} Crítica Retrô: Pavor nos Bastidores (1950) / Stage Fright (1950)

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Sunday, August 9, 2020

Pavor nos Bastidores (1950) / Stage Fright (1950)

Primeiro, vemos nossos protagonistas fugindo da polícia. Seria ele mais um dos “homens errados” de Hitchcock, um cara sendo perseguido por causa de um crime que ele não cometeu? Talvez. Talvez não. No mundo de Hitchcock, nada é o que parece e, embora seja considerado um filme menor na filmografia do diretor, “Pavor nos Bastidores” merece ser analisado.

We first see our leads as hey are running away from the police. Is he another of Hitchcock's “wrong men”, a guy being pursued because of a crime he didn't commit? Maybe. Maybe not. In Hitchcock’s world, nothing is what it seems, and although it’s considered a lesser entry in the director’s filmography, “Stage Fright” is a film worth analyzing.

Num flashback, vemos como a atriz Charlotte (Marlene Dietrich) foi atrás do amante Jonathan (Richard Rodd) logo após matar acidentalmente o marido durante uma discussão. Ele a aconselha a ir para o teatro onde ela trabalha e agir como se nada tivesse acontecido até que alguém encontre o corpo. Mas, para ela fazer isso, ela não pode estar usando um vestido branco manchado de sangue.

In a flashback, we see how the actress Charlotte (Marlene Dietric) went to see her lover Jonathan (Richard Todd) after accidentaly killing her husband during a heated argument. He advises her to go the theater where she works and act as nothing happened until someone finds the body. But, for her to do that, she can't be wearing a white dress stained with blood.

Jonathan vai ao apartamento dela para pegar um vestido limpo. Lá, ele tenta fazer com que o lugar pareça ter sido invadido por um ladrão que também matou o marido de Charlotte, mas o plano de Joanathan falha quando a empregada Nelle (Kay Walsh) chega, encontra o corpo e vê Jonathan saindo depressa. Depois que Charlotte deixa a casa de Jonathan, a polícia chega – porque Nellie o reconheceu – e ele foge deles, levando consigo o vestido manchado de sangue.

Jonathan goes to her apartment to get a clean dress. There, he tries to make it appear like the place was invaded by a thief who then killed Charlotte's husband, but Jonathan's plan fails quickly as the maid Nellie (Kay Walsh) arrives, finds the body and sees Jonathan leaving in a hurry. After Charlotte leaves Jonathan's place, the police arrive – as Nellie has recognized him – and he runs away from them, taking the blood stained dress with him.

Jonathan então vai até a Real Academia de Arte Dramática para pedir ajuda à sua velha amiga Eve (Jane Wyman). Fica claro que ela está apaixonada por ele, e naturalmente ela o ajuda a fugir. Estamos agora de volta ao começo, com ambos no carro. Eve leva Jonathan para a casa do pai dela. Ele, o Comandante Gill (Alastair Sim) rapidamente percebe que o vestido foi manchado propositalmente de sangue – não foi apenas resultado de sangue espirrando por todos os lados. Charlotte pode estar querendo incriminar Jonathan.

Jonathan then goes to the Royal Academy of Dramatic Art to ask his old friend Eve (Jane Wyman) for help. It's crystal clear that she is in love with him, so she naturally helps him escape. We're now back to the beginning, with the two in the car. Eve takes Jonathan to her father's house. He, Commodore Gill (Alastair Sim), quickly notices that the stain in the dress was deliberately put there – it was not just blood splashing all over. Charlotte might have wanted to incriminate Jonathan.

Enxerida e apaixonada, Eve decide confrontar Charlotte. Para isso, ela bola um plano ela dirá a Nellie, a empregada, que ela é uma repórter escrevendo uma matéria sobre o caso e convencerá Nellie a deixá-la tomar seu lugar como empregada de Charlotte. Nellie aceita a ideia – e um pouco de dinheiro – mas as coisas se dificultarão porque Eve acabou de fazer amizade com o detetive do caso, Wilfred Smith (Michael Wilding), e ele sabe tudo sobre ela, como bom detetive que é.

Nosy and in love, Eve decides to confront Charlotte. For this, she develops a plan: she'll tell Nellie, the maid, that she is a reporter writing a story about the case and will convince Nellie to let her take her place as Charlotte's maid. Nellie accepts the idea – and some money – but things will be made difficult because Eve has just made an acquaintance with the detective of the case, Wilfred Smith (Michael Wilding), and he knows everything about her, as any good detective would do.

O figurino de Marlene Dietrich foi feito por Christian Dior, que não recebeu créditos no filme. Quando ela chega ao apartamento de Jonathan, seu vestido é branco e tem uma chamativa mancha de sangue, e Jonathan pega um vestido quase idêntico, porém preto, para ela se trocar. É uma escolha óbvia que mostra o lado sombrio dos dois personagens. Uma troca de roupa semelhante porém mais sutil aconteceria em “Psicose” (1960), com Marion Crane mudando a cor de seus sutiãs, também de branco para preto, para mostrar que ela mudou de ideia e decidiu ficar com os 40 mil dólares que estava transportando.

Marlene Dietrich's outfits were provided by Christian Dior, uncredited. When she arrives at Jonathan's place, her dress is white and has a prominent blood stain, and Jonathan gets a nearly identical black dress for her to change. It's an obivous choice to show the real darkness of both characters. A similar but more subtle wardrobe change would be found in Hitchcock's “Psycho” (1960), with Marion Crane changing the color of her bras, also from white to black, to show the change of heart of the character when she decides to keep the 40,000 dollars she was transporting.

A cena com Eve tentando se disfarçar é muito engraçada. Em seu quarto, ela muda o penteado, as roupas, coloca um chapei e óculos de lentes grossas. Mas ela não passa no teste principal: a mãe de Eve ainda é capaz de reconhecê-la! Ao se dar conta de que Charlotte nunca a viu, Eve não se disfarça, apenas se apresenta como Doris, prima de Nellie. Se você assistiu a alguns filmes de Hitchcock, já deve ter percebido que eles têm um lado cômico. Os personagens mais engraçados de “Pavor nos Bastidores” são os pais de Eve, interpretados por Alastair Sim, mais conhecido por “Um Conto de Natal” (1951), e Sybil Thorndike, uma conhecida atriz de cinema e teatro.

The scene with Eve trying a disguise is very funny. In her bedroom, she changes her hair, her clothes, puts on a hat and thick glasses. But she doesn't pass the main test: Eve's mother still can recognize her! Realizing that Charlotte has never seen her, Eve goes as she is, only presents herself as Doris, Nellie's cousin. If you have watched a few of Hitchcock's movies, you might have seen that they had a humorous side. The funniest characters in “Stage Fright” are Eve's parents, played by Alastair Sim, from “A Christmas' Carol” (1951) fame, and Sybil Thorndike, a celebrated stage and film actress.

Uma novata em um papel pequeno chama nossa atenção: ela é Patricia Hitchcock, filha de Alfred Hitchcock e Alma Reville. Patricia, em sua estreia no cinema, interpreta Chubby Bannister, atriz e amiga de Eve. Ela já havia feito algumas peças em Nova York e estava enão estudando na Real Academia de Arte Dramática. Patricia aparece apenas na segunda metade do filme, mas foi dublê de Jane Wyman em algumas sequências dirigindo. Algumas pessoas, como o crítico de cinema Stephen Whitty, chegam mesmo a chamar Wyman de uma “Patricia glamourizada”.

A newcomer playing a small part calls our attention: she’s Patricia Hitchcock, Alfred Hitchcock’s and Alma Reville’s daughter. Patricia, in her film debut, plays Chubby Bannister, an actress and Eve’s friend. She had already made a couple of plays in New York and was by then actually studying at the Royal Academy of Dramatic Art. Patricia only appears by the second half of the film, but served as a stand-in for Jane Wyman in some driving sequences. Some people like film critic Stephen Whitty even go as far as calling Wyman a glamourized Patricia.

O roteiro foi escrito por Alma Reville e Whitfield Cook, autor de uma peça na qual Patricia atutou. Segundo Patrick McGilligan, autor do livro “Alfred Hitchcock: A Life in Darkness and Light”, Alma e Whitfield passaram alguns meses trabalhando juntos em 1947 e tiveram um caso neste período, de acordo com os diários de Whitfield. Nenhuma outra fonte sustenta esta ideia, e a dupla trabalhou em dois roteiros adaptados para Hitchcock:   “Pacto Sinistro” (1951) e este “Pavor nos Bastidores”, baseado em um romance publicado de forma seriada numa revista. “Pavor nos Bastidores” foi o último filme em que Alma foi creditada.

The screenplay was written by Alma Reville and Whitfield Cook, who was the author of a play in which Patricia Hitchcock appeared on stage. According to Patrick McGilligan, author of the book “Alfred Hitchcock: A Life in Darkness and Light”, Alma and Whitfield spent some months working together in 1947 and had an affair in this period, based on Whitfield’s diaries. No other sources support this claim, and the duo worked in two adapted screenplays for Hitchcock: “Strangers on a Train” (1951) and this “Stage Fright”, based on a novel originally published serialized in a magazine. “Stage Fright” was the last time Alma Reville was credited for her work in a film.

Hitch and Alma

Hitchcock disse que “Pavor nos Bastidores” deu a ele a chance de explorar criticamente o trabalho do ator. Por isso, é interessante que, para Eve, atuar seja fingir ser outra pessoa – e ainda mais interessante é o fato de encontrarmos essa análise num filme feito por um diretor que dizia que “atores são como gado”. Há várias evidências de Hitchcock usando essa frase desde 1940, e quando Patricia se tornou atriz ele até disse que “Pat é o mais adorável gado que eu já vi”. Para François Truffaut, Hitchcock deu mais de uma explicação sobre a frase, mas ela permanece uma controvérsia no mundo hitchcockiano.

Hitchcock said that “Stage Fright” gave him the chance to explore critically the acting craft. So, it’s interesting that, for Eve, acting is pretending to be someone else – and even more interesting that we can find this in a film made by a director who told that “actors are cattle”. There is a lot of evidence from Hitchcock using this quote as early as 1940, and when Patricia became an actress he even said that “Pat is the nicest cattle I’ve ever seen”. For François Truffaut, Hitchcock gave more than one explanation for the quote, but it still remains a controversy in the Hitchcockian world. 

O comandante Gill analisa a situação objetivamente: Eve está tratando tudo como se fosse uma peça de teatro. “Tudo parece uma peça de teatro quando você está apaixonada pelos palcos”, ele diz. Na “Alfred Hitchcock Encycloped”, Stephen Whitty comenta que “Pavor nos Bastidores” é um dos muitos filmes de Hitchcock com sequências crucias em teatros, e chega à mórbida conclusão de que, para o diretor”, “a vida é um espetáculo, mas a maioria de nós somos espectadores simples que ficaram com os piores lugares”.

Commodore Gill analyzes the situation objectively: Eve is treating it like a play. “Everything looks like a play when you're stage struck”, he says. At the “Alfred Hitchcock Encycloped”, Stephen Whitty notices that “Stage Fright” is one of many Hitchcock films with crucial sequences happening in theaters, and reaches the morbid conclusion that, for the director, “life is a show, but most of us are simply ticketholders stuck in the cheap seats”. 

Vindo depois de quarto fracassos de bilheteria consecutivos – e a lista inclui o hoje cultuado “Festim Diabólico” (1948) – “Pavor nos Bastidores” foi chamado por Stephen Whitty de “um intervalo” na filmografia de Hitchcock. Em “Pavor nos Bastidores”, ele teve grandes atores coadjuvantes, filmou uma bela cena perto do final com destaque para os olhos de Jane Wyman e Richard Todd e também enganou o público ao quebrar uma regra crucial e subentendida dos flashbacks. Felizmente, o público perdoou Hitchcock por essa traição e, após “Pavor nos Bastidores”, ele faria alguns de seus melhores filmes.

Coming after four consecutive box-office disasters – and the list includes the now cult “Rope” (1948) – “Stage Fright” was called by Stephen Whitty as an “intermission” in Hitchcock’s body of work. In “Stage Fright”, he managed to have great supporting actors, he shot a beautiful scene near the end with Wyman’s and Todd’s eyes highlighted and he also deceived his audience by breaking a crucial unwritten rule on flashbacks. Fortunately, the public forgave Hitchcock for this deception, and, after “Stage Fright”, he’d make some of his best movies.

This is my contribution to the 4th Alfred Hitchcock blogathon, hosted by Maddy at Maddy Loves Her Classic Films.

3 comments:

Caftan Woman said...

I enjoyed your look at a favourite of mine. The layer of lies make Stage Fright more interesting with each viewing.

Silver Screenings said...

This film is one of my faves because I love the twist at the end, and I love that Marlene Dietrich and Alfred Hitchcock made a film together. It's time to see this gem again!

The Lady Eve said...

I've always enjoyed Stage Fright and have never thought that misleading the audience at the beginning with the killer's lie was a problem. What doesn't seem to work are the actors in the main male roles - Wilding and Todd. Weak. Especially with Dietrich and Wyman on the scene - and even Patricia Hitchcock, who always added to her dad's pictures when she was cast.

Glad you chose Stage Fright, Le, it so often overlooked.

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