Ela está em todos os lugares. É ícone da cultura pop e talvez o mais
conhecido rosto do século XX. Mas eu me atrevo a dizer: Marilyn Monroe é
superestimada. Podia ser uma grande atriz – mas não foi. Pouco aproveitada, era
mais um pedaço de carne a ser exibido nas telas. Sua imagem sempre veio antes
do seu talento – e tinha talento: foi uma das melhores alunas do Actor’s
Studio.
Olhe para a foto acima. Marilyn lê! Sim, ela não é apenas um belo rosto!
Mas ela precisava ser exibida em frente à estante usando apenas uma lingerie
muito sexy? Não.
Como símbolo sexual e diva do cinema, Marilyn acaba atraindo a atenção de
muitas pessoas (olhe como ela está nos cartazes de todos os seus filmes, mesmo tendo
um papel pequeno!). São milhões de fãs no mundo inteiro, sendo que uma boa
parte desses fãs não assistiram a nenhum filme com Marilyn. Eu não sou
exatamente uma fã, mas já vi quase todos os filmes da estrela. E vou dizer:
eles são ótimos, mas não por causa de Miss Monroe...
Loucos
de Amor / Love Happy (1949)
Preste
atenção em: Harpo Marx.
Por
quê?: Groucho Marx pode ter muito tempo em cena com seu
papel de detetive, mas é Harpo, adorável como nunca, que rouba todas as cenas
em que aparece.
A Malvada / All About Eve (1950)
Preste
atenção em: todo o elenco feminino.
Por
quê?: Marilyn aparece em cena por menos de um minuto, e a
loira está longe de ser a razão principal para ver este grande filme. Bette
Davis e Anne Baxter brigando pelo lugar de diva máxima do teatro, com Thelma
Ritter e Celeste Holm como coadjuvantes. Precisa pedir mais?
O
Segredo das Joias / The Asphalt Jungle (1951)
Preste
atenção em: Jean Hagen.
Por
quê?:Mais uma vez, a participação de Marilyn é restrita
a um minuto. Por outro lado, quem mostra muito talento (e uma bela voz) é Jean
Hagen. Não reconhece o nome? Ela interpretou, no ano seguinte, a cômica vilã
Lina Lamont em “Cantando na Chuva”!
Sempre Jovem / As Young as You Feel (1951)
Preste
atenção em: Monty Woolley, Thelma Ritter e Constance Bennett.
Por
quê?: Monty Woolley é o mais desconhecido de todos os
indicados ao Oscar (ele foi indicado DUAS VEZES e ainda assim poucos o
conhecem). Mas ele e as sempre ótimas Thelma e Constance dão um show com um
roteiro muito divertido: para evitar a aposentadoria, John R. Hodges (Woolley)
finge ser o presidente da própria empresa em que trabalha, enganando os
funcionários.
Só a
mulher peca / Clash by Night (1952)
Preste
atenção em: Barbara Stanwyck, a rainha subestimada do cinema.
Por
quê?: Marilyn está OK no filme, mas ele pertence à
sempre excelente Barbara Stanwyck. Pense em um filme meio noir, passado à beira
do mar, com uma femme fatale de meia-idade e dirigido pelo mesmo homem que
dirigiu Metrópolis!
O
Segredo das Viúvas / The Love Nest (1952)
Preste
atenção em: Frank Fay.
Por
quê?: Este filme está muito longe de ser especial. Se
você puder evitá-lo, não perderá nada. Apenas me surpreendi com Frank Fay, já
no final da carreira. Frank foi o primeiro marido de Barbara Stanwyck e parece
já bem velho e judiado.
O
Inventor da Mocidade / Monkey Business (1952)
Preste
atenção em: Cary Grant e Ginger Rogers.
Por
quê?: Junte dois dos melhores atores da época, Cary e
Ginger. Eles são muito bons na comédia e têm uma ótima química. Prepare-se para
muitas gargalhadas durante toda a projeção (meu momento favorito é quando Cary
decide brincar de índio).
Travessuras
de Casados / We’re not married (1952)
Preste
atenção em: qualquer coisa.
Por
quê?: Três casais descobrem que a união deles não é
válida porque o juiz ainda não tinha uma licença. Há o casal do rádio que vive
brigando, mas mantém as aparências quando está no ar, há a miss que pode
competir agora que está solteira, e a moça que fica preocupada por seu filho
nascer no “pecado”. Qual o problema do filme? É curto demais, cada caso poderia
ser explorado melhor!
Almas Desesperadas / Don't bother to knock (1952)
Preste
atenção em: Anne Bancroft em seu primeiro papel no cinema... e
preste atenção também em Marilyn.
Por
quê?: Sem dúvida este é o melhor filme de Marilyn, ou
pelo menos aquele em que ela mostra todo seu potencial como atriz dramática.
Uma deliciosa surpresa e uma atuação muito intensa!
Torrente
de Paixão / Niagara (1953)
Preste
atenção em: Joseph Cotten (e nos cenários).
Por
quê?: Este é um filme noir em Technicolor. As salas
fumacentas dão lugar ao ar puro das cataratas do Niágara, e Joseph Cotten
ressuscita seu lado “tio Charlie” para ficar assustador. Imperdível.
Como
agarrar um milionário / How to marry a millionaire (1953)
Preste
atenção em: Lauren Bacall e Betty Grable.
Por
quê?: Betty Grable tem um figurino maravilhoso no filme
(ta, os óculos de Marilyn também são muito bonitos), mas o destaque vai para a
linda e talentosa Lauren Bacall em seus momentos cômicos.
Os
homens preferem as louras / Gentlemen prefer blondes (1953)
Preste
atenção em: Jane Russell.
Por
quê?: os homens podem preferir as louras, mas é a bela
morena que comanda o espetáculo. Ela é mais exuberante em todos os números
musicais e ainda faz uma maravilhosa imitação da personagem de Marilyn no
tribunal.
O Mundo da Fantasia / There
is no business like show business (1954)
Preste
atenção em: Donald O’Connor
Por
quê?: Este é um dos grandes momentos de O’Connor no
cinema. Sua dança com as estátuas, quando ele percebe que está apaixonado, é o
equivalente ao Cantando na Chuva de Gene Kelly.
O
Rio das Almas Perdidas / River of No Return (1954)
Preste
atenção: nas roupas! No cenário! Nas forças da natureza!
Por
quê?: Marilyn é uma cantora de saloon com belas roupas,
mas o verdadeiro protagonista do filme é o rio, que ameaça Robert Mitchum, seu
filho pequeno e a nossa loira favorita.
O pecado mora ao lado / The Seven Year Itch (1955)
Preste
atenção: nos diálogos.
Por
quê?: este é o filme com a famosa cena do vestido. Mas
nem por isso é especial dentro da filmografia brilhante de Billy Wilder. Sim,
há bons momentos do humor característico de Wilder, e apenas eles fazem o filme
valer a pena. Ah, tem também “o bife” ("chopsticks"):
Nunca
fui Santa / Bus Stop (1956)
Preste
atenção: no figurino de Marilyn. Só isso salva o filme.
Por
quê?: Não sei quanto a você, mas eu considero este filme
muito, muito chato, em especial por causa do protagonista sem carisma, Don Murray, que resolve sequestrar a
personagem de Marilyn, a bela cantora Chérie, e levá-la para viver com ele.
Marilyn foi tratada como um objeto neste filme!
O
Príncipe Encantado / The Prince and the Showgirl (1957)
Preste
atenção em: Laurence Olivier.
Por
quê?: Olivier podia fazer tudo, da comédia ao drama de
Shakespeare. Entretanto, aqui a história dos bastidores é tão interessante
quanto o filme final, como podemos ver em “Sete Dias com Marilyn / My week with
Marilyn” (2011).
Quanto
mais quente melhor / Some like it hot (1959)
Preste
atenção em: Jack Lemmon... e Joe E. Brown.
Por
quê?: Como Gerald / Daphne, Jack Lemmon dá total vazão a
seu lado feminino e parece realmente aproveitar todo o tempo em que está
vestido de mulher. O problema começa quando o rico Osgood (Joe E. Brown) se
apaixona por Daphne. Uma pena que Lemmon não ganhou o Oscar de Melhor Ator!
Adorável
Pecadora / Let's Make Love (1960)
Preste
atenção em: participações especiais (“cameos”) de Bing Crosby, Gene Kelly e Milton Berle.
Por
quê?: Bing, Gene e Berle aparecem no filme apenas para
descobrir algum talento no personagem de Yves Montand – um homem rico que, ao
descobrir que é motivo de piada em uma peça de teatro, resolve entrar no elenco
(o que é um ótimo enredo!).
Os
Desajustados / The Misfits (1961)
Preste
atenção em: Clark Gable.
Por
quê?: Se Clark Gable tivesse feito apenas esse filme, já
mereceria um lugar de destaque entre as maiores estrelas do cinema. Em sua
atuação mais brilhante, Gable mostra que não era só um sex symbol dos anos 30. Repare na frustração quando ele não
encontra os filhos do lado de fora do bar. É, sem dúvida, o momento em que sua
estrela brilhou mais alto em frente às câmeras.
Marilyn era diva? Era.
Tinha tudo para ser uma grande atriz? Provavelmente. Foi produto e vítima de
Hollywood. Apesar de ainda ser muito lembrada, certamente foi uma das estrelas
mais tristes da constelação da era de ouro.
17 comments:
Marilyn chamou a atenção e se tornou estrela pela exploração da sensualidade, o que na época causava escândalos, enquanto hoje isso se tornou fato comum.
Até mais
incrível como ela é conhecida mesmo hj. ícone realmente. beijos, pedrita
Análise sagaz, Re. Penso bem parecido. Até mesmo sobre o chato Don Murray que arruína NUNCA FUI SANTA.
Tenho carinho e respeito pela star MM, mas não sou fã.Tem potencial dramático, humor latente e um carisma impressionante. É de uma beleza alucinante. Mas MM nunca me convence plenamente em cena, me incomoda seus artifícios e frágil domínio corporal. Muitas vezes está tensa, não sabe o que fazer com as mãos, caminha sem naturalidade. Mas é uma deusa que merece todos os aplausos. Gosto muito dela em COMO AGARRAR UM MILIONÁRIO e O PECADO MORA AO LADO, uma das minhas comédias favoritas.
Re, em O Rio das Almas Perdidas confundiu Burt Lancaster com Robert Mitchum.
Beautiful to look at and a girl they still like to talk about, it is Marilyn's lost potential, especially as a comedienne, that is tragic.
Ela sempre foi uma otina atriz, mas o seu talento estava a frente do seu tempo, pois os estúdios achavam que ela se dava melhor na interpretação de loira burra.
Adorei a análise, sempre pensei isso sobre ela, e acho que você conseguiu descrever muito bem.
I enjoyed this review. For me, it depends on the film. In some I just don't get her appeal (aside from her looks). In others, she is just so vibrant and funny. I actually love her in Some Like It Hot, and find the others annoying:) But I totally understand your reaction given some of her performances! Leah
Hi Le! Thanks for this "contrarian" view of Marilyn Monroe. I agree with everything you said... but I'm still a big fan. I love her in comedies - even in Bus Stop which, as you said, is a really annoying movie.
Another interesting point you made is that people still talk about Marilyn, even if they've never seen any of her films. She knew how to create a larger-than-life persona, one that was made even more powerful with her early death.
Thanks for giving me lots to think about! :)
Brave post Le ;)
I have to say, we're going to have to agree to disagree. I ADORE Marilyn, and I always will. I agree that not all of her films are great, and that she's mediocre in some of them, but I think that could be levelled at many 'greats'.
For me, it's important to remember that she fought hard against the persona she was given, but was forced back into it time and time again because the studio refused to see her any other way. She was thwarted at every turn by a system that thrived on putting, keeping and forcing women into their place. The fact that she attempted to set up her own production company shows not just how desperate she was, but also how much she wanted to prove herself.
Lets agree to disagree!
Que análise! Pegou pontos que geralmente as pessoas ignoram. O que teria sido da carreira de Marilyn se ela tivesse tomado outros rumos, e assim, "despertado" e lapidado seu talento, será um eterno mistério. Não deixa de ser um ícone dos quais eu mais admiro!
Beijos, Pri
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You are so right - this is a great post - I admire you for going through all those films! I think Marilyn was probably a truly great human being - it's just ashamed she was always cast as the dumb blonde, because I don't think she was really. Just sad.
Lê, adorei o post! A verdade é que o mercado do cinema funcionou e continua funcionando com base nas estrelas, né? E tem filmes que são horríveis, mas acabam vendendo por causa de determinado ator.
Adorei sua análise, muito perspicaz!
:*
I completely disagree with your "unpopular opinion" stating Marilyn could have been a better actress. She was. First of all, Marilyn was trained by Lee Strasberg. That, in itself, shows you that she was a talent trained by the best. Secondly, Marilyn needed better roles, but she was a truly great actress and gave it her all in everything she did. To play dumb, to play vulnerable roles, to sing, to dance, have comedic timing and to create a completely different image from your own does not equal to a bad actress. It equals to a talented, gifted movie star. Had she lived, she would have proven herself to skeptics like you.
Thanks so much for joining in! I have to admit that The River of No Return is something of a guilty pleasure for me. I enjoyed your rundown of poor Marilyn's career and films.
Muito boa a analise Le!
Marilyn é minha diva, sua imagem sobreviveu ao tempo, é um icone e eu a adoro!
Mas de fato, ela foi muito explorada fisicamente pela industria do cinema e seus filmes embora usassem de sua imagem para atingir o grande publico, lhe colocavam em papéis sem grande destaque, ainda assim ela se destacava , pois a meu ver ela tinha um talento natural mal explorado, diria até sufocado, mas ela brilhava na tela a camera amava seu rosto e isso é claro não me impediu de admirar o talento daqueles que compunham o elenco de seus filmes e sim eles se destacaram e fizeram junto de Marilyn , que valessem a pena serem assistidos.
Em almas desesperadas Marilyn esteve incrivel totalmente fora do esteriotipo imposto em seus demais filmes. E em Os desajustados também gosto muito, acho que ali ela se representou em muitas cenas, enfim, lamento que ela não tenha sido melhor aproveitada , mas ela nos deixou uma obra que eu adoro!
Bjus
www.misscherry.com.br
Caraca. É incrível como você pensa como eu. Eu não vi todos os filmes da Marilyn, mas os poucos que vi me decepcionei com a atuação dela, até me revolto de ver ela ser um ícone, sendo que de longe foi uma das melhores atrizes daquela época. Porém, concordo e assino embaixo, em "Almas desesperadas" ela está incrível. O engraçado é que os "sabe tudo" dizem que foi o pior filme de sua carreira kkkk é cômico se não fosse trágico. Talvez porque seja um dos poucos, ou único filme que ela não banque a loira burra, a sexy, a mulher fácil e interesseira. E sim, ela é superestimada pelas pessoas, pois pode ter certeza, que metade de seus fãs nunca viram um filme seu. Eu mesma não sou fã de Marilyn, mas entendo porque muitos a amam. Minha atriz preferida é Linda Darnell, esquecida, mas boa atriz, não excepcional, mas amo-a do mesmo jeito.
Beijos
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