} Crítica Retrô: Val Lewton: diretor de uma só cena

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Wednesday, October 31, 2012

Val Lewton: diretor de uma só cena

Quem leva para casa a estatueta dada ao vencedor do Oscar de Melhor Filme é o produtor da película. Apesar de ficar com o prêmio mais importante da Academia, poucos produtores são reconhecidos ou ficam famosos. São eles que investem em um filme que ninguém sabe se será um sucesso e acabam esquecidos pelo público! Um dos mais lembrados produtores é David O. Selznick, responsável por grandes feitos da sétima arte, como “Nasce uma Estrela / A Star is Born” (1937), “E o Vento Levou... / Gone with the Wind” (1939) e a contratação de Alfred Hitchcock por um estúdio de Hollywood.
Outro nome que deveria ser lembrado é Val Lewton, produtor de diversos filmes de terror na década de 1940 feitos com baixo orçamento, mas que hoje são considerados obras-primas. Assim como Selznick, Lewton trabalhou em outras funções antes de produzir filmes. Como diretor foi responsável por apenas uma sequência de um único filme. Mas que sequência!
“A Queda da Bastilha / A Tale of Two Cities” é um filme de 1935 baseado em um livro de Charles Dickens. Conta a história do bondoso e íntegro advogado Sydney Carton (Ronald Colman) que se vê em meio à Revolução Francesa enquanto sofre com uma paixão proibida.
Sem dúvida a parte mais importante é o início a Revolução, que se dá justamente pela tomada da prisão da Bastilha em 14 de julho de 1789. Essa sequência é de uma complexidade incrível, capaz de deixar qualquer espectador boquiaberto. Foi exatamente esta a experiência desafiadora de Val Lewton atrás das câmeras. 
Depois de quase uma hora de projeção, tem início a Revolução Francesa e uma das mais espetaculares e didáticas sequências do cinema. Como numa produção épica a exemplo de “Intolerância” (1916) e “Ben-Hur” (1925), a multidão toma conta de cenários grandiosos e temos a impressão de estarmos realmente vivendo aquele momento.
Não pensem que essa foi a única experiência de Lewton em proporções grandiosas. Contratado por David Selznick durante as filmagens de “E o vento Levou...”, ele ajudou na sequência da tomada de Atlanta e depois, para fazer piada, inventou uma cena cara que incluía uma tomada aérea com centenas de soldados feridos no chão. Não precisa nem dizer que Selznick levou a ideia a sério.
Lewton não esteve sozinho nas filmagens da sequência revolucionária. O outro responsável por essa cena era Jacques Tourneur, francês que mais tarde seria o diretor do noir “Fuga do Passado / Out of the Past” (1947), além de vários filmes de terror produzidos pelo próprio Lewton que, a partir de 1942 passou a fazer parte da sessão de horror da RKO, produzindo uma série de excelentes filmes B.
Sua primeira empreitada foi “Sangue de Pantera / Cat People” (1942). Lewton, aliás, tinha pavor de gatos e teve a ideia para a sequência desse filme, “Maldição do Sangue de Pantera / The Curse of the Cat People” (1944) quando nadava e viu alguns gatos na beira do rio, entrou em pânico e quase se afogou.
Lidando com o baixo orçamento da RKO, seu primeiro filme usou aquilo que ele faria com frequência: o terror psicológico e o poder de sugestão para assustar. Porque não são múmias ressuscitadas ou criaturas do outro mundo que nos dão arrepios, mas sim barulhos e sombras na escuridão. Resultado: “Sangue de Pantera” foi o maior sucesso da RKO no ano. Sendo responsável também pelo roteiro, reescrevendo-o sempre de madrugada, Lewton seguiu com uma série de sucessos, em que se destacam “A Morta-Viva / I Walked with a Zombie” (1943), “A Sétima Vítima” (1944) e “O Túmulo Vazio / The Body Snatcher” (1945).
Este russo, sobrinho de Alla Nazimova, faleceu aos 46 anos, em 1951, deixando contudo uma série de filmes de terror memoráveis e perfeitos para o Halloween. Um ano após sua morte, ele e seu ex-patrão Selznick serviram de inspiração para o personagem de Kirk Douglas em “Assim estava escrito / The Bad and the Beautiful”, pois o personagem está prestes a produzir o filme “Doom of the Cat Men”, usando cenas sugestivas ao invés de mostrar o horror: algo que todos os cineastas do gênero deveriam aprender com Val Lewton.

This is my contribution to the Val Lewton Blogathon, hosted by Kristina at Speakeasy and Stephen at Classic Movie Man. Happy Halloween! 

13 comments:

Iza said...

Feliz Halloween pra você, Lê!
Adorei o post especial de hoje.
Não conhecia o Val, mas sou fã de E o Vento Levou. Não sabia que eram os produtores que levavam o prêmio pra casa, achava que eram os diretores.
Beijos <3

Rubi said...

É sempre bom vir ao seu blog porque você nos traz figuras que geralmente são esquecidas pelo público. Val foi incrível, assim como Selznick, Erich Pommer e tantos outros. Parabéns pelo excelente post!

Beijos.

Mario Salazar said...

Ha sido un post muy didáctico, no conocía a este productor y veo que está detrás de obras interesantes como la mujer pantera. Que bueno son estos homenajes, el cine es toda su gente. Y feliz halloween! Besos.

Hugo said...

Ótimo post.

Este três filmes que Lewton produziu (“A Morta-Viva", “A Sétima Vítima” e “O Túmulo Vazio") são clássicos de qualidade, pena que hoje quase esquecidos.

Até mais

ANTONIO NAHUD said...

Lewton aprendeu muito com Selznick. Adoro os seus filmes B de terror/suspense.

O Falcão Maltês

Jefferson C. Vendrame said...

Lê parabéns pelo post. Não conhecia nada de Val Lewton. Isso que é interessante nos blogs, estamos sempre conhecendo...

Abração

Lasso The Movies said...

I often wonder if Val Lewton would have been a great director as well as producer. Sometimes I think his vision of a film was so perfect that if he tried to create it on his own he would have trouble making his vision come to life. Even though he worked with different directors, all his film are beautiful and I can only assume that he was able to explain his thoughts extremely well. Although based on this Gone With The Wind scene, perhaps his directorial efforts would have been brilliant as well.

Bruno said...

Lewton desempenhou um excelente trabalho e contribuiu muito com o cinema.
Legal ver um post que reaviva a história dele...bom demais.
Abraço!

Bruno

Stephen Reginald said...

Thanks for taking part in the Blogathon. I really enjoyed your post. It's amazing the reach of Lewton's films, well beyond America. Again, thanks for taking part in the blogathon.

Maxwell Soares said...

Que belo texto, Lê. Agradável é conhecer esse universo de grandes atores e diretores através de sua ótica. Um abraço...

Michelle Borges said...

Não conhecia Val Lewton e nunca assisti "A Queda da Batilha". Fiquei curiosa agora, hehe! Vou procurar!

Olha, a cena que você mencionou em "...E o vento levou" é realmente muito impactante. Assisti ao filme em 2005, se não me engano, e o campo com os soldados feridos é uma das cenas que mais me recordo. Aliás, acho este um excelente filme! Preciso assistir mais uma vez... :)

E, acho igualmente triste o fato de nunca lembrarem quem são os produtores. Assim como os roteristas. Poxa, os produtores financiam o filme, os roteritas escrevem as cenas e os diálogos, etc...e ninguém NUNCA lembra deles, a não ser quando o roterista é o George Lucas ou quando é o diretor do filme...fora isso, nada. Muito triste...

Não sabia que "Mensagem Para VocÊ" era um remake de um filme dos anos 40. Vou procurar! Obrigada pela dica!!

Beijos,

Michas

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