} Crítica Retrô: Aves sem ninho / Sparrows (1926)

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Friday, June 1, 2012

Aves sem ninho / Sparrows (1926)

Sim, cinéfilos, Mary Pickford está na moda! Depois de uma boa surpresa na temporada de premiações com a consagração de “O Artista”, em que Jean Dujardin interpreta um alter-ego de Douglas Fairbanks, marido de Pickford, foi a vez de um frenesi tomar conta devido à necessidade de preservação e patrocínio do Mary Pickford Institute. Infelizmente, nem a mobilização generalizada dos fãs impediu que os estúdios dessa pequena notável fossem demolidos, mas este triste fato serviu para unir os admiradores da mocinha que inventou Hollywood e atrair a atenção para essa importante personalidade, que em breve ganhará uma cinebiografia.

Yes, cinephiles, Mary Pickford is in vogue! After a good surprise during awards season with a plethora of prizes going to “The Artist”, in which Juan Dujardin plays a Douglas Fairbanks (Mary's husband) alter-ego; what followed was a frenzy to preserve and support the Mary Pickford Institute. Unfortunately, the fans getting together wasn't enough and the building where Mary's studio was located was demolished. But this sad fact helped to unite Mary's admirers, and to attract attention for her important contribution to the film world.

Quando “Aves sem Ninho” foi feito, Mary tinha uma sólida carreira de mais de 15 anos no cinema e 34 anos de idade. Mesmo assim, ela interpreta uma garota bem mais nova, mas que tem de amadurecer para cuidar das crianças que chegam a uma fazenda, onde são submetidas a trabalhos forçados. O dono do local, o malvado e manco Sr. Grimes (Gustave Von Seyffertitz), além de explorar a mão-de-obra infantil, vez ou outra ameaça jogar uma criança para que afunde no pântano. O que vai mudar tudo é o arriscado negócio que ele fez: combinar o sequestro de uma criança, a filha do rico Dennis Wayne (Roy Stewart), que fica sob os cuidados de Molly, que, assim como outras personagens de Mary, é sofredora, porém decidida e corajosa. Ela não hesita em enfrentar Ambrose (‘Spec’ O’Donnell), o mimado e glutão filho dos “patrões”.

When “Sparrows” was made, Mary was 34 years old and had a solid career in film, that had been going for over 15 years. However, she was a playing a much younger girl who has to become mature to take care of the children who arrive in a hard labor farm. The owner of the place, the evil and limping Mr Grimes (Gustav Von Seyffertitiz), besides exploiting child labor, sometimes threatens to trow a child in the swamp. What will change everything is a risky business Mr Grimes has made: he set up the kidnapping of the heir of wealthy Dennis Wayne (Roy Stewart). The kidnapped little girl is overseen by Molly (Pickford), a suffering, but courageous character. She doesn't think twice to fight Ambrose ('Spec' O'Donnell), the fat and spoiled boss' son.


Como não podia deixar de ser, mais este filme mudo está cheio de belas imagens, começando pelos grandes e expressivos olhos de Mary. Uma das mais belas, em minha opinião, é quando todas as crianças colocam suas mãos nos vãos da madeira do celeiro para acenar, dizendo adeus ao recém-vendido Splutters. Mas, sem dúvida, a mais pungente é a da morte de um bebê, quando Jesus aparece para buscá-lo dos braços de Molly. É impossível não fazer uma ligação com uma cena de mesmo conteúdo feita por Lillian Gish em 1920 no filme “Inocente Pecadora”. Certamente o evento em si é mais bonito no filme de Mary, mas não há dúvida que Lillian é mais tristemente convincente quando se trata de crianças moribundas.

This silent film has a lot of beautiful images, like many other do, starting with Mary's big and expressive eyes.In my opinion, one of the more beautiful images involves all the children with their hands in the porthole of the barn, saying goodbye to Splutters, who has been sold. But, without a doubt, the most harrowing of them all involves the death of a baby, and in this scene Jesus appears to take the child from Molly's arms. We have to make here a connection with a similar scene starred by Lillian Gish in “Way Down East” (1920). Certainly the scene is more beautifully shot in Mary's movie, but there is no doubt that Lillian is more saddening and convincing around dying children.

A religião é parte importante do enredo, pois o tempo todo Molly e as crianças rezam para que sua situação melhore. Vários trechos da Bíblia são citados e até o próprio título tem explicação religiosa: Deus vigia toda ave que cai do ninho.

Religion is an important part of the plot, because all the time Molly and the children pray for their situation to get better Several parts of the Bible are cited and even the title itself has a religious explanation: God watches every single sparrow that falls from the nest.
Os intertítulos, que em minha opinião até facilitam que um espectador estrangeiro veja os filmes mudos americanos, contém várias expressões e palavras diferentes do que conhecemos e estudamos quando estamos aprendendo inglês. Como uma língua viva, o inglês está sempre se modificando, e isso fica claro quando lemos na tela “pertaters” ao invés de “potatoes”, “yer” no lugar de “you” ou “your”, “git” onde deveria estar “get”, entre outros. Há menos intertítulos na segunda metade da película, para dar lugar à ação. Logo após o clímax da fuga no pântano, há uma caçada envolvendo barcos e uma longa conversa, que parecem desnecessários e apenas desaceleram o filme, baixando quaisquer níveis de adrenalina que restavam no espectador. 

The intertitles are something that, in my opinion, make it easier for foreigners to watch an American silent movie. But this one has intertitles with several expressions and words we don’t learn when we learn to speak English. As a living language, English is in constant evolution, and it can be observed when we read “pertaters” instead of “potatoes”, “yer” instead of “you”, “git” instead of “get”, and so on. There are fewer intertitles in the second half of the movie, because there is more action. Right after the climatic escape from the swamp, there is a hunt involving boats and a long conversation, two kind of unnecessary things that only slow down the movie and the adrenaline levels.   


William Beaudine, diretor de filmes B (a exemplo de “Jesse James encontra a filha de Frankenstein” e “Billy the Kid contra Drácula”) que vez ou outra aparecia creditado como William X. Crowley, nem pôde aproveitar o sucesso do filme, pois brigou com Mary Pickford no set, abandonando a filmagem e deixando seu assistente Tom MacNamara completá-la. Mary e William, que tinham a mesma idade, nunca mais trabalharam juntos. Outra história dos bastidores tem a ver com os crocodilos, uma vez que há controvérsias em relação ao uso de animais vivos no set. Mary dizia que os animais eram verdadeiros, e ela discutiu com o diretor por este insistir que ela fizesse a cena carregando um bebê de verdade e não um boneco. No entanto, o fotógrafo envolvido na gravação afirma que não foi usado nenhum crocodilo verdadeiro, o que fica evidente quando vemos o filme com bastante atenção. Mesmo assim, a realidade da cena impressiona.

William Beaudine, B-movie director (he was behind such films as “Jesse James meets Frankenstein’s Daughter” and “Billy the Kid versus Dracula”) was sometimes credited as William X. Crowley. He couldn’t even enjoy the success of this movie, because of a big fight with Mary Pickford at the set. After the fight, William left the movie and his assistant Tom McNamara finished it. Mary and William, who had the same age, never worked together again. Another backstage story involves crocodiles, and there are controversies about using live animals in the set. Mary said that there were real animals, and she argued with Beaudine when he insisted that she shot a scene carrying a real baby among the animals, and not a doll. However, the film photographer says that no real crocodiles were used, and it becomes evident when we watch closely. No matter what, the scene still looks very convincing. 


O fato de haver crianças neste filme torna-o mais dramático e até mesmo chama mais a atenção das novas plateias. Claro que uma das crianças atrasa vez ou outra a fuga do pântano. Sem dúvida o destaque infantil é a fofa Mary Louise Miller, a garotinha sequestrada. Pickford, na época casada com Fairbanks e sem filhos, mostrou interesse em adotar a pequena, o que os pais da atriz mirim de apenas dois anos recusaram. Em seu terceiro casamento, com Charles ‘Buddy’ Rogers, Mary Pickford acabaria adotando um casal de filhos.

The fact that the film is focused on children makes it more dramatic and can even attract a young audience. Without a doubt the outstanding child actress in the cast is cutie Mary Louise Miller, the little girl who is kidnapped. Pickford, at the time married to Fairbanks and childless, showed interest in adopting the two-year-old girl, but her parents refused the offer. During her third marriage, with Charles ‘Buddy’ Rogers, Mary adopted a boy and a girl.  

Duas Marys
Depois que completou trinta anos, Mary Pickford decidiu abandonar o estilo “menininha”, o que desagradou os fãs. Por isso ela voltou à velha persona cinematográfica para este filme de despedida, considerado um dos melhores de sua carreira e que sobreviveu muito bem ao tempo. Depois de “Sparrows”, Mary faria mais um filme mudo e conquistaria o Oscar com seu primeiro filme falado, “Coquette”, de 1929. Ela se aposentou aos 41 anos e viveu em sua mansão Pickfair até a morte, em 1979.

Since turning 30, Mary Pickford abandoned the “little girl” style, and fans weren’t happy. That’s why she returned to her old film persona to this final performance, considered one of the best of her career, and also one that stood the test of time. After “Sparrows”, Mary would do only one more silent and win the Oscar for her first talkie, “Coquette”, from 1929. Mary retired at 41 and lived at Pickfair until dying in 1979.

This post is part of the Mary Pickford Bogathon, hosted by KC at Classic Movies. Check out this cool banner and the whole event:

18 comments:

Marcelo Bonavides said...

Bom saber que nomes como Mary Pickford não serão esquecidos.
Espero que ela e suas contemporâneas continuem sempre com fãs fieis.

Iza said...

Confesso que não conhecia a Mary, mas depois de ler esse post pesquisei sobre ela e me apaixonei! Belo post, Lê!! Beijão <3

Joseph said...

What a delight to read a non-American perspective about American movies! Thank you for stopping by my blog, which made me aware of yours. I feel quite vulgar not writing in Portuguese, but it's a language I've never studied. What you mentioned about the dialect in intertitles is spot on, and I must tell you that there are many Americans who still speak like that. Not only are you exposing the lusophone community to so many American classic movies, you're also educating me--an American--a well. I hope to read your blog more often and learn about Portuguese and Brazilian classic movies, too.

Regards,
Joseph

Anonymous said...

I haven't seen this film as yet, but want to do so soon after reading your piece, Lê. I'm surprised to hear that Mary Pickford was still able to play a child one last time at the age of 34. A very interesting article, and thanks for including a link to the movie! Judy

KC said...

It's weird how this horrific, grim movie is also so beautifully filmed. It also has some of the most heartwarming moments--like the scene you mentioned of the kids waving goodbye. I also love the scene with Jesus and the dying baby. That could have turned out so cheesy, but they played it perfectly--peacefully and understated. Your post brings up so many interesting points Le. It makes me want to watch this again, even though I saw it again only a few days ago! Thanks for contributing.

Lumi 7 said...

Que belo texto!!! Grata lembrança de Mary Pickford. Não conheço este clássico e após sua caprichadíssima análise, ele entra com louvor na minha lista de #precisover de 2012. Parabéns pela excelência de costume do Cr´tica Retrô. Sou fã incondicional. Grande abraço :-))))

Mary said...

amiga obrigada pelo link para assistir diabo a quatro, estou com ele nos favoritos pra baixar o filme e ver com calma.. ainda não conhecia Mary Pickford, mas fui pesquisar sobre ela e Aves sem ninho / Sparrows, achei vários textos na net que me deixaram curiosa, obrigada pelo link, desde que o youtube liberou arquivos longos ficou muito fácil curtir filmes antigos.. beijos mil amiga e ótimo domingo..

Page said...

Le,
First let me say thanks for providing a link to Sparrows for those who haven't had the pleasure of seeing it! A truly enjoyable performance by Mary and her equally talented cast of characters.

You've certainly done it justice here with your well thought out review, great photos.

Page

ANTONIO NAHUD said...

Belo post, Rê. Vou procurar ver esse filme.

O Falcão Maltês

Unknown said...

Não conhecia a Mary antes deste post. fiquei curioso para ver esse filme, parece ser bem legal!

http://monteolimpoblog.blogspot.com.br/

Gilberto Carlos said...

Parece ser um filme muito bom. Mary Pickford foi uma das desbravadoras do cinema brasileiro e além de estrela ainda se tornou importante produtora.

Kelinha said...

Excelente post e obrigada pelo comentário no meu cantinho.
Se quiseres podemo-nos seguir* :)

silentbeauties said...

Excelente idéia comentar sobre esse filme. Além de pouca coisa ter sido escrita sobre ele em português, muita gente aqui no Brasil sequer sabe que lá fora Mary Pickford tem sido muito lembrada, de que será feito um filme sobre a vida dela e seus feitos no campo empresarial também tem sido muito reconhecidos.
Mary tinha um gênio fortíssimo, sempre foi "chefe de família", desde novinha, financeiramente independente e com um senso estético muito bom. Isso fazia com que ela participasse de todas as estapas da produção de seus filmes, incluindo direção, fotografia, figurinos, etc. E não eram simples opiniões, ela sabia do que estava falando e entendia do assunto.
Não chega a surpreender que ela entrasse em atrito com diretores, essa nem foi a primeira vez. Até com D.W. Griffith ela chegou a bater de frente, o que a levou a sair da Biograph logo no começo da carreira. Imagino o verdadeiro duelo de gigantes que não devia ter sido, já que Griffith era altamente centralizador e todos os seus filmes deveriam seguir um padrão bastante rígido. Rsrsrs!
Infelizmente Mary ficou presa a uma imagem infantil, virginal. Ela tentou se libertar disso, mas não conseguiu.
Com o tempo a maior parte de seus parentes faleceu ou se afastou e ela teve uma velhice bastante solitária, só seu último marido ficou com ela até o final. Fora que ela tb passou a ter sintomas de alcoolismo, doença que afetou todos os seus parentes próximos (incluindo todos os irmãos). Mas nada disso apaga obrilho de uma carreira longa, bem sucedida e administrada com muita inteligência do começo ao fim.

Ella said...

E que bom que não cumpriram a vontade dela, assim podemos assistir. Adorei a resenha!
Bjus
Rafa

Nathalia Ruggiero said...

Oi Lê,
Eu não conhecia o filme e nunca tinha ouvido falar em Mary. Pelo que pude ler não faz muito o meu estilo de filme, apesar de eu gostar de drama.
Ainda tenho que assistir os filmes que você indicou do mesmo diretor de Janela Indiscreta, mas agora me fugiu o nome... =P
Beijo

Rubi said...

Então quer dizer que a grande Mary Pickford gostaria que seus filmes fossem destruídos após sua morte? Mas que absurdo! Ainda bem que não fizeram isso, porque ela tem uma filmografia riquíssima (em todos os sentidos) Parabéns por mais um post super completo!

Areias e Castelos said...

Caramba, vários artistas que você gosta assisti seus filmes no cinema nos anos 60.
Segue sugestões de filmes de dois
grandes atores.
Rebeldia Indomável:Paul Newman
e algumas comédias do Jerry Lewis.
Um abraço e sucesso para você.

Júlio Pereira said...

Sem dúvidas, o Oscar pra "O Artista" fez muita gente ir atrás de filmes mudos - e isso foi bom, porque o filme não é nenhuma obra-prima. Eu mesmo tenho vários buracos na cinematografia muda americana, tenho que ir atrás. Com certeza vou assistir Aves sem Ninho, que me pareceu muito instigante pela sua crítica. Abraços e continue o bom trabalho!

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