Ele chegou a ser
o comediante mais importante e amado do mundo mas, se não tivesse passado
brevemente por Hollywood, é provável que a fama de Mario Moreno, ou Cantinflas,
hoje se restringisse aos países de língua espanhola. E são as negociações para
contratar Cantinflas para seu grande filme norte-americano, “A Volta ao Mundo
em 80 Dias” (1956), que dão início à cinebiografia do ídolo mexicano.
He was once the most
important and beloved comedian in the world but, if he hadn’t worked briefly in
Hollywood, it’s probable that Mario Moreno, or Cantinflas, would be known today
only in Spanish-speaking countries. And the negotiations to hire Cantinflas to
his biggest Hollywood movie, “Around the World in 80 Days” are the starting
point for his biopic.
Michael Todd
(interpretado por Michael Imperioli) é um produtor de teatro que tem a ideia de
fazer o maior e mais fascinante filme do mundo, que contará com um ingrediente
secreto: sua adaptação da história de Júlio Verne para os cinemas contará com
participações especiais de astros do mundo inteiro! Ele APENAS precisa convencer
a United Artists a financiá-lo e distribuir o filme! E isso é uma tarefa
complicada ao extremo: se há uma coisa que Hollywood nunca gostou de fazer, mas
sempre deveria ter feito, é arriscar.
Michael Todd (portrayed
by Micheal Imperioli) is a theater producer who has the plan to make the
greatest, biggest film in the world, and a film with a secret ingredient. He
wants his adaptation of Jules Verne’s story to have cameos of films stars from
all over the world! He ONLY has to convince United Artists to finance and
distribute it! And this is an extremely complicated task: if there is one think
Hollywood never liked doing, but should have always done, it is taking risks.
Michael Todd diz,
ao ouvir pela primeira vez sobre Mario Moreno: “tá, ponha ele no primeiro burro
voador para LA.” Afinal, “Ele é a pessoa mais amada no México, Espanha e resto
da América Latina.”. Mas como Cantinflas conseguiu tanto prestígio?
Michael Todd says,
hearing of Mario Moreno for the first time: “Yeah, get him in the next flying
donkey to LA”. After all, “He is the most beloved person in Mexico, Spain and
all of Latin America”. But how exactly Cantinflas became so?
À luta de Michael
Todd são costuradas cenas da trajetória artística de Mario Moreno (Oscar
Jaenada), o homem que tentou ser boxeador e toureiro, mas que nasceu para ser
palhaço. A história avança e retrocede no tempo, entre o México dos anos 1930 e
1940 e Los Angeles em 1955 – até que os destinos de Michael Todd e Mario Moreno
se cruzam.
To Michael Todd’s effort
we add scenes from Mario Moreno’s (Oscar Jaenada) artistic path: he tried to be
a boxer and a bullfighter, but he was born to be a clown. The story goes back and
forth in time, between Mexico in the 1930s and Los Angeles in 1955 – until Mario’s
and Michael’s fates cross.
Precisamos saber
que há uma diferença entre Mario Moreno, a pessoa, e Cantinflas, a personagem.
Da mesma maneira e com os mesmos materiais que Chaplin criou seu vagabundo,
Mario criou Cantinflas: com roupas simples, um colete (chamado comicamente de
“La gabardina”) pendurado em um só ombro, um chapéu, um bigode e um cigarro.
Cantinflas e Chaplin de fato se conheceram, mas Chaplin nada teve a ver com a
contratação de Cantinflas para “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, como mostra a
cinebiografia.
We need to know there are
differences between Mario Moreno, the person, and Cantinflas, the persona. In
the same way and with the same ingredients that Chaplin created his Tramp
character, Mario created Cantinflas: with simple clothes, a vest (comically
called “la gabardina”) hanging in only one shoulder, a hat, a moustache and a
cigarette. Cantinflas and Chaplin actually met, but Chaplin had nothing to do
with hiring Cantinflas for “Around the World in 80 Days”, like the biopic shows
us.
“Cantinflas”, o
filme, é um prato cheio para quem gosta de cinema clássico, com as muitas
menções desde os minutos iniciais. É um pouco frustrante ver que os escolhidos
para interpretar, ainda que brevemente e às vezes sem falas, astros de
Hollywood como Elizabeth Taylor e Marlon Brando não se parecem com os atores. E
um erro dolorido: em 1956 Mary Pickford de fato deixou o comando da United
Artists, mas de maneira alguma deixou o estúdio nas mãos de Douglas Fairbanks e
Charles Chaplin – afinal, Fairbanks estava morto há mais de 15 anos e Chaplin,
radicado na Europa. Inserir a figura de Chaplin na cinebiografia, aliás, é a
grande manobra emocional feita com o público.
“Cantinflas”, the film,
is a great piece for anyone who likes classic film, with lots of mentions to
films and stars of the time since the beginning. It is a little frustrating
when you realize that the actors chosen to play Hollywood stars like Elizabeth
Taylor and Marlon Brando – in a cameo with no lines – look nothing like the people
being portrayed. And a painful mistake: in 1956 Mary Pickford really had left a
leading position at United Artists, but by no means she left the studio in the
hands of both Douglas Fairbanks and Charles Chaplin – after all, Fairbanks died
more than 15 years before that and Chaplin was living in Europe.
Todos os clichês
do show business estão ali: a pobreza do começo de carreira, a trupe mambembe,
o envolvimento com a filha do primeiro patrão e a demissão, o sucesso em uma
cidade grande, o astro já estabelecido que menospreza o novato, a felicidade e
infelicidade no casamento, a infidelidade, o fundo do poço e a redenção. Outros
traços comuns na trajetória de grandes estrelas que não podiam faltar na cinebiografia
de Cantinflas foram o desdém da elite e acolhimento inicial rápido por parte do
povo, e a luta pela liberdade criativa e o direito de improvisar no teatro e no
cinema.
All the show clichés in
show business are there: the poverty in the beginning of his career, the carnival,
the time he got caught with his boss’s daughter and was fired, the success in a
big city, the well-known star who treats the newcomer badly, the happiness and unhappiness
in married life, the unfaithfulness, hitting the bottom and the redemption.
Some other common steps in a big star’s career: Cantinflas also suffered with
the disdain of the rich ones, was well received quickly by the poorer ones, and
also fought for creative freedom and his right to improvise in both theater and
film.
O filme atingiu
seus objetivos principais: atraiu um grande público (mais de um milhão e meio
de espectadores só no México), foi uma ode à nostalgia e foi escolhido como o
representante mexicano para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015. Houve
polêmica com a escolha do ator espanhol Oscar Jaenada para interpretar
Cantinflas, mas sua performance foi muito elogiada e é um dos pontos altos do
filme.
The film reached its main
goals: it attracted a lot of moviegoers (more than 1.5 million in Mexico alone),
was an ode to nostalgia and was chosen as the Mexican representative for the
Best Film in a Foreign Language Oscar in 2015. There was a negative buzz when
Spanish actor Oscar Jaenada was chosen to play Cantinflas, but his performance
received praise and is one of the best things in the movie.
Há relatos que
colocam Mario Moreno e Cantinflas como duas personalidades completamente
opostas: o personagem era querido e simpático, enquanto seu criador era
antipático na vida real. O personagem se tornou lendário e deu origem ao verbo
“cantinflear”, ou seja, falar muito até confundir o interlocutor. Mario pode
não ter sido um grande exemplo, mas o legado Cantinflas vive, e o comediante
ainda é um orgulho para a América Latina.
There are stories that
put Mario Moreno and Cantinflas as two completely opposite personalities: the
character was beloved and humble, while his creator was unsympathetic in real
life. The character became a legend and was the origin of the verb “cantinflear”
in Spanish, that is, to talk too much in order to confuse who you’re talking
to. Mario may not have been the best example to follow, but Cantinflas’s legacy
lives on, and the comedian is still the pride of Latin America.
This post is part of the
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