} Crítica Retrô: Variações sobre um mesmo tema: Papai Pernilongo / Daddy-Long-Legs (1919, 1931 e 1955)

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Saturday, April 9, 2016

Variações sobre um mesmo tema: Papai Pernilongo / Daddy-Long-Legs (1919, 1931 e 1955)

Depois de “Star Wars: O Despertar da Força / Star Wars: The Force Awakens” (2015) e do teaser de “Rogue One” (2016), ficamos nos perguntando: precisamos de mais heroínas no cinema? Sim, claro! Mas colocar mulheres no comando não é novidade no cinema, mas sim a retomada de uma realidade da era do cinema mudo e, claro, de algumas obras inesquecíveis da literatura mundial.
Jerusha 'Judy' Abbott (Mary Pickford / Janet Gaynor) é uma garota esperta e decidida que vive em um orfanato (na versão de Leslie Caron, o nome da personagem é Julie). Ela defende seus amigos mais novos e os anima. A inteligência de Julie chama a atenção do milionário Jervis (ou Jarvis, dependendo da versão) Pendetlon (Mahlon Hamilton / Warner Baxter / Fred Astaire), que decide apadrinhá-la, pagando os estudos dela na faculdade. A única coisa que Jervis pede em troca é que Judy lhe escreva contando como vão os estudos. A menina cumpre com o combinado, endereçando as cartas ao “Papai Pernilongo” (Daddy-Long-Legs), pois a característica mais marcante do tutor são suas longas pernas. Perto de terminar a faculdade, Judy conhece Jervis e se encanta com ele, mas tem de lidar também com seu pretendente, Jimmy McBride (Marshall Neillan / John Arledge / Kelly Brown).
Um pernilongo à esquerda e uma aranha Daddy-Long-Legs à direita
Daddy-Long-Legs”, o livro, foi publicado originalmente em 1912. Há um pequeno prólogo narrativo, e o resto da história se desenrola à nossa frente através das cartas que Judy escreve para seu tutor. A autora, Jean Webster, era sobrinha-neta de Mark Twain, se interessava pelos direitos das mulheres e viajou por muitos países. Em 1914 a história foi adaptada para o teatro e protagonizada por Ruth Chatterton. Em 1916, Jean Webster faleceu, aos 39 anos, devido a complicações no parto.
Daddy-Long-Legs” é leitura obrigatória em muitas escolas norte-americanas. Para os jovens de hoje que tomam contato com a obra a principal dúvida é: a relação entre Judy e Jervis é ou não pedofilia? No começo do livro, Judy tem 17 anos. Em 1919, Mary Pickford tinha 27 anos; em 1931, Janet Gaynor tinha 25 e em 1955, Leslie Caron tinha 24 anos. Jervis Pendetlon teria 20 anos a mais que Judy, portanto, sua idade seria 37. Em 1919, Mahlon Hamilton tinha 39 anos; em 1931, Warner Baxter tinha 42 anos e em 1955 Fred Astaire tinha 56 anos.
A diferença de idade pode ou não ser um tabu. Sempre foi comum que os homens mais velhos se casassem com mulheres mais novas (e no caso de Judy uma abordagem psicológica poderia até argumentar que ela procura em Jervis a figura paterna que nunca teve). Apenas nas últimas décadas foi possível ver casais formados por mulheres mais velhas e homens mais jovens. E o cinema imitava esta realidade.
No cinema, infelizmente até hoje, as mulheres começam a carreira com vinte anos ou menos, atingem o auge por volta dos trinta e aos quarenta já não são mais consideradas para papéis de destaque. Os homens começam a ter sucesso aos 30 e atingem o auge aos 40 ou 50 – e a morte é o limite. As atrizes parecem ter um “prazo de validade”, o que é ridículo, enquanto para os atores, uma vez galãs, sempre galãs.
Assim como sua estrela, o filme de 1919 é adorável. As travessuras da jovem Judy são mostradas com ótimos truques de câmera (incluindo aí a intrincada “visão dupla”) e também um perfeito uso de cartas manuscritas mostradas de vez em quando na tela. Há elegância nos intertítulos e composições, além de muitas metáforas. Mary Pickford foi também roteirista e produtora desta versão.
Na versão de 1931, Judy é a mais velha garota do orfanato, com uma imaginação fértil e muita vontade de tornar a vida das outras crianças menos difícil. Jervis é um homem jovial, que prefere jogar futebol com os meninos do orfanato a participar de reuniões chatas de benfeitoria, e a ideia de mandar Judy para a faculdade não vem dele, mas de uma benfeitora. Aqui está a mais ridícula chefe do orfanato, e também algumas insinuações por parte de Jervis. Janet Gaynor e Warner Baxter, àquela altura, já haviam ganhado um Oscar cada e estão muito bem juntos.
O Jervis de Fred Astaire é um homem muito moderno em uma família conservadora (no livro, Jervis é mostrado como a ovelha negra da família porque era socialista. OMG!). Ele vê a jovem órfã francesa Julie e, encantado com ela, decide adotá-la. Como isso não é possível, ele se contenta em enviá-la para fazer faculdade nos Estados Unidos. Anos depois, e muitas cartas depois, ele a reencontra e eles, obviamente, dançam até um final feliz, começando com o “Sluefoot”, passando por “Something’s Gotta Give” e terminando em um longuíssimo balé de celebração de Carnaval.
Há ainda mais versões da história para o cinema. Em 1935, muitas liberdades foram tomadas em “A Pequena Órfã / Curly Top”, filme estrelando Shirley Temple. Mas Shirley não interpreta o papel equivalente a Judy: este cabe a Rochelle Hudson. As personagens de Shirley e Rochelle são irmãs órfãs que são adotadas por um tutor misterioso, interpretado por John Boles. Além desta, há adaptações feitas na Holanda e na Coreia, além de um anime.
Mary, Janet e Leslie foram escolhidas para protagonizar a história por serem angelicais, mas também capazes de demonstrar força e coragem. Em 1955 o foco da história passou de Judy para Jervis, com modificações importantes. As versões de 1919 e 1931 são muito semelhantes e graciosas, mas a versão muda tem mais sucesso em transportar o romance epistolar para as telas, sem retirar a inteligência e determinação de Judy Abbott.

O Veredicto: As três versões são muito boas. Mas, se você precisar escolher apenas uma, veja o filme de 1919 com Mary Pickford.


This is my contribution to the Beyond the Cover Blogathon, hosted by Beth at Now Voyaging and Kristina at Speakeasy. Happy reading!

6 comments:

Caftan Woman said...

It is certainly interesting how this story inspired so many different screen versions. I will certainly follow your advice and check out the Pickford film. Excellent article.

Unknown said...

Thanks for a marvelous review of these three movie adaptations of the book! I really enjoy the versions with Mary Pickford and Leslie Caron, but I did not know Janet Gaynor made one, too.

Judy said...

Le, I enjoyed this book when I was younger and I've seen all 3 versions that you discuss here. I really enjoyed the silent version with Mary Pickford and the Astaire/Caron musical. Even though I like Janet Gaynor and Warner Baxter a lot, I didn't think that version was quite as good as the other two. I'd be interested to see the Shirley Temple version too! Thanks for a great posting.

Silver Screenings said...

I read this book when I as a teenager, and found it thoroughly charming. It may be time to read it again!

I've only ever tried to watch the Leslie Caron film, and I couldn't get into it. I think the casting didn't match the characters I imagined when I read the book. However, I am keen to see the Mary Pickford version, thanks to your post. :)

Unknown said...

Great post as always! Mucho gracias for joining us!

@Fc_Lanzameulove...@Fc_Pelumeulove...@Fc_Kobameulove....@Fc_Thomameulove said...

Amei

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