} Crítica Retrô: Irma la Douce (1963)

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Sunday, June 22, 2014

Irma la Douce (1963)

Amado por quase todos os fãs de cinema que têm bom gosto, Billy Wilder foi um diretor de grandes obras e grandes parcerias. Minha parceria favorita é a de Wilder com Jack Lemmon, que rendeu comédias inesquecíveis. Talvez “Irma la Douce” seja a mais esquecida desses filmes inesquecíveis, mas não porque seja um filme ruim. Pelo contrário: apesar de sua duração um pouco exagerada, a risada corre solta no cais de Paris.


Nestor Patou (Jack Lemmon) é um policial francês que acaba de ser transferido para o cais. Este homem cumpridor da lei acha que o trabalho vai ser fácil, mas ele não sabia que ali funciona um ponto de prostituição. Depois de mandar todas as moças do local para a cadeia, ele perde o emprego, mas se apaixona por uma das “trabalhadoras” do cais: Irma (Shirley MacLaine). Logo Irma e Nestor moram juntos e ele se torna, sem querer, o chefe dos cafetões ao derrotar o ex-namorado de Irma, o nanico Hyppolite (Bruce Yarnell). Mas Nestor não quer que Irma continue trabalhando como prostituta e, com a ajuda do dono do bar Chez Moustache (Lou Jacobi), ele inventa um provedor rico para Irma, o Lorde X.

Já reparou como praticamente todos os filmes de Billy Wilder têm uma festa maluca? Não há melhor lugar para se fazer uma festa no cais de Paris que no Chez Moustache. Os frequentadores são geralmente os cafetões e suas garotas, entre elas Lolita, que usa óculos em formato de coração exatamente como os de Sue Lyon no filme de 1962.


Wilder mostrou que há vários modos de se prostituir com “Se meu apartamento falasse / The Apartment” (1960) e aqui lida com o tema espinhoso da prostituição de uma maneira leve. Shirley MacLaine já havia interpretado uma prostituta em “Sweet Charity” (1957), embora o filme tenha transformado a “mulher da vida” em dançarina. Irma, La Douce (= the sweet) entra para a galeria de adoráveis prostitutas do cinema, que conta também com a Cabíria de Giulietta Masina, a Satine de Nicole Kidman e até a Holly Golightly de Audrey Hepburn. São mulheres que estão no “negócio” por acaso (a própria Irma diz que seguiu os passos da mãe) e sonham em mudar de vida. A chance de Irma aparece quando surge em sua vida o Lorde X, que lhe enche de dinheiro apenas para conversar e jogar cartas.

Shirley MacLaine pode estar adorável com suas roupas verdes, seu charme irresistível e seu penteado exagerado, mas quem brilha é Jack Lemmon. De fato, Jack tem alguns de seus mais memoráveis personagens em filmes de Billy Wilder, a começar pela impagável Daphne de “Quanto mais quente melhor / Some like it hot” (1959), passando pelo simpático C. C. Baxter de “The Apartment” (1960), e indo até “Uma loura por um milhão / The fortune cookie” (1966) e “Avanti!” (1972). É uma pena que Lemmon não ficou com o papel principal de “Beija-me, idiota / Kiss me, stupid!” (1964), filme em que trabalha a esposa de Lemmon, Felicia Farr. Aliás, Lemmon e Felicia se casaram na França durante as filmagens de “Irma la Douce”. Wilder foi o padrinho do casamento.
 
Jack e Felicia
Se foi fácil encontrar o ator perfeito para Nestor, o mesmo não aconteceu com o resto do elenco. Wilder queria, apesar de problemas do passado, contratar Marilyn Monroe para interpretar Irma, isso logo em 1960. Marilyn acabou descobrindo que o diretor a criticou durante as filmagens de “Quanto mais quente melhor” e assim abandonou o projeto. Quando “Irma la Douce” estreou, Marilyn já estava morta. Outro que morreu antes de conseguir o papel foi Charles Lughton, escolhido para ser Moustache. Laughton, que havia sido indicado ao Oscar por outro filme de Wilder “Testemunah de Acusação / Witness for the Prosecution” (1957), faleceu em dezembro de 1962, antes do início das filmagens.

No início, Jack Lemmon foi aconselhado a não aceitar o papel de Nestor, porque ele poderia manchar sua imagem. Mas Lemmon recebeu esse mesmo conselho antes de interpretar Jerry, o músico que se veste de Daphne na divertida comédia de 1959, e foi com esse papel cross-dressing que ele conseguiu sua primeira indicação ao Oscar na categoria Melhor Ator (Jack havia ganhado o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante em 1957 por “Mister Roberts”). Já Shirley MacLaine, que aceitou o papel sem ler o roteiro, detestou o resultado. Mas ninguém concordou com ela, e Shirley foi indicada ao Oscar.


“Irma la Douce” foi inspirado em um musical francês que foi também adaptado para a Broadway. Para criar o clima a la française, todos os vidros usados no filme foram importados da França e centenas de objetos franceses foram replicados em Hollywood. Algumas cenas externas foram gravadas na França, inclusive a cena em que Lemmon, como Lorde X, sai do Rio Sena. Mais tarde, recordando-se das inúmeras vacinas que teve de tomar antes de entrar no rio sujo, Lemmon diria que esta tinha sido a cena mais nojenta de sua carreira.


As palavras são muitas para descrever como o clima do filme é adorável. Atrevo-me a dizer que nunca houve nada tão parisiense na tela do cinema americano, o que inclui um cachorrinho bêbado (não tente fazer isso em casa!). “Irma la Douce” foi o filme mais rentável da carreira de Billy Wilder, e só isso já seria motivo suficiente para vê-lo. Em novos tempos, com menos restrições e censuras, não havia dúvidas de que seria o bom e velho Billy o responsável por uma ousadia tão bem-sucedida.


This is my contribution to the Billy Wilder Blogathon, hosted by Aurora at Once Upon a Screen and Kellee at Outspoken & Freckled. But that’s another story!

10 comments:

Citizen Screen said...

Terrific commentary, Le! I love this movie although I'm very surprised to learn it was Wilder's highest grossing film! I love MacLaine and Lemmon together although I have to admit I could watch Jack Lemmon whistle for seven hours on screen and adore him!

Thanks so much for participating in the blogathon and choosing this underrated gem.

Aurora

Anonymous said...

I haven't seen this Wilder for ages, but I remember being really impressed with the way alcohol, prostitution, and gambling are dealt with in a lighthearted way without being trivialised. Lemmon's performance always reminds me of a silent film character. My one complaint is that at almost 2.5 hours, it's a little...long!

Pedrita said...

eu adoro esse filme, vivo revendo trechos no telecine cult. eu amo filmes com festas malucas. http://mataharie007.blogspot.com.br/2008/11/irma-la-douce.html

Danny said...

This one is very cute and funny. Wilder does a great job creating a very Americanized, very surreal portrait of Paris, moreso than what he did in Love in the Afternoon. I'm glad you liked this one, because there's a lot to enjoy!

Hugo said...

Billy Wilder deixou uma carreira fantástica e sua parceira com Jack Lemmon então rendeu filmes extremamente divertidos.

Bjos

Gilberto Carlos said...

Também adoro os filmes de Billy Wilder, mas Irma La douce ainda não vi. Uma pena.

Richard Kirkham said...

My first use of Google translator, it got your point across, but I suspect your prose was a little marred.This is one I saw on TV forty years ago and did not remember well. I'll revisit it as a result of your comments.

DorianTB said...

Le, I agree that IRMA LA DOUCE runs kind of long, but there's plenty of fun to be had nevertheless, thanks to writer/director Billy Wilder and stars Jack Lemmon and Shirley MacLaine! :-D Excellent post, as always!

Pat C said...

Oh I wished that Laughton could have played Moustache.

Ariel Mariano said...

um filme brilhante e genial, desses que resistem ao tempo e ainda nos fazem divertir. o mágico do cinema, que infelizmente se perdeu na atualidade, com monstros cibernéticos, diretores medianos e roteiristas de quinta, e o pior, os tais defeitos especiais.


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