} Crítica Retrô: Flor de Cacto (1969) / Cactus Flower (1969)

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Saturday, August 29, 2020

Flor de Cacto (1969) / Cactus Flower (1969)

 

O filme “Flor de Cacto” começa com uma música de Quincy Jones cuja letra diz “primavera é apenas um estado de espírito”. Para a protagonista, é verdade: ela floresce, deixando de lado uma personalidade considerada fria e desinteressante. “Flor de Cacto” é, por causa disso, um filme sobre se libertar – e, numa surpresa agradável, quem se liberta é uma mulher madura, algo que não teria espaço nas telas 10 anos antes.

The film “Cactus Flower” starts with a song by Quincy Jones that says “Spring is just a state of mind”. For the female lead, it really is: she blossoms leaving behind a personality seen as icy cold and uninteresting. “Cactus Flower” is, because of this, a film about becoming free – and, a thankful surprise, the one becoming free is a mature woman, something that wouldn’t be on screen 10 years before.

Toni Simmons (Goldie Hawn) está prestes a cometer suicídio. O homem que ela ama, o dentista Julian Winston (Walter Matthau), é casado e ela sabe disso. Na verdade, foi a honestidade dele, ao contar que é casado e pai de três filhos, que a atraiu. Eles começam a sair e tudo parece estar indo bem. Entretanto, no primeiro aniversário do dia em que se conheceram, ele cancela o encontro. Ela decide se matar, mas o vizinho Igor (Rick Lenz) a salva antes que ela se envenene com gás.

Toni Simmons (Goldie Hawn) is about to commit suicide. The man she loves, the dentist Julian Winston (Walter Matthau), is a married man and she knows it. Actually, it was his honesty about being married and the father of three kids that attracted her to him. They start going out and everything seems swell. However, on the first anniversary of their meeting, he cancels their date. She decides to kill herself, but her neighbor Igor (Rick Lenz) saves her before she suffocates on gas.

O grande problema é que Julian não é casado, nem mesmo tem filhos. Ele disse isso a Toni porque queria que as coisas permanecessem casuais entre eles. Quando ele descobre que ela quase se matou, ele promete se casar com ela para compensar o ato. Mas ainda há a mentira: ele não tinha esposa e três filhos? Ele diz que está se divorciando, mas Toni insiste em conhecer a esposa para garantir que ela ficará bem após o divórcio. Julian então pede a sua enfermeira, Stephanie Dickinson (Ingrid Bergman), para fingir que é sua futura ex-esposa. Como ela sempre cuidou dele, ela aceita – e este é só o começo dos problemas e mais mentiras.

The biggest issue is that Julian is not married, nor has kids. He told Toni that because he wanted things to remain casual between them. When he learns that she almost killed herself, he promises to marry her to compensate. But there is still the lie: didn't he have a wife and three kids? He says he's divorcing his wife, but Toni insists about meeting her to make sure she'll be fine after the divorce. Julian then asks his nurse, Stephanie Dickinson (Ingrid Bergman), to pretend she's his soon-to-be ex-wife. As she has always taken care of him, she does that – and this is just the beginning of their troubles and more lies.

Não pude deixar de lembrar-me de outro filme de Ingrid Bergman no qual o protagonista mente sobre ser casado: a deliciosa comédia “Indiscreta” (1958). Neste filme, Philip Adams (Cary Grant) diz a Anna Kalman (Ingrid) que é casado porque ele prefere não estragar uma relação com a possibilidade de um futuro casamento. Aqui, entretanto, Ingrid Bergman interpreta a amante, não outra mulher envolvida no esquema – talvez uma prova de que, 11 anos depois, seu status como atriz havia mudado por causa da idade?

I couldn't help but remember another Ingrid Bergman film in which the leading man lies about being married: the delightful comedy “Indiscreet”, from 1958. In this film, Philip Adams (Cary Grant) tells Anna Kalman (Ingrid) that he's married because he prefers not to spoil a relationship if the possibility of marriage is on the horizon. Here, however, Ingrid Bergman plays the lover, not another woman involved in the scheme – maybe a proof that, 11 years later, her status as an actress had changed because of her age? 

Há uma cena de dança icônica e muito divertida envolvendo Cary Grant e uma coreografia maluca em “Indiscreta”. Em “Flor de Cacto” temos uma sequência de dança hilária com Ingrid Bergman, quando Stephanie desabrocha tal qual seu cacto, indo de espinhosa e pouco atraente planta do deserto a uma mulher exuberante e amante da diversão. Não, não, a idade não desacelerou Ingrid Bergman nem a fez ficar irrelevante: aqui ela está roubando a cena!

There is an iconic and very funny dancing scene involving Cary Grant and some crazy steps in “Indiscreet”. In “Cactus Flower” we have a hilarious dancing sequence with Ingrid Bergman, as Stephanie blossoms like her cactus, going from a prickly and unattractive desert plant to an exuberant and fun-loving woman. No, no, age hasn't slowed down Ingrid Bergman nor made her irrelevant: here she is absolutely stealing the picture from everybody else!

Outro filme de Ingrid Bergman do qual eu me lembrei foi “Mais Uma Vez Adeus” (1961), também sobre relacionamentos modernos. Neste filme, Ingrid interpreta Paula, que tem um relacionamento aberto com Roger (Yves Montand), mas se apaixona pelo jovem Philip (Anthony Perkins). Quando Roger exprime que desaprova o romance de Paula com um homem mais jovem, ela comenta que ele tem affairs com mulheres mais jovens, e ele responde que isso é normal para os homens. O mesmo acontece em “Flor de Cacto”: Julian acha estranho que Stephanie dance com Igor, mas para ele é perfeitamente normal namorar Toni, que tem apenas 21 anos.

Another Ingrid Bergman movie that came to my mind was “Goodbye Again” (1961), also about modern relationships. In this film, Ingrid plays Paula, who has an open relationship with Roger (Yves Montand), but falls in love with the young Philip (Anthony Perkins). When Roger expresses disapproval of Paula's romance with a younger man, she calls him out for having affairs with younger women, to which he replies that it's something normal for men. The same happens in “Cactus Flower”: Julian thinks it's odd when Stephanie dances with Igor, but for him it's perfectly normal to date Toni, who is just 21.

O roteiro foi escrito por I.A.L Diamond, colaborador constante de Billy Wilder. Neste filme, Diamond consegue inserir mais piadas de teor sexual do que ele conseguia com Wilder, nos filmes da dupla feitos durante o domínio restritivo do Código Hays. Em “Flor de Cacto”, por exemplo, temos Julian dizendo que seu filho mais velho tem 12 anos, mesmo ele sendo casado há apenas 10 anos, porque foi um bebê prematuro, e também Igor, tristonho, dizendo que sua mãe deveria ter tomado a pílula.

The screenplay was written by I.A.L. Diamond, a constant Billy Wilder collaborator. In this film, Diamond manages to squeeze a few more sex jokes than he could do with Wilder, in their films made during the strict Code dominion. In “Cactus Flower”, for instance, we have Julian saying that his older son is 12, even though he has been married for only 10 years, because he was a premature baby, and also Igor, in a sad mood, saying that his mother should have taken the pill.

“Flor de Cacto” foi originalmente uma peça da Broadway que revitalizou a carreira de Lauren Bacall. Ansiosa para voltar a Hollywood, ela ficou um bocado chateada quando Ingrid Bergman foi escolhida para interpretar Stephanie. Conhecendo Bacall de comédias como “Como Agarrar um Milionário” (1953), podemos imaginar que sua performance como Stephanie seria tão boa no filme quanto foi nos palcos, onde recebeu grandes elogios.

“Cactus Flower” was originally a Broadway play that revitalized Lauren Bacall's career. Anxious to make a comeback in Hollywood, she was a bit disappointed when Ingrid Bergman was cast as Stephanie. Knowing Bacall in comedies like “How to Marry a Millionaire” (1953), we can imagine that her performance as Stephanie would be as great on screen as it was on stage, where she received fantastic reviews.

Goldie Hawn – que nos créditos aparece como “apresentando”, mesmo já tendo feito outro filme com seu nome verdadeiro, Goldie Jeanne Hawn – surpreendeu a todos quando ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Flor de Cacto” – a única indicação do filme. Podemos discutir se Toni é protagonista ou coadjuvante, mas não podemos negar que, com seus imensos olhos azuis, uma personalidade doce e uma preocupação genuína com a personagem de Ingrid, Goldie interpreta uma personagem adorável no filme.

Goldie Hawn – who receives an “introducing” credit even though she had already made a movie under her real name of Goldie Jeanne Hawn – surprised everybody when she won a Best Supporting Actress Oscar for “Cactus Flower” – the film’s only nomination. We could argue if Toni is a leading or a supporting character, but we can't deny that, with her huge blue eyes, a sweet personality and a sincere concern about Ingrid’s character, Goldie plays an adorable character in this film.

Embora previsível, o filme é tão charmoso quanto outros dirigidos por Gene Saks, como “Descalços no Parque” (1967) e “Um Estranho Casal” (1968). Há ainda um longo caminho a ser percorrido até que atrizes maduras recebam papéis tão interessantes quanto as mais jovens. Mas a mudança tinha de começar em algum lugar, e “Flor de Cacto” é um bom ponto de partida para personagens femininas mais livres e – por que não? – uma inspiração para que nós nunca nos esqueçamos de nos divertir.

Although predictable, this film is as charming as others directed by Gene Saks, like “Barefoot in the Park” (1967) and “The Odd Couple” (1968). There is still a long way until mature actresses receive roles as interesting as the younger performers. But change had to start somewhere, and “Cactus Flower” is a great starting point for freer female characters and – why not? – an inspiration for us all to never forget to have fun.  

This is my contribution to the 5th Wonderful Ingrid Bergman blogathon, hosted by superfan Virginie at The Wonderful World of Cinema.

4 comments:

Caftan Woman said...

I really enjoyed your take on Cactus Flower. I haven't seen it in years and I think I will enjoy it more at this time of life than when I was younger.

Virginie Pronovost said...

This was a wonderful piece on a huge favourite of mine, Leticia. And I loved how you compared it with other Ingrid Bergman's films. Even tho I'm sure Lauren Bacall was great in the stage version, I'm kind of glad the role went to Ingrid because it gave her one of her very rare occasions to play comedy. And she was good at it!
Thank you so much for your contribution to the blogathon!

Realweegiemidget Reviews said...

I love your take on this film and those references to other Bergman films. I always find it interesting to see who could have been cast in movies and it seems Bergman and Bacall had a lot of these. Thanks again.

Rebecca Deniston said...

This is the second review of Cactus Flower I've read, and I'm sold. Gonna have to see this one. :-)

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