} Crítica Retrô: Cinecittà: Hollywood vai a Roma

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Friday, June 7, 2013

Cinecittà: Hollywood vai a Roma

Se houve outra fábrica de sonhos que em algum momento rivalizou com Hollywood, esta foi a Cinecittà. Na década de 1950, em especial, ela foi inclusive o destino preferido dos mestres americanos para filmar produções que marcaram a história, ou seja, ela foi até preferida em relação aos estúdios dos Estados Unidos e sua infraestrutura privilegiada. Obviamente, os custos mais baixos para se filmar na Itália foram os grandes atrativos de um lugar que tem muitas histórias, reais ou fictícias, para contar.
A Cinecittà surgiu de uma tragédia, um incêndio que em 1935 destruiu boa parte dos amiores estúdios da Itália. Em 1937, ditador fascista Benito Mussolini fez da Cinecittà parte de um plano presente em quase todos os governos totalitários: o investimento pesado em propaganda. Nada na Itália se compara aos filmes propagandistas rodados por Eisenstein na Rússia ou por Leni Riefenstahl na Alemanha (não que os filmes de ambos estejam no mesmo patamar). O arquiteto Freddi usou as influências mais modernas da época para criar um estúdio que, em seus primeiros anos, pouco funcionou e logo foi vítima da guerra. A Cinecittà foi tomada pelos alemães em 1943, com as filmagens mudando-se para Veneza, e os estúdios foram bombardeados pelos Aliados.
Um dos melhores retratos dessa época é o documentário italiano de 2009 “Hollywood às margens do Tibre” (“Hollywood sul Tevere” no original). Essa excelente produção foca as fontes italianas, em especial as reportagens com astros e estrelas que chegavam a Roma para trabalhar ou mesmo passar férias. Assim, o ponto alto do documentário é a cobertura do casamento de Tyrone Power com Linda Christian, que aconteceu na Itália em 1949 e mobilizou grande parte da elite cinematográfica. Outros astros que passaram pela Itália sem necessariamente trabalhar na Cinecittà foram Charles Chaplin e Greta Garbo, e o documentário apresenta imagens raras desses dois ícones em solo italiano.
Sem dúvida a Cinecittà está mais intimamente ligada aos épicos e a Federico Fellini. “Quo Vadis?” (1951), em que Sophia Loren atuou como figurante, Ben-Hur” (1959), “El Cid” (1961) e "São Francisco de Assis" (1961) foram todos filmados no complexo de estúdios, com a presença de milhares de extras, toneladas em figurinos e cenários e outros exageros. Aliás, enquanto “Ben-Hur” era filmado na parte principal do estúdio, Fellini usava os fundos da Cinecittà para rodar sua obra-prima “Oito e Meio” (1960). Em um dos últimos filmes de Federico, “Entrevista / Intervista” (1987) podemos ver bem o funcionamento do local conforme um grupo de jornalistas atravessa os estúdios para conversar com o grande diretor. Em outro de seus filmes, “E la nave va” (1983), Felini já apresenta, na cena final, um pouco dos truques mecânicos da Cinecittà. Hoje, aliás, há uma parte dos velhos estúdios dedicados à memória do mestre, com vários de seus pertences, além de muitos figurinos de seus filmes estarem em exibição no museu do estúdio.  
Outro grande sucesso filmado na Cinecittà foi “A princesa e o plebeu / Roman Holiday” (1953), que marcou o início do amor de Audrey Hepburn pela capital italiana. Audrey visitou várias vezes a cidade, fosse com seu primeiro marido, Mel Ferrer, com quem contracenou em “Guera e Paz” (1956), rodado na Cinecittà, ou com seu segundo marido, o psiquiatra (italiano) Andrea Dotti. Várias fotos da linda moça na capital italiana, dentro e fora da Cinecittà, aparecem no livro recém-lançado, “Audrey in Rome”.
Os sets magníficos e enormes construídos na Cinecittà podem ser bem observados em “Era uma vez no Oeste” (1968) e “Lawrence da Arábia” (1962), mesmo sendo várias cenas do último filmadas em locação na Espanha. Sergio Leone, aliás, rodou várias de seus westerns nos estúdios. A decadência da Cinecittà como paraíso americano começou com as várias confusões da multimilionária produção “Cleópatra” (1963), que, curiosamente, começou a ser filmada no inverno de Londres, mas uma pneumonia de Elizabeth Taylor obrigou a mudança de ares para Roma. Um figurante distribuindo sorvete para seus amigos na cena da triunfal apresentação de Cleópatra não apenas enfureceu o diretor Joseph L. Mankiewicz, mas mostrou como a Cinecittà começaria a ficar diferente, mais cara e menos atraente para os americanos.
Por várias vezes a Cinecittà esteve à beira da falência, afundada em dívidas. Hollywood voltou a olhar com mais carinho para ela nos últimos tempos,  com trabalhos lá filmado como "Gangues de Nova York" (2002) e o seriado "Roma". Scorsese, um cineasta cinéfilo, se mostrou muito satisfeito em filmar em um local com tanta história, onde foram rodados 48 ganhadores do Oscar. "A condessa descalça" (1954), "A pantera cor-de-rosa" (1963), "O poderoso chefão / The godfather" (1972) e "O último imperador" (1987) têm todos algo em comum: foram feitos na fábrica de sonhos italiana.
This is my first contribution to the Italian Film Culture Blogathon, hosted by the Nitrate Diva. Arrivederci!

8 comments:

Pedrita said...

realmente muitos filmes incríveis, ben hur, lawrence da arábia, cleópatra. recentemente eu vi giulietta dos espíritos do fellini. incrível. beijos, pedrita

Wendell Marcel said...

Muito bom o texto, rememorar essas histórias tanto esquecidas pelos cinéfilos e por boa parte dos escritores atuais.

Abraços

http://eaicinefilocadevoce.blogspot.com.br/2013/05/critica-laranja-mecanica-1971.html

FlickChick said...

Fabulous, Le. I had no idea so many fantastic films were made there - thank you for the great post. Now, if i could only go back in time and be with Audrey when they were filming "Roman Holiday.:

Iza said...

Cinecittà é um lugar mágico, né? Acho que a Itália deve ser um lugar fabuloso, cheio de história, arte, ai, adoro, ainda mais o litoral, sabe? Como não falar de cinecittà sem pronunciar o nome de Audrey Hepburn? Ela amava Roma. Falando em Itália, no final de semana, assisti A Vida é Bela, do Roberto Beligni. Amei demais o filme, muito bom e dramático ao mesmo tempo. Fiquei com uma baita vontade de aprender italiano... é um lingua linda né? E essencial pra quem curte as artes - seja cinema, moda ou artes plásticas.
Beijos <3

Rubi said...

Gosto bastante do cinema italiano, e desconhecia alguns fatos aqui citados. A Itália em si já é um lugar mágico, e durante muito tempo eu pensei em estudar cinema por lá. Bom, sinceramente, meus planos não mudaram HAHAHAHA

Excelente texto Lê!
Parabéns!

Unknown said...

Muitos filmes incríveis foram gravados lá.
Adorei o texto, com muitas informações para os amantes de cinema.

Carissa

Tsu said...

Olá Lê!
Caramba, que legal! Não sabia de nada disso...esse texto me revelou muita coisa.
Eu também não deixo meu blog pelo facebook jamais! Mantenho o face mais para ter contato com os amigos e amigas. Agora o blog é um espaço pra divulgar as coisas que escrevo e gosto, de forma um pouco mais profissional, de certa forma.
bjs

Jefferson C. Vendrame said...

Lê, Parabéns pela "AULA DE CINEMA". Foi muito bom conhecer mais a história e as curiosidades da Cinecittá. Eu não sabia que O PODEROSO CHEFÃO havia sido feito lá, nem mesmo esses filmes mais atuais, como GANGUES DE NOVA YORK.

Parabéns pelo ótimo post, como sempre.

Abração!!!

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