} Crítica Retrô: December 2015

Tradutor / Translator / Traductor / Übersetzer / Traduttore / Traducteur / 翻訳者 / переводчик

Friday, December 11, 2015

Eles e Elas (1955) / Guys and Dolls (1955)

Com mil dólares, Nathan Detroit (Frank Sinatra) pode resolver todos os seus problemas, que envolvem dívidas, jogos ilegais e um noivado que já dura 14 anos. Ele vê sua grande oportunidade de conseguir o dinheiro na figura de Sky Masterson (Marlon Brando), um homem que adora fazer apostas. Maliciosamente, Nathan induz Sky a uma nova aposta: se Sky conseguir levar a missionária Sarah (Jean Simmons) para um jantar em Havana, Nathan lhe dará mil dólares. Caso contrário, Sky deverá mil dólares a Nathan.

With a thousand dollars, Nathan Detroit (Frank Sinatra) can solve all his problems, including debts, illegal games and an engagement that has been going on for 14 years. He sees his big opportunity to get the money in the figure of Sky Masterson (Marlon Brando), a man who loves to place bets. With malice, Nathan offers a new kind of bet to Sky: if he manages to take missionary Sarah (Jean Simmons) to have dinner in Havana, Nathan will give him a thousand dollars. If he fails, Sky will give the money to Nathan. 

Nathan acredita que Sky tem uma missão impossível pela frente, e portanto a aposta já está ganha. Mas Sky não desistirá com facilidade, apesar de Sarah se mostrar pouco interessada. É a possibilidade de salvar a “alma alcoólatra” de Sky que atrai Sarah: para ela Sky representa apenas negócios missionários. Para Sky, Sarah representa apenas mais uma aposta. Mas por quanto tempo eles se verão desta forma?

Nathan believes that Sky has na impossible mission, and that’s why the money is a sure thing. But Sky won’t give up easily, even though Sarah seems less than interested. It’s the possibility to save Sky’s “alcoholic soul” that attracts Sarah: for her he means only missionary business. For him, she means only another bet. But for how long they will see each other this way?

O nome de Sinatra é apenas o terceiro a aparecer nos créditos, depois de Brando e Simmons. Frank queria o papel principal, de Sky Masterson, e ficou muito chateado com a escolha de Marlon Brando, com quem nunca se deu bem durante as gravações. Contra a popularidade não se podia lutar: Sinatra era uma estrela mas Brando era uma super-estrela. O auge de Sinatra parecia já ter acabado, apesar de seu ressurgimento com “A Um Passo da Eternidade / From Here com Eternity”(1953), que lhe rendeu um Oscar.

Sinatra’s name goes thrid in the credits, after Brando and Simmons. Frank wanted the main role, Sky Materson, and was very upset because Marlon Brando was chosen instead – they didn’t get along during the shooting. Against popularity there is no fighting: Sinatra was a star but Brando was a superstar. Sinatra’s climax seemed to be over, even though he had rosen again with “From Here to Eternity” (1953), that gave him an Oscar.  

Amigos? / Friends?

O papel de Sky era para ser de Gene Kelly, mas a MGM não aceitou “emprestar” o ator-cantor-dançarino para o produtor Samuel Goldwyn. Outros atores considerados para interpretar Sky foram Kirk Douglas, Robert Mitchum, Burt Lancaster, Bing Crosby e Clark Gable (que queria muito o papel, caso a Paramount comprasse os direitos da peça, o que não aconteceu). Robert Alda originou o papel na Broadway, e ganhou um Tony por sua performance.

The role of Sky should have gone to Gene Kelly, but MGM didn’t lend the actor/dancer to Samuel Goldwyn. Other actors considered to play Sky were Kirk Douglas, Robert Mitchum, Burt Lancaster, Bing Crosby and Clark Gable (who wanted the job so much, if Paramount bought the rights for the play, something that didn’t happen). Robert Alda originated the role on Broadway, and won a Tony for his performance.

Para a noiva de Nathan, Adelaide, o diretor Joseph L. Mankiewicz vetou Marilyn Monroe. Goldwyn recusou Betty Grable. Judy Holiday foi cogitada, mas a ideia foi abandonada. A solução foi voltar às origens e chamar a atriz que interpretava Adelaide nos palcos, Vivian Blaine. O papel da missionária Sarah foi recusado por Grace Kelly e Deborah Kerr, e Jean Simmons foi a escolhida.

For Nathan’s fiancée, Adelaide, diretor Joseph L. Mankiewicz vetoed Marilyn Monroe. Goldwyn refused Betty Grable. Judy Holiday was considered, but then refused. The solution was to go back to the stage to invite the actress who played Adelaide on Broadway, Vivian Blaine. The role of missionary Sarah was refused by Grace Kelly and Deborah Kerr, and Jean Simmons was chosen.

As canções não favorecem a voz de Sinatra. Perfeito para as big bands, o cantor de olhos azuis tem músicas pouco memoráveis no filme (a melhor delas é “The Oldest Established Permanent Floating Crap Game in New York”). Enquanto isso, somos obrigados a ouvir Marlon Brando cantando “Luck Be a Lady”, canção que se tornou icônica ao ser regravada por... Frank Sinatra. Compare as duas versões:

The songs weren’t made for Frank Sinatra’s voice. Perfect for the big bands, Blue Eyes has songs in the move that aren’t memorable (the best of them is “The Oldest Established Permanent Crap Game in New York”). Meanwhile, we have to listen to Marlon Brando singing “Lucky Be a Lady”, a song that became iconic when it was recorded by… Frank Sinatra. Compare the two versions:

Eles e Elas” teve sua origem na Broadway, e infelizmente não se adaptou bem ao cinema. A própria sequência de dança inicial funcionaria apenas no palco, e fica esquisita na tela, até por ser coreografada pelo teatral Michael Kidd. A duração do filme também o compromete: duas horas e meia de projeção, com uma história muito simples e previsível a ser contada.

“Guys and Dolls” originated on Broadway, and unfortunately didn’t adapt well to cinema. The initial dance sequence, for instance, would work only on stage, and becomes weird on the screen, maybe because of it choreographed by th theatrical Michael Kidd. The duration of the film also compromises: two and a half hours, with a story that’s too simple and predictable. 


Eles e Elas” lembra muito outro musical longo sobre religião e ilegalidade protagonizado por Frank Sinatra: “Robin Hood de Chicago / Robin and the Seven Hoods” (1964) que, apesar de menos conhecido, é bem melhor que “Eles e Elas”. Agora no papel principal, Frank interpreta Robbo, um gângster envolvido em várias atividades ilegais, incluindo o jogo de dados e a venda de bebidas alcoólicas. Em uma cena divertidíssima, Robbo e sua gangue transformam o cassino/bar em um local de pregação e oração para despistar os policiais, e Bing Crosby canta em seu testemunho sobre os perigos do “Mr Booze”. Sim, Bing Crosby, porque o Rat Pack todo está no filme: Peter Lawford, Sammy Davis Jr e Dean Martin (que, entre nós, seria um Sky Masterson bem mais convincente que Brando).

“Guys and Dolls” reminded me of another long musical about religion and Prohibition with Frank Sinatra: “Robin and the 7 Hoods” (1964), one that may be little known, but it’s better than “Guys and Dolls”. Now as the lead, Frank plays Robbo, a gangster involved in several illegal businesses, like crap games and the selling of booze. In a very amusing scene, Robbo and his gang transform their casino/bar in a place of worshipping, and Bing Crosby sings as his testimonial about the dangers of “Mr Booze”. Yes, Bing Crosby, because the whole Rat Pack is in the movie: Peter Lawford, Sammy Davis Jr and Dean Martin (who, we believe, would make a better Sky Masterson than Marlon Brando).
 
Bem melhor / Much better

Eles e Elas” não chega a ser um filme ruim. É leve, despretensioso, descompromissado, como um sonho. Deve funcionar melhor na tela grande, e melhor ainda nos palcos. Veja “Eles e Elas” sem esperar muito. E depois corra e aprecie “Robin Hood de Chicago”.

“Guys and Dolls” isn’t a bad movie. It’s light, unpretentious, suave, like a dream. It may work better in the big screen, and better yet on stage. See “Guys and Dolls” without high expectations. And then run and enjoy “Robin and the 7 Hoods”. 

This is my contribution to the Sinatra Centennial Blogathon, hosted by Movie Classics and The Vintage Cameo.

Saturday, December 5, 2015

A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday (1953)

Se você gosta de filmes antigos, já deve ter passado por esta situação: na ânsia de compartilhar sua paixão com as pessoas ao seu redor, recebeu como resposta uma careta e a recusa veemente de parar para ver um filme “velho”, em preto e branco. Este preconceito com o cinema clássico é infundado e frustrante, porque quem não dá uma chance para um filme “pré-histórico” está dando as costas para um mundo maravilhoso. Então, como você, evangelizador do cinema clássico, poderia trazer mais adeptos para o modo de vida Old Hollywood? Por onde começar?

Deixe-me contar um segredo: o amor pelo cinema não é genético. Embora meu bisavô tenha sido gerente de cinema, meu avô não perca um filme de John Wayne e minha avó seja fissurada por Bruce Willis e CinemaScope (não nesta ordem), o gene cinéfilo pulou uma geração. Minha mãe é uma pessoa totalmente normal, que não gosta de filmes em preto e branco. Mas ela é uma boa mãe, e por isso foi com um misto de surpresa e alegria que eu reagi quando ela aceitou assistir a “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” comigo. 
A princesa Ann (Audrey Hepburn) está entediada com os muitos compromissos oficiais e burocráticos de sua visita a Roma. Ela quer mesmo é se divertir, e para isso foge no meio da noite, logo encontrando o repórter Joe Bradley (Gregory Peck). A princípio, Joe não a reconhece, até que seu colega fotógrafo Irving (Eddie Albert) mostra uma foto da princesa, e é aí que começa a aventura, e também o dilema moral: Joe deve aproveitar a companhia da princesa disfarçada para conseguir um grande furo de reportagem? 


A princesa Ann se assemelha muito mais à Audrey da vida real do que a mais famosa personagem da atriz, a acompanhante de luxo Holly Golightly de “Bonequinha de Luxo / Breakfast at Tiffany’s”, de 1961. Ann é doce e aventureira, cheia de classe e divertida, bondosa e determinada, delicada e moleca. E é com adjetivos tão diferentes que podemos descrever Audrey Kathleen Ruston, a menina que nasceu na Bélgica, passou fome durante a Segunda Guerra Mundial, virou bailarina e atriz de teatro, brilhou em Hollywood e tornou-se embaixatriz da UNICEF.

 
Há muito mais no filme do que suspeita nossa vã filosofia: encapsulado no roteiro está uma das histórias mais importantes e indignantes de Hollywood: a do roteirista Dalton Trumbo. Em 1947, Trumbo foi acusado de ser comunista e, apesar de continuar contribuindo com bons roteiros para o cinema, não podia ser creditado. Ele então usava pseudônimos ou deixava que algum de seus amigos recebesse crédito pelo seu trabalho. O roteiro de “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” foi assinado por Ian MacLellan Hunter, e recebeu o Oscar de Melhor Roteiro Original (veja no vídeo abaixo). Em 1993, a viúva de Trumbo finalmente recebeu a estatueta que lhe era devida. Dez anos depois o nome de Trumbo foi adicionado aos créditos. E apenas em 2011 o Sindicato dos Roteiristas devolveu o crédito a Trumbo, após um apelo que o filho dele, o também roteirista Christopher Trumbo, fez antes de morrer.

Filmado totalmente em locação, “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” se torna um perfeito roteiro para férias em Roma, com destaque para todos os pontos turísticos importantes. Afinal, quem, depois de ver todas as maravilhas na tela, não quis ir ver pessoalmente os cafés italianos, as escadarias, as fontes e a carranca esculpida na pedra? Até a Via Margutta 51, endereço de Joe Bradley, realmente existe em Roma. Curiosamente, o filme foi feito em preto e branco não apenas para diminuir os custos, mas também para impedir que a bela paisagem italiana chamasse mais atenção que a história em si. Esta foi a primeira produção de Hollywood filmada totalmente em Roma.

Confissão: já imitei esta cena com o canudo
 
Como é possível apreciar um filme em preto e branco? Acredito que o grande trunfo do bom cinema é contar uma história tão boa que você esquece que está vendo um filme em preto e branco – a fotografia “bicromática” se torna apenas um detalhe de algo muito maior e mais significativo. Filme algum deve ter sua qualidade julgada pela presença ou ausência de cores. “Casablanca” e “Cidadão Kane” não seriam melhores se fossem coloridos, e “E o Vento Levou... / Gone With the Wind” não seria pior se fosse filmado em preto e branco.


E quanto à minha mãe, você se perguntam? Ela gostou do filme! Depois da sessão, ela destacou a beleza de Gregory e Audrey (sem contar que as roupas e o penteado da princesa são moderníssimos) e a despretensão do filme. Sem querer passar uma mensagem, o filme conquista o espectador. Sem ter de apelar para vulgaridades ou humor baixo, “A Princesa e o Plebeu / Roman Holiday” dá a quem não está acostumado com os clássicos uma introdução sobre tempos mais simples – quando era possível sair do cinema com um sorriso no rosto e a alma mais leve.

This is my contribution to the “Try It, You'll Like It!” Blogathon, hosted by classic film ambassadors Fritzi at Movies, Silently and Janet at Sister Celluloid. Alert: classic film viewing may cause addiction.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...