray um bando de perdidos, sem passado, mas mesmo assim interessantes aos olhos do diretor e do público. 

Apesar das atuações, das cores e da famosa música cantada por Peggy Lee, “Johnny Guitar” chamou pouca atenção ao ser lançado. Não repercutiu no Oscar e foi considerado mediano pelos críticos americanos. Ficou de lado até os europeus o descobrirem e elogiarem. Grandes diretores escreveram críticas positivas e confessaram que o filme serviu-lhes de inspiração. Truffaut disse que se tratava de “A Bela e a Fera dos westerns”.  Financiado pelos pequenos estúdios Republic, “Johny Guitar” é mais um filme à frente de seu tempo, que só ganhou o merecido recconhecimento ao ser analisado por novas e mais tolerantes gerações, mantendo-se fresco e franco apesar da (ou por causa da) passagem do tempo.

9 comments:

ANTONIO NAHUD said...

Olá, Lê, venha participar no meu blog de um despretensioso teste de conhecimentos cinematográficos. Começo com NICHOLAS RAY (Juventude Transviada). O vencedor leva DVDs clássicos.
Abração,

O Falcão Maltês

BBloger said...

JOHNNY GUITAR É UM DOS MEUS TOP TEN WESTERNS.EXCELENTE COMENTÁRIO.
Johnny Guitar, Excelente, Magnífico, Maravilhoso! Um western onde a mulher é sujeito na ação e não objeto. No duelo final os homens são meros coadjuvantes - apenas assistem as mulheres, protagonizadas por Joan Crawford e Mercedes McCambridge duelarem... E que duelo, mormente o de interpretação - soberbo, mágico!
A insinuação de alguns críticos que Nicholas Ray teria colocado uma relação homossexual entre Vienna e Ema, é puro exercício de imaginação. O que realmente há entre as duas personagens é ódio puro, isto é, um ódio destruidor, mormente o ódio exalado por Ema... Por tudo que foi dito, Johnny Guitar é dos meus TOP TEN!
De "quebra" ouça Peggy Lee, cantando a bela canção -Johnny Guitar, de autoria dela e de Victor Young!
No elenco, além das estrelas citadas, temos Sterling Hayden, Ward Bond, Scott Brady, Ernest Borgnine, Ben Cooper,Royal Dano, Paul Fix, John Carradine, Frank Ferguson, Rhys Williams.
A direção de Nicholas Ray é soberba; o roteiro de Philip Yordan é maravilhoso

linezinha said...

Esse filme é excelente! é um dos meus westerns preferidos

Yohana Sanfer said...

Bom aprender aqui!rs
Obrigada pela visita e volte sempre!=)

Maxx said...

Obrigado pela visita e curiosamente, vc falou que Homem Câmera (ou Homem com uma câmera dependendo da tradução) despertou seu interesse pelo cinema mudo, esse tb foi o filme que me chamou a atenção para o cinema - bem - antigo, depois de Dziga Vertov a coisa virou um delicioso vício e evoluiu para o blog. Tenho outros do cinema soviético que são legais e pretendo postar mais pra frente.

Agora estou colecionando animações e descobrindo coisas novas (nem tão novas assim rsrsrs).

Sempre que posso visito seu espaço aqui, que aliás, sigo e acho excelente.

Abraços.

Maxx.

Kley said...

Johnny Guitar é fascinante. A cena do bar em que o pessoal vê Guitar pela primeira vez, é um delírio de primor cinematográfico.

Lê, fiquei encantado quando vi que você tem apenas 18 anos e conhece tanto de cinema, não só o cinema atual, mas o cinema mais complexo e rico que é o cinema clássico. Parabéns, querida. Um grande bj!

João de Deus Netto said...

Excelente! Letícia tem espaço garantido na tela panorâmica do meu CinemaScope! Simporta não se eu enriquecer minhas ilustrações com algum conteúdo do Retrô?!
Té mais!

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