} Crítica Retrô: Condenado / Odd Man Out (1947)

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Tuesday, March 17, 2015

Condenado / Odd Man Out (1947)

Happy Saint Patrick's Day! O dia de São Patrício é comemorado bebendo muita cerveja, vestindo-se de verde, procurando trevos de quatro folhas, contando histórias sobre duendes, leprechauns e potes de ouro no fim do arco-íris. Mas nem tudo é festa e diversão na Irlanda: há também problemas, lutas pessoais e coletivas. Porque há um sentimento que ultrapassa fronteiras e une todos os povos do mundo: a liberdade.
Johnny McQueen (James Mason) é chefe de uma organização e há alguns meses escapou da cadeia, onde deveria ficar preso por 17 anos. Johnny está escondido na casa de Kathleen (Kathleen Ryan), onde se encontra com seus companheiros e continua fazendo planos audaciosos. Um desses planos é assaltar um banco e Johnny, apesar de não ver a luz do sol há mais de um ano, faz questão de participar da ação.
Johnny é baleado no ombro e se separa dos companheiros. Assim começa uma grande caçada: policiais e delatores querem a recompensa por Johnny. A doce, corajosa e decidida Kathleen quer encontrá-lo para que juntos possam fugir em um navio e ficar longe dos problemas que têm na Irlanda. É a estreia de Kathleen Ryan no cinema, mas a moça tem o talento de uma veterana e é muito convincente em seu papel. Kathleen e os atores que interpretam os companheiros de Johnny faziam parte de um grupo de teatro de Dublin, o Dublin Abbey Theatre, fundado e dirigido por W.G. Fay, que interpreta o padre Tom.
A direção é de Carol Reed, que dois anos depois faria seu melhor filme, “O Terceiro Homem / The Third Man”. Veja como o filme é cheio de momentos preciosos: a maneira como o interesseiro Shell (F.J. McCormick) se refere a Johnny através de metáforas sobre um passarinho, o momento em que Johnny delira e vê rostos de algozes nas bolhas de uma bebida, a briga entre Shell e o pintor Lukey (Robert Newton), que quer resgatar Johnny apenas para realizar o sonho de pintar o retrato de um moribundo, um novo delírio de Johnny envolvendo retratos enfileirados como pessoas em um tribunal.
O que dizer do sempre brilhante James Mason? Ele chegou a afirmar que Johnny McQueen foi o melhor personagem de sua longa e ilustre carreira. Mason gostou muito de trabalhar com Carol Reed, diretor que admirava, e teve total liberdade para compor seu personagem. Embora Reed gostasse de ter controle sobre todos os aspectos de seus filmes, deixava seus atores livres para criarem os personagens. E sempre deu certo.
Mas... de que organização Johnny McQueen faz parte? Por que ele é perseguido? Por qual causa seus companheiros roubam bancos? Vamos a uma pequena e esclarecedora lição de história: embora ninguém diga isso explicitamente, o cenário do filme é a cidade de Belfast, na Irlanda do Norte. Isso faz com que ele seja, com certeza, membro do IRA (Irish Republican Army), um grupo fundado em 1919 com o objetivo de separar a Irlanda do Norte do Reino Unido e anexá-la à República da Irlanda. Já em 1926 foi feito um filme centrado na organização, “Irish Destiny”, que termina com um close maravilhoso e em cores da bandeira irlandesa. Em “Condenado / Odd Man Out”, desde o começo fica claro que o pano de fundo é a luta IRA contra polícia inglesa, mas o que importa é a trajetória dos personagens, não os desdobramentos da luta por liberdade. Em suma, a história poderia acontecer durante qualquer conflito, e mesmo assim seria humana e verossímil.

Irish Destiny (1926)
“Odd Man Out” é um curioso noir irlandês. Considerado por muito a obra-prima de Carol Reed, elogiado com sensatez e saudosismo por seu protagonista, usado como recurso de propaganda anti-IRA, “Odd Man Out” ainda é pouco visto, mas é imperdível.

This is my contribution to the Luck of the Irish Blog O’thon, hosted by the mighty Metzinger sisters at Silver Scenes.

4 comments:

Hugo said...

Encontrei por acaso este filme no Youtube, mas ainda não assisti.

Gostei da premissa e do estilo.

Abraço

Carol Caniato said...

Ler esse post me fez pensar que talvez eu nunca tenha assistido a um filme irlandês! Vou checar isso hahaha
Suas dicas são sempre ótimas!
:*

The Metzinger Sisters said...

Your reviews always introduce me to films I have never heard of before! Odd Man Out sounds like a gem, and since it was directed by Carol Reed, it will definitely be on my to-see list. Thank you for participating in the blog o'thon!

António said...

Um filme extremamente diferente do estilo que estamos habituados a ver, ainda mais notório visto estarmos a falar de um filme dos anos 40. Inicialmente o filme até parece que vai ter uma narrativa e um desenvolvimento convencionais, mas não é isso que acontece. À medida que o filme vai avançando, vamos conhecendo um conjunto de personagens singulares, com as mais diferentes motivações. A trajetória do personagem de James Mason também surpreende, ele acabo por andar o filme todo em fuga, ferido, parando em vários locais, também eles singulares. O filme acaba por, pouco a pouco, entrar numa espécie de "tom" existencialista, algo que não é de esperar nos primeiros 20 minutos. Os atores tem excelentes performances, quer os principais, quer os secundários. Claro que há a destacar o James Mason e também a estreante Kathleen. Resumindo, tudo nos vai surpreendendo ao longo deste filme. Tudo, com uma exceção: todo o filme tem uma atmosfera trágica, ficando desde logo à partida o pressuposto de que o final do filme só poderá também ser trágico. Um filme pouco conhecido embora realizado pelo consagrado e famoso Carol Reed, que é uma verdadeira pérola do cinema, um filme que constitui um verdadeiro caso de estudo. Muito bom.

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