} Crítica Retrô: Visões de Criança (1925) / Faces of Children (1925) / Visages D'Enfants (1925)

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Saturday, August 24, 2019

Visões de Criança (1925) / Faces of Children (1925) / Visages D'Enfants (1925)


Esta é uma das mais velhas histórias do mundo: a do filho que sente ciúmes quando o pai viúvo decide se casar novamente. É mais do que ciúme: é o sentimento de que a memória da falecida mãe está sendo traída e esquecida. Uma história triste porém comum, e que se torna poética quando um cineasta francês decide fazer um filme sobre isso – afinal, os franceses fizeram alguns dos filmes mais tocantes e delicados.

It's one of the oldest stories in the world: the child that feels jealous when his father, a widower, decides to remarry. It's more than jealousy: it's the feeling that the dead mother's memory is being betrayed and forgotten. A sad yet common story that becomes poetic once a French filmmaker decides to make a film out of it – after all, French people have made some of the most touching and delicate films.


Pierre Amsler (Victor Vina) acaba de perder a esposa (Suzy Vernon). A morte da mãe afetou profundamente o filho mais velho, Jean (Jean Forest), enquanto a filha mais nova, Pierrette (Pierrette Hoyeuz), parece não entender o que aconteceu. Na primavera seguinte, Pierre decide se casar com Jeanne Dutois (Rachel Devirys), uma viúva que tem uma filha, Arlette (Arlette Peyran).

Pierre Amsler (Victor Vina) has just lost his wife (Suzy Vernon). The mother's death deeply affects their older son, Jean (Jean Forest), while their younger daughter, Pierrette (Pierrette Hoyeuz), seem to not understand what happened. The following spring, Pierre decides to marry Jeanne Dutois (Rachel Devirys), a widow who has a daughter, Arlette (Arlette Peyran).


Pierre pede Jeanne em casamento justamente num domingo, quando ele deveria visitar o túmulo de sua esposa. Apenas Jean visita o túmulo e leva flores, e este é o primeiro sinal de que Pierre pode já estar esquecendo e substituindo sua esposa. Incapaz de contar a novidade e Jean, Pierre pede ajuda ao Padre Porchet (Henri Duval). O Padre já havia ajudado Jean quando o menino teve um colapso nervoso logo após a morte da mãe.

Pierre proposes to Jeanne exactly on a Sunday, when he's supposed to visit his wife's tomb. Only Jean visits the tomb and brings flowers, and this is the first sign that Pierre may have already forgotten and replaced his wife. Unable to tell Jean the news, Pierre asks Father Porchet (Henri Duval) for help. The Father had helped Jean when the boy had a nervous breakdown right after his mother's death.


Jean passa algumas semanas com o Padre Porchet. Enquanto isso, Pierre e Jeanne se casam. Jean aceita a nova realidade com relutância, mas as coisas já começam mal quando Arlette não deixa Jean entrar na própria casa porque ela não sabia que ele estava voltando – e pior: ela está usando os lápis de cor dele!

Jean spends a few weeks with Father Porchet. Meanwhile, Pierre and Jeanne get married. Jean reluctantly accepts his new reality, but things are off to a bad start when Arlette doesn't let Jean enter his own house because she wasn't aware of his return – and worse: she is using his crayons!


A casa dele está mudada, sua rotina é diferente, e de repente Jean percebe que sua madrasta está usando as coisas da mãe dele. Na verdade, ele prefere destruir o velho vestido da mãe a ver Jeanne reutilizando o tecido. Mas Jeanne é uma boa madrasta: ela cuida de Jean e Pierrette e até proíbe Pierre de bater em Jean. É Arlette quem Jean mais odeia – por isso ele bola um plano para que ela leve uma bronca da mãe... mas ela acaba presa em uma avalanche.

His house is changed, his routine is different, and suddenly Jean realizes his stepmother is wearing his mother's things. In fact, he prefers to destroy his mother's old dress than to see Jeanne reusing its fabric. But Jeanne is a good stepmother: she cares for Jean and Pierrette and even prohibits Pierre to spank Jean. Arlette is the one Jean hates the most – so he makes up a plan to get in trouble with her mother... but she ends up trapped in an avalanche.


O jovem Jean Forest é simplesmente brilhante. Desde a primeira cena, em que ele parece realmente emocionado durante o funeral da mãe, é possível ver o quão talentoso o menino de 12 anos era. Infelizmente, Jean fez filmes de 1923 – quando foi descoberto pelo diretor Jacques Feyder – até 1935, quando ele decidiu focar em sua carreira no rádio.

Young Jean Forest is simply brilliant. Since the first scene, in which he seems truly moved during his mother's funeral, you can see how talented the 12 year-old boy was. Unfortunately, Jean Forest worked in film only from 1923 – when he was discovered by director Jacques Feyder – until 1935, when he decided to focus on radio work instead.


As duas garotas tiveram carreiras ainda mais curtas. A incrível Arlette Peyran não fez mais nenhum filme, e Pierrette Hoyeuz se aposentou das telas em 1926. Todos os atores mirins de “Visões de Criança” são ótimos, e sabemos que filmes sobre crianças podem facilmente se tornar chatos ou entediantes se as crianças não souberem atuar.

The two girls had even shorter careers. The amazing Arlette Peyran never did another film, while Pierrette Hoyeuz retired from the screen in 1926. All the child actors are remarkable in “Faces of Children”, and we know how films about children can easily become obnoxious or boring if the kids can't act.


Além de capturar belas imagens, o diretor Jacques Feyder editou “Visões de Criança” com maestria – quase como Eisenstein faria. A edição rápida em muitas cenas evoca muitas emoções na plateia e aumenta a carga dramática conforme vemos dois personagens convergindo para o mesmo ponto em um momento muito tenso.

Besides capturing gorgeous images, director Jacques Feyder edited “Faces of Children” like a pro – almost like Eisenstein would do. The quick cross-cutting in many scenes evokes many emotions in the audience and enhances drama as we see two characters converging to the same point in a very tense moment.


O filme adiciona muito melodrama e alguns efeitos especiais no clímax – uma sequência semelhante ao clímax de “Inocente Pecadora” (1920), mas melhor em alguns momentos. A paisagem natural – os Alpes – é de tirar o fôlego, e a maneira como ela é usada, quase como mais um personagem, é uma das marcas registradas de Feyder.

The film adds a lot of melodrama and some special effects in the climax – a sequence somewhat similar to the climax of “Way Down East” (1920), but better in some moments. The natural landscape – the Alps – is breathtaking, and the way it is used, almost as another character, is one of Feyder's trademarks.


Em 1923, Jacques Feyder escreveu um artigo para a revista austríaca “Der Internationale Film” dizendo que filmes de sucesso têm dois componentes: “uma história simples, um evento que fala com todas as inteligências, com todos os corações e a história deve ser situada em um cenário característico, ao mesmo tempo pitoresco e natural; em uma palavra ela deve criar, com o maior entendimento artístico, uma ‘atmosfera’”. Esta parágrafo não define apenas o cinema de Feyder, mas também “Visões de Criança”, sua obra-prima.

In 1923, Jacques Feyder wrote an article for the Austrian magazine “Der Internationale Film” saying that successful films had two components: “a simple story, an event that speaks to all intelligences, to all hearts and the story should be situated in a characteristic setting, at the same time picturesque and natural; in one word it should create, with the greatest artistic understanding, an 'atmosphere'”. This paragraph doesn't only define Feyder's cinema, but also “Faces of Children”, his masterpiece.

This is my contribution to the Vive la France! blogathon, hosted by Patty and Christian at Lady Eve’s Reel Life and Silver Screen Modes.

5 comments:

Caftan Woman said...

You write so touchingly of the plight of children. Faces of Children sounds like a true masterpiece. I shall be seeking it out soon.

Christian Esquevin said...

I have never seen this film but your review is excellent in describing it. These silent films, especially of children, can be so emotional in the hands of a great director, and this one appears to be one. I was thinking about the landscape's role just as you brought it up - and the Alps are so moving in themselves. Thank you for selecting this silent film and participating in the Vive la France blogathon Le.

FlickChick said...

What a beautiful post! Thank you so much for introducing me to a new-to-me film that sounds like a must see.

Silver Screenings said...

I know I'll love this film, and I can't wait to see it. It sounds like a very human story that appeals to all ages & nationalities. Your review is wonderful. :)

The Lady Eve said...

Your review is an introduction to this film for me, I have not been aware of it. And your description does a superb job of giving a good sense of the film beyond its storyline. I hope to see it one day. Thank you for taking part in our blogathon, Le, and for choosing to review Faces of Children for the event.

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