} Crítica Retrô: Nada é Sagrado / Nothing Sacred (1937)

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Monday, September 7, 2015

Nada é Sagrado / Nothing Sacred (1937)

Em 1927, William A. Wellman dirigiu “Asas”, famoso por ter sido o primeiro ganhador da história do Oscar de Melhor Filme. Dez anos depois, Wellman trabalhava para David O. Selznick, que tinha ambições multicoloridas naquele ano de 1937. Foi o ano em que a parceria Wellman/Selznick rendeu dois filmes: “Nasce uma Estrela / A Star is Born” (meu filme favorito de todos os tempos) e “Nada é Sagrado / Nothing Sacred”. Enquanto o primeiro é um drama, o segundo é uma das melhores screwball comedies de todos os tempos. E, bônus: em glorioso Technicolor!

In 1927, William A. Wellman directed “Wings”, a film famous because it was the frist ever to win the Best Picture award at the Oscars. Ten years later, Wellman worked for David O. Selznick, who had colorful ambitions for the year of 1937. It was the year in which the Wellman/Selznick partnership originated two movies: “A Star is Born” (my favorite film of all time) and “Nothing Sacred”. While the first one is a drama, the later one is one of the best screwball comedies ever made. And with a bonus: it is in glorious Technicolor!
Wally Cook (Fredric March) é um jornalista que não averiguou bem suas fontes e acabou levando um falso sultão a um grande jantar. Como punição, ele passa a trabalhar na sessão de obituários, mas não por muito tempo: Wally sabe fazer boas reportagens, de “interesse humano”, e convence seu chefe a deixá-lo voltar à ativa para cobrir um caso de contaminação por rádio.

Wally Cook (Fredric March) is a journalist who hasn’t checked his sources and took a fake sultan to a dinner party. As a reprimand, he is sent to the obituaries section, but not for long: Wally knows how to identifies good news and top report things of “human interest”, and that’s how he convinces his boss to send him to cover a case of radium contamination.
Apesar da pouca simpatia dos habitantes da pequena cidade de Warsaw, Wally por fim encontra Hazel Flagg (Carole Lombard), a moça que tem pouco tempo de vida por causa da contaminação. Ele a convence a ir para Nova York, mas há segundas intenções: enquanto Hazel quer se divertir, Wally e a equipe do jornal pensam em explorar o drama dela a qualquer custo. Entretanto, a própria Hazel e o médico excêntrico que a acompanha, o doutor Enoch Downer (Charles Winninger), guardam um segredo.

Although he is not met with niceness by the population of the little town of Warsaw, he eventually finds Hazel Flagg (Carole Lombard), the lady who has little time to live because she was contaminated. He convinces her to go to New York, but with second intentions: while Hazel wants to have fun, Wally and the newspaper team want to explore her drama to the most. However, Hazel and the doctor who is travelling with her, doctor Enoch Downer (Charles Winninger), are keeping a secret.
Carole Lombard está, como sempre, ótima. Como Hazel, ela fala rápido, age despretensiosamente e tem expressões faciais impagáveis, melhor ainda captadas em Technicolor. Seu papel havia sido pensado para Janet Gaynor, que contracenara com March em “Nasce uma Estrela / A Star is Born”, obtendo muito sucesso. Apesar do grande talento de Janet, é inegável que não havia melhor escolha que Carole. “Nada é Sagrado / Nothing Sacred” pode não chegar ao nível de maestria de outros filmes da atriz, como “Irene, a Teimosa / My Man Godfrey” (1936), mas está quase lá.

Carole Lombard is great, as always. As Hazel, she is a fast talker who acts carelessly and has amazing facil expressions – that look even better in Technicolor. Her role was intended to be played by Janet Gaynor, who acted alongside Fredric Marc in “A Star is Born” with great success. Even though Janet was talented, we can’t deny that Carole was the best choice. “Nothing Sacred” may not be as good as her other films, like “My Man Godfrey” (1936), but it is in her TOP 5.
Talvez se William Powell interpretasse o jornalista Wally Cook (e eu consigo visualizá-lo perfeitamente no papel) o filme seria ainda melhor. Mas ele não deixa de ser bom, e deve isso a Carole e ao roteirista Ben Hecht. Hecht recebeu das mãos de Val Lewton, então um jovem subordinado de Selznick, um conto de James H. Street e decidiu adaptá-lo para o cinema. Hecht criou um personagem para John Barrymore, seu grande amigo, mas Selznick se recusou a trabalhar com o ator, então nos últimos anos de sua carreira e de sua batalha com o alcoolismo. Hecht abandonou o projeto (embora ainda receba crédito), Selznick fez algumas mudanças no roteiro, os dois fizeram as pazes e trabalharam em mais filmes juntos.

Maybe, if William Powell had played Wally Cook (and I can perfectly envision him in the role), the film would have been even better. But it is a nice movie, thanks to Carole and screenwriter Ben Hecht. Hecht received from Val Lewton, then a Selznick subordinate, a short story written by James H. Street and decided to adapt it to the screen. Hecht wrote the character to John Barrymore, his good friend, but Selznick refused to work with the actor, who was then in the last years of his career and figtning alcoholism. Hecht abandoned the projet (even though he received credit in the movie), Selznick made some changes in the script, the two became friends again and worked togheter in many other films.
É impossível agradar a todos / You can't please them all
Mas precisamos falar sobre o subestimado diretor William A. Wellman. Em minha opinião, Wellman merece um lugar entre os melhores diretores de todos os tempos, junto com Hitchcock, Fellini, Truffaut, Leo McCarey e W.S. Van Dyke. Mas, assim como os dois últimos, Wellman não se tornou um auteur. Wellman não tinha uma marca registrada, não trabalhava com um só gênero ou só um grupo de atores, mas dominava as técnicas de sua arte. Basta uma cena do filme para percebermos isso: quando Wally e Hazel estão andando pelas ruas de Warsaw, eles ficam um longo momento com os rostos encobertos por um tronco de árvore. Como todas as tomadas dos filmes são planejadas, não se trata de um erro, mas sim de um truque de Wellman: filmar uma cena com bom enquadramento é fácil, difícil é filmar uma cena que esconda o rosto dos protagonistas – que estão eles mesmos escondendo suas verdadeiras intenções – de um jeito tão íntimo e revelador.

But we really need to talk about underrated director William A. Wellman. In my opinion, Wellman deserves to be cited among the best directors of all times, next to Hitchcock, Fellini, Truffaut, Leo McCary and W.S. Van Dyke. But, just like the two last ones, Wellman didn’t become an auteur. Wellman didn’t have a registered mark, didn’t work in only one genre or with a small group of actors, but he knew all about the film techniques. In one scene we can realize his status as a master: when Wally and Hazel are walking by the streets of Warsaw, they stay a long while with their faces covered by a tree trunk. Since all the film shots are planned, it is not a mistake, but a trick by Wellman: to shoot a scene with a good framing is easy, but it is difficult to shoot a scene in which the leads’ faces are hidden – because the leads are, themselves, hiding their true intentions – in such an intimate and revealing way.

Em Technicolor, Carole Lombard nunca esteve tão bonita – nem tão frágil. É doloroso pensar que a comédia trata de uma moça destinada a morrer jovem, quando sabemos que o destino de Carole foi a morte em um acidente aéreo em 1942, quando ela tinha apenas 33 anos. Mas esqueçamos por um momento a vida e vamos nos concentrar na arte: porque só Carole Lombard (com uma ajudinha de Wellman, que foi inclusive colocado em uma camisa-de-força em uma brincadeira da atriz) poderia fazer um filme tão delicioso quanto este.

In Technicolor, Carole Lombard never looked so beautiful – or so fragile. It’s painful to think that the comedy is about a woman who is going to die young, when we know that Carole died in a plane crash in 1942, when she was only 33. But let’s forget real life for a moment and pay attention to fiction: because only Carole Lombard (with a little help from William Wellman, who was even put in a straightjacket by Carole in a prank) could make such a delightful film. 
Carole está DESMAIADA / Carole has FAINTED

Nada é Sagrado / Nothing Sacred” (1937) está disponível no YouTube e no Internet Archive. Aproveite!

“Nothing Sacred” (1937) is available on YouTube and Internet Archive. Enjoy!

This is my contribution to the William Wellman Blogathon, hosted by Liz at Now Voyaging.


8 comments:

Pedrita said...

acho que não vi. passava um no telecine cult com o marlon brando, mas perdia sempre. preciso anotar o nome pra gravar. beijos, pedrita

Unknown said...

Sempre que quero ver um filme, que ainda não assisti passo aqui para ver suas dica. Esse filme ainda não assisti mas fiquei curiosa. bjuxxx
Casa Cherry

Caftan Woman said...

"Nothing Sacred" is beautiful in its total cynicism. Wickedly funny. Terrific review of a genuine classic. We find many classics from Bill Wellman.

Unknown said...

This film sounds lovely! It will be interesting to see if any the other Wellman films feature crooked newspaper men or if it is just our films? That would be an interesting recurring motif. I will definitely check this one out! :)
Ciao! Summer
serendipitousanachronisms.wordpress.com | Twitter @kitschmeonce

Silver Screenings said...

You're right – Carole Lombard is perfect in this film. Janet Gaynor would have been good, too, but it's hard to imagine anyone else but Lombard in this role.

I liked what you said about Wellman dominating the techniques of his art. Very true.

Judy said...

Great piece, Le - I agree that Carole Lombard is perfectly cast in this film. And it is good to hear you say that Wellman is one of the best directors. Enjoyed reading this.

Carol Caniato said...

Que atriz linda! Adorei a dica, Lê, como sempre! <3
Beijinhos!

ANTONIO NAHUD said...

Comédia fabulosa. Realmente hilária. Wellman é um grande diretor, como vc bem disse, subestimado. E Carole e Fredric são poderosos!

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