} Crítica Retrô: A Besta de Berlim (1939) / Hitler – Beast of Berlin (1939)

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Thursday, September 5, 2019

A Besta de Berlim (1939) / Hitler – Beast of Berlin (1939)


Alguns dias atrás lembramos os 80 anos desde o começo da Segunda Guerra Mundial. O filme de baixo orçamento “A Besta de Berlim” estreou um mês após o início da guerra. Trata-se de um artefato histórico muito curioso, e é também interessante por trazer Alan Ladd em um papel secundário. A história por trás do filme também mostra como simpatizantes do nazismo agiam nos EUA – não no sentido de colaboração total com o nazismo, mas, mesmo assim, como pessoas que representavam algum perigo para a liberdade de expressão.

A few days ago we remembered the 80 years since World War II began. The B-movie “Hitler – Beast of Berlin” was released a month after the war started. It’s a very curious historical artifact, and it’s also of interest because it brings Alan Ladd in a secondary role. The film’s background also shows how Nazi sympathizers have walked in America – not in the sense of full-on collaboration with Nazism, but as dangerous people nonetheless.


“A Besta de Berlim” – por vezes exibido com o título “Hell’s Devils” – é a história de um grupo da Resistência na Alemanha. O filme começa com imagens reais de desfiles dos nazistas e corta para um desfile encenado, no qual o povo faz a saudação nazista e, quando o desfile acaba, balança a cabeça, consternado – o povo não concorda com a ideologia que está no poder, mas fingir obediência é a única coisa que o povo pode fazer para sobreviver.

“Hitler – Beast of Berlin” - sometimes also presented as “Hell's Devils” - is the story of a Resistance group in Germany. The film starts with real footage of Nazi parades and cuts to a staged parade, in which the people give the Nazi salute and shake their heads in disbelief once the parade is over – they do not agree with the ideology in power, but pretending to obey is what they can do to survive.


Karl (Alan Ladd) e dois amigos fazem a saudação nazista para dois oficiais da SS que entram no restaurante em que eles estão. Um dos amigos inclusive fala alto sobre “queimar museus”, o que agrada aos dois oficiais. Mas não se engane: os três amigos são parte de um movimento pacifista de resistência.

Karl (Alan Ladd) and his two fellows also give the Nazi salute when two SS officers enter the restaurant they're in. One of the friends even talks out loud about “burning museums”, which delights the two officers. But don't be mistaken: the three friends are part of an underground pacifistic movement.


Karl é o mais novo membro do movimento – e está com medo. Ele acredita que Hitler é perigoso e um dia irá começar uma guerra, mas ele olha para o passado e percebe que nenhum reinado de terror durou muito, então se pergunta: por que eles devem arriscar suas vidas distribuindo propaganda antinazista? Hitler cairá um dia, ele diz. Ele tem de ser lembrado de que seus amigos não estão sozinhos combatendo o bom combate – há muitos núcleos de resistência que, juntos, podem fazer a diferença.

Karl is the newest member in the movement – and he's afraid. He believes that Hitler is dangerous and will eventually initiate a war, but he looks at the past and sees that no reign of horror lasted forever, so why risk their lives distributing propaganda? Hitler will fall some day, he says. He has to be reminded that they are not alone in this good fight – there are many underground groups that, together, can make a difference.


Eles imprimem um folheto dizendo que “o mundo inteiro está horrorizado com as brutalidades que vêm acontecendo nessa nação que já foi civilizada”. Bem, a palavra certa não é “horrorizado”: na verdade, os outros países eram ou coniventes ou indiferentes com as atrocidades que já aconteciam na Alemanha, com poucos grupos de pessoas preocupados de fato.
 
They print a leaflet saying that “the entire world is horrified by the brutalities that have been visited upon our once civilized nation.” Well, the word here is not “horrified”: in fact, the other countries were either accomplice or indifferent to the atrocities already going on in German, with few groups of people really concerned.


A técnica do grupo é usar o vento para distribuir o panfleto, mas dois oficiais da SS percebem e confiscam os panfletos de todos os cidadãos que porventura os acham no chão. Mas eles não podem censurar tudo: em lojas e ferrovias, as pessoas estão reclamando da inflação e das condições de trabalho, no rádio e na igreja as pessoas estão ouvindo mensagens pacifistas.

The group's technique is to use the wind to distribute the leaflet, but two SS officers see it and start confiscating the leaflet from all citizens that catch one from the floor. But they can't censor everything: in shops and railroads, people are complaining about the inflation and the work conditions, in the radio and in church people are listening to pacifist messages.


Na resistência há homens de todas as idades, uma mulher, Anna (Greta Granstedt) e até mesmo um padre. Puxa, um dos membros do grupo está infiltrado na Gestapo! Anna é uma mulher esperta: mesmo namorando Karl, ele se recusa a se casar porque “na nova Alemanha, é para isso que as mulheres servem: para ter filhos”, e ela sabe que pode muito mais que isso atuando na resistência. Hans (Roland Drew), o líder do grupo, vive um dilema: ele está dividido entre o trabalho com a resistência e a possibilidade de sair do país com a esposa grávida, Elsa (Steffi Duna).

In the underground there are men of all ages, one woman, Anna (Greta Granstedt) and even a priest. Damn, one of the members of the group is infiltrated in the Gestapo! Anna is a smart woman: even though she dates Karl, she refuses to marry because “in the new Germany, that's what women are for: having children” and she knows she can do much more working with the resistance. Hans (Roland Drew), the leader of the group, lives a dilemma: he is torn between working with the resistance and leaving the country with his pregnant wife, Elsa (Steffi Duna).


Schultz (John Ellis), outro membro da resistência, diz: “campos de concentração estão cheios de pessoas como nós”, e nós somos lembrados de que os primeiros campos de concentração foram construídos em 1933 para presos políticos. E, ao contrário do que se acredita, o mundo já sabia dos campos de concentração antes do final da guerra, porque aqui temos um filme norte-americano de 1939 falando sobre eles e recriando o interior de um deles.

Schultz (John Ellis), another resistance member, says: “concentration camps are full of people like us”, and we're reminded that the first concentration camps were built in 1933 for political prisoners. And, contrary to popular belief, the world did know about concentration camps before the end of the war, because here it is a 1939 American film talking about them and recreating the interiors of one.


Oficiais da SS e da Gestapo são retratados como pessoas rudes, sádicas e depravadas – como eram de fato. Eles torturam os presos para que eles confessem que são “comunistas”, e riem dos homens que são largados quase sem vida nas prisões. Um deles diz ao Padre Pommer (Friederick Giermann) que não há Deus, é Hitler quem toma conta deles.

SS and Gestapo officers are shown as rude, sadistic and depraved – as it should be. They torture the people they arrest, in order to make them confess that they're “communists”, and laugh at the men who are left nearly lifeless in prison cells. One of them says to Father Pommer (Friederick Giermann) that there is no God, Hitler is the one taking care of them.


Foram necessários 10 anos para que Alan Ladd estourasse em Hollywood: ele começou como figurante em 1932, e conseguiu notoriedade apenas em 1942 com “Capitulou Sorrindo”. Antes disso, ele ficou muitos anos fazendo papéis sem receber créditos e até interpretou um animador da Disney na parte em live-action de “O Dragão Relutante” (1941). Em “A Besta de Berlim”, Ladd tem um papel coadjuvante, mas seu personagem é quem faz a coisa mais ousada.

It took 10 years for Alan Ladd to get his big break in Hollywood: he started as an extra in films in 1932, and only got notoriety in 1942 with “The Glass Key”. Before that, he spent many years playing uncredited roles and even acted as a Disney animator in the live-action part of “The Reluctant Dragon” (1941). In “Hitler – Beast of Berlin”, Ladd plays a supporting role, but his character is the one who does the most daring act of them all.
 
"O Dragão Relutante" / "The Reluctant Dragon"
Você deve estar se perguntando: se este filme “A Besta de Berlim” é tão ousado, por que eu nunca ouvi falar dele? Há muitas razões. A mais óbvia é que este não é um filme feito por um grande estúdio, por isso foi facilmente esquecido com o tempo. O filme foi feito por um produtor independente com objetivos de explorar o tema – não com o objetivo mais humano de denunciar os nazistas. Há uma razão ainda pior: quando o filme estreou, muitos cinemas que apoiavam a Alemanha nazista se recusaram a exibir o filme. Muitos estados proibiram sua exibição e a Associação dos Produtores e o escritório do Código Hays se recusaram a dar o selo de aprovação para o filme. Foram os simpatizantes do nazismo que impediram que o filme ficasse mais conhecido.

You must be wondering: if this film “Hitler – Beast of Berlin” is so daring, why haven't I heard of it yet? There are a few reasons. The most obvious one is that this is not a movie made by a big studio, so it was easily forgotten with time. The film was made by an independent producer for exploitation purposes – not the more human purpose of denouncing Nazis. There is an even uglier reason: when the film premiered, many movie theaters that supported Nazi German refuse to screen the film. Many state boards prohibited the film and the MPPA and the Hays office refused to give it a seal of approval. The Nazi sympathizers were the ones that prevented the movie from getting a wide release.


Mesmo tendo sido feito com um orçamento mínimo – o que se nota facilmente – “A Besta de Berlim” consegue alertar, surpreender e inspirar. O filme mostra que ficar de cabeça erguida ao enfrentar o mal é uma virtude, e que todos podem fazer a diferença, onde quer que estejam, na luta do bem contra o mal.

Although made with a minimum budget – and it shows – and not with the best intentions, “Hitler – Beast of Berlin” manages to alert, surprise and inspire. It shows that standing still when facing evil is a virtue and that everybody can make a difference, wherever they are, in the fight of good versus evil.

"Hitler - Beast of Berlin" is avbailable on YouTube.

This is my contribution to The Man who Would Be Shane: The Alan Ladd Blogathon, hosted by Gabriela at Pale Writer.


1 comment:

Caftan Woman said...

Very interesting. I'll be checking this out on YouTube this weekend. It is the B and independent features that can or could sneak material out to the public which the big studios and their A level projects could not.

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