Com a expansão de um novo nicho literário e cinematográfico chamado “chick lit” (os famosos livros e filmes “de mulherzinha”) muitos se voltam para o sexo oposto e tentam redefinir o mercado de entretenimento para atrair o público masculino. Nesse ínterim, filmes de guerra e ação são presença garantida. Mas sem dúvida o gênero masculino por excelência é o western, ou faroeste, e seu astro-símbolo é o durão John Wayne.
Ambientados em terras sem lei, os westerns mostram um curioso mundo onde, por mais difíceis que sejam as condições de vida impostas pelo meio, há sempre um código de ética seguido pelo cowboy. Aparentemente frio e calculista, talvez até negligente à primeira vista, um bom mocinho de faroeste só atira quando é estritamente necessário e não mede esforços para salvar uma donzela em apuros.
O western é um gênero norte-americano por excelência e cheio de testosterona. Com histórias passadas em uma época em que as mulheres tinham pouco ou nenhum papel social, são os homens devidamente adereçados com botas, esporas e chapéus que têm destaque. A mulher é normalmente a cantora do saloon, a cozinheira da estalagem, a mulher ou filha do protagonista ou a moça indefesa que deve ser salva. O duelo, a troca de tiros, toda a bebida consumida: partes de um mundo extremamente masculino, talvez perigoso demais para as mulheres. O exemplar do gênero que subverte essa ordem, presente inclusive na sociedade mundial de 1950, é “Johnny Guitar”, protagonizado por duas mulheres fortes e decididas, interpretadas por Joan Crawford e Mercedes McCambridge, que ofuscam o elenco masculino.
Os westerns mais antigos não são muito violentos. Apesar do constante tiroteio e lançamento de flechas, os conflitos não derramavam muito sangue. Sempre contando com personagens cômicos ou pouco corajosos, é verdade que esses filmes tinham na batalha seu clímax, mas jamais impressionavam as plateias. Com o Código Hays vigente, sangue e sexo eram temas proibidos. Corpos dilacerados só passariam a ser exibidos à exaustão a partir dos anos 1960, quando os westerns se tornaram menos coloridos e mais sombrios. E dsagradaram seu mais famoso protagonista.
Nascido Marion Morrison (uhm, Marion, um nome feminino! Vejam só!), John Wayne personifica o ideal de homem durão, apesar de, segundo relatos, ter pés e mãos bastante delicados. Seu andar hesitante, porém firme, sua voz grossa e seu 1,93m de altura tornaram-no um perfeito mocinho de westerns. Durante sua longa carreira, John protagonizou 142 filmes, fez par romântico com Maureen O´Hara em várias ocasiões, disparou inúmeros tiros, matou muitos vilões e, é claro, morreu algumas vezes.
Tendo seu trabalho creditado desde o início da década de 1930, Wayne foi um dos poucos que sobreviveu fazendo filmes até a década de 70. Seus contemporâneos do início da carreira foram morrendo ou migrando sem sucesso para a televisão, mas John, firme e forte, se manteve como um dos atores mais bem pagos até 1974, cinco anos antes de morrer de câncer de pulmão. De espírito e ideias conservadores, ele repudiava a nova safra de filmes cheios de violência.
John sabia atirar na hora certa, provocar um fora-da-lei, derrubar um homem com um soco e ainda ser charmoso para conquistar as garotas. Sabia também quando tomar o crédito para si e quando deixar que outros levem o crédito, o que acontece em “O Homem que matou o Facínora / The Man Who shot Liberty Valance” (1962). Sabia quando deveria lutar por um amor, como em “Depois do Vendaval / The Quiet Man” (1952). Sabia liderar tropas e fingir que acreditava nos mais lunáticos comandantes até decidir a hora certa de se rebelar, o que faz com Henry Fonda em “Sangue de Herói / Fort Apache” (1948).
Cheios de virilidade, os heróis do western talvez despertem uma fantasia masculina que mistura sobrevivência às agruras do meio, aventuras emocionantes, conflitos justos como forma de resolver pendências, e, é claro, uma bela moça a ser conquistada. Mais do que virar herói de guerra matando centenas de inimigos ou mocinho que salva a mocinha da torre do castelo, é esse o ideal máximo para boa parte dos indivíduos que possuem cromossomos XY. Isso não impede, obviamente, que as mulheres também apreciem os westerns. Mesmo em menor número, é bom ressaltar que há várias fãs entusiasmadas dos filmes de bang-bang. Só que talvez elas não queiram ser como John Wayne. Para isso, felizmente há personagens como as de Joan e Mercedes na produção de 1954: para mostrar que o Velho Oeste não era terra só de machões.
13 comments:
Gosto muito de western, inclusive alguns de qualidade duvidosa. Mas não simpatizo com o Wayne, prefiro o Mitchum ou o Fonda. E vc tem toda razão, é um universo completamente masculino, mas quando a Barbara Stanwyck entra em cena a coisa muda de figura. Ela rouba a valentia do mocinho.
O Falcão Maltês
hahahahahahaha demais! Adorei! Abraços .
papeldeumlivro.blogspot.com
Tenho que concordar com você, Antonio: apesar de John Wayne ser o símbolo do western, ainda prefiro Henry Fonda.
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John Wayne é o Western Em Pessoa, Sem Ele creio que os Westerns não existiriam. Em Rastros de Ódio e O Homem Que Matou o Facínora Talvez Seus Melhores Trabalhos.
Ótimo Post, Parabéns.
Abraços
A criatividade também impera no seu blog né ?
Obrigada por ter visitado e principalmente ter gostado do meu blog :)
Grande beijo , e já estou seguindo
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abraço
Excelente texto, trazendo uma visão feminina desse gênero tão masculino.
Mas que texto ótimo Lê! Mas tenho que admitir que tanto o Henry Fonda quanto o John Wayne são fantásticos. É impossível falar sobre western e não lembrar desses dois.
Sempre fui fã de Western, mas acho que os Cowboys devem ser sujos, por isso prefiro o western Spaghetti do querido Sergio Leone! Impagável!!
Bom post, e continue assim!!
Sou fã do John Wayne... os filmes são previsíveis, mas é assim que se fazia na época. Embora muito se cultue RASTROS DE ÓDIO, prefiro RIO BRAVO. Nos dias de hoje vale lembrar que ainda temos "filmes de western" acontecendo, posso citar:
TRES ENTERROS DE MELQUIADES ESTRADA com o Tommy Lee Jones e também com ele o excepcional ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ, comentei um deles nesse link...
http://b1brasil.blogspot.com/2010/09/cinema-cade-originalidade.html
JOPZ
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