Você
gosta de ver duas pessoas se apaixonando, e depois enfrentando os
desafios do relacionamento? Eu não gosto, mas mesmo assim dei uma
chance a “Tudo Começou no Trópico / Swing High, Swing Low”, de 1937.
E sabe por quê? Porque eu adoro analisar representações de países
tropicais e seus habitantes em filmes antigos. Normalmente esta
representação não é muito lisonjeira, e aqui não foge à regra.
Maggie
(Carole Lombard) trabalha como cabeleireira em um navio que está
cruzando o canal do Panamá rumo ao Hemisfério Sul. É observando o
funcionamento do canal que ela conhece o soldado Skid (Fred
MacMurray), que está prestes a pedir dispensa do exército. Quando
Maggie e sua amiga chegam na Cidade do Panamá e vão fazer um
passeio, o guia turístico que elas encontram é justamente Skid.
A
barraca em que Skid as leva para comer lagosta tem ares de cais
orientais, como vemos em “O Véu Pintado / The Painted Veil”
(1934) e “Mares da China / China Seas” (1935). Quando os
panamenhos falam espanhol e Maggie não entende, é o diálogo de
reclamação dela que se sobrepõe à fala dos nativos. É mais
importante ouvir a incompreensão dos norte-americanos do que a
língua falada pelos habitantes locais.
Em
seguida, Skid e Maggie vão a um bar com música ao vivo, onde ela é
importunada por um Anthony Quinn muito jovem, com quem Skid briga. A
confusão leva o casal a passar uma noite na cadeia (nas comédias
românticas dos anos 30 todo mundo é preso pelo menos uma vez) e,
quando são soltos, veem que o navio de Maggie já zarpou.
Morando
na cabana tropical rústica de um amigo de Skid, ele e Maggie vão
procurar trabalho, e ela logo consegue ocupação para ambos em um
clube. Para isto, entretanto, ela precisa mentir que eles são
recém-casados.
Skid
toca trompete na banda, e Maggie é dançarina no clube. Outra
dançarina e cantora é Anita Alvarez (Dorothy Lamour), a estrela do
show e antiga namorada de Skid. Logo Maggie e Skid terão uma chance
de chegar ao centro do palco quando começarem
a compor suas próprias músicas.
Dorothy
Lamour sofreu da maldição que todas as mulheres exóticas sofrem em
Hollywood: mesmo se nascidas nos Estados Unidos, elas são sempre
associadas a pequenos papéis de sedutoras estrangeiras. A própria
associação com sedução e pecado começa na escolha do nome
artístico de Mary Leta Dorothy Slaton, Miss New Orleans 1931. Sim, a
primeira associação é com a palavra francesa “l'amour”, embora
outras fontes garantam que Dorothy teria se inspirado no sobrenome de
seu padrasto, Lambour, para
escolher seu nome artístico.
A
carreira de Dorothy foi marcada por um sarongue que ela usou em seu
primeiro sucesso como protagonista: “A Princesa da Selva”, de
1936. Papel semelhante de nativa ela teve em “O Furacão” (1937),
uma obra subestimada de John Ford, com ótimos efeitos especiais e
excelentes atuações. Dorothy também ficou conhecida por atuar ao
lado de Bob Hope e Bing Crosby na série de filmes “Road
to...”, e
até interpretou uma brasileira em “A Caminho do Rio / Road to Rio” (1947).
Apesar
de o filme ser previsível, há uma reviravolta perto do final que
surpreende positivamente: tendo
muito sucesso como trompetista, Skid precisa enfrentar seus velhos
vícios no jogo e na bebida. Sua decadência está ligada à figura
de Anita, a dançarina femme
fatale,
e garante bons momentos dramáticos para Fred MacMurray. Quem perdeu
com a reviravolta foi Dorothy Lamour e todas as mulheres latinas,
desde sempre e talvez para sempre associadas ao pecado e à tentação.
This
is my contribution to the Dorothy Lamour Blogathon, hosted by Ruth at
Silver Screenings and Maedez at Font and Frock.
3 comments:
I had to laugh when you said everyone in 1930s screwball comedies spends at least one night in jail. So true!
It's always good to get your perspective on films, Le, and it's not just because of where you live. You seem to always get to the heart of the film and look at things I've never thought of. I've not seen this film, but I will keep your points in mind when I find it.
Thanks for joining the Dorothy Lamour blogathon! :)
It's been a while since I saw this movie but even though I like the actors, I didn't really like the movie. To be honest, I didn't remember that Lamour was IN the movie! That's interesting about her last name!
Hi again, Le! I remember this post from the Dorothy Lamour Blogathon, and you make excellent points about the stereotypical foreign woman luring the good American male into a wayward life. Very well said.
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