} Crítica Retrô: May 2024

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Wednesday, May 29, 2024

Variações sobre um mesmo tema: O Demônio da Algéria (1937) e Argélia (1938)

 Variations on the same theme: Pépé Le Moko (1937) and Algiers (1938)

 

Todos sabemos que os norte-americanos não gostam de assistir a filmes com legendas. Todos também sabemos que os chefes dos estúdios estão sempre de olho no mercado estrangeiro, procurando por inspiração e sucessos para fazer remakes. Em 1938, Hollywood fez um remake de um filme que havia estreado apenas um ano antes na França. “Argélia” é um remake fidelíssimo, quase cena a cena, de “O Demônio da Algéria” (sic), que ainda consegue ser cinco minutos mais longo que o original. Ambos contam com ótimas performances e alguns nomes nos bastidores que merecem ser destacados.


It’s widely known that Americans don’t like to watch movies with subtitles. It’s also widely known that studio heads are always with an eye on the foreign market, looking for inspiration and successes to be remade. In 1938, Hollywood remade a film that had premiered in France only one year prior. “Algiers” is an almost shot-by-shot remake of “Pépé Le Moko” that still manages to be five minutes longer than the original. Both have great performances and a few names behind the cameras that we should highlight.

 

Nos últimos dez anos, cinco detetives tentaram e falharam em capturar o ladrão Pépé Le Moko (Jean Gabin / Charles Boyer). Seu esconderijo é bem conhecido: é a Casbah, bairro labiríntico de Argel onde vivem quarenta mil pessoas. Como dito em “Argélia”, a polícia não pode simplesmente entrar no bairro e prender Pépé porque “não se pode prender um rei no seu próprio palácio”.


In the last two years, five detectives tried and failed to capture the thief Pépé Le Moko (Jean Gabin / Charles Boyer). His hidi
ng place is well known: it’s the Casbah, a labyrinthine district of Argel where forty thousand people live. As it’s said in “Algiers”, the police can’t simply invade the Casbah and arrest Pépé because “you can’t arrest a king in his own palace”.

Uma noite, enquanto fugia de um grupo de policiais, Pépé conheceu Gaby (Mireille Balin / Hedy Lamarr) e se apaixonou por ela... e ainda mais pelas joias dela. Ela é uma socialite francesa que estava passeando pela Casbah e está disposta a voltar nem que seja para jantar e dançar com o belo ladrão. Fora da Casbah é muito perigoso para ele... será que Pépé se contentará com sua garota Inès (Line Noro / Sigrid Gurie) ou se arriscará indo atrás de Gaby?


While running away one night from a group of police officers, Pépé meets Gaby (Mireille Balin / Hedy Lamarr) and falls in love with her… falling deeper for her jewels. She is a French socialite who was touring the Casbah and is willing to come back if only to have dinner and a dance with the handsome thief. Outside the Casbah it’s too dangerous for him… will Pépé settle for his girl Inès (Line Noro / Sigrid Gurie) or will he risk going after Gaby?

“O Demônio da Algéria” é um bom filme por causa do charme e do talent de Jean Gabin, que na época já era uma superestrela. Num artigo para o website da Criterion, Michael Atkinson escreve sobre ele: “Gabin era quase como Garbo em sua habilidade de ancorar nossa atenção sem mover um músculo”. O mais novo de sete filhos de uma dona de café e um artista de cabaré, ele começou a atuar aos 15 anos, trabalhando subsequentemente tanto no Folies Bergéres quanto no Moulin Rouge, além de fazer turnê pela América do Sul com um grupo. Ele fez seu primeiro filme em 1928 e o último em 1976, ano em que faleceu. Ele apareceu num total de 97 filmes.


“Pépé Le Moko” works because of the charm and talent of Jean Gabin, then already a superstar. In an  essay for the Criterion website, Michael Atkinson writes this about him: “Gabin was almost Garbo-like in his ability to anchor our attention without moving a muscle”. The youngest of seven children of a coffee owner and a cabaret entertainer, he started acting at 15, working in subsequent years at both the Folies Bergéres and the Moulin Rouge, and also touring South America with a troupe. He made his first film in 1928 and the last in 1976, the year he passed away. He appeared in 97 films total.

Charles Boyer pode ser charmoso e francês – uma redundância –, mas a verdadeira estrela de “Argélia” é Hedy Lamarr, em seu primeiro filme em Hollywood. O produtor Walter Wanger no início queria Sylvia Sidney ou Dolores Del Río como a atriz principal, mas acabou decidindo pedir Lamarr emprestada da MGM. Diz-se que foi Charles Boyer que apresentou Lamarr para Wanger após uma festa. Apesar de ser o chamariz para o filme, Hedy Lamarr foi considerada inadequada pelo diretor John Cromwell, que disse que ela não sabia atuar e não tinha personalidade.


Charles Boyer may be charming and French – a redundancy –, but the real star of “Algiers” is Hedy Lamarr, in her first Hollywood movie. Producer Walter Wanger first wanted Sylvia Sidney or Dolores Del Río as the female lead, but decided to borrow Lamarr from MGM instead. It is said that it was Charles Boyer who introduced Lamarr to Wanger after a party. Despite being the one who called attention for the film, Hedy Lamarr was considered inadequate by director John Cromwell, who said she couldn’t act and had no personality.

O livro que serviu de inspiração foi, diz-se, inspirado em “Scarface” (1932) e deu origem a um filme sem o qual o cinema noir seria completamente diferente. “O Demônio da Algéria” foi a primeira adaptação cinematográfica de um a obra literária de Henri La Barthe, creditado com seu pseudônimo Ashelbé. O diretor Julien Duvivier, que no começo da década foi responsável por efetivamente fazer a carreira de Jean Gabin decolar, foi um dos roteiristas. A história seria filmada mais uma vez em 1948, num musical com Tony Martin, Märta Torén e Yvonne de Carlo.


The source novel was reportedly inspired by “Scarface” (1932) and it originated a movie without which film noir wouldn’t be what it was. “Pépé Le Moko” was the first cinematic adaptation of a literary work by Henri La Barthe, credited under his pseudonym Ashelbé. Director Julien Duvivier, who was in the beginning of the decade responsible for effectively launching Jean Gabin’s career, served as one of the screenwriters. The story would be filmed once more in 1948, as a musical starring Tony Martin, Märta Torén and Yvonne De Carlo.

O diretor de fotografia de “Argélia” é o grande James Wong Howe. Nascido na China, sua família chegou a Washington quando ele tinha cinco anos. Ele foi boxeador profissional na adolescência e começou sua carreira no cinema como assistente de Cecil B. DeMille. “Argélia” deu a Howe a primeira de suas dez indicações ao Oscar, e ele ganhou duas vezes. Curiosidade: James Wong Howe e Charles Boyer nasceram no mesmo dia, 28 de agosto de 1899.


The director of photography in “Algiers” is the great James Wong Howe. Born in China, his family arrived in Washington when he was five. He was a professional boxer as a teenager and started his career in film as an assistant to Cecil B. DeMille. “Algiers” gave Howe his first of 10 Oscar nominations, and he would win twice. Curious info: James Wong Howe and Charles Boyer were born in the same day, August 28, 1899.

Em “Argélia” o personagem Regis (Gene Lockhart) tem mais tempo em cena que no filme original. Há basicamente uma sessão de tortura psicológica com ele quando Pépé descobre que Regis traiu seu amigo Pierrot e acompanhou o jovem até uma armadilha. Gene Lockhart foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua performance, mas não ganhou o prêmio.


In “Algiers” the character Regis (Gene Lockhart) has more screen time than in the original. There is basically a psychological torture session with him when Pépé finds out that Regis betrayed his pal Pierrot and accompanied the young man right into a trap. Gene Lockhart was nominated for the Best Supporting Actor Oscar for his performance, but didn’t win the award.

Quando Régis (Fernand Charpin) fala sobre Pépé ser mulherengo, ele retruca: “Eu dou a elas [às mulheres] meu corpo, mas mantenho para mim a cabeça”. Quando fala sobre sua linha de raciocínio para Inès, Pépé (interpretado por Charles Boyer) diz que “eu não penso com minha cabeça, mas com meu coração”. Estas frases definem as diferenças de construção de um mesmo personagem: o de Gabin é sexy e ousado, o de Boyer mais suave.


When Régis (Fernand Charpin) talks about Pépé’s womanizing habits, he says: “I give them [the women] my body, but I keep my head”. When talking about his thinking to Inès, Pépé (played by Charles Boyer) says that “I don’t think with my head, but with my heart”. These quotes settle the differences between the portrayals of the same character: Gabin’s is sexy and bold, Boyer’s is softer.

O sotaque francês e o jeito mulherengo do personagem de Boyer inspirou o personagem dos Looney Tunes Pepé Le Pew, apresentado ao público em 1945 com a frase de efeito “Venha comigo para a Casbah”. O filme de 1938 também inspirou “Casablanca”, com seu sucesso de bilheteria servindo de argumento para convencer a Warner Bros a aprovar o projeto do filme em 1942. A MGM, entretanto, não liberou Hedy Lamarr de seu contrato e “Casablanca” teve de ser feita com Ingrid Bergman como protagonista.


The French accent and the womanizing in Charles Boyer’s character inspired the Looney Tunes character Pepé Le Pew, introduced in 1945 with the catchphrase “Come with me to the Casbah”. The 1938 film also inspired “Casablanca”, with its success in the box-office serving as a point to convince Warner Bros to approve the project for the film in 1942. MGM, however, didn’t release Hedy Lamarr from her contract and “Casablanca” had to be made with Ingrid Bergman as the lead.

Um fato para horrorizar os amantes de cinema: enquanto era filmado o remake, Walter Wanger tentou destruir todas as cópias de “O Demônio da Algéria”. Que bom que ele não conseguiu! “O Demônio da Algéria” tem 3,8 estrelas no Letterboxd e sua nota no IMDb é 7,7, enquanto “Argélia” tem respectivamente 3,2 estrelas e nota 6,6. Ambos os filmes são muito bons de maneiras diferentes e vê-los em sequência, embora um pouco cansativo por causa da mesma história, dá origem a um divertido jogo de “encontrar diferenças”.


A fact that will horrify all film lovers: while shooting the remake, Walter Wanger tried to have all the copies of “Pépé Le Moko” destroyed. We’re happy his wish wasn’t granted! “Pépé Le Moko” has 3,8 stars on Letterboxd and its grade is 7,7 on IMDb, while “Algiers” has respectively 3,2 stars and grade 6,6. Both movies are extremely enjoyable and entertaining in their own ways, and a double feature, even though tiring with the same story, serves as a joyful game of “spot the differences”.

Friday, May 24, 2024

Filhos do Deserto (1933) / Sons of the Desert (1933)

 Sempre que eu ouço falar de Honolulu, a primeira coisa que me vem à mentee é a canção “Honolulu Baby”, presente na comédia de 1933 d’O Gordo e o Magro “Filhos do Deserto”. Considerado, com razão, um dos melhores filmes da dupla, esta película de apenas 68 minutos de duração é muito divertida, com uma miríade de gags verbais e visuais.

 

Whenever I hear about Honolulu, the first thing that comes to my mind is the song “Honolulu Baby”, featured in the 1933 Laurel and Hardy comedy “Sons of the Desert”. Considered, with reason, one of the biggest achievements of the duo, this film that is only 68 minutes long is a lot of fun, packed with visual and verbal gags.

A história é bem simples: o Gordo e o Magro são vizinhos e amigos que querem participar de uma convenção da sociedade secreta da qual participam, chamada “Filhos do Deserto”. Só há uma coisa no caminho deles: suas esposas. Ollie finge estar doente e Stanley chama um médico - um veterinário! - para dizer a eles que precisam ir a Honolulu para curar Ollie, mas em vez disso eles vão para a convenção em Chicago. Eles não imaginavam que um navio fosse afundar em Honolulu, levando as esposas pensarem que ficaram viúvas.

 

The story is pretty simple: Laurel and Hardy are neighbors and also friends who want to attend a convention of the secret society they belong to, called “Sons of the Desert”. There is only one thing that comes in their way: their wives. Ollie fakes an illness and Stan calls a doctor - a veterinarian! - to tell them that they must go to Honolulu to cure Ollie, but instead they go to Chicago to the convention. They didn’t count on a ship sinking in Honolulu, what makes the wives think they perished.

Algumas piadas são previsíveis, enquanto outras nos pegam desprevenidas. Assim como na era muda do cinema, eles tomam o tempo necessário para construir as gags - como aquela de Stanley comendo uma fruta de cera. A gag que mais me surpreendeu não poderia existir na era muda, pois consiste em Stanley falando palavras muito difíceis, o que surpreende também a Ollie!

 

Some jokes are predictable, while others catch us off guard. Like in silent cinema, they take time to build the gags - like the one with Stanley eating the wax fruit. What surprised me the most is a gag that couldn’t have been done in the silent era: Stanley speaking very difficult words, surprising also Hardy while he spoke!

Tanto a Sra Laurel, Betty (Dorothy Christy), quanto a sra Hardy, Lottie, são ameaçadoras, mas a Sra Hardy tem mais tempo em tela. Ela é interpretada por Mae Busch, que fez 131 filmes entre 1912 e 1947. Ela nasceu na Austrália e era filha de estrelas do vaudeville. Ela fez 13 filmes d’O Gordo e o Magro, e para além das comédias pode ser vista em “Esposas Ingênuas” (1922), de Erich von Stroheim. Mae Busch faleceu aos 54 anos em 1946.

 

Both Mrs Laurel, Betty (Dorothy Christy), and Mrs Hardy, Lottie, are menacing, but Mrs Hardy is given more screen time. She is played by Mae Busch, who appeared in 131 films from 1912 to 1947. She was born in Australia and was the daughter of vaudevillians. She appeared in 13 Laurel and Hardy comedies, and outside of comedy she can be seen in Erich von Stroheim’s “Foolish Wives” (1922). Mae Busch passed away aged 54 in 1946.

Como um membro ultra-excitado dos “Filhos do Deserto” vindo do Texas, temos um velho amigo nosso, que somos fãs de comédia muda: Charley Chase. Pregando peças em todos ao seu redor, seu personagem ri o tempo todo em que está em cena. Mas aqueles não eram os tempos mais felizes para Chase, mesmo que estivesse tendo sucesso com comédias de curta-metragem. Seu problema com a bebida já era aparente e ele não estava gostando do personagem que interpretava. Em 1939, a morte prematura de seu irmão James Parrott representou um duro golpe para Chase, que começou a beber mais e trabalhar demais, o que levou à sua própria morte um ano depois.


As the overtly excited “Sons of the Desert” member from Texas we have an old friend of us, silent comedy fans: Charley Chase. Pranking everyone around him, Chase’s character laughs all the time he was on screen. But those weren’t the happiest of times for Chase, even though he was enjoying success in short comedies. His drinking problem was already appearing and he didn’t like the character he was playing. In 1939, the premature death of his brother James Parrott was a hard blow for Chase, who started drinking more and overworking, which led to his own death one year later.

 

“Filhos do Deserto” foi filmado em 21 dias e arrecadou um milhão de dólares na bilheteria. Foi votado como um dos filmes mais divertidos de Hollywood pelo Instituto de Cinema Americano e entrou na lista do Registro de Filmes da Biblioteca do Congresso em 2012. Mais do que isso, deu nome à Sociedade Internacional de Fãs d’O Gordo e o Magro. É um filme icônico de uma dupla icônica: é simplesmente impossível não acertar com “Filhos do Deserto”!

 

“Sons of the Desert” was shot in 21 days and went on to make a million dollars at the box-office. It was voted one of Hollywood’s funniest movies by the AFI and entered the National Film Registry from the Library of Congress in 2012. Moreover, it provided the name for the Internationl Laurel and Hardy appreciation society. It’s an iconic film from an iconic duo: you simply cannot go wrong with “Sons of the Desert”!

 

This is my contribution to the Neighbors Blogathon, hosted by Rebecca and Quiggy at Taking Up Room and The Midnite Drive-In.


Tuesday, May 21, 2024

A ascensão e queda de Clara Bow / The rise and fall of Clara Bow

 

A vida de Clara Bow durou 60 anos. Sua carreira meteórica, 11 anos e 58 filmes. Ela teve em 1927 seu melhor ano, quando participou de dois clássicos: o primeiro ganhador do Oscar de Melhor Filme “Asas” e o icônico “It”, que definiu uma geração. Podemos aprender muito com o primeiro e o último filme que uma estrela do cinema fez. E é isso que faremos hoje.   

 

Clara Bow’s life lasted 60 years. Her meteoric career, eleven years and 58 movies. She had in 1927 her best year, when she appeared in two classics: the first Best Picture Oscar winner “Wings” and the iconic “It”, that defined a generation. We can learn a lot from looking at the first and the last film a star made. And that’s it we’re doing today.

Todas as cenas com ela no primeiro filme que fez, “Beyond the Rainbow” (1922), foram cortadas, mas adicionadas novamente quando ela se tornou uma superestrela e o filme voltou a circular. Este filme hoje não está disponível, mas sua estreia para valer está. Ela já prevê as personagens modernas que marcariam a carreira de Clara Bow até seu último filme, no qual interpreta uma personagem corajosa.

 

All her scenes from her debut film, “Beyond the Rainbow”, (1922) were cut, but put together again after she became a superstar and the film was re-released. This movie isn’t available, but her real debut is. It already predicts her modern characters from later in her career and even in her last hurrah she was portraying a bold character.


Nasce uma estrela: Rumo ao Mar (1922)
A star is born: Down to the Sea in Ships (1922)

 

Os créditos nos contam que o filme foi “produzido em New Bedford, Massachusets, pela Companhia Baleeira de Cinema”. É um filme sobre caçar baleias, afinal de contas. O protagonista, William Morgan (William Walcott), é um baleeiro que só quer que sua filha Patience (Marguerite Courtot) se case com outro baleeiro. O garoto da casa ao lado, Allan (Raymond McKee), ama tanto Patience que abandona seu trabalho numa fábrica de algodão para ir para o mar. A neta de Morgan, Dot (Clara Bow), também embarca no navio, disfarçada usando roupas masculinas.


The credits tell us that the film was “produced in New Bedford, Massachusetts, by the Whaling Film Company”. It’s a film about hunting whales, after all. The lead, William Morgan (William Walcott), is a whaleman who only wants his daughter Patience (Marguerite Courtot) to marry another whaleman. The boy next door, Allan (Raymond McKee), loves Patience so much that he abandons his job at a cotton mill to go down to the sea. Morgan’s granddaughter Dot (Clara Bow) is also on the ship, disguised as a man.

Também interessado em Patience – e na frota de navios de Morgan – está Samuel Siggs (Jack Baston), que contrata um homem chamado Finner (Pat Hartigan) para dar um fim em Allan no meio do mar. Na cidade, o povo pensa que Dot e Allan fugiram juntos para o Oeste. Finner encontra Dot escondida no navio e ameaça machucá-la se ela não ficar com ele. Entra aí o salvador dela, Jimmy (James Turfler). Depois de um motim, Allan precisa demonstrar sua bravura caçando uma baleia.

 

Also interested in Patience - and in Morgan’s fleet of ships - there is Samuel Siggs (Jack Baston), who pays a man named Finner (Pat Hartigan) to get rid of Allan in the sea. In the town, people believe Allan and Dot ran away together to the west. Finner finds Dot hiding in the ship and threatens to harm her if she doesn’t stay with him. Enters her savior, Jimmy (James Turfler). After a mutiny, Allan has to demonstrate his bravery hunting a whale.

Este filme foi “pessoalmente filmado” por Elmer Clifton. Nascido em Chicago em 1890, ele começou a atuar nos palcos em 1907 e estreou nos cinemas em 1912, dirigindo seu primeiro filme em 1915. Ele é mais lembrado hoje porque estava dirigindo “Mãe Solteira” (1949) quando adoeceu e Ida Lupino tomou seu lugar na direção.

 

The movie was “personally filmed” by Elmer Clifton. Born in Chicago in 1890, he started acting on stage in 1907 and debuted at the movies in 1912, directing his first movie in 1915. He is best remembered today because he was directing “Not Wanted” (1949) when he fell ill, and Ida Lupino took over the direction.

As cartelas de texto são quase todas muito longas, algumas até com citações de “Moby Dick”, de onde vem o próprio título. Há também um reflexo do ódio aos asiáticos que existia no período, com o vilão sendo “amarelo”. Elmer Clifton com certeza estava imitando Griffith – aliás, ele foi ator em “O Nascimento de uma Nação” (1915) e “Intolerância” (1916) – e a história de amor empalidece se comparada às sequências de caça.

 

The title cards are often very long, some even quoting “Moby Dick”, where the title itself comes from. There is also a reflection of the Asian hate from the period, with the villain being “yellow”. Elmer Clifton was for sure emulating Griffith - by the way, he was an actor in both “The Birth of a Nation” (1915) and “Intolerance” (1916) - and the love story is pale compared to the whale hunting sequences.

Clara Bow tinha apenas 17 anos quando “Rumo ao Mar” estreou e é simplesmente adorável. Enquanto todos os outros personagens tinham aspecto Vitoriano, ela parece moderna e moleca, mesmo com o figurino antiquado. Ela não tem muito tempo na tela, mas quando aparece simplesmente não conseguimos desviar o olhar de sua doce figura.

 

Clara Bow was only 17 when “Down to the Sea in Ships” was released and is simply adorable. While all the other characters looked Victorian, she looks modern and tomboyish, even with old-fashioned clothes. She isn’t given a lot of screen time, but whenever she is on screen we simply cannot take our eyes off her.



Uma estrela se apaga: Lábios de Fogo (1933)
A star fades: Hoopla (1933)


Um jovem chamado Chris (Richard Cromwell) chega a um espetáculo itinerante procurando por seu pai, Nifty (Preston Foster), que administra o local. Ele quer um trabalho com o espetáculo e logo é contratado. Na sua primeira noite viajando com a turma, ele se embebeda junto às dançarinas Lou (Clara Bow) e Carrie (Mina Gombell), que era amante de Nifty mas é deixada por ele naquela mesma noite. Carrie então paga Lou para seduzir Chris.


A young man named Chris (Richard Cromwell) arrives at a carnival looking for his father, Nifty (Preston Foster), who manages the place. He wants a job with the show and gets it. In his first night traveling with the carnival, he gets drunk alongside dancers Lou (Clara Bow) and Carrie (Minna Gombell), who was Nifty’s lover but is ditched by him that same night. Carrie then pays Lou to seduce Chris.

Podemos desmistificar uma mentira vendo “Lábios de Fogo”: Clara Bow tinha uma voz agradável, charmosa e brincalhona. Ela teve sucesso com seus primeiros filmes falados, permanecendo como uma das atrizes favoritas do público em 1929, 1930 e 1931. Um escândalo envolvendo Clara e uma empregada, que tornou públicas algumas correspondências privadas da atriz, fez com a Paramount terminasse o contrato com ela. Ela fez seus dois últimos filmes pela Fox.


We can bust a myth watching “Hoopla”: in reality, Clara Bow had a pleasant, charming, playful voice. She was successful in her first talkies, remaining one of the favorite actresses of the public in 1929, 1930 and 1931. A scandal involving Clara and her maid, who shared part of the actress’ private correspondence, made Paramount release her from her contract. She did her final two films for Fox.

Há alguns momentos que seriam impossíveis de encontrar num filme feito após a adoção do Código Hays: uma câmera foca no rosto de Clara enquanto ela tira a roupa e coloca uma camisola. Depois disso ela divide uma cama com outra mulher, nada nua num lago e ainda dança com roupas minúsculas.

 

There are a few moments that wouldn’t be possible in a movie made under the Hays Code: a camera focuses on Clara’s face while she undresses to put on her nightgown. Afterwards she shares a bed with another woman, then she goes swimming naked in a lake and later dances in minimal clothes.

“Lábios de Fogo” é um destes curiosos filmes que mostram o romance de uma mulher mais velha com um homem mais novo. Richard Cromwell era cinco anos mais novo que Clara Bow, o que não é muito – Bow tinha apenas 28 anos quando fez este último filme. A carreira de Cromwell durou de 1930 a 1948, quando se aposentou. Ele foi o primeiro marido de Angela Lansbury.

 

“Hoopla” is a curious case of a movie depicting romance between a young man and an older woman. Richard Cromwell was five years younger than Clara Bow, which was not much – Bow was only 28 at the time she filmed this swan song. Cromwell’s career lasted from 1930 to 1948, when he retired. He was Angela Lansbury’s first husband.


Aos 28, Clara Bow se aposentou das telas e teve dois filhos que adorava. A felicidade não foi uma constante em sua vida, mas de Hollywood ela estava farta. Para nós, que nunca estamos fartos de Clara Bow, alguns de seus filmes ainda existem e mostram a superestrela em sua melhor forma.


At 28, Clara Bow retired from screen and would go on to have two sons who she adored. Happiness wasn’t a constant in her later life, but she had had enough of Hollywood. For us, who never have enough of Clara Bow, some of her films still exist and show the superstar in great shape.

 

This is my contribution to the Screen Debuts and Last Hurrahs blogathon, hosted by the Classic Movie Blog Association.

Wednesday, May 15, 2024

Entre Deus e o Pecado (1960) / Elmer Gantry (1960)

 Quando um filme garante um Oscar a um ator, nós cinéfilos rapidamente ficamos interessados neste filme. Quando o ator que ganhou o Oscar tem uma carreira tão prolífica e interessante quanto a de Burt Lancaster, só podemos imaginar que sua performance em tal filme foi incrível. “Entre Deus e o Pecado” deu a Lancaster seu único Oscar de Melhor Ator, e também deu a Shirley Jones o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.

 

When a film gives an actor the Oscar, we cinephiles quickly become interested in this film. When the actor who won the Oscar has such a prolific and interesting career as Burt Lancaster’s, we can only imagine that his performance in said film was nothing but superb. “Elmer Gantry” (1960) gave Lancaster his only Best Actor Oscar, and also gave Shirley Jones a Best Supporting Actress Oscar. 

Elmer Gantry (Lancaster) é um bêbado, praticamente um mendigo, que passa a véspera de Natal com uma prostituta e pela manhã mente para sua mãe, dizendo que havia ido à igreja. Mas ele demonstra conhecer hinos de louvor quando participa de um culto com pessoas negras adorando ao Senhor. A sua alma ainda pode ser salva, no final das contas!

 

Elmer Gantry (Lancaster) is a drunkard, practically a hobo, who spends Christmas Eve with a prostitute and in the morning lies to his mother that he has gone to church. But he proves to know church hymns when he attends a gathering of black people worshipping the Lord. His soul can be saved, after all!

Na verdade, Elmer é um caixeiro viajante e, numa cidade, ele decide participar de um culto comandado pela Irmã Sharon Falconer (Jean Simmons). Ele não quer rezar, mas sim se juntar à Irmã Sharon contando sua “história de salvação”. Eles logo se tornam parceiros e amantes.

 

In reality, Elmer is a travelling salesman and, in one town, he decides to attend a religious gathering commanded by Sister Sharon Falconer (Jean Simmons). He doesn’t want to pray, but to join Sister Sharon telling his “salvation story”. They soon become partners and lovers.

Acompanhando Elmer e a Irmã Sharon na “peregrinação” temos Jim Lefferts (Arthur Kennedy), um jornalista que acaba escrevendo um artigo chamado “Santos ou Patifes” sobre a dupla. O artigo é lido por Lulu Bains (Shirley Jones), antiga amante de Elmer que agora é prostituta, que decide que quer vê-lo novamente.

 

Accompanying Elmer and Sister Sharon in their “pilgrimage” there is Jim Lefferts (Arthur Kennedy), a journalist who ends up writing an article called “Saints or Scoundrels” about the duo. The article is read by Lulu Bains (Shirley Jones), Elmer’s former lover and now a prostitute, who then decides she wants to see him again.

Os paramentos da Irmã Sharon me lembraram de outras figuras religiosas dos anos 1920 e 1930. A primeira é uma figura real: a Irmã Aimée Semple McPherson, que inspirou a Irmã Florence Fallon de Barbara Stanwyck em “A Mulher Miraculosa” (1931), e Irmã Alice de Tatiana Maslany no novo “Perry Mason” e foi retratada no cinema no excelente indie “A Mulher Milagrosa” (2019).

 

Sister Sharon’s vestments reminded me of other religious figures from the 1920s and 1930s. The first is a real-life figure: Sister Aimée Semple McPherson, who inspired Barbara Stanwyck’s Sister Florence Fallon in “The Miracle Woman” (1931), Tatiana Maslany’s Sister Alice in the new “Perry Mason” and was portrayed in movies in the excellent indie “Sister Aimée” (2019).

Ambos os protagonistas tiveram papéis semelhantes antes e depois de “Entre Deus e o Pecado”. Jean Simmons interpretou uma missionária no musical “Eles e Elas” (1955), enquanto Burt Lancaster esteve em outro filme que lida com religião e consumo de álcool em “Nas Trilhas da Aventura” (1965).

 

Both leads had similar roles before and after “Elmer Gantry”. Jean Simmons played a missionary in the musical “Guys and Dolls” (1955), while Burt Lancaster was in another film that deals with religion and alcohol consumption in “The Hallelujah Trail” (1965).

Burt Lancaster interpreta Elmer Gantry num tom histriônico, com zero sutileza, como o papel pedia. Ele deve ser um palhaço de circo e sabe desta demanda. Curiosamente, anos após a estreia do filme, Lancaster recebeu uma carta de um amigo de infância contando-lhe que sua performance no filme é o mais perto que ele chegou da maneira como ele se comportava na infância.

 

Burt Lancaster plays Elmer Gantry in a histrionic tone, with zero subtlety, as the role demanded. He must be a circus clown and he is aware of that. Curiously, years after the film premiered, Lancaster received a letter from a childhood friend telling him his performance in the movie is the closest to the way he behaved as a kid.

A trilha sonora inspirada é de André Previn. Nascido na Alemanha em 1929, ele e a família migraram para os EUA em 1938. Sua carreira em Hollywood começou quando ainda estava no Ensino Médio, em 1946. Ele ganharia quatro Oscars – dois antes de “Entre Deus e o Pecado”, dois depois – e é mais conhecido por ter sido o segundo marido de Mia Farrow, com quem ela ficou por nove anos, teve três filhos e adotou mais três. Previn faleceu aos 89 anos em 2019.

 

The inspired soundtrack is from André Previn. Born in Germany in 1929, he and his family flew to the US in 1938. His career in Hollywood began while he was still in high school, in 1946. He would go on to win four Oscars – two before “Elmer Gantry”, two after – and may be best known as Mia Farrow’s second husband, with whom she stayed for nine years, had three children and adopted three more. Previn passed away aged 89 in 2019.

A Irmã Sharon é uma Revivalista, algo que Jim não consegue definir, mas cujo poder consegue sentir. As questões religiosas discutidas em “Entre Deus e o Pecado” são mais atuais do que nunca. Antes do filme começar, uma nota explicativa diz que “Liberdade Religiosa não é licença para abusar da fé das pessoas!”. E depois Lulu pergunta a Elmer “como pode que certas pessoas só encontram ódio na Bíblia?”.

 

Sister Sharon is a Revivalist, something Jim can’t quite define, but feels its power. The religious issues discussed in “Elmer Gantry” are more current than ever. Before the film starts, an awareness note says that “Freedom of Religion is not license to abuse the faith of the people!”. And then Lulu asks Elmer “how is that some people can only find hate in the Bible?”.

“Entre Deus e o Pecado” foi um destes filmes que comecei a assistir sem saber nada sobre e simplesmente não vi o tempo passar. É envolvente, emocionante, com ótimas performances de todo o elenco. É também catalisador para reflexões, pois muito mudou e ao mesmo tempo nada mudou nos últimos cema anos.

 

“Elmer Gantry” was one of those movies I started watching without knowing anything about and simply didn’t see time pass. It’s compelling, thrilling, with lots of great performances by the whole cast. It’s food for thought, because so much has changed and yet nothing has changed in the last 100 years.

 

This is my contribution to the It’s in the Name of the Title blogathon, hosted by Rebecca and Gill at Taking Up Room and Realweegiemidget Reviews.

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