} Crítica Retrô: Documentário: Buster Keaton, um Gênio Desajustado em Hollywood (2016)

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Wednesday, March 16, 2022

Documentário: Buster Keaton, um Gênio Desajustado em Hollywood (2016)

 


Documentary: Buster Keaton, the Genius Destroyed by Hollywood (2016)

Buster Keaton está na moda! Dois livros sobre o homem que nunca ri acabam de ser lançados, e uma cinebiografia está sendo preparada. Mas a renascença Keaton vem acontecendo já há alguns anos. Muitos livros, documentários e mesmo posts em blogs foram lançados / publicados nos últimos anos. E a fama de Keaton atravessa fronteiras! Mas é claro que atravessa, pois agora mesmo você está lendo um post escrito por uma brasileira. Na Europa Buster também é popular, e o objeto de discussão de hoje é um documentário francês sobre Buster Keaton.

Buster Keaton is on vogue! Two books about the Great Stone Face were just released, and a biopic is in the works. But the Keaton renaissance has existed for a bunch of years now. Many books, documentaries and blog posts about Keaton have been produced and published / issued in the last few years. And Keaton’s fame has crossed borders! Of course it has, as you are now reading a blog post written by a Brazilian woman. In Europe Buster is popular too, and today’s object of discussion is a French documentary about Buster Keaton.

Como o título revela, esta é uma história triste. É a história da queda de Buster Keaton. Nós, os fãs, a conhecemos de cor: em 1928, Buster assinou um contrato com a MGM e perdeu sua liberdade criativa. Antes de chegarmos a este ponto, entretanto, o documentário fala brevemente da infância de Keaton no vaudeville e seu sucesso na década de 1920.

As the title reveals, this is a sad story. It’s the story of the fall of Buster Keaton. We, the fans, know it by heart: in 1928, Buster signed a contract with MGM and lost his creative freedom. Before we reach this point, however, the documentary talks briefly about Keaton’s childhood in vaudeville and his success in the 1920s.

Parafraseando o documentário, Buster nunca riu porque não precisou. Sua linguagem corporal dizia tudo que ele queria dizer. Ele sabia cair – e como! - sem se machucar. Ele era mais que um dublê: ele era um acrobata. Ele fazia experimentos com o cinema, uma arte ainda jovem nos anos 1920, e foi mais que um grande comediante: ele foi um cineasta genial.

Paraphrasing the documentary, Buster never laughed because he didn’t need to. His body language said everything that he wanted to be said. He knew how to fall - and how! - without being hurt. He was more than a stuntman: he was an acrobat. He experimented with cinema, an art still young in the 1920s, and was more than a great comedian: he was a genius filmmaker.

O documentário destaca o amor de Keaton por trens, dizendo que era como se o cinema fosse, para ele, um pretexto para brincar com trens. Esta obsessão culmina com “A General” (1926), um filme com, de acordo com o documentário, duas partes simétricas, como uma viagem de ida e volta de trem. Os esforços e a genialidade em “A General” fazem com que, até hoje, muitas das outras obras-primas de Keaton sejam eclipsadas.

The documentary highlights Keaton’s love for trains, saying that it was as if cinema was, for him, a pretext for playing with trains. This obsession culminates in “The General” (1926), a film with, the documentary says, two symmetrical parts, like a full train trip. The efforts and the geniality in “The General” eclipse, even today, many of Keaton’s other masterpieces.

Keaton sabia como nos fazer rir, mas também sabia seduzir. Uma sequência é dedicada a Keaton conquistando garotas não com seus músculos, mas sim com “infinita ternura”. Neste momento, o documentário fala sobre a vida pessoal de Keaton, e até mostra vídeos dos exteriores de uma casa magnífica em Beverly Hills, que parece ser do astro. E também, pela primeiríssima vez, eu ouço falar que Buster tinha amantes.


Keaton knew how to make us laugh, but also knew how to seduce. A sequence is dedicated to Keaton winning the girls not by showing his muscles, but by showcasing infinite tenderness. At this moment, the documentary talks about Keaton’s personal life, even showing footage from a magnificent Beverly Hills house that is supposed to be his. Also, for the first time ever, I hear that Buster had lovers.

Estamos agora na marca de 30 minutos do documentário (de 52 minutos no total) quando a tragédia acontece. Joe Schenck, sócio e cunhado de Keaton, o aconselha a assinar um contrato com a MGM, algo que Buster, de início, não quer fazer. Mas Schenck insiste e Buster comete o maior erro de sua vida – indo inclusive contra o conselho de seu amigo Charles Chaplin, que disse (traduzido diretamente do documentário em francês): “Eles vão devorá-lo querendo ajudá-lo, vão atrapalhar seu julgamento, e você vai se esfalfar se defendendo e sabendo que tem razão. Não que eles tenham maus elementos, eles têm os melhores do país, mas são muitos e todos vão meter a colher nos seus filmes, como muitos chefes na mesma cozinha.”

We’re now 30 minutes into the documentary (that is 52 minutes long) when tragedy strikes. Joe Schenck, Keaton’s business partner and brother-in-law, advises him to sign with MGM, something Keaton doesn’t want to do at first. But Schenck insists and Buster makes the biggest mistake of his life – even going against the advice of his friend Charles Chaplin, who said (translated directly from the documentary in French): “They will devour you wanting to help you, they will twist your judgment, and you will die defending yourself and knowing you’re right. Not that they have bad elements, they have the best in the country, but they are too many and everyone will stick their fingers on your films, like many chefs in the same kitchen”.

A MGM foi estabelecida em 1924, com a fusão da Metro com a Goldwyn Pictures, e a presença do produtor Louis B. Mayer. Mayer acreditava que o destino de um filme dependia primeiro da estrela, depois do produtor, então do roteiro e por último do diretor. Pela primeira vez, na MGM Keaton teve de escrever um roteiro e submetê-lo a dezenas de cérebros que fariam muitas modificações. E agora suas acrobacias são consideradas perigosas demais para serem feitas sem um dublê.

MGM was established in 1924, with the fusion of Metro and Goldwyn Pictures, and the presence of producer Louis B. Mayer. Mayer believed that the fate of a film relied on the star first, the producer second, the script third and only then the director. For the first time ever, at MGM Keaton has to write down the script and submit it to dozens of brains who would heavily change it. And now his stunts are considered too dangerous to be made without a stunt double.

Mesmo assim, Keaton encontra um jeito de trabalhar do seu jeito e faz “O Homem das Novidades” (1928), uma obra-prima – algo que nunca voltaria a acontecer na MGM. O estúdio não permite que Keaton transforme “O Noivo Cara-Dura” (1929) em um filme falado, mas obriga o ator a aparecer como um cantor ridículo em “Jeca de Hollywood” (1930), um filme que o documentário chama de “aberração”. O som não mata a carreira de Buster Keaton: é o sistema de estúdio que o faz. Porque nós costumamos falar sobre os grandes filmes que foram feitos com o sistema de estúdio, quando na realidade deveríamos estar falando sobre os grandes filmes que foram feitos apesar do sistema de estúdio. Ou como o documentário diz: Hollywood é um ogro de devora suas crias.

Nevertheless, Keaton finds a way to work as he was used to and makes “The Cameraman” (1928), a masterpiece – and something that would never happen again in MGM. The studio doesn’t allow Keaton to transform “Spite Marriage” (1929) in a talkie, but makes the actor appear as a ridiculous singer in “Free and Easy” (1930), a movie the documentary calls “an aberration”. Sound doesn’t kill Keaton’s career: the studio system does. Because we often talk about the great movies that were made with the studio system, when in reality we should be talking about the great movies made in spite of the studio system. Or as the documentary puts it: Hollywood is an ogre that devours its children.


No começo dos anos 30, Keaton é colocado para contracenar com o comediante Jimmy Durante, formando uma dupla que o documentário descreve como “incompatível”. Forçado a fazer filmes menores que seu talento, Buster começa a beber. Quando ele desafia Mayer e se recusa a aparecer em filmes promocionais, Buster é demitido da MGM. Aos 40 anos, Buster está ridicularizado, viciado e desempregado.

In the early 1930s, Keaton is paired with comedian Jimmy Durante, forming a duo that the documentary describes as “incompatible”. Forced to appear in films that were not as big as his talent, Buster starts to drink. When he challenges Mayer and refuses to appear in promotional movies, Buster is fired from MGM. At forty, Buster is ridiculed, addicted and unemployed.

Oliver Hardy, Stan Laurel, Jimmy Durante, Buster

Mas as coisas melhoram de maneira irônica: de volta à MGM como consultor de gags, Buster se apaixona pela dançarina Eleanor Norris, que se torna sua esposa. Nos anos seguintes, ele aparece em filmes, programas de TV e comerciais e até mesmo ganha um Oscar honorário. A primeira renascença Keaton começa nos anos 60 – bem a tempo para Buster testemunhá-la!

But things get better in an ironic way: back to MGM as a gag man, Buster falls in love with the dancer Eleanor Norris, who becomes his wife. The following years, he appears in movies, TV and commercials and even wins an honorary Oscar. The first Buster Keaton renaissance begins in the 1960s – just in time for Buster to witness it!

Além das sequências dos filmes de Keaton, há também no documentário sua voz retirada de entrevistas. Nestes momentos aprendemos mais sobre a vida e o processo criativo de Keaton, e podemos vê-lo cantando, celebrando seu aniversário, jogando cartas, dando autógrafos. Estes momentos íntimos tornam o documentário melhor e mais agradável, e nós nos sentimos mais próximos de Keaton.

Besides the sequences from Keaton’s films, there is also in the documentary voiceover taken from his interviews. In these moments we learn more about Keaton’s life and creative process, and we can witness Keaton singing, celebrating his birthday, playing cards, signing autographs. These candid moments make the documentary better and more tender, and we feel closer to Buster. 

Buster Keaton, um Gênio Desajustado em Hollywood” foi escrito e dirigido por Jean-Baptiste Péretié, que também dirigiu documentários no mesmo formato sobre John Wayne, Jacques Tati e Al Pacino. O trabalho de edição maravilhoso foi feito por Véronique Lagoarde-Ségot, uma expert em documentários históricos. Esta é mais uma boa homenagem para o comediante que nós amamos, e só há uma coisa a dizer para quem cria conteúdo sobre Buster Keaton: continue com o bom trabalho! É um prazer estar viva durante a renascença Keaton.

Buster Keaton, the Genius Destroyed by Hollywood” was written and directed by Jean-Baptiste Péretié, who also directed documentaries in the same format about John Wayne, Jacques Tati and Al Pacino. The outstanding editing work was done by Véronique Lagoarde-Ségot, an expert in historical documentaries. This is another well-made tribute to the Great Stone Face we all love, and there is only one thing to say to those creating Buster Keaton content: keep them coming! It’s a pleasure to be alive during the Buster Keaton renaissance.


This is my contribution to the Eighth Annual Buster Keaton blogathon, hosted by Lea at Silent-ology.

4 comments:

Isabel Carrasco said...

Good, average and bad documentaries are all welcome if they help to promote an artist's work. The viewer will then know how to separate the gold from the chaff.
👍👍👍👍

Lea S. said...

Thank you for this review, I'd never heard of this documentary before you mentioned it! I agree with you that there seems to be a "Keaton renaissance" in recent years, and I'm happy to be part of it too! Thanks for this great contribution to the blogathon. :)

Silver Screenings said...

I was unaware of this documentary, but I'll be looking out for it.

It's so sad how Buster's career took a turn for the absolute worst when he went to MGM. Chapin was right – the studio wasn't malicious in destroying his career, they just couldn't help themselves. As you said, terrific movies were made in spite of the studio system.

Rebecca Deniston said...

Aahhh, I have to see this documentary. Wonder if it's on Prime.

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