} Crítica Retrô: March 2021

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Tuesday, March 23, 2021

Buster Keaton in “The Awakening” (1954)

 

Quando os caminhos de Buster Keaton e de Douglas Fairbanks se cruzaram, aconteceu uma mudança: Keaton fez seu primeiro longa-metragem, “O Pesado” (1920), porque Fairbanks o recomendou para os estúdios Metro. Trinta e quatro anos depois, os caminhos de Buster se cruzaram com os de Douglas Fairbanks Jr. Na época, séries antológicas na TV eram populares, e com eles pessoas como Hitchcock e Fairbanks tinham programas próprios sem precisar se envolver demais com o trabalho toda semana – por exemplo, escrevendo, dirigindo ou gravando uma nova história toda semana, podendo apenas produzir e supervisionar o show. Doug foi o apresentador de “Douglas Fairbanks Presents” de 1953 a 1957  e, em 14 de julho de 1954, Doug teve a honra de apresentar Buster Keaton interpretando um personagem dramático de Gogol – algo que nunca pensamos que veríamos, mas que bom que isso aconteceu.

When Buster Keaton's path crossed with Douglas Fairbanks', change happened: Keaton made his first feature film, “The Saphead” (1920), because Fairbanks recommended him to Metro to play the lead. Thirty-four years later, Buster's path crossed with Douglas Fairbanks Jr's. At that time, anthology series on TV were quite popular, and with them people like Hitchcock and Fairbanks had a show to call their own without having to do a lot of hard work every week – I mean, they didn't have to write, direct or shoot a new story every week, they could only produce and oversee the show. Doug was the host of “Douglas Fairbanks Presents” from 1953 to 1957 and, on July 14th 1954, Doug had the honor to present Buster playing a dramatic character by Gogol – something we never thought we'd see, but we're glad it happened.

Como Doug diz, nossa história é ambientada em qualquer lugar – ou mesmo lugar nenhum. O tempo? Ontem ou hoje ou no futuro distante. O tema? Liberdade. Uma liberdade esquecida. Esquecer a liberdade é o que leva uma sociedade a aceitar o totalitarismo, e isto foi o que aconteceu antes da história começar. Tudo que sabemos é que o local está sob o comando de alguém chamado O Chefe (James Hayter), cuja foto está presente nas casas dos cidadãos – e até nos escritórios e nos quartos! - com as palavras “Ele SE IMPORTA” escritas abaixo da imagem.

As Doug says, the setting of our story is anywhere or nowhere. The time? Yesterday or today or tomorrows to come. The subject? Freedom. A forgotten freedom. Forgetting freedom is what leads a society to accept totalitarism, and this is what happened before the story begins. All we know is that the place is under someone called The Chief (James Hayter), whose photo hangs in citizens' houses – even in their offices and bedrooms! - with the words “He CARES” underneath the image. 

Buster é O Homem, um burocrata comum que se importa mais com números e dados do que com pessoas. Mas é claro, as coisas e especialmente as pessoas devem estar em seus devidos lugares, seguindo uma classificação rígida! O Homem não se importa com pessoas, diversão ou moda – prova disso é que ele tem um sobretudo muito velho que precisa de conserto. Mas O Alfaiate (Sam Jaffe) convence O Homem a fazer um sobretudo novo em vez de consertar o antigo.

Buster is The Man, a common bureaucrat who cares more about numbers and data than with people. But of course, things and especially people must  be in their proper places, following a rigid classification! The Man doesn't care about people, fun or fashion – a proof of that is that he has a very old overcoat needing mending. But The Tailor (Sam Jaffe) covinces The Man to make a new, expensive overcoat instead.

E o sobretudo muda O Homem. De repente seus colegas de trabalho o admiram, e a garota que vive em seu prédio passa a achá-lo bonito. Quando o sobretudo é roubado, O Homem começa a questionar a burocracia ao seu redor e se transforma naquele que realmente se importa – e isso, obviamente, será um grande problema e o levará a um encontro com O Chefe.

And the overcoat changes The Man. Suddenly his coworkers admire him, and the girl who lives in his building thinks he's handsome. When the overcoat is stolen, The Man starts questioning the bureaucracy around him and becomes the one who really truly cares – and this, of course, will be a huge problem and lead him to a meeting with The Chief.

É incrível ver quanto podia ser inserido em tão pouco tempo – 30 minutos menos os comerciais! Eu não quero parecer nostálgica e desprezar o que há de bom na TV moderna, mas hoje em geral vemos programas de TV com muitos personagens e histórias tolas contadas 30 minutos ou menos, enquanto nos anos 50, no começo da televisão, clássicos da literatura mundial eram adaptados para o novo meio e podiam ser brilhantemente contados em pouco tempo com um elenco enxuto.

It's amazing how so much could be packed in such a little time – 30 minutes minus the commercials! I don't want to sound nostalgic and dismiss the good modern TV, but now we often see TV shows with many characters and silly stories told in thirty minutes or less, when in the 1950s, the dawn of television, classics of world literature were adapted to the new medium and could be brilliantly told in a short time with an equally short cast.

Eu não li o conto de Gogol, mas pude passar os olhos brevemente por ele. O conto traz o nome do protagonista e é claramente ambientado na Rússia do século XIX – o que torna a história menos universal. O conto foi adaptado para as telas por Larry Marcus, que escreveu 10 episódios de “Douglas Fairbanks Presents”, foi responsável pela ótima adaptação de Agatha Christie “Testemunha de Acusação” (1957) e também escreveu o roteiro original do filme “O Bígamo” (1953).

I didn't read Gogol's story “The Cloak”, but I was able to briefly run my eyes through it. The story names the main character and the set is clearly 19th-century Russia – which makes it a less universal tale. The story was adapted to the screen by Larry Marcus, who wrote 10 episodes of “Douglas Fairbanks Presents”, was responsible for the great Agatha Christie adaptation “Witness for the Prosecution” (1957) and also wrote the original story for the film “The Bigamist” (1953).

A Wikipedia menciona 13 adaptações do conto para o cinema e a TV. Em “The Awakening”, há muitas mudanças importantes com relação ao original, e alguns elementos de “1984” de George Orwell podem ser vistos, como o poder que O chefe tem sobre todos, e a ideia de que todos estão sendo vigiados. Embora O Chefe seja uma figura que só aparece em uma curta cena, sua presença está por toda parte, e por causa disso nós já antipatizamos com ele e com o regime - e é ótimo ver Buster desafiar o regime. Quando Buster fala, você se surpreende. Quando ele grita e se rebela, você fica maravilhado com o que aquele homenzinho do rosto de pedra podia fazer.

Wikipedia lists 13 film and TV adaptations of the story. In “The Awakening”, there were many important changes from the original, and some elements from George Orwell's “Nineteen Eighty-Four” can be seen, like the power The Chief has over everybody, and the idea that everybody is under vigilance. Although The Chief is a figure that only appears in a small scene, his presence is everywhere, and because of that we already dislike him and the regime - and it’s great to see Buster standing up to the regime. When Buster talks, you are surprised. When he shouts and rebels, you're marveled at what that little stone-faced man could do.

Fairbanks viu Keaton como única opção para o papel principal. Ele disse: “Me pareceu uma bela ideia - uma ideia nova - colocá-lo em um papel sério, porque ele era tão bom ator e com grande talento. Funcionou muito bem; sua performance foi maravilhosa. Eu acredito que ele e Chaplin eram os maiores mestres da pantomima produzidos pelo cinema. Eles podiam expressar tanto com tão pouco.” Buster não ficou nervoso com a atuação dramática, garantiu sua esposa Eleanor: “Na comédia, ele tinha de criar tudo. No drama, você apenas decora suas falas e deixa outra pessoa se preocupar.”

Fairbanks saw nobody but Keaton in the main role. He said: "It struck me as a beautiful idea—a novel idea—to put him in a straight part, because he was such a beautiful actor and a great talent. It worked out very well; he gave a marvelous performance. I think that he and Chaplin were the supreme pantomimists that the screen has produced. They could convey so much with so little." Buster was not nervous about doing drama, and his wife Eleanor guaranteed it: “In comedy, he had to create everything. In drama, you just learn your lines and let someone else do the worrying."

Eu fiquei particularmente feliz quando um dos recursos narrativos que eu mais odeio - o final “tudo não passou de um sonho” - foi subvertido de maneira ousada e inspirada. Ao ter seu sobretudo levado, O Homem é despertado. Ser despertado para a realidade é em geral muito doloroso e traz vários problemas, e “The Awakening” mostra que, por causa disso, é preciso mais do que ser despertado: se manter desperto é algo completamente diferente, que muda a vida de uma pessoa.

I was particularly happy when one of my most hated narrative devices – the “it was all just a dream” finale – was subverted in a bold and inspired way. By having his overcoat taken, The Man has his awakening. To wake up for reality is often extremely painful and troublesome, and “The Awakening” shows that, because of this, there is more than waking up: staying woke – and here I may be using the double meaning the word has earned recently – is something completely different and life-changing.

This is my contribution to the 7th Annual Buster Keaton blogathon, hosted by Lea at Silent-ology.

Saturday, March 20, 2021

Alfred Hitchcock Apresenta: Patricia Hitchcock em “Into Thin Air” (1955)


Alfred Hitchcock Presents: Patricia Hitchcock in “Into Thin Air” (1955)

A música de abertura e o contorno da silhueta de Alfred Hitchcock, logo preenchida pela sombra de Hitchcock, são hoje  populares e impressos nas mentes dos fãs de TV clássica. Em 1955, entretanto, estes eram elementos novos na televisão. “Into Thin Air” foi apenas o quinto episódio de “Alfred Hitchcock Apresenta” a ir ao ar, e o primeiro de 10 episódios da série antológica a contar com os talentos de atuação da única filha de Hitchcock, Patricia.

The opening song and the contour of Alfred Hitchcock's silhouette, later filled by Hitchcock's shadow, are now popular and completely ingrained in the minds of classic TV fans. In 1955, however, those were brand new elements on television. “Into Thin Air” was just the fifth episode of “Alfred Hitchcock Presents” to air, and the first of 10 episodes of the anthology series to showcase the acting talents of Hitchcock's only child, Patricia.

Ambientado em Paris na época da Exposição Mundial de 1889, “Into Thin Air” segue Diana Winthrop (Patricia Hitchcock) e sua mãe, que estão viajando da Índia para a Inglaterra e decidem parar na França para ver a exposição. A senhora Winthrop (Mary Forbes) se sente cansada e febril quando as duas chegam ao Hotel Madeleine, o que leva a uma consulta com o médico do hotel. O médico manda Diana ir até a casa dele e pedir à esposa dele que faça um remédio. Isso demora mais do que o esperado e, quando Diana volta ao hotel, ninguém parece se lembrar dela, o nome dela não está mais no livro de hóspedes e o quarto que ela dividia com a mãe agora está ocupado por um homem.

Set in Paris at the time of the 1889 World Fair, “Into Thin Air” follows Diana Winthrop (Patricia Hitchcock) and her mother, who are travelling from India to England and decide to stop in France to see the exposition. Mrs Winthrop (Mary Forbes) feels tired and feverish when the two arrive at the Madeleine Hotel, which leads to a quick appointment with the doctor that works at the place. The doctor tells Diana to go to his house and ask his wife to make some medicine. This takes longer than expected and, when Diana returns to the hotel, nobody seems to remember her, her name is not on the guestbook anymore and the room that she shared with her mother is now occupied by a gentleman.

Diana passa a noite em outro quarto e pela manhã recebe a ajuda de dois homens da embaixada inglesa, sendo um deles Basil Farnham (Geoffrey Toone). É um bocado enfurecedor ver que Diana só consegue fazer algumas coisas – como entrar no quarto onde sua mãe estava – com a ajuda de Farnham, pois todos parecem pensar que ela está louca. No entanto, ela mostra ter grandes habilidades de se lembrar de alguns detalhes – como a decoração do quarto e o fato de que o médico mentiu sobre não ter um telefone em casa – até que a história chega a um fim desconcertante e estranhamente atual após apenas 20 minutos.

Diana spends the night in another room and in the morning receives the help of two men from the English embassy, one of them is Basil Farnham (Geoffrey Toone). It's a bit infuriating to see that Diana can only do some things – like entering the room her mother was in – with Farnham's help, as everybody seems to believe she's crazy. However, she shows a lot of wittiness as she remembers details – like the decoration in the room and the fact that the doctor had lied about not having a phone home – until the story reaches its unsettling and weirdly timing ending after only 20 minutes.

Obviamente, a história soará familiar para os fãs de Hitchcok, pois tem uma semelhança importante com a trama de “A Dama Oculta” (1938). A ideia de alguém sumir e todos negarem que a pessoa esteve lá para começo de conversa foi explorada em outras produções, entre elas o filme antológico alemão “Umheiliche Geschichten” (1919) e o filme de 1950 “Angústia de uma Alma”, com Jean Simmons e Dirk Bogarde.

Of course the story will sound familiar to Hitchcock's fans, as it shares a key similarity with the plot of “The Lady Vanishes” (1938). The idea of someone missing and everybody denying that the person had been there in the first place was explored in other productions, among them the German anthology film “Unheimliche Geschichten” (1919) and the 1950 film “So Long at the Fair”, with Jean Simmons and Dirk Bogarde.

A diferença, óbvio, é que a história é contada em um segmento bem curto, pois “Alfred Hitchcock Apresenta” tinha episódios de 30 minutos – em 1962 os episódios passaram a ter uma hora de duração e o programa foi rebatizado como “Hora de Alfred Hitchcock”. O episódio foi escrito por Marian Cockrell, que escreveu 11 episódios da série. O diretor foi Don Medford, que trabalhou na TV por quase 40 anos. E foi produzido por Joan Harrison, colaboradora constante de Hitchcock.

The difference, of course, is that the story is told in a very short segment, because “Alfred Hitchcock Presents” had 30-minute-long episodes – in 1962 the episodes became one hour long and the show was renamed as “The Alfred Hitchcock Hour”. The episode was written by Marian Cockrell, who wrote 11 episodes of the show. The director was Don Medford, who worked on TV for nearly 40 years. It was produced by Hitchcock's constant collaborator Joan Harrison.

Patricia Hitchcock mostra muito talento neste papel. É fácil sentir seu desespero quando ela percebe que ninguém se lembra dela no hotel e que sua mãe provavelmente não está mais lá. Pela expressão dela, somos até capazes que perceber que ela está duvidando da própria sanidade. Patricia era uma atriz decente que recebeu mais oportunidades de brilhar no programa de TV do pai do que no cinema – seu pequeno papel em “Pavor nos Bastidores” (1950), por exemplo, pode ser visto mais como um favor do que como um trabalho substancial.

Patricia Hitchcock shows a lot of talent in this role. It's easy to feel her despair as she realizes nobody remembers her in the hotel and that her mother is probably not there anymore. By her expression, you can even tell she's doubting her own sanity. Patricia was a decent actress who was given more chance to shine on her father TV show than on cinema – her small role in “Stage Fright” (1950), for instance, could be seen as more of a favor than of a substantial work. 

No final do episódio, Hitchcock se aproxima da câmera e diz: “Coincidentemente, eu achei que a protagonista se saiu muito bem, não?”. Como pai, Hitchcock com certeza tinha orgulho de sua Pat – e com razão, porque “Into Thin Air” condensa uma boa quantidade de suspense e surpresas em um curto espaço de tempo.

In the end of the episode, Hitchcock comes near the camera and says: “Incidentally, I thought the little leading lady was rather good, didn't you?” As a father, Hitch was certainly proud of his Pat – as he should, because “Into Thin Air” packs a good deal of suspense and surprise in very little time.

This is my contribution to the 7th Annual Favourite TV Show Episode blogathon, hosted by Terence at A Shroud of Thoughts.

Wednesday, March 10, 2021

Ilha nos Trópicos (1957) / Island in the Sun (1957)


O começo de “Ilha nos Trópicos” parece um anúncio sedutor que convida o público para visitar a ilha de Santa Marta e aproveitar o verão. De fato, parece ser o paraíso, um lugar como muitos outros no Caribe. Santa Marta é um lugar fictício, mas muitas das características dadas à ilha são encontradas por todo o Caribe há os descendentes dos colonizadores britânicos, há os nativos, há uma economia baseada no turismo e nas plantações e há uma boa dose de tensão racial.

The beginning of “Island in the Sun” looks like a seductive ad calling the audience to visit the island of Santa Marta and enjoy the summer. Indeed, it looks like a paradise, a place like many others in the Caribbean. Santa Marta happens to be a fictional place, but many of the characteristics given to it could be found everywhere in the Caribbean: there are descendants of the English colonizers, there are natives, there is an economy based on tourism and plantations and there is a good deal of racial tension.

Uma das famílias mais ilustres de Santa Marta é a família Fleury. Maxwell Fleury (James Mason) pode ser parte da família bem-sucedida, mas é muito infeliz. Com medo de não corresponder à expectativa das pessoas em relação a ele e à família, Maxwell se torna muito inseguro e começa a acreditar que sua esposa Sylvia (Patricia Owens) está traindo-o com um homem que fuma cigarros egípcios – a única prova que ele tem para alimentar sua paranoia.

One of the most notorious families in Santa Marta is the Fleurys. Maxwell Fleury (James Mason) may be part of the successful family, but he is very unhappy. Fearing that he does not live to people's expectation of him and his family, he becomes very insecure and starts believing his wife Sylvia (Patricia Owens) is cheating on him with a man who smokes Egyptian cigarettes – the only evidence to support his paranoia.

Enquanto isso, a irmã mais nova de Maxwell, Jocelyn (Joan Collins), está aproveitando a vida quando conhece e se apaixona por Euan Templeton (Stephen Boyd), filho do governador da ilha. Joan Collins e Stephen Boyd estavam na época entre os candidatos para os papéis de Cleópatra e Marco Antônio no épico que acabou sendo feito em 1963 com Elizabeth Taylor e Richard Burton.

Meanwhile, Maxwell's young sister Jocelyn (Joan Collins) is living life to the fullest when she meets and falls in love with Euan Templeton (Stephen Boyd), son of the governor of the island. Joan Collins and Stephen Boyd were at the time being considered for the roles of Cleopatra and Marc Anthony in the epic film that was eventually made in 1963 with Elizabeth Taylor and Richard Burton.

Surpreendentemente, há dois casais inter-raciais: David Boyeur (Harry Belafonte) é um líder comunitário em ascensão que está saindo com Mavis Norman (Joan Fontaine), uma mulher muito rica. E Denis (John Justin), que trabalha para o governador, começa a namorar Margot (Dorothy Dandridge), que trabalha numa farmácia.

Surprisingly, there are two interracial couples: David Boyeur (Harry Belafonte) is a rising community leader going out with Mavis Norman (Joan Fontaine), a very rich woman. And Denis (John Justin), who works for the governor, starts dating Margot (Dorothy Dandridge), a drugstore cashier. 

Maxwell e Jocelyn ficam chocados quando um artigo de jornal revela que a avó deles era jamaicana – portanto, negra. Julian, o pai deles (interpretado por Basil Sydney), tenta amenizar a situação com cálculos extremos: a mãe dele era ¾ branca! Ele é apenas 1/16 “de cor”! Já vi este tipo de matemática frequentemente no cinema e na TV norte-americanos – nunca me esquecerei quando alguém numa série de TV disse que era “1/64 Cherokee”. De fato, cor e raça são assuntos de peso nos EUA, e não de maneira velada. Veja isto: recentemente: um site se referiu à atriz Anya Taylor-Joy como “uma mulher de cor” apenas porque ela foi criada na Argentina – ela não nasceu lá, nasceu em Miami, apenas foi criada na América Latina!

Maxwell and Jocelyn are shocked when a newspaper article reveals that their grandmother was Jamaican – that means: black. Julian, their father (played by Basil Sydney), tries to compensate the situation by doing extreme math: his mother was ¾ white! He’s only 1/16 “colored”! I've seen this kind of math frequently on US film and TV – Il'll never forget when someone on a TV show claimed to be “1/64 Cherokee”. Indeed, color and race are huge issues in the US, and not in a veiled way. Take a look at this: recently, a website referred to actress Anya Taylor-Joy as “a woman of color” only because she was raised in Argentina – she wasn't born there, she was born in Miami, she was only raised in Latin America!

From dvdbeaver.com

De volta ao filme: quando o pai o obriga a agir como se nada tivesse acontecido, um contrariado Maxwell diz que é maravilhoso que o artigo tenha sido publicado porque ele pode fazer campanha para um cargo político chegando nos eleitores e dizendo “Sou um de vocês agora”, porque ele combina o negro e o branco. Maxwell acaba de dobrar suas chances de ser eleito – e de atrapalhar a carreira política de David Boyeur.

Back to the film: when his father makes him act as if nothing happened, an upset Maxwell says that it’s wonderful that the article was published because he can campaign for a political position by approaching all people and saying “I’m one of you now”, because he combines black and white.Maxwell just doubled his chances of being elected – and he can even stand in the way of David Boyeur's political career.

Além dos romances e da eleição, há mais uma coisa acontecendo na ilha: assassinato! Hilary Carson (Michael Rennie) é assassinado em sua casa, e um chefe de polícia muito sagaz, o coronal Wittingham (John Williams), investiga o caso.

Besides the romances and the election, there is something else happening in the island: murder! Hilary Carson (Michael Rennie) is murdered in his house, and a very clever chief of police, Colonel Wittingham (John Willams), investigates the case.

Quando perguntado sobre o principal problema na ilha, David Boyeur responde rapidamente: cor. Boyeur acredita que também há problemas com a manutenção das tradições. Maxwell, por outro lado, não perde a oportunidade para lembrar Boyeur de que o pai dele trabalhou na plantação do pai de Maxwell, e não foi deixado sem assistência quando adoeceu – ou seja, quando deixou de ser útil para o patrão. “Isto é caridade. O que nós queremos é igualdade”, Boyeur resume.

When asked what is the biggest problem in the island, David Boyeur answers in a heartbeat: color. Boyeur believes there are problems with keeping traditions as well. Maxwell, on the other hand, doesn't waste the opportunity to remind Boyeur that his father had worked in Maxwell's father's plantation and wasn't left unassisted when he got sick – that is, when he was no longer useful for his master. “That's charity. What we want is equality”, Boyeur summarizes.

E David está certo: há um problema envolvendo cor na ilha. Quando David e Mavis compram refrigerantes para um grupo de crianças, uma mulher mulata tira o refrigerante da mão do filho e devolve a bebida, mostrando que o menino de pele clara não deveria ser tratado da mesma forma que as outras crianças, que tinham a pele mais escura. Outro momento tenso, e muito surpreendente para um filme de 1957, ocorre quando Mavis segura uma máscara na frente do rosto e David violentamente tira a máscara, porque ela simula blackface - algo subentendido e, aparentemente, considerado normal na ilha.

And David is right: there is a problem about color in the island. When David and Mavis buy sodas for a group of kids, a mixed-race woman takes the soda away from her son’s hand and gives it back, showing that the boy with light-colored skin shouldn’t be treated like the other children, who had darker skin. Another tense moment, and a surprising one for a 1957 movie, is when Mavis puts a mask in front of her face and David violently takes it from her, as it simulates blackface - something implied and, apparently, considered normal in the island.

Maxwell é o personagem principal e a maior parte do filme é sobre ele, o que é um pouco desanimador, pois eu preferiria ter visto mais sobre os problemas enfrentados pelos casais inter-raciais. Mesmo assim, podemos dizer que é um milagre que este filme tenha sido feito, considerando os vários assuntos polêmicos que foram minimamente abordados - e isso inclui retratar David como um líder popular carismático e justo em tempos de histeria McCarthista.

Maxwell is the main character and most of the film revolves around him, which is a little upsetting, as I'd rather have seen more of the troubles faced by the interracial couples. Nevertheless, we can say that it's a miracle that this film was made at all, considering the many risky subjects that were barely addressed – and this includes the portrayal of David as a charismatic and just popular leader in a time of McCarthism hysteria.

Mas, na Hollywood dos anos 50, Darry F. Zanuck não tinha (muito) medo de arriscar - lembre-se de que ele foi produtor de outro filme sobre o controverso tema da miscigenação, “O que a Carne Herda” (1949). Zanuck comprou os direitos de adaptação do romance “Island in the Sun” quando ele foi publicado em 1955. Mesmo com sua experiência em polêmicas, Zanuck ficou apreensivo com possíveis reclamações e exigiu algumas mudanças no roteiro - por exemplo, Dorothy Dandridge e John Justin tiveram de enfrentar o produtor para que seus personagens pudessem dizer que se amavam.

But, in Hollywood in the 1950s, Darryl F. Zanuck was not (very) afraid of risking – remember that he was the producer of another movie about the controversial theme of miscegenation, “Pinky” (1949). Zanuck bought the rights to adapt the novel “Island in the Sun” when it was published in 1955. Even though he was experienced in polemics, Zanuck was apprehensive about possible complaints and demanded some changes in the script – for instance, Dorothy Dandrige and John Justin had to battle the producer so their characters were able to say that they loved each other.

O último filme de Dorothy Dandridge tinha sido “Carmen Jones”, em 1954, com Harry Belafonte. Depois do sucesso do filme e uma indicação ao Oscar, Dorothy assinou um contrato com a 20th Century Fox, que planejava um remake de “O anjo Azul” (1930) com um elenco todo negro, um projeto que infelizmente não se concretizou. Dorothy então recusou o papel coadjuvante de Tuptim em “O Rei e Eu” (1956), papel que foi para Rita Moreno. Em 1957, ela processou a revista Confidential após a publicação de uma notícia falsa que a acusava de “ter fornicado com um músico branco” em Nevada em 1950.

Dorothy Dandridge's last film had been “Carmen Jones”, in 1954, with Harry Belafonte. After the success of the film and an Oscar nomination, Dorothy signed with 20th Century Fox, that was planning to film a remake of “The Blue Angel” (1930) with an all-black cast, a project that unfortunately wasn’t further developed. Dorothy then refused the supporting role of Tuptim in “The King and I” (1956), a role that went to Rita Moreno. In 1957 she sued Confidential magazine when it published a false story accusing Dorothy of having “fornicated with a white band leader” in Nevada in 1950.

Logo antes de o filme estrear, Belafonte se casou com Julie Robinson, uma mulher branca. Mesmo assim, Joan Collins diz em sua autobiografia que ela e Belafonte tiveram um caso durante as filmagens de “Ilha nos Trópicos”. Poucos anos após o filme ser feito, nos anos 60, Belafonte se envolveu com o movimento dos Direitos Civis, tornando-se próximo de Martin Luther King Jr. Em sua carreira, Belafonte recusou diversas ofertas quando o papel retratava negros de maneira negativa ou quando o elenco era segregado racialmente.

Right before the film opened, Belafonte married Julie Robinson, a white woman. Nevertheless, Joan Collins claimed in her autobiography that she and Belafonte had an affair while filming “Island in the Sun”. A few years after the film was made, in the early 1960s, Belafonte got involved in the Civil Rights Movement, becoming close to Martin Luther King Jr. Throughout his career, Belafonte refused several offers if the role portrayed black people in a derogatory way or if the cast was segregated.

Como era de se esperar, o filme não foi bem recebido por racistas. A Ku Klux Klan e outros fanáticos mandaram cartas odiosas para Joan Fontaine - e ela nem beija Harry Belafonte no filme, mas o fato de eles beberem do mesmo coco foi considerado chocante demais! Joan precisou de escolta policial para ir à estreia do filme em Hollywood - o mesmo tipo de coisa que sua personagem jamais poderia imaginar, mas que é algo que afeta o personagem de Belafonte todos os dias. Houve protestos contra o filme em Minneapolis, um político tentou bani-lo na Carolina do Sul e o filme foi de fato banido em Memphis. Em todos estes casos, assim como acontece hoje, os racistas estavam protestando contra o filme sem tê-lo visto: para eles, a simples existência de tal filme era inaceitável.

As you may expect, the film was not received well by racists. The Ku Klux Klan and other fanatics sent Joan Fontaine hate letters – and she doesn't even kiss Harry Belafonte in the movie, but they simply sharing a coconut was considered too shocking! Fontaine needed police escort to attend the premiere of the film in Hollywood – just the kind of thing her character could never imagine, but it's something that affects Belafonte's character daily. There were protests against the film in Minneapolis, a politician tried to ban it in South Carolina and it was indeed banned in Memphis. In all these cases, just as it happens nowadays, the racists were protesting against a movie without having seen it: for them, the simple existence of such a movie was unacceptable.

Há um momento em que David diz “minha pele é meu país”. De fato, muitas pessoas sofrem por causa da cor da pele, não importa aonde elas vão - há preconceito, e especialmente preconceito racial, em toda parte do mundo. “Ilha nos Trópicos” tem boas performances e poderia ter sido muito mais revolucionário. Também poderia ter sido censurado. Por isso, vamos nos alegrar porque o filme foi feito e exibiu os talentos de artistas como Dorothy Dandridge e Harry Belafonte.

There is one moment when David says “My skin is my country”. Indeed, many people suffer because of their skin color anywhere they go - there is prejudice, and especially racial prejudice, anywhere in the world. “Island in the Sun” has nice performances and it could have been much more groundbreaking. It could also have been censored. So, let’s get happy because it was made at all, with talents such as Dorothy Dandridge’s and Harry Belafonte’s.

This is my contribution to the Joan Collins blogathon, hosted by Gill at Realweegiemidget Reviews.

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