} Crítica Retrô: Luz de Inverno (1963) / Winter Light (1963)

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Saturday, July 14, 2018

Luz de Inverno (1963) / Winter Light (1963)


Às vezes, em situações deprimentes, nos questionamos sobre Deus. Frente a injustiças, desgraças, perdas e até tormentos geopolíticos, nós nos perguntamos se existe realmente Deus, e por que ele não interfere para que nós ou outras pessoas paremos de sofrer tanto. Este mesmo questionamento foi feito por um pastor em uma pequena cidade sueca, no filme de Bergman “Luz de Inverno”, de 1963.

Sometimes, in very sad situations, we ask ourselves about God. In the face of injustices, disgraces, loss and even geopolitical turmoil, we wonder if there is really a God, and why he isn’t interfering to make us or other people from suffering. This same question was made by a pastor in a small Swedish city in 1963, in Bergman’s “Winter Light”.

O filme é relativamente curto - 81 minutos - e os primeiros doze minutos são gastos com o sacramento católico da comunhão / eucaristia durante uma missa. Há uma razão para isso: o título original em sueco, que é muito difícil de pronunciar, pode ser traduzido como “Luz de Inverno” e também como “os Comunicantes” - ou seja, as pessoas que tomam parte na Comunhão.

The film is relatively short - 81 minutes - and the first twelve are spent with the Christian ritual of communion / Eucharist during a mass. This has a reason: the hard to pronounce original title in Swedish can be translated as both “Winter Light” and “the Communicants” - that is, the people who take part in the Communion.

Estes Comunicantes procuram pelo pastor Tomas Ericsson (Gunnar Björnstrand) para que ele os ajude após a missa. Karin Persson (Gunnel Lindblom) pede que o pastor converse com seu marido com tendências suicidas, Jonas (Max von Sydow). Jonas é um pescador com uma grande família, mas após ouvir sobre o desenvolvimento de bombas atômicas na China, ele passa a se questionar o significado da vida e sobre a existência de Deus.

Those Communicants look for pastor Tomas Ericsson (Gunnar Björnstrand) for help after the mass. Karin Persson (Gunnel Lindblom) asks the pastor to have a talk with her suicidal husband, Jonas (Max von Sydow). Jonas is a fisherman with a large family, but since hearing about the development of atomic bombs in China, he is questioning the meaning of life and the existence of God.

O problema é que o pastor Tomas pode não ser a pessoa ideal para dar conselhos espirituais para Jonas. Tomas também está questionando sua fé, e ainda tem de lidar com a atenção não requisitada da professora e ajudante Märta Lundberg (Ingrid Thulin). Ela não foi conversar com ele depois da missa, mas deixou uma carta. Em uma escolha muito sábia de Bergman, o conteúdo da carta é lido não por Ingrid em voiceover, mas por Ingrid em close-up, como um testemunho - um testemunho do qual não podemos tirar os olhos.

The problem is that pastor Tomas may not be the ideal person to give Jonas spiritual advice. Tomas is also questioning his faith, and also has to deal with the unrequited attention from the teacher and helper Märta Lundberg (Ingrid Thulin). She didn’t talk to him after the mass, but left him a letter. In a very wise choice from Bergman, the content of the letter is read not by Ingrid in voiceover, but by Ingrid in a close-up, like a testimony - one we can’t take our eyes off.

Outra escolha sábia se dá quando vemos a luz de Inverno pra valer: é óbvio que há uma mudança na iluminação quando, depois de conversar com Jonas, Tomas pergunta: “Deus, por que me abandonaste?”. E, se você tem familiaridade com a doutrina cristã, aqui está a chave para interpretar o filme: talvez, no final das contas, o pastor Tomas não acredite naquilo que prega.

Another wise choice is when we really see a winter light: it’s obvious the change of lighting that happens when, after talking to Jonas, Tomas asks: “God, why have you forsaken me?”. And, if you are familiar with the Christian doctrine, here you have the key to interpret the movie: maybe, after all, pastor Tomas isn’t a true believer.

Obviamente, Bergman é um cineasta que faz filmes complexos. As pessoas podem ter diferentes interpretações de sua obra - e eu penso que isto é fascinante. Na minha opinião, quando o ajudante deficiente da igreja Frövik (Allan Edwall) fala sobre a paixão de Cristo, ele não mostra apenas que ele é o único cristão de verdade naquela igreja, mas também revela todos nós temos nossas paixões para enfrentar.

Of course, Bergman is a filmmaker who makes complex movies. People can have several interpretations of his work - and I find it fascinating. In my opinion, when the handicap church helper Frövik (Allan Edwall) talks about Jesus’ passion, he does not only show how he is the only truly believer in that church, but he also reveals that we all have our passions to go through. 

“Luz de Inverno” é a história de muitas paixões: a de Tomas, a de Jonas, a de Märta. Nós podemos não saber se nossa paixão já aconteceu no passado ou se estamos prestes a enfrentá-la, mas todos nós temos um momento crucial na vida em que também perguntamos: “Deus, por que me abandonaste?”.

“Winter Light” is the story of many passions: Tomas’s, Jonas’s, Märta’s. We may not know if our passion already happened in the past or if we are about to face it, but we all have one crucial moment in life when we too ask: “God, why have you forsaken me?”.

This is my contribution to the Winter in July blogathon, hosted by Debbie at Moon in Gemini.

2 comments:

Caftan Woman said...

You make this film sound compelling and important in its universality. Winter is like the night, a time when our fears easily surface, especially that fear that we are alone.

Debbie Vega said...

Not the biggest Bergman fan, but you make this film sound fascinating and a perfect use of the winter setting.

Thanks so much for covering a chilly winter movie while it's winter where you are! :)

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