} Crítica Retrô: Variações sobre o mesmo tema: Anna e o Rei do Sião (1946) e O Rei e Eu (1956)

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Friday, August 30, 2013

Variações sobre o mesmo tema: Anna e o Rei do Sião (1946) e O Rei e Eu (1956)

Embora Reginald Johnson, tutor do último imperador da China, tenha tido uma papel semelhante na história e tenha sido também eternizado no cinema por Peter O’Toole em “O Último Imperador” (1989), Anna Leonowens continua como a mais famosa educadora ocidental no oriente. Essa premissa já se mostra falsa ao descobrirmos que Anna nascera na Índia, mas esta é apenas uma das muitas licenças cinematográficas sobre a vida da mulher que serviu ao rei do Sião e cuja história foi contada em dois filmes inesquecíveis.
Anna Leonowens (Irene Dunne em 1946 e Deborah Kerr em 1956) é uma viúva inglesa que viaja ao Sião com o filho, pois foi contratada para ser tutora dos filhos do rei Mongkut (Rex Harrison e Yul Brynner). Não demora para que Oriente e Ocidente entrem em conflito e choques culturais aconteçam. Para começar, Anna se surpreende com a poligamia e com as centenas de filhos do rei. Depois, vossa majestade instala a tutora no palácio, e não em uma casa própria, como ele havia prometido. A situação fica realmente crítica quando chega a escrava birmanesa Tuptim (Linda Darnell e Rita Moreno), a nova esposa do rei que não quer se casar de jeito de nenhum, porque tem outro amor.
O rei do Sião passou para a história como um dos monarcas mais hilários que já existiu, graças à visão sempre eurocêntrica com a qual é retratado. Rex Harrison, em seu primeiro trabalho no cinema americano, está bem magro, excessivamente maquiado e bastante divertido. A vontade de obter mais conhecimento e o descompasso entre as tradições inglesa e siamesa fica mais latente na versão de 1946. Dez anos depois, o traço maior de fome de saber do rei é a música “A Puzzlement”, a única cantada pelo personagem.
Os originais
Anna é explorada mais a fundo na versão de 1946. Ela passa por momentos de raiva, compaixão, admiração e divertimento com o rei. Ela se envolve com os problemas das muitas esposas, de Tuptim em especial. Ela é mais incisiva em suas vontades e em suas lições tanto para as crianças quanto para o rei. Talvez o fato de Irene Dunne já ser uma grande estrela na época tenha direcionado o foco dessa versão mais para Anna, enquanto o musical foca bastante no rei. Não que Deborah Kerr esteja mal: dublada em suas canções por Marni Nixon, ela expressa saudades do marido falecido e o amor pelas crianças.
A Anna de Irene é mais maternal, e o filme de 1946 dá bastante espaço para Louis (Richard Lyon e Rex Thompson), o filho de Anna, que inclusive se torna amigo do príncipe Chulalongkorn (Tito Renaldo e Patrick Adiarte) e cujo destino é bastante fantasioso neste filme. Ambas as versões ocultam um fato: Anna não tinha um, mas dois filhos: além de Louis, ela levou também ao Sião a filha mais velha, Avis. A Anna de Deborah Kerr não era nem para ter existido: a ideia inicial era que Gerturde Lawrence fizesse o mesmo papel que fazia ao lado de Yul na Broadway. Entretanto, ela faleceu antes do início das filmagens e começou a cruzada para arranjar uma substituta. Kerr não foi a primeira opção, pois Maureen O’Hara, cujo potencial como cantora quase nunca é reconhecido, foi recusada. Além do mais, Dunne é uma confidente do rei, enquanto a relação de Kerr com o soberano tem um lado mais amoroso, pois ele sente ciúmes dela e a música “Shall We Dance” mostra toda a tensão sexual entre eles.
A disputa é acirrada quando se trata do rei. Não é possível negar que este é o papel mais comumente associado a Yul Brynner, um tipo exótico que sem o rei do Sião dificilmente conseguiria trabalho em Hollywood. Brynner deu vida a Mongkut desde a estreia do musical em 1951 na Broadway, e continuou protagonizando novas temporadas dele até sua morte em 1985, além de interpretar o rei na televisão em 1972. Rex Harrison, por sua vez, tem outros personagens memoráveis, entre eles o protagonista de “O Fantasma Apaixonado \ The Ghost and Mrs Muir” (1947) e o professor Higgins em “My Fair Lady” (1964), pelo qual ganhou o Oscar. “O Rei e Eu” foi o responsável por dar o Oscar de Melhor Ator a Yul Brynner, e aqui tenha minha opinião: quem merecia o prêmio na ocasião era Kirk Douglas por interpretar Van Gogh em “Sedede Viver \ Lust for Life”. 
Todas as obras referentes a Anna e o rei do Sião são baseadas nas memórias de Anna e também no livro escrito por Margaret Landon em 1944. Ambas eram feministas, e por isso deram bastante ênfase à misoginia com que as várias mulheres da corte eram tratadas. Em 1946, o rei surge como uma figura mais engraçada, pois sua busca por sabedoria muitas vezes se mostra ingênua, enquanto em 1956 e na própria peça de teatro de Rodgers & Hammerstein ele é uma figura mais tirânica. O reflexo dessa caracterização foi óbvio: na Tailândia, antigo Sião, a versão de 1956 foi banida, enquanto a de 1946 pode ser exibida. Mesmo assim, a primeira provocou reação: dois intelectuais tailandeses escreveram em 1948 um livro com sua versão sobre o rei do Sião.

A história de Anna e o rei do Sião também virou desenho, em 1999, e mais um filme, no mesmo ano, com Jodie Foster e Yun-Fat Chow. Com alguns exageros e outros detalhes surpreendentes (o rei realmente escreveu para o presidente dos Estados Unidos oferecendo-lhe uma manada de elefantes, o que Abraham Lincoln recusou educadamente), a história dessas duas pessoas tão diferentes merece ser conhecida, não importa a qual versão você assista. Et cetera, et cetera, et cetera : ) 

This is my last contribution to the Summer Under the Stars Blogathon, hosted by Jill at Sittin’ on a Backyard Fence and Michael at ScribeHard on Film. Wonderful event!

11 comments:

MariEdy said...

Menina, eu AMO "O Rei e Eu". Um musical muito bonito (apesar de, é claro, estar em 3º, atrás de West Side Story & Cantando na Chuva)e sonho dançar uma valsa como a de Yul Brynner & Deborah Kerr. E sou "antiga" o suficiente para ter visto - e me apaixonado, pela série de 1972. Quero ter a chance de ver o de 46, com Rex Harrison. E, se não me engano, quem levou o Oscar em Sede de Viver foi Anthony Quinn, como Paul Gauguin.

Pedrita said...

anna e o rei eu vi, o outro não. anotado. beijos, pedrita

Hugo said...

São dois clássicos que ainda não assisti, como a versão mais recente.

Até mais

Ruby said...

Já vi as versões de Deborah e Yull Brynner, e com a Irene, como gosto muito da Deborah Kerr, prefiro essa versão, etc, etc, etc. Amei o post!

The Lady Eve said...

Lê, I love both Anna and the King of Siam and The King and I - they are quite different (beyond the fact that one is a musical and one is not), as your piece points out, and both have many strengths. One of the 1946 version's great strengths is the depiction of the king as sympathetic - and Rex Harrison's canny portrayal of him. This is the version that always tends to squeeze a tear out of me...

Marcelo Castro Moraes said...

A segunda versão uma boa representação do melhor do super espetáculo musical.

Iza said...

Apenas assisti a versão com a Jodie Foster e amei! É um filme perfeito - em termos de cenário, fotografia e figurinos então, é maravilhoso.
Irei tentar assistir os outros dois, Lê. A versão de 1946 me chamou bastante a atenção.
Beijos <3

P.S: Românticos Anônimos é um filme ótimo, adorei! Muito fofo né?

FlickChick said...

Wonderful post! It's true that Yul Brenner owns the role, but Harrison and Dunne were very good together. Both versions are enchanting - and very different.

Suzane Weck said...

Ola,adorei tua postagem sobre Ana e o rei de Sião.Gosto demais desta historia e assisti aos dois filmes.Pretendo em algum momento cantar "shall we dance"e postar algo sobre.Poderiamos ter feito até algo em conjunto tipo "eu canto de cá e tu escreves de lá".Talvez num outro filme possamos fazer isso,se quiseres,é claro.Mais uma vez te parabenizo pelo extremo bom gosto de tuas escolhas.Meu grande abraço.SU

Rubi said...

Não me recordo quando vi as duas versões, mas me lembro perfeitamente da história. Não se pode negar que são dois clássicos, ambos com elenco incrível. No entanto, gosto mais de 'O Rei e Eu' com Yul Brynner e Deborah Kerr. Achei que a escolha dos atores foi perfeita.

Beijos.

Jill said...

Thank you Le for such a great piece on a fantastic film! And thanks for all your contributions to this year's SUTS blogathon.

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