} Crítica Retrô: September 2024

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Saturday, September 28, 2024

Play Time - Tempo de Diversão (1967) / Play Time (1967)

 

“Meu Tio” (1958), de Jacques Tati, é um dos meus filmes preferidos de todos os tempos. Também gostei muito de “As Férias do Sr Hulot” (1953), do mesmo diretor. Por isso, não poderia estar mais animada para finalmente assistir ao filme que é considerado sua obra-prima “Play Time – Tempo de Diversão” (1967), que é tanto uma ode quanto uma crítica à modernidade. Infelizmente, me desapontei um pouco com o filme.

Jacques Tati’s “Mon Oncle” (1958) is one of my favorite movies of all time. I also highly enjoyed his “Monsieur Holut’s Vacation” (1953). So I couldn’t be more excited to finally watch what is considered his masterpiece, “Play Time” (1967), a movie that is both an ode to and a critic of modernity. Unfortunately, the film left me a bit disappointed.

Há duas linhas narrativas em “Play Time” que convergem em mais de uma ocasião. Uma linha segue um grupo totalmente feminino de turistas norte-americanas em Paris. A segunda segue, a partir dos 12 minutos de projeção, nosso velho amigo, o Sr Hulot (Tati).

There are two narrative lines in “Play Time” that get intertwined in more than one occasion. One line follows a group of North American female tourists in Paris. The second line follows, starting at the 12-minute mark, our old friend Monsieur Hulot (Tati).

Hulot tem um compromisso agendado em um enorme prédio de escritórios onde também está havendo uma feira de bugigangas modernas. Tati leva tempo – e isso é de se admirar – apresentando os ambientes para nós antes que cheguem os personagens. Isso acontece com o aeroporto no começo, o prédio de escritórios e o restaurante chique.

Hulot has an appointment in a huge office building where there is also a fair presenting modern gadgets. Tati takes his time – and that’s something to admire – to present the environments to us before the characters arrive there. This happens with the airport in the beginning, the office building and the fancy restaurant.

No meu DVD havia um especial para a TV norte-americana chamado “Tativille”, mostrando a cidade cenográfica construída por Tati especialmente para o filme. Tati declarou que, quando você inicia um filme, é você contra o mundo. Em “Play Time”, durante toda a projeção, é Hulot contra o mundo moderno. A modernidade é desconjuntada e fria, e Hulot traz calor para contrapor. Ele também traz calor ao quebrar a porta de vidro do restaurante: dali em diante não são só os “escolhidos” que podem entrar no recinto, que se torna então um local para todos.

In my DVD there was an special for American TV called “Tativille”, showing the town built on studio by Tati especially for the film. Tati declared that, when you start a movie, it’s you against the world. In “Play Time”, all during the projection, it’s Hulot against the modern world. Modernity is disjointed and cold, and Hulot brings warmth to it. He also brings warmth as he shatters the glass door in the restaurant: from then on, not only the “chosen ones” can enter the restaurant, it’s now a place for everybody.

Em “Tativille” também fiquei sabendo que Tati escolheu as turistas norte-americanas entre esposas de marinheiros que estavam em serviço perto do estúdio. A única que recebe mais atenção – e um nome – é a charmosa Barbara (Barbara Dennek). Dennek era uma babá alemã vizinha de Tati, por isso ele a contratou para o papel. Ela ficou, entretanto, incomodada com o longo tempo de gravação, por isso não fez mais filmes.

In “Tativille” I also learned that Tati chose the North American tourists among wives of sailors stationed near the studio. The one that receives more attention – and a name – is the charming Barbara (Barbara Dennek). Dennek was a German au pair who lived next door to Tati, so he hired her for the role. She was, however, disillusioned with the long shooting, so she didn’t appear in another film afterwards.

No IMDb fiquei sabendo que a sequência do restaurante demorou sete semanas para ser filmada, por causa de toda a ação que acontecia tanto no background quanto mais perto da câmera. A filmagem completa durou três anos e por não ter conseguido recobrar os gastos com a bilheteria, Tati ficou endividado por muito tempo.

On IMDb I learned that the restaurant sequence took seven weeks to shoot, because of all the action happening both in the background and the foreground. The whole shooting took three years and the failure to recover the costs at the box office left Tati in debt for a long time.

Jacques Tati disse que a estrela de “Play Time – Tempo de Diversão” é a decoração. Eu concordo. O filme é um deleite para os olhos, capaz de enlouquecer arquitetos e engenheiros. Para mim, não teve a simplicidade e o contraste entre o antigo e o novo que fizeram “Meu Tio” funcionar. A falta de uma linha narrativa também não ajudou. Ainda admiro Tati imensamente, mas “Meu Tio” continua sendo meu favorito entre seus filmes.

Jacques Tati said that the real star of “Play Time” is the decor. I agree. The film is a feast for the eyes and will make architects and engineers go crazy. For me, it lacked the simplicity and the contrast between old and new that made “Mon Oncle” work. The lack of a proper storyline to follow also didn’t help. I still admire Tati immensely, but “Mon Oncle” remains my favorite among his movies.

Saturday, September 21, 2024

O Marido Ideal (1947) / An Ideal Husband (1947)

 

A melhor coisa que pode acontecer quando você começa a assistir a um filme britânico é ver na abertura o alvo redondo que indica que o filme a que você assistirá é uma produção The Archers, companhia de Powell e Pressburger. A segunda melhor coisa que pode acontecer na mesma situação é ver o Big Bem, indicando que você assistirá a uma produção de Alexander Korda. Esta segunda coisa acontece no começo de “O Marido Ideal” (1947), produzido e dirigido por Korda.

 

The best thing that can happen when you start watching a British film is seeing in the opening the round target that indicates that the film you’ll watch was a production of The Archers, the production company for Powell and Pressburger. The second best thing that can happen in the same situation is seeing the Big Ben, indicating that you’ll watch an Alexander Korda production. This second thing happens in the beginning of “An Ideal Husband” (1947), produced and directed by Korda.


Como diz Mabel (Glynis Johns), a (alta) sociedade de Londres é “inteiramente composta de belos idiotas e brilhantes lunáticos”. É numa festa da alta sociedade dada pela cunhada de Mabel, Gertrude (Diana Wynyard), que somos apresentados aos personagens. O anfitrião é Robert Chiltern (Hugh Williams) e vinda de Viena para falar diretamente com ele temos a senhora Cheveley (Paulette Goddard). Ao redor deles há ainda o Lorde Caversham (C. Aubrey Smith) e seu filho, o Lorde Goring (Michael Wilding).


As Mabel (Glynis Johns) says, London (high) society is “entirely composed of beautiful idiots and brilliant lunatics”. It is in a high society séance hosted by Mabel’s sister-in-law Gertrude Chiltern (Diana Wynyard) that we’re introduced to our characters. The host is Robert Chiltern (Hugh Williams) and coming from Vienna to speak directly to him is Mrs Cheveley (Paulette Goddard). Around them there are also Lord Caversham (C. Aubrey Smith) and his son, Lord Goring (Michael Wilding).


O marido ideal é Robert, mas é Gertrude que o salva de cair na teia da senhora Cheveley. A socialite de Viena queria que ele defendesse um esquema para construir um canal na Argentina, e o convenceu a fazer isso através de chantagem. Quando Gertrue fica sabendo que seu marido não era tão “ideal” quanto ela pensava, o casamento entra em crise.

 

The ideal husband is Robert, but it’s Gertrude who saves him from falling in Mrs Cheveley’s web. The socialite from Vienna wanted him to endorse a scheme to build a canal in Argentina, and convinced him to do so through blackmail. When Gertrude learns that her husband isn’t as “ideal” as she thought, the marriage goes into crisis.

“O Marido Ideal” é baseado em uma peça de 1895 de Oscar Wilde, e foi adaptado para as telas por Laos Biró. Há espaço para humor, como quando duas mulheres – a senhora Cheveley e a Lady Markby (Constance Collier), para ser mais precisa – com chapéus extravagantes conversam sobre moda. Nascido no que era então o Império Austro-Húngaro, Lajos Biró faleceu menos de um ano após a estreia de “O Marido Ideal” nos cinemas. Ele era o chefe de roteiros para o estúdio de Korda.

 

“An Ideal Husband” is based on a work from 1895 by Oscar Wilde, written for the screen by Lajos Biró. There is space for humor, like when two women – Mrs Cheveley and Lady Markby (Constance Collier), to be precise –  with extravagant hats talk about fashion. Born in what was then Austria-Hungary, Lajos Biró died less than one year after “An Ideal Husband” premiered in theaters. He was the scenario chief for Korda’s production company.


Os figurinos foram feitos por Cecil Beaton. O destaque vai para um vestido lilás extravagante com uma capa laranja usada por Goddard. Ainda havia racionamento na Inglaterra durante as filmagens, por isso Beaton teve de improvisar em muitas cenas. Para piorar a situação, o filme foi rodado no verão, com o clima deixando os vestidos ainda mais desconfortáveis. Beaton mais tarde faria vestidos semelhantes para “Gigi” (1958) e “Minha Bela Dama” (1964).

 

The costumes were made by Cecil Beaton. The highlight is an extravagant lilac dress with an orange cape worn by Goddard. There was still rationing in England during the period, so Beaton had to improvise in many scenes. To make things worse, the film was shot during summer, making the heavy costumes even more uncomfortable to wear. Beaton later made similar dresses for “Gigi” (1958) and “My Fair Lady” (1964).


“O Marido Ideal” foi o último filme feito por Korda como diretor, embora ele tenha continuado trabalhando como produtor. O primeiro produtor de cinema britânico a se tornar Sir, Korda produziu 82 filmes e dirigiu 69, numa carreira que começou no cinema mudo na sua Hungria natal, assim como na Áustria e na Alemanha. Ele passou dois breves períodos em Hollywood, um no final da era muda e o segundo durante a Segunda Guerra Mundial. Entre os filmes mais famosos que ele dirigiu, temos “Longe dos Olhos”(1945) e, obviamente, “O Ladrão de Bagdá” (1940).

  

“An Ideal Husband” was Alexander Korda’s last credit as a director, even though he continued working as a producer. The first British film producer to receive knighthood, Korda produced 82 movies and directed 69, in a career that started in silent movies in his native Hungary as well as in Austria and German. He had two brief stints in Hollywood, one in the end of the silent era and the second during World War II. Among the most famous movies he directed, we have “Vacation from Marriage” (1945) and, of course, “The Thief of Bagdad” (1940).


“O Marido Ideal” é espirituoso e charmoso, mas o destaque é o Technicolor. O assunto é bastante arriscado, mas não se arrisca em demasiado. É como se a Inglaterra estivesse seguindo o código de produção de Hollywood. Não funcionou, pois o filme não teve grande bilheteria em mercados estrangeiros, mesmo sendo um dos dez maiores sucessos de bilheteria na Inglaterra. Há certas coisas que só os nativos gostam!

 

“An Ideal Husband” is witty and charming, but the highlight is the Technicolor. The subejct is rather raw, but no risks are taken. It's as if England was following Hollywood’s production code. It didn’t work, as the movie performed poorly in foreign markets, despite being one of the Top 10 money-makers in England. There are certain things that only locals can enjoy!

 

“O Marido Ideal” está disponível no YouTube com legendas em inglês.

 

“An Ideal Husband” is available on YouTube.

 

This is my contribution to the 11th Annual Rule, Britannia Blogathon, hosted by Terence at A Shroud of Thoughts.

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