} Crítica Retrô: March 2022

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Monday, March 28, 2022

Lost in Translation: Odd classic film titles in Portuguese – Western edition

 


This month of March, a sad thing happened in the classic film blogging community. Our friend Patricia Nolan-Hall, from the blog Caftan Woman, passed away. Paddy, as she was called by us friends, was truly everybody’s friend. She managed to read and comment in basically every single blog post we all published, especially when the post was tied to a blogathon. More than once, I believed that nobody would read one of my posts and BAM, there it was Paddy’s comment letting me know that I wasn’t alone and my work was being read. Paddy made the online film community – and the internet – a better place, and from now on, I’ll always have her in mind when writing for my blog.

Paddy loved many movie genres, but the western is one I associate the most with her. So here it is my tribute for her: some oddly titled westerns in Brazil. I’m sure she would get a kick out of these titles. I hope you do too.

“Stagecoach” (1939) became “In the Time of Stagecoaches” (“No Tempo das Diligências”)

“The Ox-Bow Incident” (1943) received the title “Dead Consciences” (“Consciências Mortas”)

“My Darling Clementine” (1946) is here “Passion of the Strong” (“Paixão dos Fortes”)

“Fort Apache” (1948) became “Blood of Heroes” (“Sangue de Heróis”)

“3 Godfathers” (1948) received the title “Heaven has Sent Someone” (“O Céu Mandou Alguém”)

“She Wore a Yellow Ribbon” (1949) became “Invincible Legion” (“Legião Invencível”)

“The Gunfighter” (1950) is “The Killer” (“O Matador”)

“High Noon” (1952) became “To Kill or to Die” (“Matar ou Morrer”)

One of my favorites: “Shane” (1953) is called “The Brutes Also Love” (“Os Brutos Também Amam”)

“The Searchers” (1956) has the title “Trails of Hate” (“Rastros de Ódio”)

“3:10 to Yuma” (1957) became “Dashing and Bloodthirsty” (“Galante e Sanguinário”)

“The Big Country” (1958) is here “From the Earth Men are Born” (“Da Terra Nascem os Homens”)

“The Man Who Shot Liberty Valance” (1962) received the title “The Man Who Killed the Scoundrel” (“O Homem que Matou o Facínora”)

Saturday, March 19, 2022

Desenho Retrô: Plic, Ploc e Chuvisco

 

Retro Cartoon: Pixie and Dixie and Mr Jinks

Quando falamos sobre a mais famosa dupla criada por William Hanna e Joseph Barbera, logo pensamos em Tom e Jerry, muito embora haja outras duplas famosas no estúdio. A dupla de gato e rato estreou no cinema em 1940 e até ganhou alguns Oscars! Quase duas décadas mais tarde, Hanna e Barbera voltaram à premissa de gato e rato e criaram não outra dupla, mas um trio: os ratinhos Plic, Ploc e o gato Chuvisco.

When we talk about the most famous duo created by William Hanna and Joseph Barbera, we instantly think about Tom and Jerry, even though there are other famous duos in their studio. The cat and mouse duo made their screen debut in 1940 and went on to even win a few Oscars! Nearly two decades later, Hanna and Barbera went back to the cat and mouse premise and introduced not another duo, but a trio: “meeces” Pixie and Dixie and the cat Mr Jinks.

Chuvisco era um gato alaranjado com uma gravata-borboleta azul clara. Plic e Ploc eram dois ratos cinzas, Plic usava uma gravata-borboleta azul e Ploc, um colete vermelho. Os três em geral viviam na mesma casa, sem humanos por perto, mas às vezes eram encontrados em outros ambientes, como em um navio.

Mr Jinks was an orange cat with a light blue bow tie. Pixie and Dixie were two gray mice, Pixie wearing also a blue bow tie and Dixie a red vest. The three often lived in the same house, not surrounded by humans, but sometimes we’re found in different scenarios, such as a ship.

Ao contrário de Tom e Jerry, neste desenho o gato e os ratos eram até bem amigos. Claro, Chuvisco ainda persegue Plic e Ploc, em geral frisando como ele os odeia. Mas o objetivo dele não é eliminá-los: em um episódio, ele acredita que matou Ploc e fica bem perturbado, e em outro ele manda os ratos para o Polo Norte mas depois os traz de volta para casa porque sem os ratos seus serviços não seriam mais necessários.

Unlike in Tom and Jerry, in this cartoon the cat and the mice were quite friendly. Sure, Mr Jinks still chases Pixie and Dixie, often saying “I hate those meeces to pieces!”. But his goal is never to eliminate the two: in an episode, he thinks he killed Dixie and gets extremely disturbed, and in another episode he bans the mice to the North Pole and later takes them back home because without the mice his services wouldn’t be needed anymore.

O desenho de Plic, Ploc e Chuvisco era parte do Show do Dom Pixote e teve quatro temporadas, entre 1958 e 1962. Cada episódio tinha por volta de sete minutos de duração, e as histórias eram bem simples. Outros desenhos que eram parte do Show do Dom Pixote eram Zé Colmeia e, claro, Dom Pixote. Os personagens também participaram de outros programas de Hanna-Barbera, como Ho-Ho-Límpicos.

Their cartoon was part of The Huckleberry Hound Show and lasted four seasons, from 1958 to 1962. Each Pixie, Dixie and Mr Jinks cartoon was around seven minutes long, and the stories were quite simple. Other cartoons that were also part of The Huckleberry Hound Show were Yogi Bear and, of course, Huckleberry Hound. The characters also appeared in other Hanna-Barbera shows, such as Laff-A-Lympics.

Plic, Ploc e Chuvisco é exibido atualmente no Brasil pelo canal a cabo Tooncast. Um episódio que é frequentemente exibido é também um dos meus favoritos: “Chuvisco Jr”, da primeira temporada. Neste episódio, somos apresentados ao filho de Chuvisco, um gatinho alaranjado de camisa listrada. Chuvisco quer ensinar seu filhote a caçar ratos – mesmo que ele não saiba o porquê de gatos terem de caçar ratos, ele só sabe que é a lei da natureza – e Plic e Ploc até ajudam Chuvisco nesta empreitada, batendo no gato para que Chuvisco Jr fique bravo e passe a detestar ratos. Depois deste divertido episódio, Chuvisco Jr nunca mais foi visto ou mencionado.

Pixie and Dixie and Mr Jinks is currently shown in Brazil in the cable channel Tooncast. One episode that is often in the air is one of my favorites: “Jinks Junior”, from season one. In this episode, we are introduced to Mr Jinks’ son, a tiny orange cat with a stripped shirt. Mr Jinks wants to teach his kiddo how to hunt mice – even though he doesn’t know WHY cats must hunt mice, he just knows that nature is like this – and Pixie and Dixie even help Mr Jinks in this endeavor, hitting the cat so Jinks Junior gets mad at them and starts disliking mice. After this fun episode, Jinks Junior is never seen or mentioned again.

Plic, Ploc e Chuvisco eram mais pacíficos que Tom e Jerry, e muitas vezes também mais engraçados. Apesar disto, e apesar de suas participações em outros programas como o atual Jellystone, que ressuscita personagens de Hanna-Barbera, o trio é quase esquecido na atualidade. Nós sabemos que é difícil competir com Tom e Jerry, mas Plic, Ploc e Chuvisco merecem seu lugar na grande galeria de personagens de Hanna-Barbera.

Pixie and Dixie and Mr Jinks were more peaceful than Tom and Jerry, and often more humorous too. Despite that, and despite their appearances in other shows like the current Hanna-Barbera resurrection Jellystone, the trio is rather forgotten today. We know, it’s difficult to compete with Tom and Jerry, but Pixie and Dixie and Mr Jinks deserve their place in the huge gallery of Hanna-Barbera characters.

This is my contribution to the 8th Annual Favourite TV Show Episode blogathon, hosted by Terence at A Shroud of Thoughts.


Wednesday, March 16, 2022

Documentário: Buster Keaton, um Gênio Desajustado em Hollywood (2016)

 


Documentary: Buster Keaton, the Genius Destroyed by Hollywood (2016)

Buster Keaton está na moda! Dois livros sobre o homem que nunca ri acabam de ser lançados, e uma cinebiografia está sendo preparada. Mas a renascença Keaton vem acontecendo já há alguns anos. Muitos livros, documentários e mesmo posts em blogs foram lançados / publicados nos últimos anos. E a fama de Keaton atravessa fronteiras! Mas é claro que atravessa, pois agora mesmo você está lendo um post escrito por uma brasileira. Na Europa Buster também é popular, e o objeto de discussão de hoje é um documentário francês sobre Buster Keaton.

Buster Keaton is on vogue! Two books about the Great Stone Face were just released, and a biopic is in the works. But the Keaton renaissance has existed for a bunch of years now. Many books, documentaries and blog posts about Keaton have been produced and published / issued in the last few years. And Keaton’s fame has crossed borders! Of course it has, as you are now reading a blog post written by a Brazilian woman. In Europe Buster is popular too, and today’s object of discussion is a French documentary about Buster Keaton.

Como o título revela, esta é uma história triste. É a história da queda de Buster Keaton. Nós, os fãs, a conhecemos de cor: em 1928, Buster assinou um contrato com a MGM e perdeu sua liberdade criativa. Antes de chegarmos a este ponto, entretanto, o documentário fala brevemente da infância de Keaton no vaudeville e seu sucesso na década de 1920.

As the title reveals, this is a sad story. It’s the story of the fall of Buster Keaton. We, the fans, know it by heart: in 1928, Buster signed a contract with MGM and lost his creative freedom. Before we reach this point, however, the documentary talks briefly about Keaton’s childhood in vaudeville and his success in the 1920s.

Parafraseando o documentário, Buster nunca riu porque não precisou. Sua linguagem corporal dizia tudo que ele queria dizer. Ele sabia cair – e como! - sem se machucar. Ele era mais que um dublê: ele era um acrobata. Ele fazia experimentos com o cinema, uma arte ainda jovem nos anos 1920, e foi mais que um grande comediante: ele foi um cineasta genial.

Paraphrasing the documentary, Buster never laughed because he didn’t need to. His body language said everything that he wanted to be said. He knew how to fall - and how! - without being hurt. He was more than a stuntman: he was an acrobat. He experimented with cinema, an art still young in the 1920s, and was more than a great comedian: he was a genius filmmaker.

O documentário destaca o amor de Keaton por trens, dizendo que era como se o cinema fosse, para ele, um pretexto para brincar com trens. Esta obsessão culmina com “A General” (1926), um filme com, de acordo com o documentário, duas partes simétricas, como uma viagem de ida e volta de trem. Os esforços e a genialidade em “A General” fazem com que, até hoje, muitas das outras obras-primas de Keaton sejam eclipsadas.

The documentary highlights Keaton’s love for trains, saying that it was as if cinema was, for him, a pretext for playing with trains. This obsession culminates in “The General” (1926), a film with, the documentary says, two symmetrical parts, like a full train trip. The efforts and the geniality in “The General” eclipse, even today, many of Keaton’s other masterpieces.

Keaton sabia como nos fazer rir, mas também sabia seduzir. Uma sequência é dedicada a Keaton conquistando garotas não com seus músculos, mas sim com “infinita ternura”. Neste momento, o documentário fala sobre a vida pessoal de Keaton, e até mostra vídeos dos exteriores de uma casa magnífica em Beverly Hills, que parece ser do astro. E também, pela primeiríssima vez, eu ouço falar que Buster tinha amantes.


Keaton knew how to make us laugh, but also knew how to seduce. A sequence is dedicated to Keaton winning the girls not by showing his muscles, but by showcasing infinite tenderness. At this moment, the documentary talks about Keaton’s personal life, even showing footage from a magnificent Beverly Hills house that is supposed to be his. Also, for the first time ever, I hear that Buster had lovers.

Estamos agora na marca de 30 minutos do documentário (de 52 minutos no total) quando a tragédia acontece. Joe Schenck, sócio e cunhado de Keaton, o aconselha a assinar um contrato com a MGM, algo que Buster, de início, não quer fazer. Mas Schenck insiste e Buster comete o maior erro de sua vida – indo inclusive contra o conselho de seu amigo Charles Chaplin, que disse (traduzido diretamente do documentário em francês): “Eles vão devorá-lo querendo ajudá-lo, vão atrapalhar seu julgamento, e você vai se esfalfar se defendendo e sabendo que tem razão. Não que eles tenham maus elementos, eles têm os melhores do país, mas são muitos e todos vão meter a colher nos seus filmes, como muitos chefes na mesma cozinha.”

We’re now 30 minutes into the documentary (that is 52 minutes long) when tragedy strikes. Joe Schenck, Keaton’s business partner and brother-in-law, advises him to sign with MGM, something Keaton doesn’t want to do at first. But Schenck insists and Buster makes the biggest mistake of his life – even going against the advice of his friend Charles Chaplin, who said (translated directly from the documentary in French): “They will devour you wanting to help you, they will twist your judgment, and you will die defending yourself and knowing you’re right. Not that they have bad elements, they have the best in the country, but they are too many and everyone will stick their fingers on your films, like many chefs in the same kitchen”.

A MGM foi estabelecida em 1924, com a fusão da Metro com a Goldwyn Pictures, e a presença do produtor Louis B. Mayer. Mayer acreditava que o destino de um filme dependia primeiro da estrela, depois do produtor, então do roteiro e por último do diretor. Pela primeira vez, na MGM Keaton teve de escrever um roteiro e submetê-lo a dezenas de cérebros que fariam muitas modificações. E agora suas acrobacias são consideradas perigosas demais para serem feitas sem um dublê.

MGM was established in 1924, with the fusion of Metro and Goldwyn Pictures, and the presence of producer Louis B. Mayer. Mayer believed that the fate of a film relied on the star first, the producer second, the script third and only then the director. For the first time ever, at MGM Keaton has to write down the script and submit it to dozens of brains who would heavily change it. And now his stunts are considered too dangerous to be made without a stunt double.

Mesmo assim, Keaton encontra um jeito de trabalhar do seu jeito e faz “O Homem das Novidades” (1928), uma obra-prima – algo que nunca voltaria a acontecer na MGM. O estúdio não permite que Keaton transforme “O Noivo Cara-Dura” (1929) em um filme falado, mas obriga o ator a aparecer como um cantor ridículo em “Jeca de Hollywood” (1930), um filme que o documentário chama de “aberração”. O som não mata a carreira de Buster Keaton: é o sistema de estúdio que o faz. Porque nós costumamos falar sobre os grandes filmes que foram feitos com o sistema de estúdio, quando na realidade deveríamos estar falando sobre os grandes filmes que foram feitos apesar do sistema de estúdio. Ou como o documentário diz: Hollywood é um ogro de devora suas crias.

Nevertheless, Keaton finds a way to work as he was used to and makes “The Cameraman” (1928), a masterpiece – and something that would never happen again in MGM. The studio doesn’t allow Keaton to transform “Spite Marriage” (1929) in a talkie, but makes the actor appear as a ridiculous singer in “Free and Easy” (1930), a movie the documentary calls “an aberration”. Sound doesn’t kill Keaton’s career: the studio system does. Because we often talk about the great movies that were made with the studio system, when in reality we should be talking about the great movies made in spite of the studio system. Or as the documentary puts it: Hollywood is an ogre that devours its children.


No começo dos anos 30, Keaton é colocado para contracenar com o comediante Jimmy Durante, formando uma dupla que o documentário descreve como “incompatível”. Forçado a fazer filmes menores que seu talento, Buster começa a beber. Quando ele desafia Mayer e se recusa a aparecer em filmes promocionais, Buster é demitido da MGM. Aos 40 anos, Buster está ridicularizado, viciado e desempregado.

In the early 1930s, Keaton is paired with comedian Jimmy Durante, forming a duo that the documentary describes as “incompatible”. Forced to appear in films that were not as big as his talent, Buster starts to drink. When he challenges Mayer and refuses to appear in promotional movies, Buster is fired from MGM. At forty, Buster is ridiculed, addicted and unemployed.

Oliver Hardy, Stan Laurel, Jimmy Durante, Buster

Mas as coisas melhoram de maneira irônica: de volta à MGM como consultor de gags, Buster se apaixona pela dançarina Eleanor Norris, que se torna sua esposa. Nos anos seguintes, ele aparece em filmes, programas de TV e comerciais e até mesmo ganha um Oscar honorário. A primeira renascença Keaton começa nos anos 60 – bem a tempo para Buster testemunhá-la!

But things get better in an ironic way: back to MGM as a gag man, Buster falls in love with the dancer Eleanor Norris, who becomes his wife. The following years, he appears in movies, TV and commercials and even wins an honorary Oscar. The first Buster Keaton renaissance begins in the 1960s – just in time for Buster to witness it!

Além das sequências dos filmes de Keaton, há também no documentário sua voz retirada de entrevistas. Nestes momentos aprendemos mais sobre a vida e o processo criativo de Keaton, e podemos vê-lo cantando, celebrando seu aniversário, jogando cartas, dando autógrafos. Estes momentos íntimos tornam o documentário melhor e mais agradável, e nós nos sentimos mais próximos de Keaton.

Besides the sequences from Keaton’s films, there is also in the documentary voiceover taken from his interviews. In these moments we learn more about Keaton’s life and creative process, and we can witness Keaton singing, celebrating his birthday, playing cards, signing autographs. These candid moments make the documentary better and more tender, and we feel closer to Buster. 

Buster Keaton, um Gênio Desajustado em Hollywood” foi escrito e dirigido por Jean-Baptiste Péretié, que também dirigiu documentários no mesmo formato sobre John Wayne, Jacques Tati e Al Pacino. O trabalho de edição maravilhoso foi feito por Véronique Lagoarde-Ségot, uma expert em documentários históricos. Esta é mais uma boa homenagem para o comediante que nós amamos, e só há uma coisa a dizer para quem cria conteúdo sobre Buster Keaton: continue com o bom trabalho! É um prazer estar viva durante a renascença Keaton.

Buster Keaton, the Genius Destroyed by Hollywood” was written and directed by Jean-Baptiste Péretié, who also directed documentaries in the same format about John Wayne, Jacques Tati and Al Pacino. The outstanding editing work was done by Véronique Lagoarde-Ségot, an expert in historical documentaries. This is another well-made tribute to the Great Stone Face we all love, and there is only one thing to say to those creating Buster Keaton content: keep them coming! It’s a pleasure to be alive during the Buster Keaton renaissance.


This is my contribution to the Eighth Annual Buster Keaton blogathon, hosted by Lea at Silent-ology.

Saturday, March 5, 2022

Investida de Bárbaros (1953) / The Charge at Feather River (1953)

 


Alguns filmes são essenciais por causa de sua incrível trama, grandes atuações, efeitos especiais impressionantes, glorioso Technicolor, CinemaScope de tirar o fôlego, som estereofônico. Outros são essenciais porque trouxeram algo novo à história do cinema, quebrando paradigmas e definindo gêneros e eras. Outros filmes são notas de rodapé: vale a pena vê-los se você é um completista ou bastante curioso – por exemplo, os primeiros filmes de grandes estrelas. “Investida de Bárbaros” (1953) é um destes filmes de nota de rodapé, um filme que nos interessa porque foi nele que o famoso grito Wilhelm ganhou este nome.

Some movies are essential viewing because of their amazing plot, great acting, impressive special effects, glorious Technicolor, breathtaking CinemaScope, stereophonic sound. Others are essential because they brought something new to the history of film, breaking paradigms and defining genres and eras. Some movies are footnote movies: they are worth viewing if you’re a completist or just curious – for instance, the first movie of a big star. “The Charge at Feather River” (1953) is one of those footnote movies, one that interests us because it’s where the famous Wilhelm scream got its name.

Depois da Guerra de Secessão, o Forte Bello se tornou um lugar pacífico com recrutas que não são muito espertos. O comandante sabe disso e chama um ex-soldado, Miles Archer (Guy Madison), para uma missão especial: comandar um regimento que resgatará duas jovens que foram sequestradas por índios anos antes, quando a família delas foi dizimada. De início relutante, Miles aceita o trabalho quando descobre que o irmão das moças é seu velho amigo Johnny (Ron Hagherty).

After the Secession War, Fort Bello became a pacific place with rookies that are not very bright. The officer knows this and calls a former soldier, Miles Archer (Guy Madison), for a special mission: to command a regiment that will rescue two young women who were kidnapped by Indians many years before, when their family was decimated. At first reluctant, Miles accepts the job when he learns that the girls’ brother is his old friend Johnny (Ron Hagherty).

Entre os homens escolhidos por Miles está o sargento Charlie Baker (Frank Lovejoy), que acabou de encontrar sua esposa tomando chá – oh! - com outro homem que também fará parte da missão, o soldado Ryan (Steve Brodie). Tudo já parece bem complicado, e vai ficar ainda mais difícil porque uma das moças sequestradas, Jennie (Vera Miles), já se adaptou à vida entre os Cheyennes. Quando as moças são levadas, os índios atacam o Forte Bello, e o regimento tem de ir a pé, carregando Johnny ferido, até o próximo posto, Forte Darby.

Among the men assembled by Miles there is sergeant Charlie Baker (Frank Lovejoy), who just caught his wife having tea – gasp! - with another man who will also be part of the mission, private Ryan (Steve Brodie). Everything seems already complicated enough, and it’ll get even more difficult because one of the kidnapped ladies, Jennie (Vera Miles), is fully adapted to life among the Cheyennes. When the ladies are taken, the Indians attack Fort Bello, and the regiment has to go on foot, carrying a wounded Johnny, to nearby Fort Darby.

Com uma trama bem parecida com “Rastros de Ódio”, “Investida de Bárbaros” estreou três anos antes do filme de John Ford. É mais um faroeste que retrata os índios como os malvados e o homem branco como o salvador. Por exemplo: assim que o regimento entra em território indígena, eles encontram um velho índio doente que foi deixado para trás para morrer – um dos homens brancos então diz “é por isso que chamamos eles de selvagens”. Também fica implícito que os índios estupraram a mais velha das moças, Anne (Helen Westcott). Para Jennie, a garota branca que vive como índia e ama um índio, não há redenção: a morte é o único fim possível para ela.

With a plot very similar to “The Searchers”, “The Charge at Feather River” actually predates John Ford’s film by three years. It’s another western that paints Indians as the bad guys and white men as the saviors. For instance: right when the regiment enters Indian territory, they find an old Indian who is sick was left to die – one of the white men then says “no wonder why we call them savages”. It’s also implied that the Indians have raped the oldest of the sisters, Anne (Helen Westcott). For Jennie, the white girl who lives like an Indian and loves an Indian, there is no redemption: death is the only possible end for her.

As moças já passaram pelo trauma de serem sequestradas uma vez – isto é, se elas foram realmente sequestradas e não simplesmente resgatadas pelos Cheyennes – e agora têm de passar por isso de novo – porque o que o homem branco faz é outro sequestro. Não é que elas não podem voltar: elas não querem voltar a viver em meio à “civilização”… bem, pelo menos Jennie não quer.

The ladies have already been through the trauma of being kidnapped once – that is, if they were kidnapped at all and not simply rescued by the Cheyennes – and now they’ll have to go though this again – because what the white men do is another kidnapping. It’s not that they can’t go back: they don’t want to go back to living among the “civilization”… well, at least Jennie doesn’t want to.

O título original pode ser traduzido como “A Carga no Rio Pena”, mas o título no Brasil é “Investida de Bárbaros”. Eu me pergunto se o tradutor se referia aos Cheyennes ou aos homens brancos como “bárbaros”. Eu gosto de pensar que os homens brancos são os verdadeiros bárbaros aqui, pois invadem território indígena e começam um verdadeiro massacre.

As a curiosity, the title of the film in Brazil is “Barbarian Assault”. I wonder if the translator was referring to the Cheyennes or to the white men as “barbarians”. I’d like to think that the white men are the real barbarians here, as they invade Indian territory and start a true massacre.

Aos 39 minutos de projeção, o evento pelo qual esperávamos acontece: o soldado Wilhelm, aquele de camisa xadrez, é atingido por uma flecha na perna e grita. Essa não foi, na verdade, a primeira vez que o efeito sonoro foi usado – este título pertence ao filme de Gary Cooper “Tambores Distantes” (1951), no qual o efeito foi gravado pelo dublador Sheb Wooley. Foi em 1977 que o designer de som Ben Burtt batizou o efeito sonoro com o nome do infeliz soldado. De volta a “Investida de Bárbaros”, o soldado Wilhelm não é mais visto, mas acreditamos que ele sobreviveu.

At the 39 minute mark, the event we’ve all been looking forward to happens: private Wilhelm, the one in the checkered shirt, is hit by an arrow in his leg and screams. This wasn’t, however, the first time the sound effect was used – this title belongs to the Gary Cooper vehicle “Distant Drums” (1951), where the effect was recorded off-camera by voice actor Sheb Wooley. It was in 1977 when sound designer Ben Burtt named the sound effect after the unfortunate soldier. Back to “The Charge at the Feather River”, private Wilhelm is not seen again, but we believe he survived.

Além do grito Wilhelm, há algo mais a ser escutado: a ótima trilha de Max Steiner. Steiner chegou em Hollywood para trabalhar na RKO em 1929, e neste estúdio ficou por oito anos. Em 1937, ele foi para a Warner Bros, onde compôs trilhas para cerca de 140 filmes. Max Steiner ganhou três Oscars e sua mais famosa trilha é de “E o Vento Levou…” (1939).

Besides the Wilhelm scream, there is something else to listen to: Max Steiner’s great score. Steiner had entered Hollywood in 1929 at RKO, where he stayed for eight years. In 1937, he went to Warner Bros, where he score about 140 movies. Max Steiner won three Oscars and his most famous score is for “Gone with the Wind” (1939).

Os fãs de faroeste vão gostar de “Investida de Bárbaros”. Tendo estreado no cinema em 3D, o filme tem boas cenas de ação e uma sequência, com flechas dos índios voando através da tela, que ficaria fantástica em 3D. Sim, é um filme de nota de rodapé, uma curiosidade, mas também uma maneira agradável de passar 95 minutos – se você não se importa com os muitos preconceitos que em geral existem nos faroestes.

Western fans will enjoy “The Charge at Feather River”. Released in theaters in 3D, the movie has good action scenes and one sequence, with Indian arrows flying from the screen, that would look fantastic in 3D. Yes, it is a footnote movie, a curiosity, but also a pleasant way to spend 95 minutes – if you don’t bother with the many prejudices that often appear in westerns.


This is my contribution to the Wilhelm Scream blogathon, hosted by Gill at Realweegiemidget Reviews.

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