} Crítica Retrô: Meias de Seda / Silk Stockings (1957)

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Wednesday, March 11, 2015

Meias de Seda / Silk Stockings (1957)

Quem poderia substituir Greta Garbo em sua obra-prima “Ninotchka”? Resposta: ninguém. A personagem, que vai da seriedade completa à entrega amorosa, é perfeita para Garbo. Mas e se Ninotchka se transformasse em um musical? Aí o número de opções crescia, mas o papel se tornava mais difícil. Felizmente, com sotaque e charme, Cyd Charisse foi incumbida de seguir os passos de Garbo – e se saiu muito bem.
O produtor de cinema Steve Canfield (Fred Astaire) conegue resolver todos os problemas que aparecem em seu caminho. Ele entra em ação mais uma vez quando o compositor de seu novo filme, o russo Boroff, é visitado por três camaradas (Peter Lorre, Jules Munshin e Joseph Buloff) que têm a missão de levar o compositor de volta à União Soviética. Com um bom argumento e uma canção, Canfield convence os três russos a ficar ali mesmo em Paris, pois a presença deles pode representar um grande avanço para a União Soviética no mundo das artes cinematográficas. Logo os três estão embriagados (literalmente) com os prazeres da capital francesa.
Para trazer de volta os três comissários e o compositor Boroff, a escolhida é a camarada Nina Yoschenko (Cyd Charisse), uma agente séria e objetiva, que quer apenas fazer seu trabalho e voltar para a Mãe Rússia, mas acaba se entregando aos encantos de Paris... e de Steve Canfield, claro. Ou melhor, este envolvimento só acontecerá se a estrela do filme, a narcisista e pouco esperta atriz / cantora / nadadora Peggy Dayton (Janis Paige), não interferir com seu ego enorme.
Veja os paralelos entre "Meias de Seda" e "Ninotchka": a personagem de Greta Garbo é aqui interpretada por Cyd Charisse, Fred Astaire repete o papel de Melvyn Douglas e a intrometida e rica Swana de Ina Claire fica a cargo de Janis Paige, com muito mais humor.
A Ninotchka de Greta Garbo se rende ao comprar um chapéu ridículo. A Ninotchka de Cyd Charisse se rende dançando com Fred. E que dança! Outro momento simbólico de sua metamorfose é o balé Meias de Seda, que conta apenas com Cyd flutuando por um grande quarto enquanto se livra de suas vestimentas sisudas e as troca por meias de seda e lingerie, tudo embalado por uma bela música instrumental.
Temos novamente várias críticas ao comunismo, só que feitas de maneira menos sutil que na versão de 1939. Entretanto, são críticas mais escrachadas. O humor de Lubitsch era aquele que nos deixava apenas com um leve sorriso delineado no rosto. O humor do remake de Mamoulian é aquele que usa rápidas frases de efeito para arrancar uma gargalhada dos espectadores atentos.
Além das canções, uma atração única e imperdível dos musicais é o espetáculo das cores. Como conta nos créditos, “Meias de Seda” é apresentado em CinemaScope e Metrocolor, e o filme faz piada com isso: Janis Paige e Fred Astaire cantam a importância da riqueza de cores e do som ultra-realista para atrair os espectadores: será que o roteiro e o elenco não importam mais? Até parece que o compositor Cole Porter estava prevendo o futuro do cinema de catástrofe / super-herói / entretenimento sem conteúdo.
Faria toda a diferença ver o filme nos cinemas, em 1957, com a tela enorme, o glorioso Technicolor, CinemaScope de tirar o fôlego e som estereofônico. A direção de Rouben Mamoulian é magistral, como sempre, embora ele não tivesse sido uma escolha popular feita pelo estúdio. Mamoulian trabalhava desde o final da década de 1920, era um mestre dos efeitos e... detesteva o CinemaScope. Uma vez disse: “[CinemaScope is] the worst shape ever devised”.
O filme tinha tudo para não dar certo: começando pelo contexto de animosidade extrema entre Estados Unidos e União Soviética, passando pela pouca esperança dos próprios produtores e desembocando nas várias incertezas do elenco. Cyd Charisse tinha um trabalho muito exigente a ser feito, Peter Lorre lutava com seu vício em medicamentos, Rouben Mamoulian fazia de tudo para não ultrapassar o orçamento e os prazos previstos, e Fred Astaire quis de Cole Porter músicas mais modernas. Mas nenhuma destas dificuldades transparece no filme: “Silk Stockings” é leve, alegre, adorável. É a fábrica de sonhos do cinema em seu apogeu.

This is my contribution to the CinemaScope blogathon, hosted by my pals Rich at Wide Screen World and Becky at Classic Becky's Brain Food.

8 comments:

Pedrita said...

acho que vi há muitos anos. beijos, pedrita

Rich said...

A musical remake of 'Ninotchka'? Interesting. I can kinda see it working, too - it has the kind of characters and relationships that could work as a musical. One day I'll have to watch this one to compare.

Obrigado! Glad you could join the blogathon.

Bonnie said...

Love this film! I personally think it is the better of the two Astaire/Charisse films. I also just wrote about this film on my blog (classicreelgirl.com) as part of the Russia Classic Film blogathon. I like that you added discussion of CinemaScope, the director, and the background of the actors (I didn't know Lorre was dealing with drug addiction at the time).

FlickChick said...

Wonderful post - you picked a perfect film for this event. Astaire and Charisse are magical and this is just what Cinemascope was made for.

Caftan Woman said...

You can't go wrong when you have Cole Porter writing the songs - you don't even need stereophonic sound.

Anonymous said...

Can't believe I've never seen this, as I'm a big fan of Ninotchka, and I can't even begin to imagine it as a musical! But seeing as Cole Porter is involved... I'm willing to believe it can work!

Silver Screenings said...

Le, I had no idea there was a remake of "Ninotchka". (Oh boy – and I call myself a classic movie blogger.) However, this one sounds wonderful – Fred Astaire and Cyd Charisse dancing in Cinemascope?! Fantastic!

Silver Screenings said...

Le, I had no idea there was a remake of "Ninotchka". (Oh boy – and I call myself a classic movie blogger.) However, this one sounds wonderful – Fred Astaire and Cyd Charisse dancing in Cinemascope?! Fantastic!

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