} Crítica Retrô: September 2019

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Saturday, September 28, 2019

Garras de Oro (1926) e as garras do imperialismo norte-americano


Garras de Oro (1926) and the golden claws of American imperialism


Este é um artigo sobre o filme mais enigmático do mundo. Ninguém sabe quem estava por trás do filme “Garras de Oro”, de 1926: os atores não foram creditados, e a equipe usou pseudônimos. O estúdio que produziu “Garras de Oro”, Cali Films, nunca fez outro filme. Tanto mistério tem justificativa: o filme trata de uma questão geopolítica que ainda estava fresca na mente dos colombianos, e o tom crítico fez com que o filme fosse banidos nos EUA. “Garras de Oro” é, acima de tudo, um filme que exemplifica perfeitamente a maneira como os EUA trataram a América Latina no século XX.

This is an article on the most enigmatic film in the world. Nobody knows who were the minds behind 1926's “Garras de Oro”: the actors were uncredited, and the crew worked under pseudonyms. The company that produced “Garras de Oro”, Cali Films, never made another film. So much mystery is justified: the film is about a polemic geopolitical question that was still fresh on the minds of Colombians, and the critic tone of the film made it be banned in the US. “Garras de Oro” is, above all, a film that perfectly exemplifies the way the US treated Latin America in the 20th century.


“Garras de Oro” é ao mesmo tempo uma denúncia e uma catarse. É a história de como, em 1903, a Colômbia perdeu boa parte de seu território graças à atuação dos EUA – e este território ficou conhecido como Panamá. Na versão dramatizada dos fatos, os EUA são chamados de “Yanquilandia”, e os cineastas não poderiam ser mais claros sobre o alvo de suas críticas. Teddy Roosevelt continua sendo o presidente da Yanquilandia, e para derrotar William Taft na eleição ele decide roubar o Panamá da Colômbia.

“Garras de Oro” (Golden Claws) is at the same time a denunciation and a catharsis. It is the story of how, in 1903, Colombia lost a good amount of its territory thanks to the United States – and this territory became known as Panama. In the dramatized version of the facts, the US is called “Yanquilandia” (Yankee Land), and the filmmakers couldn’t be clearer about who they are criticizing. Teddy Roosevelt remains president of Yanquilandia, and to beat William Taft in the election he decides to steal Panama from Colombia.


Em Yanquilandia há uma cidade chamada Rasca-Cielos (Arranha-Céus) e o jornal local, chamado de The World, está contra o plano de Roosevelt. Um homem colombiano, señor González, mora em Rasca-Cielos e tem uma filha, Berta. Ela está apaixonada por Paterson, um americano que pode ser repórter investigativo do The World ou mesmo espião trabalhando para Roosevelt. Corrupção, poder, espionagem e sexo são elementos importantes na disputa geopolítica pelo Panamá.

In Yanquilandia there is a city called Rasca-Cielos (Skyscrapers) and the local newspaper, called The World, is against Roosevelt’s plan. A Colombian man, señor González, lives in Rasca-Cielos and has a daughter, Berta. She is in love with Paterson, an American man who can either be an investigative reporter for The World or a spy working for Roosevelt. Corruption, power, espionage and sex play important roles in the geopolitical dispute for Panama.


É basicamente este o enredo de “Garras de Oro”, mas o filme era, originalmente, muito maior: hoje apenas 55 minutos sobrevivem, e temos só uma versão truncada do que a película era para ser – a estimativa é de que 15% do filme ainda está perdido. Novamente, há uma explicação pra isso: banido nos EUA, o filme foi exibido na Colômbia em 1927 e depois esquecido por 60 anos, quando foi parcialmente redescoberto e restaurado.

That’s basically it for “Garras de Oro”, but the film was originally much more: today only 55 minutes survive, and we have only a truncated version of what it was meant to be – it’s estimated that 15% of the film is still lost. Again, there is an explanation for this: the film was banned in the US, exhibited in Colombia in 1927 and then forgotten for 60 years, when it was partially found and restored.


No final do século XIX e início do XX, os EUA basearam sua expansão imperialista na Doutrina Monroe – definida pelo slogan “América para os americanos”, que na realidade queria dizer “América para os norte-americanos”. Isso significava que os EUA apoiariam a independência dos outros países americanos de colonizadores europeus com o único intuito de influenciar a economia e a política destes novos países. O imperialismo norte-americano era diferente daquele praticado pelos países europeus: era uma colonização ideológica, não territorial.

In the end of the 19th century and the beginning of the 20th, the US based its imperialistic expansion on the Monroe Doctrine – defined by the slogan “America for Americans”, that really meant “America for North Americans”. This meant that the US would support the independence of other American countries from their European colonizers with the sole purpose of influencing these new countries in issues like economy and politics. North-American imperialism was different from the one practiced by European countries: it was ideological colonization, not territorial colonization.

"Cowboy" Teddy Roosevelt
O Panamá tentou se tornar independente da Colômbia em muitas ocasiões, e finalmente houve uma guerra em 1899, chamada de Guerra dos Mil Dias – naquela época, a Colômbia era chamada de Nova Granada. Até então, os EUA haviam ajudado a Colômbia / Nova Granada a manter o Panamá sob sua jurisdição. Em 1903 tudo mudou, pois o Panamá declarou independência em três de novembro, e os EUA foram o primeiro país a reconhecer esta independência – com a clara intenção de explorar o novo país e colocá-lo sob suas asas ideológicas. De fato, logo após reconhecer a independência do Panamá, os EUA ganharam o controle do canal transcontinental que seria construído no novo país. O presidente norte-americano que apoiou a independência do Panamá foi Teddy Roosevelt.

Panama tried to become independent from Colombia several times, and they eventually started a war in 1899, called The War of a Thousand Days – at that time, Colombia was called Nova Granada. Up until then, the US actually had helped Colombia / Nova Granada to keep Panama under its jurisdiction. In 1903, things changed, as Panama declared independence on November 3rd, and the US was the first country to recognize its independence – with the clear intention of exploring the new country and put it under its ideological wings. Indeed, right after recognizing Panama’s independence, the US gained control of the trans-continental canal that would be built in the new country. The US president who supported the independency of Panama was Teddy Roosevelt.
 
1903 cartoon from Sunday Times

Em inglês o filme ficou conhecido como “Alvorada de Justiça” por causa de seu conteúdo catártico – um título bem mais inofensivo do que os títulos prévios “A Vingança da Colômbia” e “A Morte Política de Teddy Roosevelt”. Os EUA pagaram 25 milhões de dólares como indenização para a Colômbia pelo Panamá e seu canal. No final de “Garras de Oro”, o Tio Sam deposita esta mesma quantia na balança da Justiça personificada, mas os pratos da balança não se movem: afinal, a justiça deveria ser cega e mostrar que a razão sempre esteve com os colombianos.

In English the film became known as “Dawn of Justice” because of its cathartic content – a title that is more inoffensive than the two working titles “Colombia’s Revenge” and “The Political Death of Teddy Roosevelt”. The US paid Colombia 25 million dollars to Colombia as indemnity for Panama and its canal. In the very end of “Garras de Oro”, Uncle Sam deposits the same amount in Lady Justice’s scale, but the scale does not move: after all, Justice should be blind and should show that the Colombians were right to be bitter.


Você lembra que todos os envolvidos com o filme “Garras de Oro” ou não receberam crédito ou usaram pseudônimos? Agora a história se complica. Há uma teoria que diz que “Garras de Oro” sequer foi filmado na Colômbia, mas sim na Itália. Mais recentemente, a identidade do diretor PP Jambrina, também fundador da Cali Films, foi descoberta: ele era Alfonso Martínez Velasco, um político, jornalista e empresário. As únicas outras pessoas creditadas em “Garras de Oro” são dois diretores de fotografia com sobrenomes italianos, e a atriz italiana Lucia Zanussi pode ter sido parte do elenco. Assim como o nome dos outros membros do elenco e o restante da trama, é possível que nunca saibamos a verdade sobre o local de filmagem.

Do you remember that everyone involved in the making of “Garras de Oro” was either uncredited or used pseudonyms? Now the plot thickens. A theory says that “Garras de Oro” may not have been shot in Colombia at all, but in Italy. More recently, the identity of director PP Jambrina, also founder of Cali Films, was discovered: he was Alfonso Martínez Velasco, politician, journalist and entrepreneur. The only other credited people in “Garras de Oro” were two cinematographers with Italian last names, and Italian actress Lucia Zanussi is rumored to be part of the cast. Just like the name of other cast members and the rest of the plot, the place it was shot is something we might never know for sure.
 
PP Jambrina
Durante o século XX, os EUA usaram o cinema como arma imperialista: por todo o mundo, e na América Latina em especial, o cinema norte-americano dominava e disseminava os valores norte-americanos. Hoje, este fenômeno é irreversível, mas felizmente os EUA e Hollywood se abriram para as estrelas latinas. Agora em Hollywood temos alguns colombianos fazendo sucesso, como Sofía Vergara, Isabella Gomez e John Leguizamo. A animosidade causada por “Garras de Oro” há quase 100 anos parece ter sido deixada no passado, mas temos sorte porque parte do filme sobreviveu para contar uma história real sob uma perspectiva única: do ponto de vista dos colonizados.

As the 20th century progressed, the US used cinema as a huge imperialist weapon: all over the world, and in Latin America in special, US cinema dominated and disseminated American values. Today, this phenomenon is irreversible, but fortunately the US and Hollywood became more open to Latin stars. Now in Hollywood we have a few Colombians thriving, like Sofía Vergara, Isabella Gomez and John Leguizamo. The animosity caused by “Garras de Oro” nearly 100 years ago seems to have been left in the past, but we’re lucky that part of the film survives to tell a real story in such a unique perspective: from the point of view of the colonized people.
 
Hand-colored Colombian flag from "Garras de Oro"
This is my contribution to the Hollywood’s Hispanic Heritage blogathon, hosted by Aurora at Once Upon a Screen.


Tuesday, September 24, 2019

Z (1969)


Dois críticos de cinema entram em um bar. Eles jamais chegam a um acordo sobre qual drink pedir. Por quê? Porque crítica cinematográfica não é algo unânime, pois a paixão sempre influencia quando um crítico está analisando um filme. Esta piada pode não ser engraçada, mas é verdadeira: dois críticos de cinema, mesmo parceiros na profissão, dificilmente têm a mesma opinião sobre um filme. Tome como exemplo a dupla Roger Ebert e Gene Siskel. Nos mais de 20 anos em que eles fizeram listas anuais dos 10 Melhores Filmes lançados, eles concordaram em poucas ocasiões. Uma delas foi quando ambos elegeram, em 1969, o filme Z de Costa-Gavras como o melhor do ano.

Two film critics walk into a bar. They never agree on which drink to order. Why? Because film criticism is not meant to be a unanimous thing, since passion weighs in whenever a critic is analyzing a film. This joke may not be funny, but it’s true: two film critics, even in a partnership, rarely agree on their opinions about film. Take the duo Roger Ebert and Gene Siskel, for instance. In the more than 20 years they made their yearly TOP 10 movies, they rarely agreed on the best film of the year. One of these occasions was in 1969, when both favored Costa-Gavras’ Z.


Z é um thriller político que me mostrou como lutas políticas vêm em ciclos. Z é um famoso político grego e líder de um partido de esquerda. Ele é interpretado por Yves Montand. Uma noite, o discurso de Z para o povo francês é quase cancelado – ele quer falar sobre paz, e contra ele estão o governo francês, a polícia, a imprensa e muitas pessoas raivosas. Depois do final do discurso, realizado em um local diferente do planejado, Z é atacado por um homem com um cassetete. A polícia se desespera com a possibilidade de o crime se tornar uma questão política – e, de fato, foi um crime político – e por isso a Gendarme – a polícia francesa – tenta encobrir o crime e fazer ele passar por acidente.

Z is a political thriller that showed me how political struggles come in cycles. Z is a prominent Greek politician and leader of a leftist party. He’s played by Yves Montand. One night, Z’s speech to the French people is almost cancelled – he wants to talk about peace, and against him there is the French government, the police, the press and a lot of angry people. After the speech ends, in a different location than planned, Z is attacked by a man with a nightstick. The police is then nervous with the possibility of the crime becoming a political issue – and it really was a political crime – so the Gendarme – the French police – try to uncover the crime and label it an accident.


Z é baseado em uma história real, e você precisa saber um bocado de história para entender melhor o filme. A história contada envolve o assassinato do político grego Grigoris Lambrakis por uma milícia de direita em 1963. Quando ficou provado que Grigoris foi assassinado, o resultado esperado era a vitória do partido de esquerda nas eleições... mas não houve eleições: em 1967 um golpe de estado aconteceu, e a Grécia se tornou uma ditadura de extrema-direita. Este governo proibiu muitas coisas, entre elas cabelos compridos, a minissaia, Tolstoi, Sófocles, greves, os Beatles, liberdade de imprensa e a letra Z – uma letra que, em grego, significa “ele vive”.

Z is based on a real story, and you need to know a bit of history to better understand the film. The story told involves the assassination of Greek politician Grigoris Lambrakis by a right-wing militia in 1963. When it was proved that Grigoris was murdered, the result was an expected win of the left parties in the elections… but there were no elections: in 1967 a coup d’état happened, and Greece became a right-wing military dictatorship. This government prohibited a lot of things, including long hair, mini-skirts, Tolstoi, Sophocles, strikes, the Beatles, freedom of press and the letter Z – a letter that means “he’s alive” in Greek.


Há alguns indícios de que o assunto é política grega. O mais óbvio de todos vem da trilha sonora, composta por Mikos Theodorakis, cuja obra foi proibida pela ditadura militar. O diretor Costa-Gavras nasceu na Grécia, assim como a atriz Irene Papas, que interpreta a esposa de Z. E, para tornar tudo mais explícito, Costa-Gavras colocou este aviso no começo do filme: “Qualquer semelhança com eventos reais, com pessoas vivas ou mortas, não é mero acaso. É PROPOSITAL.”

You get a few hints that we’re talking about Greece. The most obvious one comes from the soundtrack, composed by Mikis Theodorakis, whose work was banned by the military dictatorship. Director Costa-Gavras was born in Greece, just like actress Irene Papas, who plays Z's wife. And, to make things even more explicit, Costa-Gavras puts this warning in the beginning of the film: “Any resemblance to actual events, to persons living or dead, is not the result of chance. It's DELIBERATE.”


Como o governo norte-americano apoiava a ditadura grega, o filme Z foi quase banido nos EUA. Em vez disso, algo pior aconteceu: todas as pessoas que compraram entradas para assistir a Z tinham seus dados pessoais anotados pelo FBI – um usuário do IMDb escreveu sobre como isso aconteceu com ele. Além disso, Costa-Gavras, Theodorakis, Irene Papas e Yves Montand foram proibidos de entrar nos EUA nos anos seguintes.

Since the US government supported the Greek dictatorship, the film Z was nearly banned in the US. Instead, something worse happened: all people who bought tickets to see Z had their personal data taken by the FBI – one IMDb user writes about how it happened to him. Moreover, Costa-Gavras, Theodorakis, Irene Papas and Yves Montand were forbidden from entering the US in the following years.


Gene Siskel escreveu sobre Z: “É um grande filme por muitas razões, podendo ser apreciado como um thriller político ou uma declaração política.” Por outro lado, Roger Ebert escreveu: “É um filme da nossa época. É sobre como até as vitórias morais são corrompidas. Ele te fará chorar e te deixará furioso. Ele arrancará suas entranhas.” De fato, Ebert insistiu em denunciar a política que permeia o filme – e até hoje, seis anos após sua morte, Ebert é atacado em seu site por causa de sua crítica de Z.

Gene Siskel wrote about Z: “It is a great film for many reasons, not the least of which is that it can be enjoyed as a political thriller as well as a political statement.”  On the other hand, Roger Ebert wrote: “It is a film of our time. It is about how even moral victories are corrupted. It will make you weep and will make you angry. It will tear your guts out.” Indeed, Ebert didn’t shy away from denouncing the politics surrounding this film – and until today, six years after his death, Ebert is attacked in his site because of his review of Z.


Para mim, Z teve um efeito muito pessoal. O Brasil está entre 30 a 50 anos atrasado em relação ao resto do mundo em todas as áreas, incluindo na política. Em 2018 um governo foi eleito prometendo “caçar comunistas” e seus apoiadores gritavam “nossa bandeira jamais será vermelha”. O ano de 2018 no Brasil começou com o assassinato de uma vereadora no Rio e com a prisão política de um ex-presidente que fazia parte do maior partido de esquerda do país. Os paralelos não param por aí. Em Z, os militares são obcecados pela “ameaça comunista” e prometem ser anticorpos para a doença esquerdista. Este foi um discurso usado em 1964, quando um golpe militar aconteceu no Brasil, e tal discurso ainda está em uso hoje por um governo que já começou a censurar produções LGBT e revistas feministas.

For me, Z struck too close to home. Brazil is 30 to 50 years behind the rest of the world in all fields, including the political one. In 2018 a government was elected after promising “to hunt communists” and their supporters chanted “our national flag will never be red”. The year 2018 in Brazil started with the killing of a local politician in Rio and with the political prison of a former president who was from the biggest leftist party in the country. These are not the only parallels. In Z, the military is obsessed about the “communist menace” and promises to be an antidote to the leftist malady. This was a speech used in 1964, when a military coup d’état happened in Brazil, and it is still used today by a government that already started censoring LGBT productions and feminist magazines.


Há uma piada na internet brasileira sobre como os franceses sempre se rebelam e incendeiam carros quando alguma decisão do governo não os agrada. Os brasileiros não fazem isso – somos muito pacíficos para lutar pelos nossos direitos. Por bem ou por mal, os franceses tomam as ruas quando querem mudança. Nós não. Não tomamos as ruas quando um juiz não imparcial mandou prender um líder político popular. Não estamos tomando as ruas agora, quando o homem que está investigando as notícias falsas espalhadas durante as eleições está recebendo ameaças de morte. Porque nós não tomamos as ruas, estamos voltando para 1964. Porque nós não aprendemos com a história, deixamos que a história de nosso país seja feita de ciclos.

There is an internet joke in Brazil about how French people always riot and burn cars when some governmental decision displeases them. Brazilians don’t do it – we’re too peaceful to fight for our rights. For good or for bad, French people take the streets when they want change. We don’t. We didn’t take the streets when a judge that wasn’t impartial arrested a popular political leader. We aren’t taking the streets now, when a man who is investigating fake news spread during the elections is receiving death threats. Because we don’t take the streets, we are going back to 1964. Because we don’t learn with history, we let our national history be made of cycles.


Z não é um filme reconfortante – na verdade, ele me afetou muito porque estou no epicentro de toda essa confusão política. Ao final de Z, você não terá sua fé renovada. É um filme duro sobre como política, ditaduras e golpes de estado funcionam, e é a confirmação de que a política pode ser necessária, mas é também o campo de batalha mais podre do mundo.

Z is not a reassuring movie – in fact, it hit me too hard because I’m so close to all this political mess. In the end of Z, you won’t have your faith renewed. It’s a raw film about how dictatorships, coup d’états and politics work, and it is the confirmation that politics may be necessary, but they also are the most rotten battlefield in the world.

This is my contribution to the Siskel & Ebert at the blogathon, hosted by Sally from 18 Cinema Lane.


Wednesday, September 11, 2019

Book review: Miss D & Me, by Kathryn Sermak and Danelle Morton


Algumas vezes eu me pergunto como algumas estrelas do cinema clássico eram na vida pessoal. É fácil imaginar algumas estrelas e apontar quais eram tímidas e quais eram extrovertidas graças à persona cinematográfica que interpretavam. Outras eram um mistério para mim. Bette Davis era um destes mistérios. Ela geralmente interpretava mulheres fortes nas telas, e ao mesmo tempo podemos encontrar fotos fofas dela em momentos de descanso. Eu não conseguia imaginar se ela era forte e exigente em sua vida pessoal ou fofa e relaxada. Agora, graças ao incrível livro “Miss D & Me”, eu aprendi que Bette era, ao mesmo tempo, forte e doce.

Sometimes I wonder how some classic film stars were in their private lives. Some are easy to imagine, to pinpoint which were shy and which were outgoing thanks to their film persona. Some were a mystery to me. Bette Davis was one of those mysteries. She often portrayed strong leading ladies on screen, and at the same time there are sweet pictures of her in moments of rest. I couldn’t imagine if she was strong and exigent in her private life or sweet and laid back. Now, thanks to the amazing book “Miss D & Me”, I could learn that Bette was, at the same time, both strong and sweet.


“Miss D & Me” foi escrito por Kathryn Sermak, assistente pessoal de Bette Davis no final dos anos 70 e início dos anos 80. Kathryn também estava com Bette quando a estrela sofreu um derrame quase fatal em 1983, e era a única pessoa presente no quarto de hospital quando Bette faleceu em 1989. Mais do que uma funcionária, Kathryn se tornou uma amiga e uma confidente. Ela presenciou o que houve de bom e de ruim na vida de Bette Davis, e com todo o respeito dividiu essas memórias conosco.

“Miss D & Me” was written by Kathryn Sermak, Bette Davis’ personal assistant in the late 1970s and early 1980s. Kathryn was also with Bette when the star suffered a near fatal stroke in 1983, and was the only person present in the hospital room when Bette passed away in 1989. More than an employee, Kathryn became a friend and a confident. She saw the good, the bad and the ugly of Bette Davis’ life, and with all due respect shared those memories with us.
 
Bette and Kathryn
A memória de Kathryn é admirável. Mesmo tendo ela escrito que anotava o que acontecia em seus dias com Bette, sua atenção ao detalhe e habilidade de se lembrar de pequenas coisas me impressionou. Estes detalhes foram o que mais me interessaram e surpreenderam – como o fato de Bette Davis sempre rearrumar a mobília em quartos de hotel e adicionar fotos e pequenos objetos decorativos trazidos de casa para que o local tivesse ares de lar.

Kathryn’s memory is admirable. Even though she says she kept notes of her days working with Bette, her attention to detail and ability to remember little things that happened decades ago impressed me. Those details also were what interested and amazed me the most – like how Bette Davis used to rearrange the furniture in hotel rooms and add photos and knickknacks she would bring from her house to make the place feel like home.


Eu pude ter perspectivas diferentes de Bette Davis durante a leitura. Eu imagino, agora, que ela era muito desconfiada e insegura, pois proibiu Kathryn de conversar com qualquer pessoa “abaixo dela” no set de filmagem e também com empregados como a faxineira ou o motorista, com medo de que aquelas pessoas fizessem perguntas sobre ela e vendessem informações para tabloides. Ela certamente fez isso por causa de experiências desagradáveis no passado. Ela aprendeu com o tempo a não confiar em ninguém quando se é estrela de cinema.

I got to have different perceptions of Bette Davis through the book. I imagine, now, that she was very suspicious and insecure, as she forbade Kathryn from talking to anything “lesser than her” on set, and also to household people such as the maid or the driver, afraid that those people were asking about her and collecting info to sell to tabloids. She certainly did this because of previous bad experiences. She learned with time to not trust anyone if you’re a film star.


Kathryn descreve Bette como perfeccionista. Kathryn teve de ser humilde e aprender com os erros nos seus primeiros anos com Bette, e aceitar muitas críticas. Bette decidiu moldá-la assim como ela havia sido moldada pela Warner Brothers quando ela chegou a Hollywood. Bette mudou o nome de Kathryn (era originalmente Catherine), seu estilo, seu cabelo e em especial suas maneiras. Era algo frustrante para Kathryn em muitas ocasiões, mas ela escreve que é muito grata até hoje pelas lições.

Kathryn describes Bette as a perfectionist. Kathryn had to be meek and learn through mistakes in his first years with Bette, and accept a lot of criticism. Bette decided to shape her just as she had been shaped by Warner Brothers when she arrived in Hollywood. Bette changed Kathryn’s name (it was originally Catherine), her wardrobe, her hair and in special her manners. It was frustrating to Kathryn in many occasions, but she writes about how grateful she is until today for the lessons.


Em 1983, Bette Davis fez uma mastectomia e mais tarde teve um derrame que quase a matou. Durante sua recuperação, tanto no hospital quanto fora dele, Kathryn está ao lado dela, usando tudo o que havia aprendido para cuidar da melhor maneira possível da querida Miss D. Aliás, “Miss D” é como ela se referia a Bette, um apelido bonitinho que ambas escolheram quando Bette aconselhou Kathryn a mudar de nome.

In 1983, Bette Davis underwent a mastectomy and later had a stroke that nearly killed her. During her recovery, both in the hospital and out of it, Kathryn is by her side, using all she had learned to take the best care possible of her dear Miss D. By the way, “Miss D” was how she addressed Bette, a cute nickname they both agreed on when Bette advised Kathryn to change her name.


Você deve conhecer “Mamãezinha Querida”, o livro que a filha de Joan Crawford escreveu sobre Joan, mas a única filha biológica de Bette, Barbara ‘Bede’ (B.D.) Merrill, também escreveu um livro difamatório sobre a mãe. Como narrado por Kathryn, ela provavelmente decidiu escrever o livro após o derrame de Bette, quando os médicos deram apenas mais três semanas de vida para a estrela. Bette se recuperou, mas ficou de coração partido quando descobriu sobre o livro. Bede se tornou uma fanática religiosa, vendeu sua fazenda e se mudou com a família para as Bahamas sem contar nada para Bette, por isso o livro foi apenas a cereja do bolo de decepções. Embora Kathryn escreva que “Bede e Miss D claramente amavam uma à outra”, a ganância e a nova religião de Bede foram mais poderosas que o amor materno.

You must be aware of “Mommie Dearest”, the book Joan Crawford’s daughter wrote about Joan, but Bette’s only biological daughter, Barbara ‘Bede’  (B.D.) Merrill, also wrote a defamatory book about her mother. As narrated by Kathryn, she probably decided to write the book after Bette’s stroke, when doctors gave the film star only three weeks to live. Bette recovered, but was left broken-hearted when she was informed about the book. Bede had became a religious fanatic, sold her farm and moved with her family to the Bahamas without telling Bette, so the book was only the icing of the cake of Bette’s disappointment. Even though Kathryn writes that “Bede and Miss D clearly loved each other”, the greed and Bede’s new religion were more powerful than the motherly love.
Bette and Bede
Bette certamente amava sua família, e isso incluía seus dois filhos adotivos. Kathryn passa um capítulo narrando um feriado de Quatro de Julho particularmente difícil na casa de Bette, quando toda a família estava reunida. Perto de seus entes queridos, Bette era mais insegura e hesitante, como diz Kathryn: “Só se ela fosse perfeita ela se sentia digna do amor deles”.

Bette certainly loved her family, and that included her two adoptive children. Kathryn spends a chapter narrating a particularly difficult Fourth of July holiday on Bette’s house, when the whole family was reunited. Near her loved ones, Bette Davis was more insecure and hesitant, as Kathryn says: “Only if she was perfect would she feel worthy of their love.”
 
Bette's family
Não há muito sobre a carreira de Bette no livro, pois a partir de 1979 ela fez filmes para a TV e interpretou papéis menores no cinema. Eu gostaria de mais informações sobre estes trabalhos. Eu adoraria ler, por exemplo, sobre como foi a filmagem de “Direito de Morrer”, pois foi a única vez em que Bette trabalhou com James Stewart. Eu também gostaria de saber se Bette e Lillian Gish ficaram amigas durante as filmagens de “Baleias de Agosto”, o último filme de Bette.

There isn’t a lot about Bette’s work in the book, as in the period starting in 1979 she did films for TV or played minor roles in features. I missed more info on those gigs. I’d love to have read, for instance, how the shooting of “Right of Way” went, as it was the only time Bette worked with James Stewart. I also wanted to know if Bette and Lillian Gish were friendly towards each other during the shooting of “The Whales of August”, Bette’s last film.


Kathryn diz que Miss D e ela foram empregadora e funcionária, mentora e discípula, mãe e filha, até que se tornaram melhores amigas. O livro começa e tem seu clímax com uma viagem de carro que elas fizeram pela França em 1985. É uma pequena aventura, cuja crônica aquecerá seu coração. E, de fato, o livro “Miss D & Me” é de aquecer o coração.

Kathryn says that Miss D and she had been employer and employee, mentor and protégé, mother and daughter, until they became best friends. The book starts and climaxes with their road trip through France in 1985. It’s a little adventure, a heart-warming one to be read. Indeed, “heart-warming” is a great word to describe the book “Miss D & Me”.

I’d like to thank Raquel and Hachette Books for this book that I won in a giveaway. This post is part of Raquel’s Summer Reading Classic Film Book Challenge.


Saturday, September 7, 2019

Scaramouche (1923)


Podia acontecer de tudo durante a Revolução Francesa – e, de fato, todos os tipos de coisas que pareciam impossíveis aconteceram durante a Revolução Francesa. O povo primeiro tomou a Bastilha, depois o Palácio das Tulherias, depois as ruas. O rei e a rainha perderam suas cabeças. Então o terror tomou conta, e a guilhotina trabalhou noite e dia. Enquanto tudo isso acontecia, as pessoas continuaram vivendo e amando, buscando vingança, justiça e procurando pela verdade. Em “Sacaramouche”, uma aventura ambientada durante a Revolução Francesa, nosso herói faz tudo isso que eu descrevi – mais do que muitas pessoas fazem durante a vida toda.

Everything could happen during the French Revolution – and, indeed, all kinds of things that seemed impossible did happen during the French Revolution. The people first took the Bastille, then took the Tuileries, then took the streets. A king and a queen lost their heads.  Then terror took over, and the guillotine worked night and day. While all this was happening, people kept on living and loving, seeking revenge, justice and looking for the truth. In “Scaramouche”, an adventure set during the French Revolution, our hero does all those things I’ve just described – more than many people do in a lifetime.  


No vale de Gavrillac, os melhores amigos André-Louis Moreau (Ramon Novarro) e Philippe de Vilmorin (Otto Matiesen) veem a pobreza, a fome e a morte infligidas no povo por um nobre local, o Marquês de La Tour D’Azyr (Lewis Stone). O eloquente Philippe desafia o Marquês e é morto em uma luta de esgrima. André promete vingança, usando a eloquência como sua arma contra o Marquês.

In the valley of Gavrillac, best friends André-Louis Moreau (Ramon Novarro) and Philippe de Vilmorin (Otto Matiesen) see the poverty, starvation and death that are inflicted upon the locals by a nearby nobleman, the Marquis de La Tour D’Azyr (Lewis Stone). The eloquent Philippe defies the Marquis and is killed in a sword fight. André vows to seek revenge, using eloquence as his weapon against the Marquis.


O padrinho de André, Quintin de Kercadiou (Lloyd Ingraham), tenta dissuadi-lo da busca por justiça contra o Marquês – na verdade, Quintin espera que o Marquês se case com sua filha, Aline (Alice Terry). Agora tudo ficou ainda mais pessoal para André, pois ele também está apaixonado por Aline.

André's godfather, Quintin de Kercadiou (Lloyd Ingraham), tries to dissuade him from seeking justice against the Marquis – in fact, Quintin hopes that the Marquis marries his daughter, Aline (Alice Terry). Now things get even more personal to André, as he, too, is in love with Aline.


A Revolução Francesa está acontecendo, e tudo está mudando muito rápido. André carrega consigo a cópia da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que Philippe levava sempre. André nunca perde uma oportunidade de fazer um discurso sobre a Declaração e sobre como a nobreza não pode mais oprimir o povo.

The French Revolution is underway, and things are changing fast. André carries with him the copy of the Declaration of the Rights of the Man and of the Citizen that Philippe used to carry. André never wastes an opportunity to make a speech about this Declaration and how the nobility can no longer oppress the people.


Agora perseguido pelos soldados do rei, André se junta a um grupo de artistas itinerantes como dramaturgo, depois de mostrar a todos sua eloquência e sabedoria. Agora chamado simplesmente de Monsieur X, André está com o grupo há um ano quando ele termina de escrever a ousada peça “Figaro – Scaramouche”. A peça estreia em um enorme teatro de Paris, e o próprio André interpreta Scaramouche, mas seu rosto é ocultado por uma máscara com um longo nariz.

Now being persecuted by the King's soldiers, André joins a group of travelling artists as a playwright, after he shows all his eloquence and wit. Now called simply Monsieur X, André has been with the group for a year when he finishes writing the daring play “Figaro – Scaramouche”. The play premieres in a huge theater in Paris, and André himself plays Scaramouche, but his face is hidden from the public by a mask with a long nose.


Tanto Aline quanto o Marquês de La Tour estão na estreia da peça, mas apenas Aline reconhece André. Acreditando que os dois estão juntos, André decide se casar com a atriz Climène (Edith Allen)... mas ela também é seduzida pelo Marquês! Mais sofrimento para André.

Both Aline and the Marquis de La Tour attend the premiere of the play, but only Aline recognizes André. Believing they are together, André decides to marry a fellow actress, Climène (Edith Allen)... but she is seduced by the Marquis as well! Heartache follows.


Mas e a Revolução Francesa? Agora a Assembleia Nacional está reunida, e a nobreza desesperada pode apenas usar sua habilidade com a espada para desafiar deputados do povo. Por isso, Danton (George Siegman) convida André – não mais artista, mas agora assistente de um professor de esgrima – para fazer parte da Assembleia. Então, haverá lutas de espada, reviravoltas na trama e um monte de pessoas nas ruas de Paris, incluindo esta mulher muito exaltada:

But the French Revolution was underway, wasn't it? Now the National Assembly is reunited, and the desperate nobility can only use their ability with the sword to fight deputies who speak for freedom. So, Danton (George Siegman) invites André – no longer an artist, but a fencing teaching assistant – to take part in the Assembly. Then, there will be sword fights, plot twists and a lot of fed up people on the streets of Paris, including this overly excited woman:
 
GIF via Movies, Silently
Feito pela Metro Pictures um ano antes da fusão que a transformou em MGM, “Scaramouche” é baseado num livro de 1921 escrito por Rafael Sabatini. O diretor Rex Ingram escolheu seus colaboradores frequentes Novarro, Stone e Alice Terry para os três papéis principais – e é interessante ver Lewis Stone como vilão, considerando que anos depois ele interpretaria o afável Juiz Hardy, pai de Andy Hardy em uma série de filmes.

Made by Metro Pictures one year before it merged to become MGM, “Scaramouche” is based on a 1921 novel written by Rafael Sabatini. Director Rex Ingram chose his usual collaborators Novarro, Stone and Alice Terry for the three main roles – and it’s interesting to see Lewis Stone as a villain, considering that years later he would play the affable Judge Hardy, Andy Hardy’s father in a series of movies.


Ramon Novarro, embora tenha seus olhos brilhantes capturados pela câmera de Ingram, infelizmente não está tão bonito como estaria dois anos depois em “Ben-Hur” (1925). Alice Terry, por outro lado, não tem uma personagem com muitas camadas para interpretar, mas está charmosa em todos os seus momentos em cena.

Ramon Novarro, although with glowing eyes captured by Ingram’s camera, unfortunately, is not as handsome here as he would be two years later in “Ben-Hur” (1925). Alice Terry, on the other hand, doesn’t have a character with many layers to play, but is charming every time she’s on screen.


“Scaramouche” é um filme com muitas cartelas de texto, o que é compreensível: uma história tão complexa não poderia ser contada com poucas cartelas. A história é tão complexa e cheia de reviravoltas que em alguns momentos ela se torna enfadonha – e todos sabemos que filmes mudos NÃO são chatos, tomando como exemplo o conto pacifista de 1919 “Eu Acuso!”. Como bônus, o filme é muito fiel ao livro, ao contrário do remake colorido de 1952.

“Scaramouche” is a film with lots of intertitles, which is understandable: such a complex story couldn't be told with only a few title cards. The tale is so complex and so full of twists that sometimes the film gets a bit boring – and we all know that silent films are NOT boring, take for instance the 1919 pacifistic tale “J’Accuse!”. As a bonus point, the film is very faithful to the novel, unlike the 1952 color remake.


Assim como em todos os dramas históricos, “Scaramouche” também tem muitos cenários lindamente decorados e incríveis figurinos, cabelos e maquiagens – detalhe: todo mundo tem uma pinta no rosto, algumas delas desenhadas em forma de coração ou estrela! Mas o destaque é para a reconstituição perfeita da Assembleia Nacional.

As it happens to most historical films, “Scaramouche” also has many beautifully decorated sets and amazing costumes, hair and make-up – detail: everybody has a beauty mark, some of them are drawn as hearts or stars! But the highlight is the perfect reconstitution of the National Assembly.


Com poucas lutas de espada emocionantes e alguns momentos chocantes – uma participação histórica especial te surpreenderá – “Scaramouche” é um filme que mostra como o cinema mudo podia ser visualmente belo. Na época, eles não precisavam de diálogos, eles tinham rostos – e cenários e figurinos para impressionar qualquer um.

With few exciting sword fights and a few shocks – one historical cameo will surprise you – “Scaramouche” is a film that shows how visually beautiful silent films can be. At the time, they didn’t need dialogue, they had faces – and sets, and costumes to amaze anyone.

This is my contribution to the Costume Drama blogathon, hosted by Debbie at Moon in Gemini.



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