} Crítica Retrô: O Grande Desfile / The Big Parade (1925)

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Friday, May 15, 2015

O Grande Desfile / The Big Parade (1925)

 O ano era 2011. O oitavo episódio da quarta temporada de The Big Bang Theory, “The 21-Second Excitation”, trazia nossos nerds favoritos, encabeçados pelo grande, poderoso e incrível Sheldon, em uma ida ao cinema para ver a versão restaurada de “Os Caçadores da Arca Perdida / Raiders of the Lost Ark”, com incríveis 21 segundos de filmagem nunca vistos. Este era um dos poucos episódios de The Big Bang Theory com o qual eu não havia me identificado. Até agora.

The year was 2011. The eighth episode of season four of The Big Bang Theory,”The 21-Second Excitation”, brought our favorite nerds, including the mighty Sheldon, in a trip to the movies to see the restored version of “Raiders of the Lost Ark”, with amazing 21 seconds of never-before-seen footage. This was one of the few The Big Bang Theory episodes with which I had not feel an identification. Until now.


É muito difícil escolher meu filme mudo favorito, mas com certeza “O Grande Desfile / The Big Parade” (1925) está entre os cinco primeiros. Fiquei loucamente emocionada quando o vi pela primeira vez, em janeiro de 2014. Logo depois o escolhi para alguns prêmios importantes em meu Oscar pessoal de 1925. E, quando descobri que a versão restaurada do filme, com trinta minutos a mais de projeção, seria lançada em DVD no Brasil, não tive dúvidas: comprei o box (que veio com outros cinco filmes, mas o mais importante é “O Grande Desfile”).


It’s very hard for me to choose my favorite silent movie, but for sure “The Big Parade” (1925) is among the TOP 5. I was crazily moved the first time I saw it, on January 2014. Right after this, I chose it to receive some important prizes on my personal 1925 Oscars. And, when I discovered that the restored version of the film, with extra 30 minutes of footage, was going to be on DVD in Brazil, I had no doubts: I bought the box (that came with five other films, but the most important is “The Big Parade”).


O ano é 1917 e os Estados Unidos acabam de entrar na Grande Guerra! O jovem herdeiro Jim (John Gilbert) se alista no exército em um momento de loucura juvenil, e sua partida para lutar na França coloca a mãe em desespero, deixa o pai muito orgulhoso e satisfaz a vaidade da namorada de Jim, Justyn (Claire Adams). Ah, o que a música “Over There” é capaz de fazer! George M. Cohan sabia das coisas! Mas a vida no exército não é fácil! Apesar das dificuldades, Jim está feliz ao lado dos novos amigos, Slim (Karl Dane), um operário, e Bull (Tom O'Brien), um barman. Só a guerra poderia unir três pessoas tão diferentes.

The year is 1917 and the USA just entered the Great War! Young heir Jim (John Gilbert) joins the army in a moment of youthful craze, and his departure to fight in France leaves his mother desperated, his father proud and fullfils his girlfriend Justyn's (Claire Adams) vain wish. Oh, what can the song “Over There” do! George M. Cohan knew a thing or two! But life at the army isn't easy! Even though he faces difficulties, Jim is happy with his new friends, Slim (Karl Dane), a construction worker, and Bull (Tom O'Brien), a barman. Only the war could unite those three very different people.


E só a guerra faria Jim conhecer uma linda garota francesa, Melisande (Renée Adorée), que vive em uma aldeia perto do campo de treinamento de Jim. Apesar de não falarem a mesma língua, eles se entendem com gestos singelos, como quando Jim ensina Melisande a mascar chiclete. A cena é mais divertida que a dança de Gene Kelly quando ele percebe estar apaixonado em “Cantando na Chuva / Singin' in the Rain” (1952) e ao mesmo tempo com mais sensualidade e romance que a troca de cigarros acesos por Paul Henreid em “A Estranha Passageira / Now, Voyager” (1942).

And only the war would make Jim meet an adorable French girl, Melisande (Renée Adorée), who lives in a village near Jim's training camp. Even though they don't speak the same language, they understand each other with sweet gestures, like when Jim teaches Melisande how to chew gum. The scene is more fun than the scene with Gene Kelly dancing when he realizes he's in love in “Singin' in the Rain” (1952) and at the same time is sexier and more romantic than the exchange of cigarettes in “Now, Voyager” (1942).


Quais as diferenças entre a versão já conhecida e a restaurada, que estreou no TCM Film Festival de 2013? Poucas. Poucas mesmo. Primeiro, a versão restaurada tem as cenas noturnas em tons de azul ou bege, enquanto na versão normal está tudo em preto e branco. As imagens também são mais nítidas, perfeitas e praticamente em alta definição.

What are the differences between the known version and the restored one, presented at the 2013 TCM  Film Festival? A few. Very few. First, the restored version has night scenes with tinting and toning, while in the normal version everything is in black and white. The images are also clearer, perfect, almost in high definition.


E é isso que ganhamos com os trinta minutos extras de filme: mais imagens, e imagens mais nítidas. A versão normal teve origem em uma cópia do filme com som sincronizado, feita em 1931, enquanto a restaurada veio da versão original. Vale dizer que o filme é projetado a uma velocidade menor, as imagens da versão restaurada passam mais vagarosamente por nós que as da versão normal, talvez para que seja possível prestarmos atenção em todos os detalhes. Há cenas inéditas reveladoras, como na restauração de “Metropolis”? Não. Vivi milhões de dèja vú vendo a versão restaurada, e a única cena da qual não me lembrava muito bem era da reunião / sarau na casa de Melisande.

And this is what we get with the extra thirty minutes: more images, and clearer images. The normal version was originated in a copy with synchronized sound, made in 1931, while the restored one came from the original version. We must say that the film is projected at a slower speed, the images of the restored version go through us slower than in the normal version, maybe so that we can pay attention to all details. Are there new, vital scenes, like in the “Metropolis” restoration? No. I lived millions of déja vú watching the restored version, and the only scene I didn't remember was the one with the reunion at Melisande's house.



Por que este é um dos meus filmes mudos prediletos? Junto com os outros filmes silenciosos que eu amo loucamente (“A Caixa de Pandora”, “A Última Ordem / The Last Command”, “Ben-Hur”, “Metropolis”...), “O Grande Desfile” é arrebatador. Foi arrebatador em 1925, chegando a ficar dois anos em cartaz em um cinema, e permanece arrebatador em 2015. Foi inovador ao não glorificar a guerra de modo algum, e continua poderoso em suas cenas mais emocionantes (o autor da história foi co-autor de “What Price Glory?” e, claro, veterano de guerra). John Gilbert, Renée Adorée e Karl Dane não viveriam para ver a Segunda Guerra. John Gilbert amou fazer este filme. Eu preciso concordar: ele nunca esteve mais belo, mais tocante ou mais à vontade nas telas.


Why is this one of my favorite silent films? With other silents that I love a lot (“Pandora's Box”, “The Last Command”, “Ben-Hur”, “Metropolis”...), “The Big Parade” is ravishing. It was ravishing in 1925, when it spent two whole years being shown in a movie theater, and it is ravishing in 2015. It was innovative as it never glorified the war, and it's still powerful in its most moving scenes (the author of the story was the co-author of “What Price Glory?” and, of course, a war veteran). John Gilbert, Renée Adorée and Karl Dane wouldn't live to the World War II. John Gilbert loved doing this film. I have to agree: he never was so handsome, touching or at ease in a film.



Há algo de belo na destruição que a guerra traz e o filme mostra. Há algo de muito belo na trilha sonora composta por Carl Davis em 1988. É um daqueles filmes que, quando acaba, eu levanto e aplaudo, sem ter vergonha de ser vista, sem me importar com o fato de que todos os envolvidos com a filmagem já estão mortos. É o tipo de filme que, assim que acaba, quero voltar ao começo e ver de novo, e de novo, e de novo. É o tipo de filme que eu compro em DVD com prazer, seja pelo realismo de suas imagens, por 21 segundos ou por 30 minutos a mais da indelével magia do cinema.

There is something beautiful in the destruction war brings and the film shows. There is something very beautiful in the soundtrackcomposed by Carl Davis in 1988. This is one of those films that, when it ends, I stand up and cheer, not ashamed of being seen, not caring if all the ones involved in making the film are already dead. It's the kind of film that, as soon as it ends, I want to go back to the beginning and watch again, and again, and again. It's the kind of film whose DVD I buy with pleasure, no matter if it is for the realism of its images, for 21 seconds or for 30 extra minutes of the amazing film magic.

This post is part of the My Favorite Classic Movie blogathon, in honor of the first National Classic Movie Day (May 16th). The blogathon is hosted by Rick at Classic Film an TV Cafe.



Um livreto sobre o filme pode ser encontrado AQUI.

A booklet about the film can be found HERE.

11 comments:

carygrantwonteatyou.com said...

I just went to see It with live music, and the composer said he'd be doing The Big Parade in July. You've just given me a reason to go:) Thank you.

Pedrita said...

ah, esse eu não vi. pensava em vc agora. acabei de postar um filme clássico. beijos, pedrita

Caftan Woman said...

Even into the 1930s "The Big Parade" would be re-released and sell out big theatres in major cities. Truly, a great film for all time.

I very much enjoyed your personal thoughts on the film.

Classic Film and TV Cafe said...

Having not yet seen the restored version, it was fascinating to learn what was added and altered from the more-commonly shown BIG PARADE. Enjoyed your BIG BANG THEORY intro, too.

Christian Esquevin said...

Beautiful review Leticia. I saw The Big Parade at the TCM Film Festival two years ago and it was magnificent. Both of my grandfathers were in WWI in the French army, so I grew up hearing about the war.This is also a great love story and that part of the story makes you weep and clap and the end.

FlickChick said...

A very beautiful and moving post, my dear. John Gilbert really proves he was a superior actor here and thank you so much for mentioning the Carl Davis score. This man has made silent come alive for many of us - his music is a vital part of the way silents should be seen (and heard).

Claudio de Oliveira said...

Seu Blog sempre traz algo que eu não conhecia, obrigado! Pena que o TCM do Brasil é uma porcaria! E pensar que já foi um dos melhores canais a cabo, agora parece que só tem um número bem limitado de filmes, que não são dos melhores e os mais antigos só passam nas madrugadas e mesmo assim são Scaramouche, Ivanhoé, Os filhos de Katie Elder e mais uns dois ou três. Desculpe o desabafo, mas adoro filmes antigos e cada vez é mais difícil assisti-los. Bons tempos que a Globo tinha a Sessão "Classe A" e a extinta Manchete a sessão "Cinema de Primeira Classe".
Quanto aos filmes mudos, o meu preferido é A Paixão de Joana d'Arc, (The Passion of Joan of Arc, 1928), de Carl Theodor Dreyer, com a inigualável Renée Falconetti que tem a melhor atuação seja de uma atriz ou de um ator no cinema que eu já vi. Se não assistiu assista, não vai se arrepender.
Tudo de bom e parabéns pelo Blog!

ANTONIO NAHUD said...

Realmente é um belo filme. O Vidor é mestre. Mas nao consigo gostar de John Gilbert e Renée Adorée.

Silver Screenings said...

I love that you want to applaud at the conclusion of this film.

I'm ashamed to say I've never seen this film...but...get this: My husband, who couldn't care less about classic film, has SEEN this movie and LOVES IT! Go figure!

Anonymous said...

Not sure how this one had slipped under the radar - but it had! Loved reading your very personal review, I think your enthusiasm will be infectious!

Danielle Crepaldi Carvalho said...

Oi, Lê!

Ótimo texto, cheio de sensibilidade.
Como você, eu também amo apaixonadamente este filme, no qual está tudo no lugar: a química entre o par romântico, a reflexão crítica sobre a Guerra, o ritmo, o uso da música. Ele me interessa especialmente por este último aspecto. Li que a trilha recente baseou-se na composta para a exibição original da obra, na época do cinema silencioso, ainda. Com o advento do cinema falado, uma nova cópia dele foi distribuída aos cinemas, com inserção da banda sonora, à maneira do que se dá em "Show People" (outra obra-prima do Vidor). Aliás, a trilha musical de ambos dialoga abertamente.
Adoro essas cenas que você citou, sobretudo a da conquista "silenciosa" - acho-a uma defesa simbólica do cinema silencioso, que naquela altura dava os últimos suspiros, malgrado a excelência que ele havia atingido. Comovo-me de soluçar sempre que vejo a cena da bota, mistura perfeita de drama e comédia.
Fico muito feliz que o filme esteja circulando no Brasil - procurei pra comprá-lo via Amazon mas mudei de ideia, pois sairia muito caro. Qual a distribuidora? Onde você o encontrou? Fiz uma mini-busca na internet e não achei nada.

Bjinhos
Dani

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