Eu estava vendo as notícias semana passada, quando tive uma estranha
sensação de déjà vu. O que passava na televisão era a entrega de comida para as
vítimas dos bombardeios em Gaza. Fardos e mais fardos de alimentos eram jogados
de helicópteros e as pessoas, famintas e desesperadas, corriam para garantir a
refeição. Eu tive a sensação de que já havia visto esta cena antes e, como eu
nunca estive em uma zona de guerra, concluí que havia visto a cena no cinema.
Não demorou para que eu me lembrasse: eram John Malkovich e o pequeno Christian
Bale que corriam para pegar os donativos em campo aberto em “Império do Sol”.
Jamie Graham (Christian Bale) é um garoto inglês que está em Xangai com
seus pais. A Segunda Guerra Mundial ainda está para chegar àquela parte do
mundo, mas isso não significa que haja paz: desde 1937 o Japão e a China estão
em guerra. Quando acontece o ataque a Pearl Harbor, os estrangeiros precisam sair
da China, mas Jamie é separado de seus pais durante um tumulto na estação de
trem. Aconselhado pela mãe desesperada, ele volta para casa e passa alguns
dias, mas logo decide se aventurar pelas ruas chinesas...
Nas ruas ele encontra um grupo de soldados americanos, entre eles Basie
(John Malkovich). Num primeiro momento, os soldados não querem a companhia do
garoto, mas Jamie (apelidado de Jim por Basie) diz que sabe onde há comida para
todos. Voltando para sua grande casa, Jim e os soldados são surpreendidos pelos
japoneses que ocuparam o local. Jim e Basie são levados para um campo de
prisioneiros.
As cenas no campo muitas vezes lembram “Inferno Nº 17 / Stalag 17”
(1953), filme de Billy Wilder sobre um campo de prisioneiros de guerra onde,
felizmente, não havia nenhuma criança. Mas, se esta criança está destinada a
crescer e se tornar o Batman, não há nada a temer, certo? Errado. A experiência
como prisioneiro no campo japonês não é fácil para Jim, mas por vezes parece
ser parte de uma traumática brincadeira de um garotinho fascinado por aviões que
vira o mascote de soldados americanos presos. Ah, e por falar em campo de
prisioneiros, aquele que mais influenciou Spielberg para fazer o filme foi o de
“A ponte do Rio Kwai” (1957), filme favorito de Steven na infância e cujo
diretor, David Lean, estava contratado para dirigir “Império do Sol” antes de
Spielberg se juntar ao projeto.
Spielberg usou o tema da guerra em muitas de suas produções. Ele
revisitaria a Segunda Guerra Mundial por outro ângulo naquele que é talvez seu
mais famoso filme, “A Lista de Schindler / Schindler's List” (1993). A Primeira
Guerra é o conflito que muda a vida de homens e animais em “Cavalo de Guerra /
War Horse” (2011), filme que conta com a tocante cena de dois soldados de lados
opostos que se unem por um momento para salvar o cavalo protagonista.
Pôster polonês |
Trabalhar com crianças que se tornariam ícones do cinema também não era
novidade para Spielberg. Quem pode se esquecer da mini Drew Barrymore em “ET”
(1982)? Aqui Christian Bale, aos 12 anos, tem seu primeiro papel de destaque no
cinema, e isso graças à então esposa de Spielberg, a atriz Amy Irving, que
contracenava com Christian na minissérie “Anastasia” (1986), e que convenceu
Spielberg a chamar o garoto para um teste. Foram mais de 4 mil pequenos atores
testados, e fica claro desde o começo que Christian Bale foi a escolha certa.
Bale, Spielberg, Malkovich |
Muitas vezes, “Império do Sol” passa despercebido na grande e variada
filmografia de Spielberg, mas não deveria. A canção-tema melancólica e bela, “Suo
Gân”, é do País de Gales e combina perfeitamente com o filme. Porque, acima de
tudo, uma história de guerra é uma história triste, e ninguém passa pela guerra
impune. Por isso o próprio Spielberg classificou este como o melhor filme sobre
a perda da inocência que ele fez na carreira. Só isso já é motivo suficiente
para ver “Império do Sol”. Além, é claro, do meu déjà vu do começo, que mostra como, sempre, a vida imita a arte. Ou seria o contrário?
This
is my contribution for the Steven Spielberg blogathon, hosted by Kellee at Outspoken & Freckled, Aurora at Citizen Screenings and Michael at It Rains… You Get Wet.
5 comments:
esse filme é muito bem realizado. beijos, pedrita
É um belíssimo filme e como você bem citou, pouco lembrado na filmografia de Spielberg.
A escolha de Christian Bale para o papel foi perfeita. Ele ainda conseguiu ultrapassar a barreira para a carreira adulta com grande sucesso, comprovando seu talento.
Legal você ter citado "Inferno nº 17", outro ótimo filme de guerra com um grande papel de William Holden.
Bjos e um ótima final de semana.
Eu adoro este filme. Lindo! Adorei o post. Nostálgico!
Ola querida amiga,perfeita postagem com referências excelentes á grande s filmes e cineastas.Meu grande abraço.SU
Wonderful write-up and contribution for the blogathon. Too often overlooked, Empire of the Sun was one of the great war films and you did it justice.
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