} Crítica Retrô: Esposas e Amantes (1963) / Wives and Lovers (1963)

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Saturday, August 25, 2018

Esposas e Amantes (1963) / Wives and Lovers (1963)


Ah, os anos 60! A época da revolução sexual, da segunda onda do feminismo, da extinção do ridículo Código Hays... e Hollywood tinha de lidar com todos eles. De repente, temas mais polêmicos poderiam ser retratados em filmes... não, eles deveriam aparecer, porque a sociedade queria vê-los no cinema e porque eles faziam parte da realidade. De repente, um infiel não tinha de sofrer e ser condenado... e até uma comédia poderia ser feita com o tema infidelidade.

Oh, the 1960s! Time of the sexual revolution, of the second wave of feminism, of the end of the ridiculous Hays Code... And Hollywod had to deal with them all. Suddenly, more risky themes could appear in movies... no, they should appear, because society wanted them and because they mirrored the reality. Suddenly, a cheater didn't have to suffer and be condemned... and even a comedy could be made about cheating.


No começo, William ‘Bill’ Austin (Van Johnson) é um aspirante a escritor, que atualmente escreve um livro de receitas. Sua esposa Bertie (Janet Leigh) é quem traz dinheiro para casa, e ela trabalha em um consultório de dentista. Eles têm uma filha, uma peculiar garotinha de sete anos e ¾ de idade, Julie (Claire Wilcox). O ego masculino e frágil de Bill está machucado porque sua esposa trabalha fora e ele não, mas logo uma grande mudança acontece: a agente literária de Bill, Lucinda Ford (Martha Hyer) vende os direitos do romance de Bill para um clube de leitura e para uma peça.

At first, William 'Bill' Austin (Van Johnson) is a struggling writer, currently writing a cookbook. His wife Bertie (Janet Leigh) is the breadwinner of the house, and she works in a dentist's office. They have a daughter, the quirky seven and ¾ year-old Julie (Claire Wilcox). Bill's fragile male ego was hurt because his wife was working and he wasn't, until a big change happens: Bill's literary agent Lucinda Ford (Martha Hyer) sells Bill's novel's rights for a book club and a play.


A vida da família muda completamente. Bill insiste para que eles se mudem do pequeno apartamento em Nova York para uma casa elegante em Connecticut. Lá eles conhecem os enxeridos vizinhos Fran (Shelley Winters) e Wylie (Ray Walston). Fran é divorciada – seu ex-marido é ator – e Wylie é um designer de interiores que vive na casa dos fundos de Fran. Eles são incríveis!

Their life changes completely. Per Bill's insistence, they move from a small New York apartment to a fancy house in Connecticut. There they meet nosy neighbors Fran (Shelley Winters) and Wylie (Ray Walston). Fran is divorced – her ex-husband is an actor – and Wylie is an interior decorator who lives in the smaller house on the back of Fran's home. They're a riot!
 
Nouveau riches
Bill começa a sair com Lucinda para aparecer em eventos sociais, deixando sua família de lado. Mas coisas só dão errado de fato quando Bill e Bertie oferecem um jantar em casa e convidam Fran, Wylie, Lucinda e o ator Gar Aldrich (Jeremy Slate), a estrela da peça que Bill está escrevendo. Quando Lucinda começa a paquerar Bill, Gar, que já havia namorado Lucinda, passa a paquerar Bertie.

Bill starts to go out with Lucinda to social gatherings, leaving his family behind. But things go really wrong when Bill and Bertie host a dinner party in their house, and the guests are Fran, Wylie, Lucinda and actor Gar Aldrich (Jeremy Slate), the star of the play Bill is writing. As Lucinda starts flirting with Bill, Gar, who used to date Lucinda, flirts with Bertie.


Era óbvio que o novo estilo de vida prejudicaria o casal. É possível ver isso em uma poderosa metáfora visual: depois de receber a notícia de que os direitos do romance haviam sido vendidos, Bill imediatamente compra para Bertie o casaco chique que Lucinda estava usando. Bertie é deixada na cozinha, e coloca um avental por cima do casaco chique – a nova vida e a velha vida entram em confronto em uma imagem.

It was obvious that the new lifestyle would harm the Austins. You can see this in a powerful visual metaphor: after receiving the news that his novel's rights were sold, Bill buys Bertie the fancy coat Lucinda is wearing and goes out to celebrate. Bertie is left in the kitchen, and puts an apron over the fancy coat – it's the old life and the new life clashing in one image.


Todos os atores estão muito bem em cena. “Esposas e Amantes” é uma comédia romântica sobre sexo, como aquelas estreladas por Doris Day e Rock Hudson, e temos algumas gags divertidas, como o aparelho de som sofisticado de Bill, que ele não consegue ligar, mas todos os outros conseguem.  Também gostei de quando Wylie fabricou um móvel antigo artificialmente. Julie é provavelmente a fonte da maioria das piadas. Suas perguntas de criança são engraçadas, mas para mim o mais engraçado é seu hábito de só comer se os alimentos não estiverem tocando uns aos outros – isto é, ela come um sanduíche só se os ingredientes vierem em pratos separados.

Everybody delivers very good performances. “Wives and Lovers” is a sex comedy, like the ones with Doris Day and Rock Hudson, and we have some funny gags, like Bill's fancy sound stereo that he apparently can't turn on, but almost everybody else can. I also enjoyed when Wylie fabricated an antique piece of furniture artificially. Julie is probably the source of the most jokes. Her childish questions are funny, but for me the funniest thing is her habit of only eating when her food is not touching each other on the plate – that means, she eats a sandwich only if the ingredients come in separate plates.


Van Johnson é um charme como Bill. Janet Leigh brilha como Bertie. É interessante notar que ela menciona que a sociedade queria que ela se sentisse como “pão mofado”, como uma mulher que não podia mais ser desejada – e Leigh tinha apenas 36 anos quando o filme foi feito! De fato, o interesse de Gar é um obstáculo na relação do casal Austin, mas também é uma oportunidade para Bertie perceber que ela é uma mulher linda e desejável. Aliás, a química de Leigh e Johnson não é surpresa: eles eram bons amigos, e foi o próprio Van Johnson que sugeriu a Jeanette Helen Morrison o nome artístico de Janet Leigh em 1947, quando ela fazia com ele seu primeiro filme, “Reconcilização”.

Van Johnson is charming as Bill. Janet Leigh shines as Bertie. It's interesting to notice that she mentions that society wanted her to feel like if she was “like molded bread”, like a woman that couldn't be desired anymore – and Leigh was only 36 when the film was made! Indeed, Gar's courtship is an obstacle in the Austin's relationship, but it is also an opportunity for Bertie to realize that she is a gorgeous, desirable woman. By the way, the chemistry between Leigh and Johnson is no surprise, since they were god friends, and it was Johnson himself who suggested for Jeanette Helen Morrison the screen name Janet Leigh in 1947, when she was making her first film, “The Romance of Rosy Ridge”.
 
1947
1963
“Esposas e Amantes” é cheia de altos e baixos. Eu gostei do fato de que tanto o marido quanto a esposa são tentados a trair, por isso não há julgamento, falso moralismo ou outras bobagens. Eu não gostei do fato de que alguns personagens masculinos, em especial Wylie, têm de ser rudes e tratar as mulheres mal para serem levados a sério por elas. Eu realmente detestei alguns momentos sexistas, como esta horrível “piada” dita por Shelley Winters: “Estuprada e desmembrada. Por que não se pode ter um sem o outro?”

“Wives and Lovers” is a series of hits and misses. I liked the fact that both the husband and wife are tempted to cheat, so there is no judgment, fake morals or other bullshit. I disliked the fact that some male characters, in special Wylie, had to be rude and mistreat women in order to be taken seriously by then. I completely disliked some sexist moments like the horrible joke uttered by Shelley Winters: “Raped and dismembered. Why can't you have one without the other?”
 
Director John Rich with Johson, Slate and Leigh
Você deve conhecer a música “Wives and Lovers”, que foi gravada pela primeira vez no mesmo ano em que o filme estreou. A música de Burt Bacharach e Hal David foi, na verdade, inspirada pelo filme! Foi uma “exploitation song”, uma canção composta para ajudar na divulgação do filme, mas sem fazer parte de sua trilha sonora. Hoje, a música é bem mais conhecida que o filme, mas eu não acredito que sua letra expresse a mesma complexidade das relações como o filme faz.

You may be familiar with the song “Wives and Lovers”, that came out the same year the film did. The song by Burth Bacharach and Hal David was actually inspired by the movie! It was an exploitation song, a song composed to help promote a film, but not appearing on it. Today, the song is much better known if compared to the film, but yet I don't think the lyrics express the same complexity of relationships as the movie does.


“Esposas e Amantes” deveria ser mais conhecido. Porque todos precisam de uma amiga como a personagem de Shelley Winters. Porque a ausência de julgamento moral em um filme dos anos 60 é algo raro. Porque é melhor que outras comédias românticas sobre sexo da época – estou falando da terrível “Amor Daquele Jeito”, também de 1963, que desperdiça Paul Newman e Joanne Woodward. Porque o trailer de “Esposas e Amantes” nos engana e promete bem mais conteúdo sexual do que realmente entrega. E porque todos precisamos dar risada de vez em quando.

“Wives and Lovers” should be better known. Because everybody needs a friend like Shelley Winter's character. Because no moral judgment in a 1960s movie is something rare. Because it is better than other sex comedies of the time – I'm thinking about the awful “A New Kind of Love”, also from 1963, a film that wastes Paul Newman and Joanne Woodward. Because the trailer for “Wives and Lovers” is deceiving and promises a sexual feast that doesn't happen. And because we all need a laugh once in a while.

This is my contribution to the Second Van Johnson blogathon, hosted by Michaela at Love Letters to Old Hollywood.

5 comments:

Michaela said...

I'm dying to see this film, especially after reading your awesome review! I love Van and Janet Leigh together, and their friendship was so sweet. By the way, every time I heard the film's title, I would think of the song "Wives and Lovers" -- glad to hear that they were indeed connected in some way!

Thanks for bringing this great post to my blogathon!

Caftan Woman said...

I remember being impressed by this movie although it has been years since I saw it. The time period is important to me, as that is when I was a child and it is how I imagined adulthood. A cast of thorough pros given a funny script can make something work every time.

J-Dub said...

This definitely goes on my "need to see" list!

Chloe the MovieCritic said...

I have not heard of this before, but it might be an interesting watch! Of course, it has Van Johnson!

The Metzinger Sisters said...

This sounds really good! I have been wanting to see it all summer but kept putting it off but your review makes it sound like a typical early-1960s romance/comedy like "Please Don't Eat the Daisies" or "Lover Come Back" so I am eager to watch it now!

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