} Crítica Retrô: “A Mulher do Dia / Woman of the Year” (1942) e a mulher que eu quero ser

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Friday, August 14, 2015

“A Mulher do Dia / Woman of the Year” (1942) e a mulher que eu quero ser

Este texto contém spoilers.

Quando somos crianças, nos fazem a pergunta: “o que você quer ser quando crescer”? Acredito que seria mais sensato reformular a questão, e perguntar: “QUEM você quer ser quando crescer”? Sim, respostas absurdas serão inevitáveis, mas tantas outras poderão ser surpreendentes, reveladoras e de muita ajuda no futuro. Ter um modelo, um exemplo a ser seguido, é muito importante na vida de qualquer pessoa. E, se alguém me perguntasse “quem você quer ser quando crescer”, eu responderia: Tess Harding.
Quem é Tess Harding? Tess é a personagem de Katharine Hepburn em “A Mulher do Dia / Woman of the Year” (1942). Tess é uma jornalista muito respeitada da área de relações internacionais. Seu colega da sessão de esportes do jornal New York Chronicle é Sam Craig (Spencer Tracy) que, após ouvir uma entrevista de Tess no rádio, critica os conhecimentos dela sobre esportes em sua coluna no jornal. Tess revida, se inicia uma pequena guerra entre os dois e ela culmina com o primeiro encontro deles na diretoria do jornal. É amor à primeira vista.
Abra bem os olhos para as cenas em que Tess e Sam se beijam, em silhueta, em frente a uma janela iluminada. É uma sequência muito bonita em um filme que tem tudo de lindo. Katharine Hepburn nunca foi capturada tão bela pela câmera. A casa do pai de Tess também é um encanto, e até o campo de beisebol tem seu charme. O amor embeleza tudo no filme.
Tess representa tudo o que eu desejo ser: uma mulher moderna, independente, inteligente, reconhecida por sua inteligência, bem-humorada, charmosa. Tess sabe se portar em meio ao caos, aprende qualquer coisa com rapidez, fala muitos idiomas, e ainda se preocupa com os órfãos. Eu amo o cabelo de Tess, as roupas de Tess (criadas pelo estilista Adrian!), a independência de Tess, o sucesso de Tess, o apartamento de Tess, a vida de Tess.
Há uma cômica inversão de papéis no romance. Sam é atrapalhado, ansioso, inseguro. É o alvo da maioria das piadas, mas é também o personagem central do filme, com destaque desde o início. A carreira de Tess o incomoda, e incomodaria qualquer homem acostumado à velha ordem machista que de uma hora para outra se visse atado a uma fêmea alfa.
Muitas pessoas se sentem incomodadas com os minutos finais do filme, pois acreditam que Tess desiste de tudo que conquistou para se tornar uma dona de casa. Ela até tenta fazer isto, em uma sequência adorável de comédia física, mas o gosto amargo da derrota feminista some logo: eu interpreto que, se o filme tem alguma mensagem, é que Tess não precisa ser a jornalista incrivelmente durona nem a esposa perfeita. Como Sam diz, não precisa ser Tess Harding nem a senhora Craig. Pode ser Tess Harding-Craig, e encontrar um ponto de equilíbrio entre as duas personas tão diferentes.
E é esta a lição mais importante que Tess me ensinou: você não deve fazer só o que quer, mas também não deve deixar a sociedade regular a sua vida. É necessário lutar para conquistar o que se deseja, mas vez ou outra é preciso se deixar moldar um pouco pelo mundo e pelas mudanças. Se tivesse feito apenas o que eu queria ou se tivesse seguido cegamente as ordens de outros, eu não estaria aqui agora. Talvez estivesse melhor, talvez estivesse pior, mas não estaria feliz. Obrigada por ser minha mentora, Tess Harding.

This is my contribution to the Anti-Damsel Blogathon, hosted by the mighty girls Fritzi at Movies, Silently and Jo from The Last Drive In. Girl power!

13 comments:

Pedrita said...

que coisa, eu acho que não vi esse filme. vou ter que tentar ver pra descobrir. beijos, pedrita

Silver Screenings said...

Tess Harding is a remarkable woman who seems to have boundless enthusiasm for making the world a better place. I want to be like her, too!

FlickChick said...

What an inspiring post! You could not have picked a better mentor. Tess was the total package, but at the end of the day you know she needed no one to "complete" her.

Joe Thompson said...

Hi Lê: I like the way you changed "What do you want to be when you grow up?" to "Who do you want to be when you grow up?" I wanted to be Cab Calloway, but that never worked out. Tess is a better choice. I have learned from many years of marriage that the best results come when both people seek balance and allow each other to be who they need to be. The baseball game is one of my favorite scenes in any movie.

Caftan Woman said...

Tess Harding is a great role model. Maybe she (we) can't have it all, but that doesn't mean we can't strive toward that goal.

Kelly Robinson said...

She played so many great women.

Rich said...

I'm glad you made the point about finding a balance between the extremes of "tough journalist" and "perfect wife." In the long run, that's probably the healthier choice, no matter what society may think. You are wise beyond your years!

Fritzi Kramer said...

Thanks so much for joining in with this cute film. Katharine was always wonderful when she played women trying to find their life balance. Such a relatable role.

Anonymous said...

Beautiful post about a character who inspires you. Love Hepburn in about anything!

Anonymous said...

I agree with you - she was beautiful in this film. Also, you mentioned her apartment - there's another Hepburn/Tracy film that includes scenes from her apartment and it too is lovely. The movie is Desk Set and the apartment has high windows, plenty of space and beautiful colors.

Carol Caniato said...

Oi Lê! Não conheço o filme, mas gostei muito da reflexão que você fez no final do texto. Acho que encontrar esse equilíbrio entre o que está dentro da gente e o que está fora é essencial. De outra maneira, acho que acabamos nos perdendo em algum dos lados...
Beijo!

ANTONIO NAHUD said...

Que texto belo, Letícia. A MULHER DO DIA é uma comédia admirável, uma das melhores da dupla Tracy-Hepburn. E a Tess Harding... ah, ela é sensacional!

Carol said...

Adoro Woman of The Year, o meu preferido dos filmes que a Kate e o Spencer fizeram!

Artigo muito bom!

Carol Martinheira

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