} Crítica Retrô: July 2018

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Sunday, July 22, 2018

Dance Comigo (1938) / Carefree (1938)

Fred Astaire e Ginger Rogers podem fazem algum filme ruim? Talvez. No final dos anos 30, Fred foi uma das várias estrelas de cinema chamadas de “veneno de bilheteria”, após o fracasso de alguns de seus filmes. “Dance Comigo” foi um destes filmes que deu prejuízo. Mas seria “Dance Comigo” tão ruim assim? Só há uma maneira de descobrir: assistindo-o!

Can Fred Astaire and Ginger Rogers do wrong? Maybe. In the late 1930s, Fred was one of the several film stars labeled “box office poison” after some of his films flopped at the box office. “Carefree” was one of those movies that lost money. But is “Carefree” so bad? There is only one way to find out: watching it! 

Você pode imaginar Fred Astaire como um psicanalista? Ele certamente seria um psicanalista pouco convencional. E é exatamente esta a profissão de seu personagem, doutor Tony Flagg, em “Dance Comigo”: um psicanalista tão peculiar que sua estratégia é fazer um paciente andar em círculos até ficar tonto para curar uma ressaca, enquanto o doutor Flagg toca “Jingle Bells” em uma gaita. O paciente é Stephen (Ralph Bellamy), desolado porque sua noiva rompeu o noivado – pela terceira vez!

Can you imagine Fred Astaire as a psychoanalyst? He certainly would have been a very unconventional one. And that’s exactly what his character, doctor Tony Flagg, is in “Carefree”: a psychoanalyst so peculiar that he makes a patient go around a bed several times until he gets dizzy, in order to cure his hangover, while Dr. Flagg plays “Jingle Bells” in a harmonica. The patient is Stephen (Ralph Bellamy), depressed because his fiancée called the engagement off – for the third time!


Para ajudar Stephen, o doutor Flagg decide fazer análise com a n0iva, Amanda Cooper (Ginger Rogers). Ele quer analisar especificamente os sonhos dela e, uma vez que ela não sonha, ele quer incitá-la a sonhar. O problema é que, quando ela finalmente consegue sonhar, ela percebe que o homem que ela ama não é Stephen. Você já deve estar imaginando o que acontece a seguir – porque Stephen é interpretado pela eterna segunda opção, Ralph Bellamy.

To help Stephen, Dr. Flagg decides to psychoanalyze the fiancée, Amanda Cooper (Ginger Rogers). He wants to analyze specifically her dreams and, since she says she can’t dream, he wants to provoke dreams in her. The problem is, when she dreams again, she realizes Stephen isn’t the man she loves. You can imagine what happens next – because, well, Stephen is played by the eternal second choice, Ralph Bellamy.


Este é um dos vários filmes sobre psicanálise, algo novo e na moda na época – Freud ainda estava vivo quando “Dance Comigo” foi feito. O filme é menos didático que a mais conhecida produção sobre o tema, “Quando Fala o Coração” (1945). Aqui, coisas como hipnose, anestésicos, sonhos e subconsciente são fonte de risadas.

This is one of many films that dealt with psychoanalysis, a brand new trend back then – Freud was still alive when “Carefree” was made. It is less didatical than the best remembered film about the theme, “Spellbound” (1945). Here, things like hypnosis, anesthesics, dreaming and subconscious are the source of laughs. 


O filme é muito divertido. As risadas começam logo na primeira sequência, quando um homem bêbado procura pelo doutor Flagg. Ginger tem duas sequências particularmente engraçadas para mostrar todo o seu talento como comediante: sua personagem é sedada pelo doutor Flagg com um gás, mas Stephen a acorda e a manda ir para a rádio trabalhar; e mais tarde, ela é hipnotizada e começa a andar pelo country club. Estes momentos me lembraram de outro filme em que Ginger Rogers precisa fazer este tipo de comédia: “O Inventor da Mocidade” (1952). Além de Ginger, temos Luella Gear como tia Cora e Jack Carson como Connors – dois personagens essencialmente cômicos.

The film is a very funny one. The laughs start in the first sequence, when a drunken man looks for doctor Tony Flagg. Ginger has two particularly funny sequences to show her skills as a comedienne: her character is sedated by doctor Flagg with a gas, but Stephen wakes her up and tells her to go work in the radio quickly or she’ll be late; and later, in another sequence, she is hypnotized and starts wandering a country club. These moments reminded me of another film in which Ginger has to act carefree: “”Monkey Business”, from 1952. Besides Ginger, we have Luella Gear as aunt Cora and Jack Carson as Connors – both essentially comic characters.


Já que “Dance Comigo” é um musical, você deve estar perguntando: como são os números de canto e dança? Bem, você tem Irving Berlin, Fred e Ginger, RKO: claro que os números são ótimos! Há um incrível momento em que Fred Astaire dança e joga golfe e também temos Fred e Ginger dançando em câmera lenta em cima de uma vitória-régia. Isso só é aceitável porque é uma sequência de sonho, OK?

Since “Carefree” is a musical, you might be asking: how is the music and dance? Well, it’s Irving Berlin, Fred and Ginger, RKO: of course it’s top notch! There is a great moment with Astaire tap dancing while golfing (the Putin puppet could never) and also Fred and Ginger dancing in slow motion on a Victoria amazonica (or vitória-régia in Portuguese), a huge plant from the Amazon rainforest. I can accept that because it was a dream sequence, OK?


De volta à questão inicial. Fred Astaire e Ginger Rogers podem fazem algum filme ruim? Não. Mas eles podiam fazer um filme “não tão brilhante”. Se você quiser assistir a algo maravilhoso, talvez seja melhor rever “O Picolino” (1935) ou “Ritmo Louco” (1936). Mas, se um pouco de besteiras não te incomodam, “Dance Comigo” é uma ótima opção.

Back at the initial question. Can Fred and Ginger do wrong? No. But they could do “less than right”. If you want to watch something amazing, maybe it's better to rewatch “Top Hat” (1935) or “Swing Time” (1936). But if some silliness doesn't bother you, “Carefree” is a very good choice.

This is my contribution to the Fred Astaire and Ginger Rogers blogathon, hosted by Michaela and Crystal at Love Letters to Old Hollywood and In the Good Old Days of Classic Hollywood

Friday, July 20, 2018

Até o Último Alento (1958) / Marjorie Morningstar (1958)


Algumas vezes, a Hollywood clássica criava casais estranhos. Podia ser por causa de uma mistura estranha de estilos, como aconteceu ao juntar Fred Astaire e Betty Hutton. Ou podia ser por causa de uma mistura de dois mundos diferentes, como foi ao juntar Gene Kelly e Natalie Wood. Hoje estou aqui para falar do último caso, em “Até o Último Alento”, um filme bem estranho.

Some Old Hollywood pairings were odd. It could be because of an odd mix of styles, like pairing Fred Astaire and Betty Hutton. Or it could be a mix of worlds, like pairing Gene Kelly and Natalie Wood. Both these pairings happened – I watched both this week – and I'm here today to talk about when Kelly met Wood and they made “Marjorie Morningstar”… an odd film.


O tio Samson (Ed Wynn) é aquele tio divertido que todo mundo ama. Ele é uma figura e está sempre visitando a família Morgenstern. A filha dos Morgenstern, Marjorie (Natalie Wood) está no final da adolescência e, seguindo o conselho de sua melhor amiga Marsha (Carolyn Jones), ela decide não se casar com seu namorado e em vez disso vai trabalhar como ajudante de professora de teatro em um acampamento de verão.

Uncle Samson (Ed Wynn) is the funny uncle everybody loves. He is a frequent figure visiting the family Morgenstern. The family's daughter Marjorie (Natalie Wood) is in her late teens and, following an advice given by her best friend Marsha (Carolyn Jones), decides not to marry her boyfriend and instead she goes to work as an assistant drama coach in a summer camp.


Ensaiando em um hotel do outro lado do lago está o dínamo musical Noel Airman (Gene Kelly). Ele e Marjorie se apaixonam assim que se veem. Outra pessoa que gosta dela é Wally (Martin Milner), pupilo de Noel.

Rehearsing in a hotel on the other side of the lake is the musical dynamo Noel Airman (Gene Kelly). He and Marjorie are hooked the moment they see each other. Another one who likes her is Wally (Martin Milner), Noel’s pupil.


Marsha e Marjorie trocam de emprego e passam a trabalhar mais perto de Noel. Os pais de Marjorie não gostam do fato de ela estar apaixonada por ele, porque, mesmo sendo de família importante, ele escolheu uma carreira incerta como compositor. Os pais dela ficam tão preocupados que mandam o tio Samson trabalhar na cozinha do hotel só para vigiar Marjorie!

Marsha and Marjorie change jobs and start working nearer Noel. Her parents don't approve her being in love with him, because even though he was from a prominent family, he preferred an uncertain career as a songwriter. Marjorie's parents are so worried that they send uncle Samson to work in the hotel's kitchen just to have him keep an eye on Marjorie!


Apesar de tudo, Noel e Marjorie começam uma relação complicada que dura vários anos. Com o passar do tempo, Wally se torna um famoso dramaturgo, Marsha tira a sorte grande ao se casar com um homem rico e Noel continua sendo atormentado pelo musical que ele não consegue terminar – o que significa que não, não há números musicais com Gene Kelly neste filme. Nem o autossacrifício de Marjorie Morningstar (um apelido que Noel dá a ela, e que é a tradução exata de seu sobrenome alemão) parece ajudar.

Despite everything, Noel and Marjorie start an on-and-off relationship that goes through the years. As time goes by, Wally becomes a famous playwright, Marsha hits the jackpot getting married to a rich man and Noel is still tormented by the musical he can't finish – which means that no, there won't be any musical number with Kelly in this movie. Not even the self-sacrificing Marjorie Morningstar (a nickname Noel has given to her, that is an exact translation of her German last name) seems to help.


Gene Kelly foi um dançarino fabuloso e também um bom ator – você sabia que ele foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por “Marujos do Amor” (1945)? “Até o Último Alento”, o livro, foi comprado pela Warner com a intenção de ter Elizabeth Taylor e Marlon Brando nos papéis principais. Mais tarde, tanto Paul Newman quanto Danny Kaye recusaram o papel de Noel. Gene Kelly se saiu bem no papel – e, se você já se perguntou como Gene fica com a barba por fazer, aqui você vai descobrir.

Gene Kelly was a fabulous dancer and also a good actor – did you know he was nominated for a Best Actor Oscar for “Anchors Aweigh” (1945)? “Marjorie Morningstar”, the book, was bought by Warner with the intention of casting Elizabeth Taylor and Marlon Brando in the leading roles. Later, both Paul Newman and Danny Kaye refused the role of Noel. Gene Kelly did well in the role – and if you ever wondered how Gene looks with an unshaved face, here you'll find out.


O que é de errado com “Até o Último Alento”? O filme tenta lidar com muitos temas de uma vez – e falha. Claro, essa estratégia pode funcionar em um livro, mas o roteiro não teve muito êxito ao traduzir a história para as telas. Há muitos conflitos ao mesmo tempo. Noel terminará seu musical? Seu relacionamento com Marjorie está ameaçado por seus hábitos, seu comportamento, preconceitos de classe ou o quê? Marjorie quer ser uma estrela ou musa de Noel? É por essas e outras que o filme tem mais de duas horas de duração!

What is wrong with “Marjorie Morningstar”? The film tries to deal with many themes at once – and it fails. Of course, it can work in a book, but the screenplay wasn't very successful in translating the story to the screen. There are many conflicts at the same time. Will Noel ever finish his musical? Is his relationship with Marjorie menaced by his habits, his behavior, class prejudice or what? Does Marjorie want to be a star on her own or support Noel? No wonder the film is more than two hours long!


Além disso, há pouca química entre Gene Kelly e Natalie Wood, e os 26 anos de diferença entre eles são evidentes. Por Deus, Natalie tinha apenas 20 anos quando o filme foi feito! Nenhum dos dois tem uma má interpretação, eles apenas não combinam como casal. Talvez Paul Newman fosse a escolha mais sábia – e mais jovem.

Furthermore, there is little chemistry between Gene Kelly and Natalie Wood, and the 26-year difference between them is evident. For God's sake, Natalie was only 20 when the film was made! None of them delivers a bad performance, but it just doesn’t work. Maybe Paul Newman would have been the wiser – and younger – choice.


Há algumas coisas boas: Carolyn Jones – uma atriz fantástica e subestimada – como a amiga esperta, e o final. Eu não estou sendo sarcástica, o final é pouco convencional e nos deixa com algumas ótimas questões para refletir. Isso inclui questões sobre persistência, genialidade, apoiar quem você ama e a existência de um “lugar certo” para cada pessoa. Estes são temas interessantes, que poderiam ter sido mais bem desenvolvidos em uma história diferente.

There are some good things: Carolyn Jones – a fantastic and underrated actress – as the witty friend, and the ending. I'm not being sarcastic, the ending is unconventional and leaves us with some great thoughts to reflect upon. This includes thoughts about persistence, geniality, supporting the ones you love and the existence of a “right place” for everyone. These are interesting themes, but they could be better developed in a different story.

This is my contribution to the Natalie Wood blogathon, hosted by Samantha at Musings of a Classic Film Addict.

Saturday, July 14, 2018

Luz de Inverno (1963) / Winter Light (1963)


Às vezes, em situações deprimentes, nos questionamos sobre Deus. Frente a injustiças, desgraças, perdas e até tormentos geopolíticos, nós nos perguntamos se existe realmente Deus, e por que ele não interfere para que nós ou outras pessoas paremos de sofrer tanto. Este mesmo questionamento foi feito por um pastor em uma pequena cidade sueca, no filme de Bergman “Luz de Inverno”, de 1963.

Sometimes, in very sad situations, we ask ourselves about God. In the face of injustices, disgraces, loss and even geopolitical turmoil, we wonder if there is really a God, and why he isn’t interfering to make us or other people from suffering. This same question was made by a pastor in a small Swedish city in 1963, in Bergman’s “Winter Light”.

O filme é relativamente curto - 81 minutos - e os primeiros doze minutos são gastos com o sacramento católico da comunhão / eucaristia durante uma missa. Há uma razão para isso: o título original em sueco, que é muito difícil de pronunciar, pode ser traduzido como “Luz de Inverno” e também como “os Comunicantes” - ou seja, as pessoas que tomam parte na Comunhão.

The film is relatively short - 81 minutes - and the first twelve are spent with the Christian ritual of communion / Eucharist during a mass. This has a reason: the hard to pronounce original title in Swedish can be translated as both “Winter Light” and “the Communicants” - that is, the people who take part in the Communion.

Estes Comunicantes procuram pelo pastor Tomas Ericsson (Gunnar Björnstrand) para que ele os ajude após a missa. Karin Persson (Gunnel Lindblom) pede que o pastor converse com seu marido com tendências suicidas, Jonas (Max von Sydow). Jonas é um pescador com uma grande família, mas após ouvir sobre o desenvolvimento de bombas atômicas na China, ele passa a se questionar o significado da vida e sobre a existência de Deus.

Those Communicants look for pastor Tomas Ericsson (Gunnar Björnstrand) for help after the mass. Karin Persson (Gunnel Lindblom) asks the pastor to have a talk with her suicidal husband, Jonas (Max von Sydow). Jonas is a fisherman with a large family, but since hearing about the development of atomic bombs in China, he is questioning the meaning of life and the existence of God.

O problema é que o pastor Tomas pode não ser a pessoa ideal para dar conselhos espirituais para Jonas. Tomas também está questionando sua fé, e ainda tem de lidar com a atenção não requisitada da professora e ajudante Märta Lundberg (Ingrid Thulin). Ela não foi conversar com ele depois da missa, mas deixou uma carta. Em uma escolha muito sábia de Bergman, o conteúdo da carta é lido não por Ingrid em voiceover, mas por Ingrid em close-up, como um testemunho - um testemunho do qual não podemos tirar os olhos.

The problem is that pastor Tomas may not be the ideal person to give Jonas spiritual advice. Tomas is also questioning his faith, and also has to deal with the unrequited attention from the teacher and helper Märta Lundberg (Ingrid Thulin). She didn’t talk to him after the mass, but left him a letter. In a very wise choice from Bergman, the content of the letter is read not by Ingrid in voiceover, but by Ingrid in a close-up, like a testimony - one we can’t take our eyes off.

Outra escolha sábia se dá quando vemos a luz de Inverno pra valer: é óbvio que há uma mudança na iluminação quando, depois de conversar com Jonas, Tomas pergunta: “Deus, por que me abandonaste?”. E, se você tem familiaridade com a doutrina cristã, aqui está a chave para interpretar o filme: talvez, no final das contas, o pastor Tomas não acredite naquilo que prega.

Another wise choice is when we really see a winter light: it’s obvious the change of lighting that happens when, after talking to Jonas, Tomas asks: “God, why have you forsaken me?”. And, if you are familiar with the Christian doctrine, here you have the key to interpret the movie: maybe, after all, pastor Tomas isn’t a true believer.

Obviamente, Bergman é um cineasta que faz filmes complexos. As pessoas podem ter diferentes interpretações de sua obra - e eu penso que isto é fascinante. Na minha opinião, quando o ajudante deficiente da igreja Frövik (Allan Edwall) fala sobre a paixão de Cristo, ele não mostra apenas que ele é o único cristão de verdade naquela igreja, mas também revela todos nós temos nossas paixões para enfrentar.

Of course, Bergman is a filmmaker who makes complex movies. People can have several interpretations of his work - and I find it fascinating. In my opinion, when the handicap church helper Frövik (Allan Edwall) talks about Jesus’ passion, he does not only show how he is the only truly believer in that church, but he also reveals that we all have our passions to go through. 

“Luz de Inverno” é a história de muitas paixões: a de Tomas, a de Jonas, a de Märta. Nós podemos não saber se nossa paixão já aconteceu no passado ou se estamos prestes a enfrentá-la, mas todos nós temos um momento crucial na vida em que também perguntamos: “Deus, por que me abandonaste?”.

“Winter Light” is the story of many passions: Tomas’s, Jonas’s, Märta’s. We may not know if our passion already happened in the past or if we are about to face it, but we all have one crucial moment in life when we too ask: “God, why have you forsaken me?”.

This is my contribution to the Winter in July blogathon, hosted by Debbie at Moon in Gemini.

Tuesday, July 3, 2018

A Porta de Ouro (1941) / Hold Back the Dawn (1941)


Todo mundo merece um lugar ao sol? Não sei ao certo, mas todo mundo quer um lugar ao sol. E geralmente a busca por este lugar cheio de alegria e satisfação envolve a migração. E o que acontece quando os imigrantes são parados no meio do caminho? Quando eles são proibidos de entrar no lugar que escolheram como sua nova casa? Você pode ligar a TV e encontrar respostas para estas questões agora mesmo, ou você pode ver “A Porta de Ouro”, um filme feito há mais de 75 anos.

Does everybody deserve a place in the sun? I’m not sure, but everybody wants a place in the sun. And often the pursuit of this place of happiness and fulfillment demands migration. And what happens when migrants are stopped midway their destiny? When they are forbidden to enter the place they chose as their new home? You could turn the TV and find answers for these questions right now, or you could watch “Hold Back the Dawn”, a film made over 75 years ago.
Georges Iscovescu (Charles Boyer) é um romeno que teve um probleminha na Europa e decidiu migrar para os EUA. Ele chega a uma escaldante cidade mexicana na fronteira, e descobre que, dos 150 mil imigrantes que o país deixava então entrar todos os anos, havia uma cota pequena para os romenos – e ele teria de esperar entre 5 e 8 anos para finalmente conseguir entrar no país legalmente. Por isso, ele e outros imigrantes de diversas nacionalidades ficam em um hotel até terem os documentos. O lugar tem um nome sugestivo: Hotel Esperanza.

Georges Iscovescu (Charles Boyer) is a Rumanian who had a little problem in Europe and decided to migrate to the United States. He reaches a hot Mexican city in the border, and finds out that, among the 150 thousand immigrants the US let in every year, there is only a very small quota for Rumanians – and he must wait from 5 to 8 years to finally be able to get in the US legally. So, he and other immigrants from several nationalities stay in a hotel until their visa is ready. The place has a suggestive name: Hotel Esperanza (Hope Hotel).
Mas a esperança não é a última que morre ali. Quando Georges chega ao hotel, um imigrante alemão havia se cansado de esperar e comete suicídio. No hotel, Georges encontra uma velha conhecida, Anita (Paulette Goddard), que lhe dá uma dica: é mais fácil e rápido ser admitido nos EUA se você se casar com uma norte-americana.

But hope is not the last one left standing there. When Georges arrives at Hotel Esperanza, a German immigrant has got tired of waiting and committed suicide. At the hotel Georges finds an old acquaintance, Anita (Paulette Goddard), who gives him a tip: it’s much easier and quicker to be admitted to the US if you marry an American.
Então, Georges começa a paquerar todas as norte-americanas que ele encontra. A primeira delas acaba sendo uma mulher casada, mas a segunda norte-americana que ele encontra é Emmy (Olivia de Havilland), uma professora que levou seus aluninhos bagunceiros para uma excursão no México durante o feriado de 4 de julho – uma atividade pedagógica que desafia a lógica, eu sei. Georges é charmoso e diz coisas lindas para ela, e o plano funciona: no dia seguinte, eles estão casados. O plano de Georges consistia, desde o começo, em se casar com Emmy, ser aceito nos EUA – escapando assim da vigilância do inspetor Hammock (Walter Abel) – e depois pedir a anulação do casamento e viver livremente nos EUA com Anita.

So, Georges starts hitting on all American women he sees. The first one happens to be already married, but the second American woman he finds is Emmy (Olivia de Havilland), a schoolteacher vacationing with her young and loud students in Mexico for the 4th of July holiday – something that defies the logic, I know. Georges is charming and says beautiful things to her, and the plan works: on the following day, they’re married. Georges’s plan has been, all along, to marry Emmy, be accepted in the US – thus escaping the vigilance of Inspector Hammock (Walter Abel) – then ask for an annulment and live freely there with Anita.
Há duas boas surpresas em “A Porta de Ouro”. Uma é a maneira como o filme começa: Georges está fugindo e entra em um estúdio de cinema, onde ele conta toda sua história de imigrante e falso amante para um diretor chamado Dwight Saxon (o próprio diretor do filme, Mitchell Leisen). O senhor Saxon estava filmando uma cena com Veronica Lake, e quando ele liberou a equipe, pôde finalmente ouvir a história de Georges. A outra boa surpresa é a lua de mel de Georges e Emmy em uma vila mexicana, onde eles participam de uma cerimônia religiosa. Não há nenhum estereótipo nesta parte do filme!

There are two nice surprises in “Hold Back the Dawn”. One is the way it starts: Georges is on the run and enters a film studio, where he tells his whole story as an immigrant and fake lover to a director called Dwight Saxon (director Mitchell Leisen himself). Mr. Saxon was filming a scene with Veronica Lake, and when he dismissed the team he was able to listen to Georges’s story. The other nice surprise is Georges’s and Emmy’s honeymoon in a Mexican villa, where they take part in a religious ceremony. There are no ugly stereotypes there!
Foi uma surpresa incrível e uma coincidência assustadora eu ter escolhido este filme para ver exatamente quando acontece um episódio que não pode ser considerado uma crise de imigração, mas um crime humanitário. Eu tento fugir da política, mas ela me persegue! Por falar em perseguir algo – um sonho - , em uma cena emblemática, um professor estrangeiro, no almoço de 4 de julho, recita para um oficial da imigração o poema na base na Estátua da Liberdade – um texto que prega valores que muitos americanos não apenas esqueceram, mas nos quais nunca sequer acreditaram.

It was an incredible surprise and a chilling coincidence that I chose to watch this movie exactly in the middle of an episode that can't be considered an immigration crisis, but a humanitarian crime. I try to stay away from politics, but they go after me! And talking about going after something, in an emblematic scene, a foreign professor, on the 4th of July lunch, recites to an immigration officer the poem on the basis of the Statue of Liberty – a text that shows values that many Americans not only have forgotten, but have never believed in the first place.
Um momento ruim aqui: Emmy fala dos EUA como a tão divulgada “terra de oportunidades” e compara o país com um lago que deve receber sempre novas correntezas para não ficar parado. Georges comenta: “o seu povo está construindo diques bem altos para parar estas correntezas”. A resposta dela? “Só para deixar o LIXO de fora”. Meu Deus. Isso poderia ter sido dito por um ultraconservador ontem mesmo.

A bad moment here: Emmy talks about the US as the so-called “land of opportunities” and compares the country to a lake that must keep receiving new streams to never go stank. Georges comments: “your people are building pretty high damps to stop these streams”. Her answer? “Just to keep out the SCUM”. Oh my God. This could have been said by an ultraconservative yesterday.
Não nos esqueçamos de que os roteiristas eram Charles Brackett e Billy Wilder – e Wilder era um imigrante, assim como as estrelas Charles Boyer (francês) e Olivia de Havilland (nascida no Japão). A maioria dos coadjuvantes também eram imigrantes, e formaram um grupo muito interessante que merecia muito mais destaque no filme.

Let's not forget that the screenwriters were Charles Brackett and Billy Wilder – and Wilder was an immigrant. So were the stars Charles Boyer (French) and Olivia de Havilland (born in Japan). Most of the supporting cast was also made of immigrants, and they were a very interesting group that deserved a lot more screen time.
Vamos dar uma olhada nestes personagens incríveis que esperam por seus vistos no Hotel Esperanza. Há o casal Kurz, Berta (Rosemary DeCamp) e Josef (Eric Feldary, vindo da antiga Áustria-Hungria). Eles esperam um bebê, e o sonho deles é que o bebê possa nascer sendo um cidadão norte-americano. Bonbois (interpretado por Curt Bois, um ator alemão que fez seu primeiro filme em 1908 e o último em 1988) é um nervoso cabeleireiro francês que serve de alívio cômico. Há também o porfessor Van Den Luecken (o ator belga Victor Francen) e suas duas filhas, Christine (Micheline Cheirel) e Anni (Madeleine Lebeau). Ambas eram atrizes francesas – e Madeleine é parte importante da icônica cena da Marselhesa em “Casablanca” (1942).

Let’s take a look at these amazing characters waiting for their visas at the Hotel Esperanza. There is the Kurz couple, Berta (Rosemary DeCamp) and Josef (Eric Feldary, from former Austria-Hungary). They are expecting a baby, and dream that him or her can be born an American citizen. Bonbois (played by Curt Bois, a German actor who made his first film in 1908 and his last in 1988) is a nervous French coiffeur who serves as the comic relief. There is also professor Van Den Luecken (Belgian actor Victor Francen) and his two daughters, Christine (Micheline Cheirel) and Anni (Madeleine Lebeau). Both actresses were French – and Madeleine is an important part of the iconic Marsellaise scene from “Casablanca” (1942).
Curt Bois in "Casablanca"
Madeleine LeBeau
Boyer é suave e charmoso como sempre. Olivia é adorável como sempre, tendo de ser ingênua a maior parte do tempo. Paulette Goddard está bem como uma femme fatale da fronteira. Mas os reais destaques são os imigrantes desesperados do hotel. Eles são a prova cabal e tangível de que a diversidade é o tempero da vida – e a melhor coisa deste filme.

Boyer is suave and charming as always. Olivia is lovely as always, having to be naïve most of the time. Paulette Goddard is good as a femme fatale of the border. But the true MVPs are the desperate migrants in the hotel. They are the real, touchable proof that diversity is the spice of life – and the best thing in this film.

This is my contribution to the third annual Olivia de Havilland blogathon, hosted by Laura and Crystal at Phyllis Loves Classic Movies and In the Good Old Days ofClassic Hollywood.


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