} Crítica Retrô: Estrela Ditosa (1929) / Lucky Star (1929)

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Thursday, October 25, 2018

Estrela Ditosa (1929) / Lucky Star (1929)


A Primeira Guerra Mundial é um período fantástico para ser estudado – e uma experiência terrível para ser vivida. Muitos soldados que sobreviveram voltaram para casa desfigurados ou permanentemente incapacitados. “Estrela Ditosa” conta a história de um destes soldados – e também é provavelmente o único filme da história a ter uma briga entre duas pessoas no topo de um poste de telefonia.

World War I is a fascinating period to be studied - and a horrible experience to have been lived. Many of the soldiers who came back returned permanently disabled or disfigured. “Lucky Star” is a story of one of these soldiers - and also probably the only film ever to have two people fighting while hanging up in a telephone line post.


Em uma área rural pobre vivem Mary e Tim. Mary (Janet Gaynor) é uma garota que precisa cuidar dos irmãos mais novos e ainda ajudar a mãe com as tarefas da fazenda. Tim (Chares Farrell) trabalha consertando postes de telefonia, e com ele trabalha o preguiçoso Martin Wrenn (Guinn Williams). Mary e Tim se conhecem quando ela entrega dois galões de leite para os rapazes, e enquanto ela está lá tentando arrancar cinco centavos a mais de Wrenn, Tim ouve a notícia de que foi declarada guerra.

In a poor rural area live Mary and Tim. Mary (Janet Gaynor) is a girl who has to take care of her younger siblings and also help her mom with the duties in the farm. Tim (Charles Farrell) works repairing telephone posts, and his coworker is the lazy Martin Wrenn (Guinn Williams). Mary and Tim meet when she delivers two gallons of milk to the boys, and while she is in there trying to get an extra nickel from Wrenn, Tim hears the news that war has been declared.


O primeiro encontro deles não foi muito agradável. Quando Tim percebe que Mary estava mentindo sobre não receber os cinco centavos de Wrenn, ele dá uma surra nela, e a deixa possessa. Mesmo assim, ela sente falta dele e dos outros homens quando eles vão para a França. Ela escreve para Tim e Wrenn, mas é mais educada com Wrenn. Mesmo na guerra, Wrenn não mudou: ele não está interessado em seu dever cívico, mas sim em conhecer moças francesas. O contraste é claro quando temos cortes rápidos entre Wrenn, dirigindo um caminhão para encontrar mulheres, e Tim, usando um vagão movido a cavalo para levar sopa para  os soldados nas trincheiras.

Their first encounter is not that pleasant. When Tim realizes Mary was lying about not receiving Wrenn’s nickel, he spanks her, and this drives her crazy. Nevertheless, she misses him and the other guys when they leave to France. She writes to both Tim and Wrenn, but is more polite to the later. Even in war, Wrenn hasn’t changed: he is not interested in his civic duty, but in seeing French girls. The contrast is clear when we have quick cuts between Wrenn, driving a truck to see the ladies, and Tim, using a wagon propelled by a horse to take soup to the soldiers in the trenches.


Depois de um ano a França e outro ano no hospital, Tim volta para casa em uma cadeira de rodas. Mary se surpreende ao vê-lo assim, e fica mais surpresa ainda ao ver como ele já se adaptou à cadeira de rodas – ele gira, vai para todo canto dentro de casa e até dá marcha à ré. Mary começa a visitá-lo sempre, animada para ver as coisas que ele está inventando. Tim primeiro quer protegê-la e zoá-la, como se faz com uma irmãzinha, mas depois ele percebe que está apaixonado por ela.

After a year in France and another year in the hospital, Tim comes home in a wheelchair. Mary is surprised to see him like that, and even more surprised by how skilled he already is with the wheelchair - doing loops, going everywhere inside his house and even moving backwards. Mary starts going to his house often, excited to see the things he is doing as an inventor. Tim first wants to both protect and tease her, as if she was a younger sister, but then he realizes he is in love with her.


E Wreen ainda não aprendeu nada. Ele foi expulso do exército, mas ainda usa seu uniforme – pior, ele diz à mãe de Mary que foi promovido de sargento a major. Ele usa o uniforme e promessas falsas de casamento para enganar garotas, e escolheu Mary como a próxima vítima.

And Wrenn still hasn’t learned a thing. He was expelled from the Army, but still wears the uniform – worse, he tells Mary’s mother that he has been promoted from a Sergeant to a Major. He uses the uniform and fake wedding promises to get girls, and he has chosen Mary as his next victim.


Tim se entristece porque se sente solitário. Ele fica em casa 24 horas por dia porque não há acessibilidade do lado de fora. As coisas ficam ainda piores quando começa a nevar – algo que é um desafio para as pessoas em cadeiras de rodas ainda hoje. Logo após a Primeira Guerra Mundial, as cadeiras de rodas eram só cadeiras modificadas, e fica claro que o modelo usado por Tim se popularizou a partir de 1880, por causa da roda traseira. É prática, sim, mas não é suficiente para promover a socialização, como o filme mostra.

Tim is sad because he is lonely. He is in his house 24/7 because there is no accessibility at all outside. Things get even worse when it starts snowing – something that is still a challenge for people in wheelchairs today. Right after World War I, the wheelchairs were just modified chairs, and it’s clear that the model Tim has was common from the 1880s onward, because of the rear wheel. Practical, yes, but not enough to promote the socialization, as the film shows.


Tim não quer que as pessoas tenham pena dele. E esta é a primeira coisa que precisamos saber ao lidar com deficientes: eles não querem pena. Tratá-los de maneira diferente, especial, é mais um insulto que um favor. Eles não querem privilégios. Eles querem ser tratados como seres humanos, com algumas necessidades especiais. Mesmo que o termo “necessidades especiais” não seja bem aceito, é a verdade: alguém como Tim, em uma cadeira de rodas, precisa de algumas mudanças no local em que vivem para que possam viver normalmente. Estas mudanças são pequenas, coisas que podem ser feitas facilmente e que beneficiam a todos, porque conviver com pessoas diferentes é enriquecedor para todos.

Tim doesn’t want people to pity him. And this is the first thing we should know as we deal with the disabled: they don’t want pity. Treating them in a different way, in a special way, is more of an insult than a favor. They don’t want privileges. They want to be treated as human beings, but with a few special needs. Although the term “special needs” is not very cherished, it is the truth: someone like Tim, in a wheelchair, needs some special changes in the place they live in order to live normally. Those special changes are small changes, things that can be done and help everybody, because socializing with different people is enriching for everybody.


Além de termos Tim convivendo com a deficiência, temos Mary vivendo em uma família abusiva. Ela é explorada pela mãe (Hedwiga Reicher) e apanha com frequência. A mãe também detesta Tim e o chama de “aleijado”. Ela só está interessada nos presentes que Wrenn traz e nas falsas promessas dele de dinheiro para a família se Mary se casar com ele.

Besides having Tim facing disability, we have Mary living in an abusive household. She is exploited by her mother (Hedwiga Reicher), and beaten by her. Her mother also dislikes Tim and calls him a “cripple”. She is only interested in the gifts Wrenn brings and his empty promises of money for the family if Mary marries him.


Charles Farrell era um ator muito bonito, mas hoje está quase esquecido. Em “Estrela Ditosa”, ele mostra que também era excelente ator. Seus esforços com as muletas me lembraram da atuação de Lon Chaney, ao mesmo tempo difícil de ver e hipnotizante. Obviamente, para que o roteiro funcione, o progresso de Tim é muito rápido, mas “Estrela Ditosa” foi feito para ganhar dinheiro em cima da química da dupla Farrell e Gaynor, e não para dar esperança para as pessoas que se tornaram deficientes após a guerra.

Charles Farrell was a very handsome leading man, even though forgotten today. In “Lucky Star”, he shows he also could act. His efforts to use crutches reminded me of Lon Chaney’s acting, at the same time painful to watch and hypnotizing. Of course, for the film’s sake Tim’s progress is too quick, but Lucky Star was made to capitalize on the duo’s screen chemistry, and not in order to give hope to people who became disabled after the war.


A direção de arte é hipnotizante desde o primeiro segundo de projeção. As casas podem ser pobres, mas são construídas de maneira estilizada, e criam um contraste interessante com as montanhas e o céu ao fundo. Borzage fez alguns filmes visualmente maravilhosos nos anos 20 e 30 – eu particularmente aprecio o subestimado “Liliom”, de 1930. “Estrela Ditosa” é mais um desses belos filmes.

The art direction is mesmerizing since the very first second of the film. The houses may be poor, but they are built in a stylized way, and make an interesting contrast with the mountains and the sky in the background. Borzage made some visually beautiful films in the 1920s and 1930s - I particularly like the underrated “Liliom”, from 1930. “Lucky Star” is another one in this list of beautiful films.


A “Estrela Ditosa” que conhecemos hoje não é a versão original entregue pelo mestre Frank Borzage. De acordo com resenhas de 1929, o filme era parcialmente falado, com efeitos sonoros e diálogos perto do final. Entretanto, “Estrela Ditosa” foi considerado perdido durante muitas décadas. Felizmente, uma cópia foi encontrada em um arquivo da Holanda, e os intertítulos foram reconstruídos através de pesquisa e com ajuda do roteiro original. Uma nova trilha sonora foi composta, mas infelizmente a trilha original com diálogos ainda não foi encontrada.

The “Lucky Star” we have now is not the original one delivered by master director Frank Borzage. According to reviews from 1929, the film was a part-talkie with sound effects and dialogues near the end. However, “Lucky Star” was considered completely lost for many decades. Luckily, a print was found in the Netherlands Film Archive, and the intertitles were reconstructed from research using the original screenplay. A new soundtrack was composed, but unfortunately the original soundtrack with dialogue is yet to be found.


“Estrela Ditosa” é uma das 12 colaborações entre Charles Farrell e Janet Gaynor. Eles eram tão convincentes como um casal que vários presentes chegavam todas as semanas aos estúdios da Fox para o “aniversário de casamento” deles. Obviamente, eles não eram casados. E obviamente, um homem em uma cadeira de rodas não consegue se recuperar com aquela rapidez. Mas “Estrela Ditosa” é um destes filmes em que devemos suspender o senso muito crítico para apreciá-lo por completo. É belo, romântico e nos dá esperança. Ditosos somos nós!

“Lucky Star” is one of 12 collaborations between Charles Farrell and Janet Gaynor. They were so convincing as a couple that several gifts arrived every week to the Fox Studios lot for their “wedding anniversary”. Of course, they were not married. And of course, a man in a wheelchair can’t recover that quickly. But “Lucky Star” is one of those films that we must stop being too critical to enjoy. It’s beautiful, romantic and gives us hope. Lucky us!

This is my contribution to the 2nd Disability in Film blogathon, hosted by Crystal and Robin at In the Good Old Days of Classic Hollywood and Pop Culture Reverie.


6 comments:

Robin Franson Pruter said...

Thanks for your contribution to the blogathon.
I had never heard of this movie before, so I'm glad you chose it. I like Borzage as a director. In my review of His Butler's Sister, I said, "What elevates this film is the lush, romantic direction by two-time Academy Award winner (7th Heaven and Bad Girl) Frank Borzage. The film glows with a soft, glimmering sheen. Borzage has a way of photographing faces that creates an emotional connection, not just between characters, but with the audience."

Brittaney said...

This is the film that turned me into a Janet Gaynor fan. Of course, I also love the chemistry between Gaynor and Farrell and wish more of their films were more readily available. Lucky Star is a film which made a big impact on me and one which I found extremely memorable. Thanks for a lovely review of this beautiful movie.

Caftan Woman said...

I adore Janet Gaynor and Charles Farrell together and I'm always impressed by Frank Borzage's artistic touches to a film. This is one I must see, and it thanks to your sensitive and insightful article.

Chloe the MovieCritic said...

I am starting to get into more silent movies, and this one sounds like I would like it! Nice review.

FlickChick said...

Thank you so much for this post. This film seems fascinating for so many reasons. It sounds beautiful.

magarela said...

acabei de assistir e achei tão lindinho!!! é o tipo de filme que super imagino sendo feito hoje mas nunca pensei que já tivesse sido feito quase 100 anos atrás. e a química dos dois foi o que mais me prendeu no filme. agora vc ainda me diz que tem mais 11 deles juntos! hahahaha vou procurar mais alguns. obrigada como sempre pelas postagens!!!!

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