} Crítica Retrô: Mendigos da Vida (1928) / Beggars of Life (1928)

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Saturday, February 29, 2020

Mendigos da Vida (1928) / Beggars of Life (1928)


Um dia, um mendigo (Richard Arlen) chega a um chalé e vê um café da manhã apetitoso em cima de uma mesa. Ele bate na porta, entra e pede um pouco de comida para o homem sentado à mesa. O homem não responde. Ele pede de novo e de novo, até que percebe que o homem está morto – com uma bala na cabeça. Ele derruba e quebra um pote, e o assassino aparece: uma garota (Louise Brooks) confessa que ela matou o homem, seu padrasto, depois que ele tentou estuprá-la. A sequência em que ela rememora os fatos é brilhante, com imagens superimpostas dos acontecimentos e do rosto expressivo de Louise conforme ela se lembra.

One day, a hobo (Richard Arlen) arrives at a cottage and sees an appetizing breakfast on a table. He knocks on the door, enters and asks the man sitting on the table for some food. The man doesn’t answer. He asks again and again, until he realizes the man is dead – shot in the head. He drops and breaks a pot and the shooter appears: a girl (Louise Brooks) confesses she killed the man, her stepfather, after he tried to rape her. The sequence in which she recounts the facts is brilliant, with superimposed images of the happenings and of her expressive face as she remembers the things.


O mendigo decide ajudar a garota. Agora usando calças e escondendo seu cabelo com uma boina, a garota perde o trem que vai para o Este, mas embarca, com o mendigo, no trem que vai para o Oeste – embarcam como clandestinos, é claro. Eles são logo expulsos do trem, e têm de passar a noite num monte de feno, onde têm um diálogo profundo.

The hobo decides to help the girl. Now dressed in pants and hiding her bobbed hair with a bonnet, the girl misses the train that goes East, but embarks, with the hobo, on the train that goes West – both the girl and the hobo as stowaways, of course. They are quickly thrown out of the train, and have to spend the night under a haystack, where they have a deep conversation.


Na manhã seguinte, a polícia está procurando pela menina, e uma recompensa de mil dólares está sendo oferecida. O mendigo e a garota chegam a uma reunião de mendigos e o mais violento deles, Oklahoma Red (Wallace Beery), reconhece a garota do pôster da recompensa. Oklahoma Red deixa a menina pegar o trem com eles, mas ele quer a garota para si.

The next morning, the police is looking for the girl, and a thousand-dollar reward has been set for her. The hobo and the girl arrive at a reunion of hoboes and the most violent of them, Oklahoma Red (Wallace Beery), recognizes her from the reward poster. Oklahoma Red lets the girl catch the train with them, but he wants the girl for himself.


William A. Wellman é um dos meus diretores subestimados favorites. Trabalhando sem parar desde 1923 atrás das câmeras – ele primeiro foi ator em 1919 após ser descoberto por Douglas Fairbanks – Wellman fez sucesso com filmes mudos e falados, e em gêneros muito distintos. Para citar alguns de seus excelentes filmes: o filme de guerra “Asas” (1927, primeiro ganhador do Oscar de Melhor Filme), o de gângster “Inimigo Público” (1931), o de romance “Nasce uma Estrela” (1937), a screwball comedy "Nada é Sagrado" (1937), o faroeste único “Consciências Mortas” (1942) e o filme de desastre de aviação “Um Fio de Esperança” (1954).

William A. Wellman is one of my favorite underrated directors. Working steadily since 1923 behind the cameras – he first had an acting gig in 1919 after being discovered by Douglas Fairbanks – Wellman excelled in silents and talkies, and in very different genres. To name a few of his great movies: war movie “Wings” (1927, first Best Picture Oscar winner), gangster flick “The Public Enemy” (1931), the romantic “A Star is Born” (1927), screwball comedy “Nothing Sacred” (1937), unique western “The Ox-Bow Incident” (1942) and the plane disaster movie “The High and the Mighty” (1954).


Você sabe o que mais torna William A. Wellman tão interessante? Ele nasceu no dia 29 de fevereiro. Isso é bem raro – a chance de nascer no dia 29 de fevereiro é de 1 em 1416, ou 0,068% - mas não TÃO raro – a chance de ser atingido por um raio é de 1 em 3000. Entretanto, alguns matemáticos contestam esse número, e baixam a chance de nascer em 29 de fevereiro para 0,00066%!

Do you know what else makes William A. Wellman so interesting? He was born on Leap Day, February 29th. This is pretty rare – the odds of being born on Leap Day are 1 in 1,416, or .068 per cent – but not THAT rare – the odds of being struck by lightning are 1 in 3,000. However, some mathematicians challenge this number, and put the odds of being born on Leap Day down to .00066%!


William A. Wellman – o A é de Augustus – voltaria ao tema de pessoas pobres pegando trens clandestinamente em “Idade Perigosa”, de 1933. Desta vez, Wellman contou a história de adolescentes que eram ou órfãos ou vinham de famílias empobrecidas pela Grande Depressão. Estes adolescentes, em sua maioria meninos mas também meninas vestidas de meninos, pegavam carona nos trens para chegar à cidade mais próxima e procurar vagas de emprego que, obviamente, não existiam. “Idade Perigosa” é um drama da Grande Depressão pouco comentado, mas muito eficaz.

William A. Wellman – the “A” stands for Augustus – would come back to the theme of poor people catching freight trains in 1933’s “Wild Boys of the Road”. This time, Wellman told the story of poor teens who were either orphans or came from houses impoverished by the Great Depression. Those teens, mostly boys but also some girls dressed as boys, would catch trains to arrive in the next town and look for jobs that, obviously, weren’t there. “Wild Boys of the Road” is an underrated and gripping Depression drama.


“Mendigos da Vida” é considerado o melhor filme que Louise Brooks fez nos EUA. Não foi, entretanto, uma experiência agradável para ela, que foi ofendida por um dublê – leia a história completa AQUI – e também por Richard Arlen, que disse que ela não sabia atuar. Mais tarde,  Wellman, que foi frio com ela nas gravações de “Mendigos da Vida”, lhe ofereceu um papel em “Inimigo Público”, e ela o recusou. O papel fez de Jean Harlow uma superestrela. Na última vez em que Brooks e Wellman se viram, ele compreendeu a maior verdade sobre ela: ela odiava Hollywood.

“Beggars of Life” is considered to be the best film Louise Brooks made in the US. It wasn’t, however, a pleasant experience for her, who was shamed by a stunt double – read the full story HERE – and was offended by Richard Arlen, who said she couldn’t act. Later, Wellman, who was cold towards her while making “Beggars of Life”, offered her a role in “The Public Enemy”, and she refused it. The role ended up making a superstar of Jean Harlow. The last time Brooks and Wellman met, he understood the biggest truth about her: she hated Hollywood.


Você deve se lembrar de Richard Arlen em “Asas”. Arlen havia feito parte da Aeronáutica do Canadá na Primeira Guerra Mundial, mas nunca chegou a combater. Depois da guerra, ele se tornou mensageiro para um laboratório de filme, levando e trazendo filme em uma motocicleta. Um dia, ele bateu a moto no portão da Paramount. Impressionados com sua beleza, os executivos lhe ofereceram um contrato – e chamaram um médico para cuidar da perna quebrada dele. Quando o cinema falado chegou, Richard trabalhou em filmes B, especialmente de aventura e faroeste, e também na TV. Richard Arlen e William A. Wellman fizeram três filmes juntos.

You might remember Richard Arlen from “Wings”. Arlen had been part of the Canadian Air Corps in WWI, but never saw combat. After the war, he became a motorcycle messenger for a film laboratory. One day, he crashed his motorcycle at the Paramount Studios gate. Impressed with his looks, the executives offered him a contract – and called a doctor for his broken leg, of course. When talkies came, Richard worked in B-movies, mainly adventures and westerns, and also on TV. Richard Arlen and William A. Wellman made three films together.


Vamos falar sobre as falhas de “Mendigos da Vida”. Há uma parte racista com um mendigo negro que é retratado como pouco esperto. O ator que interpreta esse papel, Blue Washington, trabalhava como policial quando não estava atuando, e era amigo de infância de Frank Capra.

Let’s talk about the flaws of “Beggars of Life”. There is a racist bit with a black hobo who is portrayed as not very smart. The actor who plays this part, Blue Washington, worked as a cop when he was not acting, and was a childhood friend of Frank Capra.


Há muitas cartelas de títulos, provavelmente mais do que a média, e isso às vezes prejudica o fluxo do filme, em especial quando todos os mendigos estão debatendo dentro do trem. Oklahoma Red é o mendigo mais verborrágico que eu já vi. “Mendigos da Vida” também foi distribuído com efeitos sonoros e uma sequência que incluía Wallace Beery cantando – Wellman detestou essa adição. Esta sequência hoje está perdida.

There are lots of title cards, probably more than the average, and this sometimes harms the flow of the picture, in special when all beggars are talking inside the train. Oklahoma Red is the most talkative hobo I’ve ever seen. “Beggars of Life” was also released as a film with sound effects and with a sequence that included Wallace Beery singing – Wellman hated this addition. This sequence is now considered lost.


Eu queria ter gostado mais de “Mendigos da Vida”. É um filme com uma bela fotografia – a sequência com os montes de feno poderia ter sido tirada de um filme de Borzage ou de Murnau – e Louise sabia SIM atuar. A redenção de Oklahoma Red foi um pouco forçada, mas o adorável diálogo dentro dos montes de feno, sob as estrelas, mostra quão sensível o bom e velho “Wild Bill” Wellman podia ser.

I wish I had liked “Beggars of Life” more than I did. It was beautifully shot – the haystack sequence could have come from a Borzage or a Murnau movie – and Louise DID know how to act. The redemption ark for Oklahoma Red felt a bit forced, but the lovely dialogue inside the haystack, under the stars, shows how much heart the good old “Wild Bill” Wellman had.


This is my contribution to the Leap Year blogathon, hosted by Rebecca at Taking Up Room. See you in four years!



2 comments:

Caftan Woman said...

Thanks for your thoughts on Wild Bill, and on Beggars of Life.

I attended a screening at Toronto's Silent Revue a few years ago, and one young woman came to the theatre dressed as Louise in the movie. It was the dead of winter, I needed a hat that covered my ears!

Rebecca Deniston said...

This movie looks very interesting. I've heard of Louise Brooks but never seen a movie of hers, and "Beggars of Life" looks like a good place to start. Thanks again for joining the blogathon with this great review, Le, and sorry about the mixup! Have a good one...

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