} Crítica Retrô: Chicago (1927)

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Sunday, November 20, 2016

Chicago (1927)

O tema era amizade. Dezenas de filmes passaram pela minha cabeça. Todos com algo em comum: eram sobre amizade entre homens. Há muitos filmes sobre “bromances”, camaradas, grupos de homens cultivando a amizade. E há poucos clássicos sobre amizade entre mulheres, sendo “Os Homens Preferem as Loiras” (1953) o mais conhecido deles. Quando duas mulheres são colocadas lado a lado, com a mesma importância, em geral elas são rivais no amor, e não amigas.  Será que só Lorelei e Dorothy conseguiram ser amigas num filme clássico?

The subject was friendship. I could think of dozens of movies. All of them with one thing in common: they were about friendship between men. There are a lot of films about bromances, camaraderie, groups of men who are good friends. And there are few classic films about friendship between women, and “Gentlemen Prefers Blondes” (1953) is the best known of them all. When two women are put side by side, with the same importance, in general they are rivals, not friends. Were Lorelei and Dorothy the only two girl pals in classic film?


Havia muitas duplas ou trios de amigas na era pre-Code, mas uma sempre se sobressaía e a outra ficava como alívio cômico, de lado, às vezes até esquecida ao longo do filme. É isso que acontece, por exemplo, em “Três... Ainda é Bom” (1932), com a personagem de Ann Dvorak ganhando destaque em detrimento das amigas Bette Davis, a moça simples, e Joan Blondell, a amiga bem-humorada.

There were a lot of female duos and trios in the pre-Code era, but one of them was the lead and the other was only comic relief and could be forgotten as the movie progressed. This happens, for instance, in“ Three on a Match” (1932), with Ann Dvorak’s character being the lead and his other two girl friends, Bette Davis, the simple girl, and Joan Blondell, the wisecrack friend, being left behind.


Não há poucos filmes sobre amizade feminina porque não havia amizades femininas inspiradoras na Old Hollywood. Podemos citar, por exemplo, as amigas Joan Crawford e Barbara Stanwyck, e também Bette Davis e Olivia de Havilland. Aparentemente, as rivalidades inspiravam muito mais que as amizades.

We can’t blame the lack of films about female friendship on the inexistence of real inspiring female friendships in Old Hollywood. We can cite BFFs Joan Crawford and Barbara Stanwyck, and also Bette Davis and Olivia de Havilland. But, apparently, rivalries were much more inspiring than friendships.


E é por isso que a minoria das produções mais famosas da Old Hollywood passam no teste de Bechdel. Poucas mulheres protagonistas, ou mesmo relevantes na história. A maioria das personagens femininas só existiam porque gravitavam ao redor de um homem, e duas personagens importantes femininas em um mesmo filme só podiam estar lá para disputar o personagem masculino. Mas vamos ao nosso filme.

And that’s why few Old Hollywood productions pass the Bechdel Test. Few female leads, or even few females with an important role. Most female characters existed because they gravitated around a man, and two important female characters in the same film could only be there to fight for the male character. But let’s see our film of choice.

O nome “Chicago” deve lembrar para você aquele musical que ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2003 – tirando o prêmio merecido de “Gangues de Nova York” do deus Scorsese. Não é coincidência que o filme de 1927 tenha o mesmo título: é (quase) a mesma história.

The name “Chicago” may remind you of that musical that won the Best Picture Oscar in 2003 – stealing the deserved prize from “Gangs of New York”, directed my Our Lord Scorsese. It is not a coincidence that the 1927 film has the same title: it is (almost) the same story.


Amos Hart (Victor Varconi) é o marido perfeito, mas isso não impede sua esposa Roxie (Phyllis Haver) de ter um amante, Casely (Eugene Pallette). Após uma discussão sobre dinheiro, Casely anuncia que vai embora e Roxie, irada, atira nele. Desesperada por tê-lo matado, ela liga para Amos, que está disposto a assumir o crime mesmo depois de descobrir que Roxie o traía.

Amos Hart (Victor Varconi) is the perfect husband, but this doesn’t stop his wife Roxie (Phyllis Haver) from having a lover, Casely (Eugene Pallette). After an argument about money, Casely says he’ll leave Roxie and she, full of rage, shoots him. Desperate, she calls Amos, who is willing to confess the crime even after he finds out that Roxie was cheating on him.


Mas uma jogada de um investigador faz Roxie confessar, sem querer, que foi ela que deu o tiro, e ela vai para uma cadeia feminina. Amos precisa de cinco mil dólares para pagar um advogado para defendê-la no tribunal. Roxie vê tudo isso como um jeito ótimo de se tornar famosa.

But an investigator’s move leads Roxie to confess that she was the one who shot Casely, and she goes to an all-female prison. Amos needs five thousand dollars to pay a lawyer to defend her at the court. Roxie sees the entire situation as a great way to become famous.


Onde entra a amizade na história? Este é o problema: ela não entra. Minha intenção era ver como a relação de frenemies de Roxie Hart e Velma Kelly foi mostrada no filme de 1927, mas Velma, interpretada por Julia Faye, tem apenas uma cena, na qual provoca Roxie e as duas acabam brigando na cadeia.

Where is friendship in our story? That’s the question: it isn’t there. My intention was to see how the frenemies relationship between Roxie Hart and Velma Kelly was portrayed in the 1927 film. However, Velma, played by Julia Faye, has only a scene, in which she teases Roxie and the two end up fighting in jail.

GIF via Movies, Silently

A história voltou às telas como comédia em 1942, sob o título “Roxie Hart”. Ginger Rogers vive Roxie no filme, e mais uma vez Velma aparece apenas para brigar com nossa protagonista por causa de popularidade.

The story went back to the screen as a comedy in 1942, under the title “Roxie Hart”. Ginger Rogers plays Roxie in the movie, and once again Velma is there only to fight with our lead because of popularity.



A peça de teatro foi escrita por uma mulher. A história foi adaptada para as telas em 1927 por uma mulher. Mas a peça de teatro não é igual ao musical conhecido: ele veio bem depois. A dramaturga, repórter e roteirista Maurine Dallas Watkins faleceu em 1969, e pouco depois os direitos de sua peça foram vendidos para Bob Fosse, que idealizou o musical como o conhecemos – e que serviu de base para o filme de 2002.

The theater play was written by a woman. The story was adapted to the screen in 1927 by a woman. But the theater play is not the same as the well-known musical: it came years later. The play writer, reporter and screenwriter Maurine Dallas Watkins died in 1969, and soon the rights for her play were sold to Bob Fosse, who idealized the musical as we know it – the one that was the basis for the 2002 film.

Neste filme, Roxie (Renée Zellweger) e Velma (Catherine Zeta-Jones) têm uma relação conturbada. Velma é o ídolo de Roxie, Roxie tenta ser amiga dela ao chegar à prisão, mas é esnobada. A partir de então elas começam uma disputa por espaço na mídia, mas ao final se tornam amigas.

In this film, Roxie (Renée Zellweger) and Velma (Catherine Zeta-Jones) have a difficult relationship. Velma is Roxie’s idol, Roxie attempts to become friends with her when she arrives in the prison, but she is snobbish. From then on they start a dispute for media space, but in the end they become friends. 


O filme de 1927 foca no sacrifício dramático de Amos, interpretado pelo belo húngaro Victor Varconi, e deixa Roxie como personagem cômica, sendo a excelente Phyllis Haver o destaque do filme. Em 1942, Ginger Rogers e Adolphe Menjou, que interpreta o advogado Billy Flynn, são os melhores em cena. Em 2002, é inegável a presença luminosa de Catherine Zeta-Jones como Velma.

The 1927 film focuses on the dramatic sacrifice of Amos, played by the handsome Hungarian Victor Varconi, and leaves Roxie as a comic character, being the excellent Phyllis Haver simply outstanding. In 1942, Ginger Rogers and Adolphe Menjou, who plays the lawyer Billy Flynn, are the best in scene. In 2002, Catherine Zeta-Jones’s luminous presence as Velma is undeniable.


Todas as versões da história são igualmente interessantes, e o recém-restaurado filme de 1927 vale muito a pena ser visto. É uma pena que existam tão poucos filmes clássicos sobre amizade entre mulheres, mas isto prova algo: amizade feminina é complexa, imprevisível e com muitos altos e baixos.

All the versions of the story are equally interesting, and the recently restored 1927 film is worth watching. It’s a pity that there are so very few classic films about female friendship, but this proves a point: female friendship is complex, unpredictable and with lots of ups and downs.

This is my contribution to the You Gotta Have Friends Blogathon, hosted by Debbie at Moon in Gemini.

3 comments:

Virginie Pronovost said...

Wow I knew about the Roxie Hart film with Ginger Rogers, but I didn't know there was a 1927 Chicago film! How interesting
Great article Leticia :)

Debbie Vega said...

I have seen every other incarnation of this story except this one. Thanks so much for covering it for the blogathon!

Swonkie said...

Enviamos um convite para o teu email :)

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