O Brasil pode ter muitas coisas de que se
orgulhar: linda natureza, animado carnaval, povo simpático, biodiversidade
incrível, cinco títulos de Copas do Mundo. Mesmo assim, o povo ainda amarga uma
questão: não temos nenhum Oscar.
Há todo um clima de união quando um filme
brasileiro é indicado à estatueta. De repente, toda a nação se junta em torno
desse filme, que passa a ser “o Brasil no Oscar”: nossa grande esperança de
mostrar que também temos cultura. Em nenhum outro país uma indicação ao Oscar é
capaz de unir um povo, ou os americanos seriam o povo mais unido e contente do
mundo.
Em 1960, logo após surgir o prêmio de Melhor
Filme em Língua Estrangeira (que até então era uma categoria honorária, sem
concorrentes anunciados com antecedência), o Brasil chegou a ganhar o Oscar,
mas não levou. Vamos explicar: o roteiro, o elenco, a música, quase tudo era
brasileiro em “Orfeu Negro”, que adapta a lenda de Orfeu para a época do
Carnaval. Mas o produtor e o diretor do longa-metragem eram franceses, e assim
uma produção 100% tropical rendeu mais um Oscar... à França.
Quatro filmes brasileiros foram indicados ao
Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira: “O Pagador de Promessas” (aka “The
Given Word”, 1962), “O Quatrilho” (1994), “O que é isso, companheiro?” (aka “Four Days in
September”, 1998) e “Central do Brasil” (aka “Central Station”, 1998). Tínhamos a esperança de sermos indicados
novamente com o tocante “Que Horas ela Volta?” (aka “The Second Mother”, 2015),
mas o filme ficou de fora até mesmo da lista de pré-finalistas e, convenhamos,
não tinha chance contra “O Filho de Saul”, produção húngara sobre o Holocausto.
“O Pagador de Promessas / The Given Word”, se
feito na Itália, poderia ser considerado uma obra-prima do Neorrealismo.
Explorando um tema universal, tem todos os ingredientes de um filme estrangeiro
inesquecível, capaz de comover pessoas de qualquer nacionalidade. O vencedor
daquele ano foi, entretanto, “Sundays and Cybele / Les dimanches de Ville
D’Avray”, um filme pouco conhecido.
A criatividade do cinema brasileiro foi cortada
brutalmente em 1964, quando ocorreu o golpe militar. Nos 21 anos seguintes, o
governo censurou muitos filmes e apoiou outros sem conteúdo, como as
pornochanchadas. Os filmes independentes tratavam de temas mais imediatos e
políticos de forma sutil, sem grande apelo internacional.
A retomada do cinema brasileiro começa
oficialmente em 1995. Em 1999, uma surpresa agradável: além de “Central do
Brasil / Central Station” ter sido indicado como Filme em Língua Estrangeira, a
maior atriz do país, Fernanda Montenegro, foi indicada ao prêmio de Melhor
Atriz. Cate Blanchett era a favorita, mas em uma noite esquisita, foi Gwyneth
Paltrow que ganhou a estatueta, gerando um ódio que muitos cinéfilos
brasileiros alimentam contra ela até hoje. Quanto ao Melhor Filme em Língua
Estrangeira, o prêmio ficou com ”A Vida é Bela”, e arrisco dizer que, se este
comovente filme de Roberto Benigni não estivesse na competição naquele ano,
teríamos um Oscar para chamar de nosso.
Em 2002, “Cidade de Deus” não foi indicado na
categoria Filme em Língua Estrangeira, mas conseguiu indicações para Edição,
Roteiro Adaptado, Fotografia e Diretor, iniciando uma carreira internacional
para o diretor Fernando Meirelles. Lembre-se também de que outro brasileiro de
sucesso no exterior é Carlos Saldanha, que trabalhou no curta-metragem ganhador
do Oscar “Bunny” em 1998, criou o esquilo Scrat da franquia “A Era do Gelo” e
dirigiu outro curta-metragem indicado à estatueta, “Gone Nutty” (2002).
Excluindo os indicados na categoria mais óbvia, o
Brasil também já esteve na disputa nas categorias Documentário (com “Lixo
Extraordinário / Waste Land”, 2010, e “O sal da Terra / The Salt of the Earth”,
2014), Canção Original (quando a animadíssima “Real in Rio” perdeu para “Man or
Muppet”, uma música bem ao gosto americano) e Curta-Metragem Live-Action (com
“Uma História de Futebol” em 2000). Em 2016, “O Menino e o Mundo” foi indicado
na categoria Animação e fez uma grande e bem-sucedida campanha de crowdfunding, mas é provável que o
ganhador seja o favorito “Divertida Mente / Inside Out”, elogiado filme da
Pixar.
Nós ainda não ganhamos o Oscar. Mas filmes
importantes, provocativos e surpreendentemente sensíveis estão sendo produzidos
e exportados pelo Brasil, como “Hoje eu quero voltar sozinho / The way he looks”
(2014) e “Que horas ela volta? / The Second Mother” (2015). A criatividade do
cinema brasileiro foi destruída durante a ditadura, mas nossos cineastas se
reergueram e estamos evoluindo. Um dia ainda realizaremos o sonho da estatueta
dourada – e eu quero estar lá para ver isso acontecer.
Um dia o meme vai acabar! |
This is my contribution to the 31 Days of Oscar
Blogathon, hosted by the mighty trio Aurora, Kellee and Paula at Citizen Screen, Outspoken & Freckled and Paula’s Cinema Club.
3 comments:
o oscar premia o cinema americano. raramente premia algum filme que não seja americano. há uma única categoria geral para filme estrangeiro. e às vezes um ou outro filme aparece magicamente em outra categoria como nesse ano. então não entendo pq acham que o oscar seja prêmio do cinema. é só do cinema americano. o brasileiro dá muito valor ao oscar pq a mídia nunca especifica q o oscar é para o cinema americano e supervaloriza a premiação. temos ótimos festivais que premiam o nosso cinema não precisamos do prêmio americano. se vier como consolação, legal. masa não precisamos superestimar o oscar. adoro quase todos os filmes que mencionou. levei anos para ver o pagador de promessas. só passava de manhã dia de semana, vou difícil conseguir ver. comentei dele aqui http://mataharie007.blogspot.com.br/2010/03/o-pagador-de-promessas.html
beijos, pedrita
I'm ashamed to say that City of God was the only one mentioned that I've seen. It was, hands down, the best film I saw that year, and one of the best I've ever seen. Why then I haven't seen more of these I can't say! Thank you for giving me such a great list to get started on...
What a great pitch for Brazilian cinema! Perfect contribution to our blogathon, Le! Thanks so much for this!
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