} Crítica Retrô: Amor Eterno (1925) / The Road to Yesterday (1925)

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Sunday, March 11, 2018

Amor Eterno (1925) / The Road to Yesterday (1925)

Dois casais com problemas. O que eles podem fazer para solucioná-los? Bem, se você pensou em analisar vidas passadas, está correto – e também de acordo com o diretor e produtor Cecil B. DeMille e a roteirista Jeanie Macpherson, porque é exatamente isso que eles fazem para resolver os problemas conjugais dos personagens em “Amor Eterno”.

Two couples in trouble. How can you solve these troubles? Well, if you thought about analyzing past lives, you are correct – and agree with director and producer Cecil B. DeMille and screenwriter Jeanie Macpherson, because that's exactly what they do to solve some marital problems in “The Road to Yesterday”.
1925, no Grand Canyon. Kenneth – ou Ken – (Joseph Schildkraut) acabou de se casar com Malena (Jetta Goudal), mas ela tem um mau pressentimento sobre a relação, e diz que teve uma visão do passado mostrando que eles já foram casados em uma vida passada, e ele a machucou. O melhor amigo de Ken é o pastor Jack (William Boyd), que se apaixona por Elizabeth – ou Bess – (Vera Reynolds), mas ela insiste que ele deixe de pregar para se casar com ela – afinal, uma flapper não pode ser esposa de um pastor! Bess também teve uma sensação estranha ao conhecer John, pois sentiu que já o havia encontrado antes e inclusive reconheceu uma velha faca que Jack carrega consigo. Bess está momentaneamente noiva de Rady (Casson Ferguson).

1925, Grand Canyon. Kenneth – or Ken – (Joseph Schildkraut) just married Malena (Jetta Goudal), but she had a bad feeling about their relationship, saying she had a vision from the past showing that they were already married in a past life, and he hurt her. Ken's best friend is the Reverend Jack (William Boyd), who falls in love with Elizabeth – or Bess – (Vera Reynolds), but she wants him to give up his position in a minister to get married to her – after all, a flapper can’t marry a minister! Bess also had a strange feeling when she met John, believing she had met him already and even recognizing an old knife he carries with him. Bess is momentarily engaged to Rady (Casson Ferguson).
Todos os cinco tomam um trem para San Francisco depois de uma festa na casa de Ken – cada um por uma razão. Ken precisa fazer urgentemente uma cirurgia no braço, Malena está fugindo do marido, Bess e Rady vão se casar e Jack está indo reconquistar Bess. No meio da noite, o trem colide com outro trem, e Bess tem uma experiência curiosa envolvendo uma viagem no tempo.

All five people take a train to San Francisco after a party in Ken's house – every person for a reason. Ken needs to do an urgent arm surgery, Malena is running away from her husband, Bess and Rady are going to get married and Jack is going after Bess. In the middle of the night, the train collides with another train, and Bess has a weird experience with time travel.
Agora é 1625, na Inglaterra. Elizabeth – ou Bess – Tyrel é uma herdeira que não quer se casar com o Lorde Strangevon – ou Ken. Ela foge e conhece um corajoso plebeu chamado Jack. Mas Lorde Strangevon está atrás dela – e atrás dele está a cigana Malena, que curou o braço dele e se apaixonou por ele. Na verdade, eles se casaram em uma cerimônia – e por isso o Lorde Strangevon não pode se casar com Bess! E onde está Rady? Bem, ele é o idiota local e trabalha em uma taverna – e não pensa duas vezes para trair seus amigos.

It's now 1625, in England. Elizabeth – or Bess – Tyrel is an heiress who doesn't want to get married to Lord Strangevon – aka Ken. She runs away and meets a brave commoner named Jack. But Lord Strangevon is after her – and after him is the gypsy Malena, who once cured an arm wound he had and fell in love with him. Actually, they married in a ceremony – and therefore Lord Strangevon can't marry Bess! And what about Rady? Well, he is the town's fool and works in a tavern – and he won't think twice to betrayal his friends. 
Misturar o presente e o passado num mesmo filme não era novidade para DeMille. Ele fez isso antes em “Os Dez Mandamentos” (1923) – e eu fiquei muito surpresa quando assisti ao filme e percebi que ele era sobre Moisés abrindo o mar Vermelho E também sobre como algumas pessoas ignoram e desobedecem aos mandamentos nos tempos modernos. A versão silenciosa de “Os Dez Mandamentos” é um filme grandioso por causa desta linha do tempo dupla – mas “Amor Eterno” não chega a ser tão bom quanto o épico.

Mixing the past and the present in the same film wasn't something new to DeMille. He did it before in “The Ten Commandments” (1923) – and I was quite surprised when I watched the film and realized it was about Moses opening the Red Sea AND also about how some people ignore and disobey the commandments in modern times. The silent “The Ten Commandments” is a grand film because of this double timeline – but “The Road to Yesterday” is not as good as the epic.
Não foi uma surpresa ver um tema religioso em um filme de DeMille. Em “Amor Eterno”, além de ter em Ken – tanto no passado quanto no presente – um exemplo de ateu que desdenha de Deus, há os temas de reencarnação e espiritualismo, que estavam na moda no começo do século XX. Não nos esqueçamos de que “Amor Eterno” foi adaptado de uma peça escrita por Beulah Marie Dix e Evelyn Greenleaf Sutherland que fez sucesso na Broadway entre 1906 e 1907.

It wasn't a surprise to see a religious theme in a DeMille movie. In “Road to Yesterday”, besides having in Ken – both in the past and in the present – an atheist who disdains of God, there is the themes of reincarnation and spiritualism, which were in vogue in the early 20th century. Let's not forget that “The Road to Yesterday” was adapted from a play written by Beulah Marie Dix and Evelyn Greenleaf Sutherland that was a Broadway hit between 1906 and 1907.
O espiritualismo estava na moda nos anos 290, logo depois do fim da Primeira Guerra Mundial. De certa maneira, foi assim que muitas pessoas lidaram com a perda de entes queridos na guerra: se voltando para a religião e esperando para se comunicar com os mortos, ou viver outra vida após a morte. DeMille e Jeanie Macpherson sabiam disso e foram sábios ao escolherem adaptar “Amor Eterno” para as telas – com a ajuda de um jovem chamado Howard Hawks, que ficou responsável pelos intertítulos. Depois da Segunda Guerra Mundial, os métodos para processar o luto mudaram um pouco, e incluíram a criação da cientologia e o aumento do interesse por ficção científica e por discos voadores.

Spiritualism was in vogue in the 1920s, following the end of World War I. In a way, it was how many people grieved the loss of loved ones in the war: turning to religion and the hope to communicate with the dead, or to go on to live another life. DeMille and Jeanie Macpherson knew that, and made the wise choice to adapt “The Road to Yesterday” to the screen – with a young man called Howard Hawks writing the intertitles for them. After World War II, the grieving methods were a little different, and included the creation of scientology and the rise of science fiction and interest in UFOs.
O assunto das vidas passadas é fascinantes. E fica mais interessante ainda da maneira como é tratada no filme. Em 1925, Bess encontra sua tia Harriet (Trixie Friganza) e se diverte ao lembrar que a tia sempre disse que, numa vida passada, ela era a rainha Mary da Escócia – mas na verdade ela era apenas uma bruta dona de uma taverna. Isto é algo comum: nós todos gostamos de pensar que, em uma vida passada, se é que já vivemos antes, fomos tão importantes quanto César e Cleópatra, mas nós provavelmente fomos – como somos agora mesmo – pessoas normais vivendo vidas comuns.

The subject of past lives is fascinating. And it’s even more so in the way it is treated in the film. In 1625, Bess also meets her aunt Harriet (Trixie Friganza) and laughs because the aunt always said that, in a past life, she was Mary Queen of Scots – but in reality she was just a brute tavern owner. This is something common: we all like to think that, in a past life, if we had one, we were as important as Caesar and Cleopatra, but we much probably were – as we are right now – regular people living uneventful lives.
Eu gosto particularmente de algumas noções deste filme, como a de que nossos problemas ou características têm origem em uma vida passada. Há alguns anos eu me interesso pelo Espiritismo, uma religião com um número razoável de seguidores no Brasil. Não sou nenhuma especialista no assunto, mas vejo que algumas coisas em “Amor Eterno” vão de encontro com a doutrina de Allan Kardec.

I particularly like some notions in this film, like the one that our current problems and even strengths may have its origin in a past life. For a few years I’ve been interested in Spiritism, a religion that has a good amount of followers in Brazil. I’m by no means an expert, but I see some things in “The Road to Yesterday” that corroborate with Allan Kardec’s doctrine.
Além de vidas passadas, o que mais “Amor Eterno” tem a oferecer? Oh, prepare-se, porque tem muita coisa neste filme: discurso religioso, arco e flecha, figurino de Adrian, noivados relâmpago, estupro conjugal, esgrima, mulheres vestidas de homens e uma verdadeira caça às bruxas da era medieval. E tudo isso por causa de uma viagem no tempo causada por uma experiência de quase morte!

Besides past lives, what “The Road to Yesterday” has to offer? Oh, brace yourself, because this film has a lot going on: religious blabbing, archery, gowns by Adrian, quick engagements, marital rape, fencing, cross-dressing and a true medieval witch hunt. And all this because of a time travel triggered by a near-death experience!
Amor Eterno” é um pouco cafona? Claro que é! É tão insistentemente cristão quanto uma aula de catequese e uma tortura deliciosa para alguém como eu, que estudou em colégio de freiras e adora filmes religiosos. É um filme com muitos problemas e furos no enredo – como a Fritzi mostra aqui – mas é feito com capricho, e o resultado entretém. E você nunca mais verá seus déjà vus da mesma maneira após este filme.

Is “The Road to Yesterday” a little bit tacky? Of course it is! It’s as preachy as Sunday school and a delightful torture for someone like me, who went to a Catholic school and is a sucker for religious movies. It’s a film with a lot of problems and plot holes – as Fritzi points out here – but it is beautifully made, and a very entertaining movie. And you’ll never see the déjà vus the same way after watching it.

This is my contribution to the Time Travel Blogathon, hosted by Rich and Ruth and Wide Screen World and Silver Screenings.

3 comments:

Rich said...

A DeMille movie preachy? Say it ain't so. :-p

Past lives is a pretty unusual concept, though I think it's asking too much to expect situations to mirror each other. If true, then we're just slaves to fate, with no guarantee we'll make different choices. Hmm. Someone should make a movie about that...

Caftan Woman said...

This sounds wacky, tacky and fascinating. I like watching Joseph Schildkraut, so I'm throwing this one on my "gotta get to it" list. Thanks.

Silver Screenings said...

Joseph Schildkraut? I'm in!

As I was reading your essay, I was admiring the costumes in the photos you posted, then you mentioned they were designed by Adrian. Say what you will about DeMille, his movies are sartorially superb.

This is a new-to-me film and, despite any drawbacks, it sounds enjoyable. Thanks for yet another cinema introduction!

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