} Crítica Retrô: A Dama de Xangai (1947) / The Lady from Shanghai (1947)

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Wednesday, June 24, 2015

A Dama de Xangai (1947) / The Lady from Shanghai (1947)

Era a noite de Natal de 2009. A única fonte de luz na sala escura era a tela da televisão. Foi então que eu vi um filme que me marcou profundamente, cujos diálogos e imagens continuam vivos, perfeitos, em minha mente, mesmo eu nunca mais tendo visto o filme novamente. Que obra me causou tamanha impressão? Aquela que considero a obra-prima de Orson Welles, o cineasta que foi de menino prodígio a maldito em uma só encarnação: “A Dama de Xangai”, de 1947.

It was Christmas night, 2009. The only source of light in the dark room was the TV screen. It was then that I watched a film that touched me deeply, whose dialogues and images remain alive, perfect, in my mind, even though I never rewatched it. Which movie caused this to me? The one I consider to be Orson Welles’ masterpiece - Welles, the filmmaker who went from prodigious child to maudit in a single incarnation - : “The Lady from Shanghai”, from 1947.

Em um podcast presente no curso “Investigating Film Noir”, o professor Richard L. Edwards e seu convidado chamam 1947 de “o ano do suicídio no cinema”. Não, nenhum artista / diretor se matou naquele ano, felizmente. O argumento é que o ano já começou com um personagem inesquecível que imagina como seria o mundo sem ele em “A Felicidade não se Compra”, e os cadáveres se amontoam em outras tantas produções do ano – em especial em filmes noir como “A Dama de Xangai”.

In a podcast that was parto f the online course “Investigating Film Noir”, professor Richard Edwards and his guest call 1947 “the year of suicide at the movies”. No, no artist / director committed suicide that year, thankfully. The explanation is that the year already started with an unforgettable character imagining how the world without him would be in “It’s a Wonderful Life”, and the corpses keep appearing in other movies released that year - especially in noirs like “The Lady from Shanghai”.

Além de dirigir, roteirizar e produzir o filme, Orson Welles interpreta o protagonista Michael O'Hara. Ele é um irlandês à procura de emprego que acaba contratado pelo advogado manco Arthur Bannister (Everett Sloane), após Michael salvar a jovem esposa de Arthur, Elsa (Rita Hayworth), de um assalto. A partir daí, uma trama de assassinato e luxúria se desenrola.

Besides directing, producing and writing the screenplay, Orson Welles plays the lead Michael O’Hara. He is an Irishman looking for a job who ends up being hired by the lawyer with a limp Arthur Bannister (Everett Sloane), after Michael saves Arthur’s young wife Elsa (Rita Hayworth) from a robbery. From then on, a plot full of lust and murder starts.

Uma das minhas cenas favoritas no filme cita o Brasil, e eu fiquei em êxtase quando isso aconteceu. É raro uma citação séria e profunda sobre este país tropical e caliente, mas encontramos isso no filme graças a um episódio interessante da história: em 1942, Orson Welles passou um tempo no Brasil filmando um documentário, “It's All True”, que nunca ficou pronto. Ele esteve em Fortaleza, e de lá tirou uma anedota perfeita para “A Dama de Xangai”. A anedota gira em torno de dezenas de tubarões que enlouquecem e começam a comer uns aos outros. Fascinante e premonitório.

One of my favorite scenes in the film mentions Brazil, and I was ecstactic when I saw it. It’s rare to see Brazil mentioned in a serious and deep way, but we find it in this movie thanks to an interesting episode in flm history: in 1942, Orson Welles spent some time in Brazil shooting a documentary, “It’s All True”, that was never finished. He went to Fortaleza, where he got a perfect story for “The Lady from Shanghai”. The story is about dozens of sharks that go mad and start eating each other. Fascinating and prescient.

Outra cena inesquecível envolve Arthur Bannister em um julgamento... usando ele mesmo como testemunha. Aqui não importam os argumentos, as perguntas, os diálogos: a cena existe apenas para mostrar a confusão deliciosa da justiça no mundo do filme noir (e, por que não?, no mundo real também) e é a situação ridícula ao extremo (sequer o juiz parecia interessado no caso).

Another unforgettable scene involves Arthur Bannister in a trial… calling himself as a witness. Here there is no importance given to the arguments, the questions, the dialogues: the scene exists simply to show the delicious mess that is justice in the world of film noir (and why not? In the real world as well) and it is ridiculous to the extreme (even the judge seemed nor interested in the case).

Mas a cena mais memorável ainda é a do clímax, que acontece em uma sala de espelhos em um circo itinerante. A fotografia da sequência é de tirar o fôlego, e em muitos momentos chama mais atenção que a própria ação. Os personagens se confundem e se multiplicam na sala de espelhos, formando um quebra-cabeça tão fascinante quanto a trama do filme (Welles se inspirou em “O Gabinete do Doutor Caligari”, 1920, para criar o cenário, e contou com ajuda do especialista em efeitos especiais Lawrence W. Butler, que trabalhou em “O Ladrão de Bagdá”, de 1940). O que estraga um pouco a cena (e eu só percebi após rever a cena múltiplas vezes) é a trilha sonora assustadora e pesada que começa quando tiros são disparados. A sequência teria ficado melhor sem música, apenas com o som dos tiros, e Orson Welles concordava com isso: o ator / diretor ficou furioso com a trilha sonora escolhida para a cena!

But the most memorable scene is the climax, in a fun house from a travelling show. The photography in the sequence is breathtaking and in many moments it calls more attention than the action itself. The characters multiply in the mirror room, creating a puzzle as fascinating as the plot of the film (Welles was inspired by “The Cabinet of Dr Caligari”, 1920, to create the set, and was helped by the special effects expert Lawrence W. Butler, who worked in “The Thief of Bagdad”, from 1940). What ruins the scene a little (and I only realized it after multiple viewings of the scene) is the heavy and scary soundtrack that begins the moment the first guns are shot. The sequence would have been better without music, only with the sound of the gunshots, and Orson Welles agreed with thay: the actor / director got mad at the soundtrack chosen for the scene!

A Dama de Xangai” é um filme de Orson Welles. Isso significa que a filmagem foi conturbada (com direito a alugar o iate de um sempre bêbado Errol Flynn no México), o filme ficou longo demais (155 minutos no corte de Welles), o estúdio fez muitas alterações na sala de edição e as plateias americanas não gostaram muito do resultado, enquanto os europeus adoraram. Mas, sendo um filme de Welles, pode esperar que, ainda mutilado, tenha indícios de obra-prima. Ao final, “A Dama de Xangai” se transformou nisto: uma soma de cenas memoráveis em um filme noir que, apesar de tudo, não deixa de ser brilhante.

The Lady from Shanghai” is a film by Orson Welles. This means that the shooting was complicated (in Mexico they even rented the yacht belonging to a permanently drunk Errol Flynn), the film was too long (155 minutes in Welles’ cut), the studio made many changes at the editing room and the American audience didn’t like it very much, while the Europeans loved it. But, being a film by Welles, you can always expect that, even mutilated, it contains traces of a masterpiece. In the end, “The Lady from Shanghai” became this: a sum of memorable scenes in a film noir that, despite it all, can be considered brilliant.


This is my contribution to the “…And Scene!” Blogathon, hosted by Sister Celluloid! And Cut!

8 comments:

Pedrita said...

acho que vi. beijos, pedrita

Hugo said...

É um bom filme, mas considero que criou muito fama por causa dos bastidores.

A melhor cena é o tiroteio final na casa dos espelhos.

Bjos,

Caftan Woman said...

The fun house scene is truly unforgettable, and the film is one that stays with you as well. When Welles tells a story, he uses all his tricks.

carygrantwonteatyou.com said...

I'd never thought of it before, but I think you're right--without music would have made it even more stunning. Still, it's unforgettable, and each time I see the film (which I have on an old VHS tape), it feels like I'm seeing another aspect of how amazing it is.

Colive said...

I love this movie, it is one of my favourites film noir. Rita hayworth is more beautiful than never in this movie. And as braziliam myself, I adore the reference to Brasil, it was really lovely. And there is the music Na Baixa do Sapateiro (Bahia)
by Ary Barroso on the soundtrack to complete my joy.

Anonymous said...

I re-watched this just this week and it's really grown on me. I'm glad you flagged the trial scene as well as the more obvious finale as I think it's great - I love how the shot of the chess game precedes, suggesting that we are just all pawns in a game. It's one instance where Welles' symbolism actually works. And interesting point about the music - I'll have to watch again to see if I agree!

PS - I nominated you for a Liebster award, you don't have to respond but I just wanted you to know how much I love reading your blog :)
https://girlsdofilm.wordpress.com/2015/07/12/a-liebster-award-id-like-to-thank-the-academy/

Jefferson C. Vendrame said...

Taí um noir aclamado e que ainda não vi. Acho que esse filme é da Columbia né? Lançaram uma ou duas vezes e nunca mais, o dvd no Brasil é raro. Uma pena para aqueles que como eu só assistem filmes ripados ou on line no último caso! Ótimo post Lê! Abraços!

Unknown said...

A cena em Acapulco tem a música "A baixa do sapateiro" de Ary Barroso

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