} Crítica Retrô: November 2022

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Friday, November 25, 2022

Lost in Translation: odd classic film titles in Portuguese – film noir edition

 

Noirvember has arrived and with it the urge to watch foggy detective stories or films with iconic femme fatales. That’s why we bring for you today another post in the “Lost in Translation” series. This time, with good news: “Lost in Translation” was nominated for Best Classic Movie Series in the latest Classic Movie Blog Association Awards. We didn’t win, but it’s truly an honor to be nominated. Now, let’s go on with the list – remembering that titles that do not appear here were translated verbatim:

 


“Double Indemnity” (1944) became “Blood Pact” (“Pacto de Sangue”)

 

“Murder, my Sweet” (1944) is here “See You, Darling” (“Até a Vista, Querida”)  

 

“Detour” (1945) is known as “Destiny’s Curve” (“Curva do Destino”)

 

“My Name is Julia Ross” (1945) was called here “Tragical Alibi” (“Trágico Álibi”)

 

“The Big Sleep” (1946) was translated as “On the Verge of the Abism” (“À Beira do Abismo”)

 

“Out of the Past” (1947) is here “Fugue from the Past” (“Fuga do Passado”)

 


“Criss Cross” (1949) received the title “Meanness” (“Baixeza”)

 

“Caught” (1949) is here “Prisoner Heart” (“Coração Prisioneiro”)

 

The historical noir “Reign of Terror”(also known as “The Black Book”, 1949) was called here “The Shadow of the Guillotine” (“A Sombra da Guilhotina”)

 

“The Asphalt Jungle” (1950) is known as “The Secret of the Jewels” (“O Segredo das Joias”)

 


“In a Lonely Place” (1950) was translated as “In the Silence of the Night” (“No Silêncio da Noite”)

 

“Sunset Boulevard” (1950) became “Dawn of the Gods” (“Crepúsculo dos Deuses”)

 

“The Big Heat” (1953) received the title “The Corrupts” (“Os Corruptos”)

 

“Kiss Me Deadly” (1955) is here “Death in a Kiss” (“A Morten um Beijo”)

 

“The Big Combo” (1955) received the title “Crime Empire” (“Império do Crime”)

 

Stanley Kubrick’s “The Killing” (1956) is here “The Great Coup” (“O Grande Golpe”)

 


“Sweet Smell of Success” (1957) is known as “The Inebriation of Success” (“A Embriaguez do Sucesso”)

 

“Touch of Evil” (1958) is here “The Mark of Wickdness” (“A Marca da Maldade”)

Saturday, November 19, 2022

Phil-for-Short (1919) e outros adolescentes do cinema mudo

 

Phil-for-Short (1919) and other silent film teenagers

Era uma vez uma garota chamada Damophilia – ou Phil, seu apelido. Ela foi batizada em homenagem a um poema de Safo, uma vez que seu pai era um grande conhecedor de cultura e literatura gregas. Phil era uma garota muito ativa, trabalhando na fazenda usando roupas de menino, sem se preocupar com a opinião dos outros. Quando seu amado pai falece, o mundo de Phil vira de cabeça para baixo. Uma garota no final da adolescência, Phil é interpretada, no filme de 1919, por uma atriz de 31 anos, Evelyn Greeley – e essa está longe de ser a única personagem adolescente interpretada por adultos na era o cinema mudo.

Once upon a time, there was a girl named Damophilia – or Phil, for short. She was named after a poem by Sappho because her father was a connoisseur of the Greek culture and literature. Phil was a very active girl, working on the farm wearing boy’s clothes and not caring for other people’s opinions. When her devoted father passes away, Phil’s word goes upside down. A girl in the late teens, Phil is played, in the 1919 movie, by a 31-year-old actress, Evelyn Greeley – and this was not the only teen character to be played by an adult in the silent movie era.

Antes de explorar “Phil-for-Short” e outros adolescentes do cinema mudo, precisamos sabem quem exatamente pode ser chamado de adolescente. A Organização Mundial da Saúde diz que a adolescência vai dos 10 aos 19 anos. Na maioria das sociedades, a adolescência é um período ambíguo entre a infância e a idade adulta, com os adolescentes navegando mares de mudanças e aprendendo com as experiências. Mas não foi sempre assim: podemos até mesmo dizer que “adolescente” e “adolescência” foram invenções do século passado.

Before we dig into “Phil-for-Short” and other silent screen teens, we need to know who exactly can be called a teenager. The World Health Organization says that adolescence happens between ages 10 and 19. In most societies, adolescence is an ambiguous period between childhood and the adult age, with teens navigating lots of changes and learning along the process. But it wasn’t always like that: we can even say that “teenager” and “adolescence” were invented in the last century.

De acordo com um artigo do Saturday Evening Post, a palavra “adolescente” existia desde o começo do século XX, mas raramente era usada. Cinquenta anos antes, pessoas jovens, e até mesmo crianças, eram empregadas em fábricas, algo que foi depois considerado inapropriado e a educação se tornou obrigatória. Escolas de ensino médio apareceram e se desenvolveram como um lugar em que adolescentes poderiam se organizar e, até certo ponto, viver sem muita supervisão dos adultos. Dito isto, podemos afirmar que “juventude” é um termo melhor para descrever uma categoria que englobava adolescentes e jovens na era do cinema mudo. Agora vejamos como a juventude era retratada nas telas.

According to an article from the Saturday Evening Post, the world “teen-ager” existed since the beginning of the 20th century, but it was hardly ever used. Fifty years before, young people, and even children, were sent to work in factories, something that was later deemed inappropriate and education became mandatory. High schools appeared and developed as a place where teenagers could organize and, to an extent, live without much adult supervision. That being said, we can affirm that “youth” is a better term to describe a category that encompassed teenagers and young adults in the silent film era. Now let’s see how “youth” was portrayed on screen.

Em filmes como “American Aristocracy” (1916), jovens eram o foco, mas eram jovens adultos e não adolescentes. Neste filme em particular, como ele fez antes e faria depois, Douglas Fairbanks – com 33 anos quando o filme foi lançado – interpreta um jovem que é o modelo da aristocracia norte-americana: ousado, vistoso e bonito. Seu carro é um objeto importante na história, assim como os carros foram importantes para os adolescentes ganharem independência.

In films like “American Aristocracy” (1916), young people were the focus, but these were young adults and not teens. In this particular movie, as he did before and would do after, Douglas Fairbanks – 33 when the movie was released – plays a young fellow who is the role model of American aristocracy: bold, dashing and handsome. His car is an important asset in the story, as cars were important to give young people independence.

Agora que mencionamos Fairbanks, precisamos também mencionar Mary Pickford, a atriz mais popular da década de 1910. Quando adolescente, antes de entrar na indústria do cinema, Mary Pickford era uma atriz de teatro na Broadway. No cinema, Mary teve muito sucesso interpretando crianças perspicazes – mesmo tendo vinte e tantos anos na época – mas ela também interpretou adolescentes ousadas em filmes como “The Little American” e “A Romance of the Redwoods”, ambos de 1917.

Now that we mentioned Fairbanks, we must also mention Mary Pickford, the most popular female film star of the 1910s. As a teenager, before she entered the movie business, Mary Pickford was a stage actress appearing on Broadway. On film, Mary had a lot of success playing resourceful kids – despite being in her late 20s at the time – but she also played bold teens in movies such as “The Little American” and “A Romance of the Redwoods”, both from 1917.

Depois de falar de Mary, podemos voltar a “Phil-for-Short” e falar da protagonista Evelyn Greeley. O nome pode não significar nada para você, mas Greeley foi uma atriz de sucesso na era muda. Nascida na Áustria em 1888, ela migrou para Chicago com a família aos nove anos e, em 1914, aos 26, entrou para o cinema com pequenos papéis para os estúdios Essanay. Entre 1915 e 1922, ela fez 30 filmes, muitos deles para a World Film Corporation, incluindo “Phil-for-Short”.

After talking about Mary, we can go back to “Phil-for-Short” and talk about the lead Evelyn Greeley. The name may not mean anything to you, but Greeley was a prominent silent film actress. Born in Austria in 1888, she migrated in Chicago with her family when she was nine and in 1914, aged 26, entered the movie business working in small roles for Essanay. From 1915 to 1922, she appeared in 30 films, many of them for the World Film Corporation, including “Phil-for-Short”.

Depois que o pai de Damophilia morre em “Phil-for-Short”, todas as pessoas resolvem dar palpite na vida da garota: ela precisa parar de ser tão moleca e deve se casar! Infeliz com sua nova vida, Phil foge e, vestida de homem, decide fingir ser professora assistente para fazer com que um professor universitário, conhecido misógino que sabe tudo sobre a Grécia, mude de ideia em relação às mulheres. O que acontece a seguir é bem previsível.

After Damophilia’s father dies in “Phil-for-Short”, people everywhere believe they have a say in the girl’s life: she must stop being such a tomboy and she must marry! Unhappy with her new life, Phil runs away and, fully dressed as a boy, decides to pose as an assistant professor in order to make a college professor, a well-known misogynist who knows all about Greece, change his mind about women. What happens next is pretty predictable.

Não havia uma categoria de “cinema adolescente” na era do cinema mudo. Havia ou estrelas mirins – como Jackie Coogan, Baby Peggy e, até certo ponto, Mary Pickford – ou estrelas que agradavam aos jovens – como Fairbanks no começo de sua carreira. Com exemplos como “Phil-for-Short”, podemos dizer que definitivamente havia filmes sendo feitos com foco no público jovem – um público que moldou o cinema e cresceu com a nova arte.

There wasn’t a “teenager movie” category in the silent movie era. There were either child stars – such as Jackie Coogan, Baby Peggy and, to an extent, Mary Pickford – or stars who appealed to the young folks – such as Fairbanks in the beginning of his career. With examples such as “Phil-for-Short”, we can say that there were definitely movies made targeting the young audience – an audience that shaped cinema as it grew with the new art.

 

This is my contribution to the Fake Teenager Festivus, hosted by Rebecca at Taking Up Room.


Wednesday, November 9, 2022

Sombras do Mal (1950) / Night and the City (1950)

 

Você conhece Jules Dassin? O nome pode não fazer sentido num primeiro momento, mas ele merece ser conhecido. O ator / roteirista / diretor trabalhou em diversos gêneros, nos EUA em que nasceu e no estrangeiro, e até se beneficiou por ter sido posto na lista negra. Como Dassin foi acusado de ser comunista, teve de se mudar de Hollywood para a Europa, onde ele dirigiu filmes como “Rififi” (1955) e o adorável “Nunca aos Domingos” (1960). Mas no meio de seu processo na Casa de Atividades AntiAmericanas, ele fez outra obra-prima: o complexo e tenso noir “Sombras do Mal”.

Do you know Jules Dassin? The name might not ring a bell at first, but it should. The actor / writer / director worked in several genres, in his native US and abroad, and even benefited from being blacklisted. As Dassin was accused of being a communist, he moved from Hollywood to Europe, where he directed great movies such as “Rififi” (1955) and the lovely “Never on Sundays” (1960). But in the middle of being blacklisted, he made another masterpiece: the complex and tense noir “Night and the City”.


O narrador dá o tom: a noite é qualquer noite, a cidade é Londres. Numa noite qualquer em Londres encontramos Harry Fabian (Richard Widmark) correndo de um “velho conhecido”? Ele chega até o apartamento de sua namorada e, uma vez lá dentro, tenta vender seu mais novo esquema para Mary (Gene Tierney): Uma pílula que serve como combustível. Harry quer ser alguém na vida, enquanto Mary quer estar com alguém - com Harry, não com o vizinho que gosta dela, Adam (Hugh Marlowe).

The narrator sets the tone: the night is any given night, the city is London. At any given night in London we find Harry Fabian (Richard Widmark) running from an “old acquaintance”. He reaches his girlfriend’s apartment and, once inside, tries to sell his latest scheme to Mary (Gene Tierney): a pill that works as fuel. Harry wants to be someone in life, while Mary only wants to be with someone - with Harry, not with the neighbor who likes her, Adam (Hugh Marlowe).


Oficialmente, Harry e Mary trabalham num clube noturno que pertence a Phil (Francis L. Sullivan) e Helen (Googie Withers). Um dia, Harry tem uma ideia brilhante envolvendo lutas e o lutador grego Gregorius (Stanislaus Zbyszko, lutador na vida real) e seu pupilo Nikolas (Ken Richmond). Ao tentar controlar o ramo de lutas em toda a Londres, Harry atrairá chantagistas e assassinos.

Officially, Harry and Mary work at a nightclub that belongs to Phil (Francis L. Sullivan) and Helen (Googie Withers). One day, Harry has a brilliant idea that involves wrestling and the Greek wrestler Gregorius (Stanislaus Zbyszko, a real-life wrestler) and his pupil Nikolas (Ken Richmond). Wanting to control the wrestling scene in all of London, Harry will attract blackmailers and killers.


Os elementos formulaicos do filme noir estão presentes: as claramente visíveis fontes de luz, as muitas sombras criadas por essas luzes, a fotografia em preto e branco que realça essas sombras, a narração em voice over usada aqui só no início, escadas e ângulos de câmera ousados. Há até uma sequência muito interessante, apesar de breve, na qual entramos num carro com um personagem e compartilhamos do ponto de vista do passageiro do carro. Não há flashback e, principalmente, não há femme fatale. Gene Tierney havia interpretado uma fantástica femme fatale no noir em cores “Amar foi a Minha Ruína” (1945), mas aqui ela é a mulher sofredora que tem pouco tempo em cena.

The formulaic elements of film noir are there: the clearly visible sources of lights, the many shadows created by these lights, the black and white photography that enhances these shadows, the voice over narration used here only in the beginning, stairs and bold camera angles. There is even a very interesting, yet brief, sequence in which we enter a car with a character and share the viewpoint of a passenger in the car. There is no flashback and, mainly, there is no femme fatale. Gene Tierney had played a fantastic femme fatale in the colorful noir “Leave Her to Heaven” (1945), but here she is the suffering femme who has little screen time.


Uma perseguição muito importante acontece através de Londres até que Harry chega num terreno de obras. Isso me fez lembrar de dois outros filmes noir com perseguições em terrenos de obras: “Força do Mal” (1948) e o noir brasileiro posterior “Na Senda do Crime” (1954). Não há dúvidas de que um dublê foi usado em “Sombras do Mal”, e aqui precisamos dar o devido valor aos dublês que são uma parte fundamental da história do cinema desde o início. Mesmo assim, Richard Widmark teve de correr em várias sequências, algo que, segundo o IMDb, fez com que ele perdesse bastante peso.

A very important persecution happens throughout London until Harry arrives in a construction site. This reminds me of two other noirs with persecutions in construction sites: “Force of Evil” (1948) and the posterior Brazilian noir “Na Senda do Crime” (1954). There is no doubt that a body double was used in “Night and the City” and here we need to give the proper kudos to stunt men who have been a fundamental part of film history since its dawn. Nevertheless, Richard Widmark had to run in several sequences, something that, according to IMDb, made him lose a lot of weight.


Há uma breve sequência na qual Mary canta no clube. Não é Gene Tierney cantando: a voz dela foi dublada pela atriz Maudie Edwards, que já havia dublado outras estrelas de cinema como Diana Dors e Margaret Lockwood. Maudie começou a carreira no teatro aos quatro anos de idade, e fez diversos personagens masculinos na juventude. Sua carreira cinematográfica durou de 1936 a 1972.

There is a brief sequence in which Mary sings in the nightclub. It isn’t Gene Tierney singing: her voice was dubbed by actress Maudie Edwards, who had already dubbed other film stars such as Diana Dors and Margaret Lockwood. Maudie had first appeared on stage at four, and played many male roles in the theater while young.
Her film career lasted from 1936 to 1972.


Kristo é o filho de Gregorius e quem controla o ramo da luta quando Harry chega. Ele é interpretado por Herbert Lom e é bem curioso ver Lom como principal vilão de um filme. Você deve reconhecer o nome e o rosto dos filmes da Pantera Cor de Rosa: Lom interpretou o Inspetor Dreyfus em sete filmes com Peter Sellers como o detetive Clouseau. Nascido no que era na época o Império Austro-Húngaro - na atual República Tcheca -, a carreira de Lom no cinema britânico durou mais de 60 anos, nos quais interpretou também personagens sérios e trágicos, como o Fantasma da Obra numa versão da história em 1962.

Kristo is Gregorius’ son and the controller of the wrestling scene when Harry arrives. He’s played by Herbert Lom and it’s quite curious to see Lom as the main villain in a movie. You may recognize his name and his face from the Pink Panther movies: Lom played Inspector Dreyfus to Peter Sellers’ Clouseau in seven movies. Born in what was then Austria-Hungary - now Czech Republic -, Lon’s career in the British cinema lasted more than sixty years, playing also serious and tragic roles, like the Phantom of the Opera in a 1962 version of the story.


“Sombras do Mal” é baseado em um romance de Gerald Kersh. Jules Dassin confessou que só leu o livro depois de fazer o filme, por isso Harry é bem mais simpático no filme do que no livro. A adaptação para as telas foi feita pelo roteirista Jo Eisinger, que já fazia parte da história do filme noir porque foi roteirista de “Gilda” (1946), outro noir com uma história complexa.

“Night and the City” was based on a novel by Gerald Kersh. Jules Dassin confessed that he only read the novel after making the movie, that’s why Harry is a much more sympathetic character in the movie than he is in the book. The adaptation for the screen was made by Jo Eisinger, who was already in the film noir history because he was the screenwriter for “Gilda” (1946), another noir with a complex story.


“Sombras do Mal” não foi bem recebido pelos críticos quando estreou. Entretanto, como comumente acontece na história do cinema, mais tarde o filme foi revisitado por estudiosos e pelo público e reavaliado. Hoje um dos mais elogiados filmes noir dos anos 50, “Sombras do Mal” e sua galeria de personagens trágicos tem o lugar que merece no panteão do noir.

“Night and the City” wasn’t well-received by critics when it premiered. However, as it often happens in film history, later the movie was revisited by scholars and the public and reevaluated. Now one of the most complimented noirs of the 1950s, “Night and the City” and its gallery of tragic characters has the place it deserves in the noir pantheon.


This is a contribution to the Movies are Murder blogathon, hosted by the Classic Movie Blog Association.


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