Se
você gosta de filmes antigos, já deve ter passado por esta
situação: na ânsia de compartilhar sua paixão com as pessoas ao
seu redor, recebeu como resposta uma careta e a recusa veemente de
parar para ver um filme “velho”, em preto e branco. Este
preconceito com o cinema clássico é infundado e frustrante, porque
quem não dá uma chance para um filme “pré-histórico” está
dando as costas para um mundo maravilhoso. Então, como você,
evangelizador do cinema clássico, poderia trazer mais adeptos para o
modo de vida Old Hollywood? Por onde começar?
Deixe-me
contar um segredo: o amor pelo cinema não é genético. Embora meu
bisavô tenha sido gerente de cinema, meu avô não perca um filme de
John Wayne e minha avó seja fissurada por Bruce Willis e CinemaScope
(não nesta ordem), o gene cinéfilo pulou uma geração. Minha mãe
é uma pessoa totalmente normal, que não gosta de filmes em preto e
branco. Mas ela é uma boa mãe, e por isso foi com um misto de
surpresa e alegria que eu reagi quando ela aceitou assistir a “A
Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” comigo.
A
princesa Ann (Audrey Hepburn) está entediada com os muitos
compromissos oficiais e burocráticos de sua visita a Roma. Ela quer
mesmo é se divertir, e para isso foge no meio da noite, logo
encontrando o repórter Joe Bradley (Gregory Peck). A princípio, Joe
não a reconhece, até que seu colega fotógrafo Irving (Eddie
Albert) mostra uma foto da princesa, e é aí que começa a aventura,
e também o dilema moral: Joe deve aproveitar a companhia da princesa
disfarçada para conseguir um grande furo de reportagem?
A princesa Ann se assemelha muito mais à Audrey da vida real do que a
mais famosa personagem da atriz, a acompanhante de luxo Holly
Golightly de “Bonequinha de Luxo / Breakfast at Tiffany’s”, de
1961. Ann é doce e aventureira, cheia de classe e divertida, bondosa
e determinada, delicada e moleca.
E é com adjetivos tão diferentes
que podemos descrever Audrey Kathleen Ruston,
a menina que nasceu na Bélgica, passou fome durante a Segunda Guerra
Mundial, virou bailarina e atriz de teatro, brilhou em Hollywood e
tornou-se embaixatriz da UNICEF.
Há
muito mais no filme do que suspeita nossa vã filosofia: encapsulado
no roteiro está uma das histórias mais importantes e indignantes de
Hollywood: a do roteirista Dalton Trumbo. Em 1947,
Trumbo foi acusado de ser comunista e,
apesar de continuar contribuindo com bons roteiros para o cinema, não
podia ser creditado. Ele então usava pseudônimos ou deixava
que algum de seus amigos recebesse crédito pelo seu trabalho. O
roteiro de “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” foi assinado
por Ian MacLellan Hunter, e recebeu o Oscar de Melhor Roteiro
Original (veja no vídeo abaixo). Em 1993, a viúva de Trumbo
finalmente recebeu a estatueta que
lhe era devida. Dez anos depois o
nome de Trumbo foi adicionado aos créditos. E apenas em 2011 o
Sindicato dos Roteiristas devolveu o crédito a Trumbo, após um
apelo que o filho dele, o também roteirista Christopher Trumbo, fez
antes de morrer.
Filmado
totalmente em locação, “A Princesa
e o Plebeu
/ Roman Holiday”
se torna um perfeito roteiro para férias em Roma, com destaque para
todos os pontos turísticos importantes. Afinal, quem, depois de ver
todas as maravilhas na tela, não quis ir ver pessoalmente os cafés
italianos, as escadarias, as fontes e a carranca esculpida na pedra?
Até a Via Margutta 51, endereço de Joe Bradley, realmente existe em
Roma. Curiosamente, o filme foi feito em preto e branco não apenas
para diminuir os custos, mas também para impedir que a bela paisagem
italiana chamasse mais atenção que a história em si. Esta foi a
primeira produção de Hollywood filmada totalmente em Roma.
Confissão: já imitei esta cena com o canudo |
Como
é possível apreciar um filme em preto e branco? Acredito que o
grande trunfo do bom cinema é contar uma história tão boa que você
esquece que está vendo um filme em preto e branco – a fotografia
“bicromática” se torna apenas um detalhe de algo muito maior e
mais significativo. Filme algum deve ter sua qualidade julgada pela
presença ou ausência de cores. “Casablanca” e “Cidadão Kane”
não seriam melhores se fossem coloridos, e “E o Vento Levou... /
Gone With the Wind” não seria
pior se fosse filmado em preto e branco.
E
quanto à minha mãe, você se perguntam? Ela gostou do filme! Depois
da sessão, ela destacou a beleza de Gregory e Audrey (sem contar que
as roupas e o penteado da princesa são moderníssimos) e a
despretensão do filme. Sem querer passar uma mensagem, o filme
conquista o espectador. Sem ter de apelar para vulgaridades ou
humor baixo, “A Princesa e o
Plebeu / Roman Holiday” dá a quem não está acostumado com os
clássicos uma introdução sobre tempos mais simples – quando era
possível sair do cinema com um sorriso no rosto e a alma mais leve.
This
is my contribution to the “Try It, You'll Like It!” Blogathon,
hosted by classic film ambassadors
Fritzi at Movies, Silently and Janet
at Sister Celluloid.
Alert: classic film viewing may
cause addiction.
9 comments:
a princesa e o plebeu é maravilhoso. beijos, pedrita
A charming film to share with your mother. An excellent choice for the blogathon for I am sure it would work its magic on many.
I'm glad to hear your mother went with you to see this...and I'm also a little jealous that you were able to watch this on the big screen. (That would be so great!!)
I didn't realize this was the first Hollywood production to be filmed entirely in Rome. I will keep that in mind the next time I watch it. :)
Thanks so much for joining in and congratulations on your success with showing your mother this film. Sometimes a good romance is just the thing. :-)
Love love this film. In my top 10. I really enjoyed your review and glad you chose this film for the blogathon! It's also how I introduced my mother to Audrey Hepburn. I'd love to be able to read Portuguese, because the translation... well... :P
I LOVE LOVE LOVE "Roman Holiday"!!! I had a chance to watch this on the big screen a couple weeks ago but sadly I wasn't able to go (the theater was over an hour away and none of our cars could make the drive). Great choice for the Blogathon!!!
Hi Lê. It sure is frustrating when people tell me they don't want to see old movies. It is worse when I learn that they think of movies from the 1980s as old movies. "sweet and adventurous, full of class and fun, kind and determined, delicate and tomboyish" -- a great description of Audrey Hepburn and the princess she played. When I went to Rome, I visited most of the locations. I'm glad your mother enjoyed the movie. It is one of my daughter's favorites.
I didn't realize the writer had been blacklisted. What a shame it took so long to honor such a wonderful script properly! A perfect choice for the blogathon. This is my favorite Hepburn film. I agree--it just seems more like her than anything else I've seen her in...
Olha, acho que só assisti um filme preto e branco, e foi do Chaplin, mas já tem TANTO tempo rsrs vou colocar esse filme na lista
e parar de ler esse blog porque tô querendo ver tudo ç.ç haha bjs!
Meu brógui <3
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