} Crítica Retrô: Almas à Venda (1923) / Souls for Sale (1923)

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Tuesday, September 28, 2021

Almas à Venda (1923) / Souls for Sale (1923)

Você é real ou… uma miragem?” 

Nenhum dos dois. Sou um ator de cinema.”

 

Are you real or… a mirage?”

Neither. I’m a movie actor.”

 

Meu tipo favorito de filme são filmes sobre filmes. Meu filme favorito de todos os tempos é “Nasce uma Estrela” (1937), e um dos meus filmes mudos favoritos é “Fazendo Fita” (1928). Antes de ambos terem sido feitos, já havia outros filmes sobre filmes, entre eles “Almas à Venda”, um filme que prova que Hollywood sempre foi ciente de si e do que representa.

My favorite kind of movies are movies about movies. My all-time favorite film is “A Star is Born” (1937), and one of my favorite silent movies is “Show People” (1928). Before these were made, there were already other movies about movies, among them “Souls for Sale”, a film that proves that Hollywood was always self-conscious.

Uma mulher chamada Remember (Eleanor Boardman) foge de seu novo marido, que simplesmente a deixa com medo. Ela anda sem rumo até desmaiar numa locação de filmagem onde, depois de recuperada, ela se torna figurante. Isso é bem irônico porque o pai dela, um pastor, adora pregar sobre como Hollywood é uma terra de pecados e pecadores.

A woman named Remember (Eleanor Boardman) runs away from her new husband, who simply terrifies her. She wanders until she collapses near a movie location, where, when recovered, she becomes a movie extra. This is quite ironic because Remember’s father, a preacher, loves to preach about how Hollywood is a land for sin and sinners.

Depois desta primeira experiência no cinema, Remember, agora chamada de Mem, vai para Hollywood e trabalha novamente como figurante para alguns diretores famosos como Charles Chaplin e Fred Niblo. Para se tornar estrela de cinema, ela ouviu dizer que precisará vencer sua alma - que na verdade é a única coisa que ela tem para vender. Mas, atenção: ela não pode vender sua alma para o diretor de elenco, o diretor ou o produtor - é o público que compra as almas que os artistas põem à venda!

After this first movie experience, Remember, now called Mem, goes to Hollywood and works again as an extra for some famous directors such as Charles Chaplin and Fred Niblo. To become a star there, she heard she must sell her soul - which is actually the only thing she has to sell. But, attention: she can’t sell her soul to the casting director, the director or the producer - it’s the public who buys the souls the artists are selling!

Depois de trabalhar mais, Mem consegue sua grande chance ao substituir a estrela Robina Teele (Mae Busch) num grande filme sobre o circo. Enquanto isso, seus pais descobrem o que ela anda fazendo em Hollywood e nós descobrimos que o marido dela, Owen Scudder (Lew Cody), é um vigarista que se casa com as mulheres para depois matá-las e ficar com o dinheiro delas. Ele vê Mem num filme e decide ir atrás dela, enquanto os pais dela fazem o mesmo. Tudo isso e um triângulo amoroso entre Mem, o ator Tom Holby (Frank Mayo) e o diretor Frank Claymore (Richard Dix) nos levam a um clímax sensacional.

After more work, Mem gets her big break by replacing the star Robina Teele (Mae Busch) in a prestige picture about the circus. Meanwhile, her parents learn what she’s been doing in Hollywood and we learn that her husband, Owen Scudder (Lew Cody), is a crook who marries women just to kill them and keep their money. He sees Mem in a movie and decides to go after her, while her parents do the same. All this and a love triangle between Mem, the actor Tom Holby (Frank Mayo) and the director Frank Claymore (Richard Dix) lead us to a thrilling climax.

Desde o começo, na era dos nickelodeons, os filmes eram criticados por causa de sua moral corrupta e sua má influência. Projetos de censura foram criados já no começo da era muda do cinema - um filme que zomba da censura é o divertido “Prunning the Movies”, de 1915 - e grupos clamavam por “entretenimento puro”. Além disso, “Almas à Venda” mostra que atores e diretores tinham consciência de que escândalos poderiam prejudicar suas carreiras, como diz Frank Claymore:

Since the beginning, starting in the nickelodeon era, movies were target of criticism because of their corrupted morals and their bad influence. Projects of censorship were created right in the beginning of the silent era - one movie that mocks censorship is the very funny “Prunning the Movies”, from 1915 - and groups pushed for “pure entertainment”. Besides that, “Souls for Sale” shows that actors and directors were well aware of the scandals that might hurt their careers, as Frank Claymore says:

Eu disse que os filmes eram cientes de si desde o começo. O já mencionado “Prunning the Movies” foi feito ainda em Nova York, antes de a maioria da indústria do cinema se mudar para Hollywood. Em “Almas à Venda”, um momento de autorreferência que é um bocado amargo acontece quando Tom Holby recebe uma carta de uma fã que está apaixonada por ele e ele simplesmente diz a um assistente para mandar uma resposta e uma foto autografada para ela. Para a fã, seria um sonho receber uma resposta, mas não terá sido o próprio ator que autografou a foto. É, realmente, um mundo de ilusões.

I’ve said that movies were self-conscious since the beginning. The aforementioned “Pruning the Movies” was made still in New York, before the bulk of the movie industry relocated to Hollywood. In “Souls for Sale”, a moment of self-consciousness that is also a bitter look at the Hollywood truth happens when Tom Holby receives a letter from a fan who is in love with him and he simply asks an assistant to send her an answer and an autographed photo. For the fan, it’d be a dream to receive those, but the movie star himself didn’t sign the photo. It is, indeed, a world of illusion.

Eleanor Boardman tem em “Almas à Venda” seu primeiro papel principal, e ela não precisou vender a alma para isso: ela simplesmente ganhou um concurso da Goldwyn Pictures, o “Novos Rostos de 1921”. Ela fez sua estreia em 1922 e “Almas à Venda” foi apenas seu quarto filme. Em 1926 ela se casou com o diretor King Vidor, com quem ela ficaria até 1931. Eleanor aposentou-se das telas em 1935, após fazer 32 filmes.

Eleanor Boardman has in “Souls for Sale” her first leading role, and she didn’t need to sell her soul for that: she simply won a contest Goldwyn Pictures held, the “New Faces of 1921”. She made her debut in 1922 and “Souls for Sale” was only her fourth picture. In 1926 she married director King Vidor, with whom she would remain until 1931. Eleanor retired from the screen in 1935, after appearing in 32 movies.

Este filme tem várias características interessantes. Primeiro, foi escrito e dirigido pela mesma pessoa, o novelista Rupert Hughes, tio de Howard Hughes. O filme tem como designer de cenários Cedric Gibbons, famoso diretor de arte que começou no cinema em 1913 e estava, em “Almas à Venda”, no comecinho de sua carreira na Goldwyn Pictures, uma carreira que continuaria no ano seguinte quando uma fusão fez da Goldwyn parte da MGM. Gibbons trabalharia em mais de mil filmes, recebendo 39 indicações ao Oscar e ganhando 11 estatuetas.

This film has many interesting characteristics. First, it was written and directed by the same person, author Rupert Hughes, who was Howard Hughes’s uncle. It has as its set designer Cedric Gibbons, famous artistic director who started in films in 1913 and was, in “Souls for Sale”, in the very beginning of his career at Goldwyn Pictures, a career that would continue the following year when a merge made Goldwyn part of MGM. Gibbons would go on to work in over a thousand movies, receiving 39 Oscar nominations and winning 11 awards.

Rupert Hughes

Por muitas décadas, “Almas à Venda” foi considerado um filme perdido, até que cópias incompletas surgiram e uma restauração foi feita em 2006. Eu imagino que ainda haja algo perdido, ou a história secundária de Leva Lemaire (Barbara La Marr), uma atriz que perdeu seu amado em um terrível acidente no set, e Komical Kale (Snitz Edwards), um comediante apaixonado por ela e não correspondido, recebe pouca atenção de propósito, o que seria uma pena.

Souls for Sale” was thought to be lost for many decades, until incomplete copies surfaced and a restoration was made in 2006. I imagine there is still some footage missing, or the secondary story of Leva Lemaire (Barbara La Marr), an actress who lost the man she loved in a terrible on-set accident, and Komical Kale (Snitz Edwards), the comedian who is hopelessly in love with her, receives too little screen time on purpose, which would be a shame.

Almas à Venda” é um dos melhores filmes sobre filmes já feitos. Tem emoções, participações especiais, críticas e verdades amargas. Mais do que isso: a trajetória do filme, de perdido a encontrado e restaurado, nos mostra a importância da preservação do cinema e de nunca perder as esperanças de que filmes perdidos reaparecerão em algum lugar.

Souls for Sale” is one of the best movies about movies ever made. It has thrills, cameos, criticism and bitter truths. More than that: the trajectory of the film, from lost to found and restored, shows us the importance of film preservation and of never losing hope that lost films will reappear somewhere.

This is my contribution to the Silent Movie Day blogathon, hosted by Lea and Crystal at Silent-ology and In the Good Old Days of Classic Hollywood.

7 comments:

the StoryEnthusiast said...

I agree with your assessment of this film. I really enjoyed it. It also happened to be the first time I came away with a positive impression of Richard Dix. I had only seen him in sound films before this and wasn't impressed at all, but loved him in this picture.

Caftan Woman said...

Your interesting review of this film has encouraged me to check it out. You have a way of doing that, my friend.

Unknown said...

I saw this movie on You Tube. To be silent it’s easy to follow the story. I hope they find more reels with Barbara LaMarr that would be nice

The Classic Movie Muse said...

I love movies about movies too, Le, and this one sounds fascinating! I enjoyed your review and thank you for sharing.

Silver Screenings said...

Fabulous review, Le. You've sold me on this film with your research and insight.

Lea S. said...

I also enjoy "Hollywood movies about Hollywood," there's something so fascinating about seeing how the industry regarded itself at different times. This is a surprisingly honest, almost scathing film in some ways, especially for the "early" date of 1924. Thanks for covering this for our blogathon, Le, it's much appreciated!

Anonymous said...

I too love this film! And I’m thrilled to find another fan of the under rated 1937 version of A Star is Born. It deserves a lot more acclaim than it receives.

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