É mentira que eu nunca assisti a “O Cantor de
Jazz”. Uma vez eu assisti à metade dele numa aula. Com metade do spoiler, aqui
estou eu para escrever sobre este filme que mudou a História. “Esperem um
minuto, esperem um minuto! Vocês ainda não ouviram nada” foram as palavras que
mudaram tudo. O cinema finalmente
podia falar.
It’s a lie that I had never watched “The Jazz Singer”. I once watched about half of it in a class. Half-spoiled, here I am to review this movie that was a game changer. “Wait a minute, wait a minute! You ain’t heard nothing yet” were the words that changed everything. Cinema finally could talk.
Espera-se que Jakie Rabinowitz (Robert Gordon) se torne um Cantor como seu pai (Warner Oland) - seguindo cinco gerações na mesma profissão. Um Cantor ou Hazzan é um músico judeu que apresenta rezas na sinagoga na forma de canções. Para justificar a recusa do menino em se tornar um Cantor, sua mãe (Eugenie Besserer) diz “ele tem todos os hinos na cabeça, mas não no coração”. O pai encontra Jakie cantando ragtime num bar e, trazendo o garoto de forma violenta até em casa, bate nele. Jakie sai de casa e promete nunca mais voltar.
It’s expected that Jakie Rabinowitz (Robert Gordon) becomes a Cantor like his father (Warner Oland) - and five generations before him. A Cantor or Hazzan is a Jewish musician who presents prayers in the synagogue in the form of songs. To justify the boy’s refusal to step up as a Cantor, his mother (Eugenie Besserer) says “he has all the hymns in his head, but not in his heart”. The father finds Jakie singing ragtime tunes at a bar and, violently bringing him home, spanks his son. Jakie leaves home and vows to never return.
Anos depois, encontramos Jack Robin (Al Jolson) como cantor de jazz. Ele tem como fã e amante a bela Mary (May McAvoy), que descreve a maneira como ele canta como “com uma lágrima na voz”. Ela também é artista e arranja um lugar para Jack em seu show. Depois de uma turnê pelo país, eles voltam a Nova York, onde Jack enfrentará seu passado e tomará uma decisão que afetará seu futuro.
Years later, we find Jack Robin (Al Jolson) as a jazz singer. He finds a fan as well as a lover in Mary Dale (May McAvoy), who describes his singing as “having a tear in his voice”. She is an artist too and finds a spot for Jack in her revue. After touring the country, they go back ton New York, where Jack will face his past and make a decision that will affect his future.
Al Jolson, nascido Asa Yoelson no que hoje é a Lituânia, era conhecido como “o Maior Artista do Mundo” em seu auge. O homem que mudou para sempre a Broadway com sua maneira de cantar nos anos 1920, após o ataque a Pearl Harbor se tornou o primeiro cantor a se apresentar para as tropas no front. Al Jolson começou sua carreira no circo e logo galgou seu caminho no vaudeville, na Broadway e no cinema, quase fazendo seu primeiro filme em 1923: “Mammy’s Boy” de D.W. Griffith nunca foi completado. Sua segunda incursão no cinema foi “O Cantor de Jazz”. Influenciando cantores como Bing Crosby, Al Jolson transformava em ouro tudo em que tocava.
Al Jolson, born Asa Yoelson in what is now Lithuania, was known as “the World’s Greatest Entertainer” in his heyday. Forever changing Broadway with his singing style in the 1920s, after Pearl Harbor he became the first singer to entertain the troops overseas. Al Jolson started his career in the circus and quickly moved up to vaudeville, Broadway and cinema, almost making his first film in 1923: D.W. Griffith’s “Mammy’s Boy” was never completed. His second attempt at cinema was “The Jazz Singer”. Influencing crooners such as Bing Crosby, everything that Jolson touched became gold.
Num momento daqueles que você pisca e já passou, é possível ver Myrna Loy como corista no teatro, dizendo sobre Jack: “Ele não tem chance com Mary”. Nascida em 1905, Loy havia sido escalada quase que exclusivamente para interpretar vamps no cinema mudo, mas sua imagem mudou para a de “esposa perfeita” nos anos 1930, culminando com sua escolha como Rainha do Cinema em 1938. A estrela de “O Cantor de Jazz” tomou um caminho diferente: comumente citada como “a menos talentosa entre as protagonistas do cinema mudo”, May McAvoy detestou os papéis que a Warner Bros escolheu para ela após este filme, e se aposentou ao casar em 1929.
In a “blink and you miss it” moment you can see Myrna Loy as a chorus girl at the theater, saying about Jack: “He hasn’t a chance with Mary”. Born in 1905, Loy had been typecast as a vamp in silent movies, but her image changed to a “perfect wife” type in the 1930s, culminating with her being voted the Queen of the Movies in 1938. The lead of “The Jazz Singer” had a different path: often cited as “the least-talented leading lady in silents”, May McAvoy disliked the roles Warner Bros chose for her after this movie, and retired when she got married in 1929.
Parte filme silencioso, parte falado, não é de se espantar que o público enlouquecesse quando de repente ouvissem a voz de Al Jolson. Só que não foi essa a primeira coisa que o público ouviu, aos 22 minutos de projeção. Antes houve músicas interpretadas pelo jovem Jakie e o mais velho Jack, além de um hino judeu. O som sincronizado não era novidade - era possível encontrar efeitos sonoros em filmes anteriores, como em “Don Juan” de 1926 -, a novidade era o diálogo sincronizado à ação. Como curiosidade, devemos citar que tanto Myrna Loy quanto Warner Oland também estavam em “Don Juan”.
Part silent, part talkie, it’s no wonder that the audience would go crazy when suddenly they heard Al Jolson’s voice. Except that this wasn’t the first thing the audience heard, at the 22 minute mark. Before there were songs performed by the young Jakie and the older Jack, as well as a Jewish hymn. Synchronized sound was not new - you could find sound effects in previous films, such as 1926’s “Don Juan” -, the novelty was the synchronized dialogue. As a curiosity, we must sign that both Myrna Loy and Warner Oland also appeared in “Don Juan”.
Mas o plano não incluía ter diálogos sincronizados: só as canções deveriam ter sido gravadas no estúdio. Quando Al Jolson improvisou o “Esperem um minuto…” depois da primeira canção, o produtor Sam Warner gostou tanto que insistiu para manter a frase e mais um pouco de diálogo improvisado. Isso viria com um preço: a produção foi tão estressante para Sam Warner que ele faleceu um dia antes de o filme ser apresentado concluído para o elenco e equipe. O filme estreou nos cinemas muitos meses depois.
But the plan wasn’t to have synchronized dialogue as well: only songs were supposed to be recorded at the studio. When Al Jolson ad-libbed “Wait a minute…” after the first song, film producer Sam Warner liked it so much that he insisted on keeping the line and other improvised dialogue. This would come with a cost: production was so strenuous on Sam Warner that he died the day before the film was released to the cast and crew. The film premiered to the general public many months later.
Tudo é muito divertido até que chegamos a um ponto crítico: de repente lá está ela, a sequência com Al Jolson fazendo blackface. Essa prática deplorável não era condenada em 1927 e podia ser considerada uma forma de retratar a assimilação cultural. Jakie era judeu e, assim como a população negra, considerado um cidadão de segundo categoria. Jolson era um ativista pelos direitos civis em seu tempo - que era obviamente diferente de sê-lo nos anos 1960 - e vê-lo em blackface era como ver alguém se tornar completamente americano. Sim, em certo sentido o blackface definiu o que era a América durante um tempo.
Everything is fun and games until we reach a critical point: suddenly there it is, the infamous sequence of Al Jolson in blackface. This deplorable practice wasn’t frowned upon in 1927 and it could be seen as a way of portraying cultural assimilation. Jakie was Jewish and, like the black population, considered a second-rate citizen. Jolson was a civil rights advocate in his time - that is obviously different from the actors who were civil rights activists in the 1960s - and seeing him in blackface is seeing someone become truly American. Yes, in a sense blackface defined America in its time.
“O Cantor de Jazz” é um filme sobre a luta entre o velho e o novo, a tradição e a modernidade. Em breve, por causa deste filme, o cinema como um todo enfrentaria o mesmo dilema. Um comentário no Letterboxd disse que, se outro filme tivesse dado o passo em direção ao som sincronizado, “O Cantor de Jazz” seria hoje esquecido, e não estava errado. O filme seguinte de Jolson, “A Última Canção” (1928), foi um megassucesso de bilheteria, mas raramente se fala sobre ele hoje. Algumas coisas simplesmente têm que ser, e este filme teve de entrar para a História.
“The Jazz Singer” is a film about the fight between old and new, tradition and modernity. Soon, because of this film, cinema as a whole would face the same dilemma. A Letterboxd comment said that, if another movie had made the leap from silence to synchronized sound, “The Jazz Singer” would be forgotten today, and this is not wrong. Jolson’s subsequent film, “The Singing Fool” (1928), was a box office smash but is rarely talked about today. Some things are simply meant to be, and this film was meant to be enshrined in History.