} Crítica Retrô: Redescobrindo Marcel Perez / Rediscovering Marcel Perez

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Saturday, November 21, 2020

Redescobrindo Marcel Perez / Rediscovering Marcel Perez

 

Marcel Perez. Robinet. Marcel Fabre. Michel Fabre. Fernandea Perez. Tweedledum. Twede Dan. Tweedy. Todos estes nomes se referem à mesma pessoa: o comediante Marcel Perez. Você pode não ter ouvido falar dele, mas Marcel já foi uma superestrela. Você já deve ter ouvido que Max Linder foi a primeira estrela de cinema internacional, e Chaplin foi a segunda. Entre eles, houve o quase esquecido Marcel Perez, um artista espanhol que foi bem-sucedido nos muitos países em que trabalhou.

Marcel Perez. Robinet. Marcel Fabre. Michel Fabre. Fernandea Perez. Tweedledum. Twede Dan. Tweedy. All those names refer to the same person: comedian Marcel Perez. You may not have heard about him, but once Marcel was a superstar. You may have heard that Max Linder was the first international film star, and Chaplin was the second. In the middle of them, there was the nearly forgotten Marcel Perez, a Spanish performer who found success in the many countries he worked in. 

Nascido na Espanha em 1884 como Marcel Fernández Perez, ele começou sua carreira no show business como palhaço de circo. Seu mais antigo – e muito ousado – filme de que se tem notícia é de 1907: o curta-metragem metragem francês The Short-Sighted Cyclist” (ou “The Near-Sighted Cyclist”), embora haja evidências de que ele já estivesse trabalhando no cinema desde 1900 para companhias como Pathé e Gaumont.

Born in Spain in 1884 as Marcel Fernández Perez, he started his show business career in as a circus clown. His earliest – and one his most daring – known screen appearance dates from 1907, in the French film “The Short-Sighted Cyclist” (or “The Near-Sighted Cyclist”), although there is evidence that he had been in films since 1900, working for companies such as Pathé and Gaumont. 

Em 1910, ele se mudou para a Itália e rapidamente fez enorme sucesso interpretando o personagem Robinet para os estúdios Ambrosio. Em mais de 100 filmes de meio rolo – de cerca de cinco minutos de duração – feitos em um período de cinco anos, Robinet, por vezes com sua esposa Robinette (Nilde Baracchi), vive pequenas aventuras que iam desde um ataque de ciúmes com consequências doloridas, passando pela tentativa de aprender a dirigir mesmo sendo extremamente míope, até várias tentativas de manter limpo seu novíssimo terno branco. Nos EUA, o personagem Robinet era conhecido como Tweedledum.

In 1910, he moved to Italy and quickly found enormous success playing the character Robinet at the Ambrosio studios. In over a hundred split-reel shorts - about five minutes long - made in a period of five years, Robinet, sometimes paired with his wife Robinette (Nilde Baracchi), lives little adventures that could consist in a bout of jealousy with painful consequences, learning how to drive a car despite being extremely nearsighted  or several attempts to keep his brand new white suit clean. In the USA, the character Robinet was known as Tweedledum.

 

Já que estamos falando de aventuras, o longa-metragem “Viagens Maravilhosas de Saturnino Fanrandola” (1913) traz Marcel Perez em oito aventuras diferentes contadas em menos de 60 minutos. Resgatado quando criança de um naufrágio, Saturnino foi criado por macacos, resgatado novamente por marinheiros e lutou contra piratas, cientistas, gorilas, leões e vilões ambiciosos. É um filme estranho, incrível e bastante surpreendente.

Since we’re talking about adventures, the feature “The Extraordinary Adventures of Saturnino Farandola” (1913) brings Marcel Perez in eight different adventures told in less than 60 minutes. Rescued from a sinking ship as a baby, Saturnino was raised by monkeys, rescued again by sailors and fought pirates, scientists, gorillas, lions and greedy villains. It’s a weird, amazing and extremely surprising film.

Em 1915, com a Primeira Guerra Mundial impactando a indústria do cinema na Itália, Perez mudou-se para os Estados Unidos. Em sua breve passagem por Jacksonville, Flórida, ele trabalhou nos estúdios Vim e fez quatro curtas-metragens como o personagem Bungles, contracenando com Oliver Hardy, então creditado como Babe Hardy. Perez dirigiu os quatro filmes e foi creditado, enquanto ator, como Fernandea Perez. Enquanto diretor, ele sempre foi creditado como Marcel Perez.

In 1915, with World War One impacting the film industry in Italy, Perez moved to the United States. In his brief passage to Jacksonville, Florida, he worked at the local Vim studios and made four short films as the character Bungles, with co-star Oliver Hardy, then billed Babe Hardy. Perez directed the four films and was billed, as an actor, Fernandea Perez. As a director, he was always billed Marcel Perez.

Nos EUA, ele trabalhou tanto como ator quanto como diretor para os estúdios e companhias Vim, Eagle, Jester, Reelcraft e Sanford. Um dos destaques de sua carreira norte-americana é “A Busy Night” (1916), em que ele interpreta todos os 16 personagens – e ainda dirige o filme! Esta é também a primeira vez que Perez dirige um curta de dois rolos – cerca de 25 minutos – como nota o historiador e pianista Ben Model.

While in the USA, he worked as both actor and director for studios and companies Vim, Eagle, Jester, Reelcraft and Sanford. One of the highlights of his American career is “A Busy Night” (1916), in which he plays all sixteen characters – and also directs! It’s also Perez’s first time directing a two-reel film – about 25 minutes long – as film historian and accompanist Ben Model notices.

"Some Hero" (1916)

Em 1920 Perez se casou com a atriz Dorothy Earle, com quem trabalhava frequentemente, e eles tiveram um filho, Marcel Perez Jr. Antes de conhecer Dorothy, a protagonista feminina dos filmes de Perez ainda era Nilde Baracchi, que também emigrou da Europa. Nos filmes feitos para a companhia Eagle, Nilde era creditada como Babette Perez, e nos filmes para a companhia Jester, como Nilde Babette. Dorothy Earle, cujo nome verdadeiro era Esther Lucille Elmendorf, após se casar com Perez ela chegou a assinar o nome como Esther Perez. Ufa! Viu como tudo pode ser bem confuso?

In 1920 Perez married his frequent co-star Dorothy Earle and they had a son, Marcel Perez Jr. Before meeting Dorothy, Perez’s female co-star was still Nilde Baracchi, who also emigrated from Europe. In films made for the Eagle company, Nilde was billed Babette Perez, and in films for the Jester company, she was billed Nilde Babette. Dorothy Earle, whose real name was Esther Lucille Elmendorf, after marrying Perez often used the name Esther Perez. Wow! See how confusing things can get?

Nilde Baracchi and Marcel Perez in "what a Day!" (1918)

Em meados dos anos 20, Perez foi diagnosticado com câncer e teve de amputar sua perna esquerda, fazendo sua última aparição no cinema em “Lash of the Law” de 1926, como um aleijado. Então ele passou a trabalhar apenas por trás das câmeras. Ele dirigiu curtas para o produtor e ator ocasional Joe Rock. Infelizmente, Marcel Perez faleceu em 1919, com apenas 44 anos.

In the mid-1920s, Perez was diagnosed with cancer and had to amputate his left leg, making his last film appearance in 1926's “Lash of the Law”, as an amputee. Then he switched entirely to behind-the-camera work. He directed short films for producer and occasional actor Joe Rock. Unfortunately, Marcel Perez passed away in 1929, at only 44. 

"The Tenderfoot" (1919)

Sim, este homem morreu há mais de 90 anos e nós ainda estamos – ou talvez finalmente estamos – falando sobre ele hoje, porque ele definitivamente merece todos os elogios. Marcel Perez era incrivelmente talentoso, criativo e atlético. Algumas de suas gags desafiam qualquer tipo de lógica, enquanto outras demandam muito fisicamente. Suas expressões faciais e gestos são sempre uma alegria para nossos olhos. Como diretor, ele mostra ser inventivo e sofisticado no uso de técnicas cinematográficas como a split screen. Entre os filmes que estão disponíveis, o mais criativo é “Amor Pedestre” (1914), uma história de amor contada apenas com os pés dos personagens. Você jamais poderia imaginar que pés podem demonstrar tanta emoção, tensão e até erotismo!    

Yes, this man died over 90 years ago and we are still – or maybe finally – talking about him today, because he definitely deserves all the praise. Marcel Perez was incredibly talented, inventive and athletic. Some of his gags defy all kinds of logic, while others are very physically demanding. His facial expressions and gestures are always a delight to watch. As a director, he shows inventiveness and sophistication in his use of film techniques such as the split screen. His most creative film, out of the ones available now, is “Amor Pedestre” (1914), a love story told only with the characters’ feet. You could never imagine that feet can show so much emotion, tension and even eroticism!

O ano de 2020 foi difícil para mim e certamente também foi para muitos de vocês que estão lendo o blog. Mas foi o ano em que descobri Marcel Perez, e isso fez de 2020 um pouco melhor. Foi através da Silent Comedy Watch Party, um evento semanal de exibição ao vivo de comédias mudas, apresentado por Ben Model e pelo historiador de cinema Steve Massa. O evento exibiu, até agora, quatro filmes de Perez ─ na verdade, foi através deste evento que eu fui apresentada a Marcel Perez e não poderia estar mais grata. Antes de criar a Silent Comedy Watch Party, Ben & Steve trabalharam no lançamento de dois DVDs com filmes de Perez, e Steve escreveu um livro sobre o ator e diretor. Com este projeto de resgate, Ben & Steve inclusive conseguiram exibir os filmes para os netos de Marcel Perez e de Dorothy Earle, que até então nunca haviam visto seus avós na tela!   

This year of 2020 was difficult for me and certainly also for many of you reading this blog. But it was the year I discovered Marcel Perez, and that made 2020 a little better. It was through the Silent Comedy Watch Party, a weekly live-stream of silent shorts hosted by Ben Model and film historian Steve Massa. The Party has showed four of Perez’s films so far ─ actually, it was through the Party that I was introduced to Marcel Perez and I couldn’t be more grateful. Before creating the Party, Ben & Steve worked on the release of two DVDs of Perez’s films, and Steve wrote a book about the actor-director. With this rescue project, Ben & Steve even managed to show the films for Marcel Perez’s and Dorothy Earle’s grandchildren, who until then had never seen their grandparents on screen!

Assim como o terno branco de Robinet não conseguiu ficar limpo por muito tempo, eu sei que no final da pandemia não serei a mesma que era no começo. Mas terei certeza de que Marcel Perez foi uma das pessoas que me ajudaram a passar por este momento. Marcel ficou fora dos holofotes por muito tempo. Fico feliz por agora ele receber os elogios que merece, e estou grata porque mais e mais de seus filmes estão sendo (re)descobertos e exibidos. Rir é, de fato, o melhor remédio.    

Like Robinet’s white suit couldn’t be kept clean for long, I know I’ll not end the pandemic being the same I was before. But I’ll be sure that Marcel Perez was one of the people who helped me get through this moment. Marcel Perez was kept out of the limelight for too long. I’m happy he’s getting the praise he deserves now, and I’m grateful more and more of his films are being (re)discovered and made available. Laughter is, indeed, the best medicine.

This is my contribution to A Blogathon to Be Thankful for, hosted by Sally at 18 Cinema Lane.

1 comment:

Sally Silverscreen said...

What a wonderful article! Before reading your post, I had never heard of Marcel Perez. After watching the videos you included, I can definitely see why he is worth remembering! Thanks for joining my blogathon! I have added your article to the participant list!

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