Você sabe que está
prestes a ver um filme muito bom quando a primeira imagem após os créditos é do
diretor Ernst Lubitsch, tirando objetos cênicos em miniatura de dentro de uma
caixa. Não era o primeiro filme de Lubitsch, que atuava desde 1912 e dirigia
desde 1914. Mas é o filme que nos faz parar e exclamar: “aí está um gênio”!
You know you are about to see a very good movie when
the first image after the credits shows you director Ernst Lubitsch taking
miniature scenic objects out of a box. It wasn’t Lubitsch’s first movie: he
acted since 1912 and directed since 1914. But it is a movie that makes us stop
and shout: “here it is a genius”!
O rico, velho e doente
Barão von Chanterelle (Max Kronert) quer arranjar um casamento para seu
sobrinho, com o objetivo de perpetuar a linhagem nobre. Mas o tal sobrinho,
Lancelot (Hermann Thimig) é um mimadinho que não quer se casar.
The rich, old and ill Baron Von Chanterelle (Max
Kronert) wants his nephew to get marriage so the noble lineage won’t die. But said
nephew, Lancelot (Hermann Thimig) is a cry-baby who doesn’t think of marriage
at all.
Depois de distrair as
dezenas de pretendentes que corriam atrás dele, Lancelot busca refúgio em um
monastério. Os religiosos de lá estão passando por “dificuldades”, e por isso
decidem convencer o hóspede a se casar e a dar o dinheiro do dote para o
monastério. E eles até arrumam um jeito de Lancelot sair satisfeito do
casamento: ele se casa com uma boneca, enganando a todos!
When he is able to distract dozens of young maidens
who were chasing him, Lancelot goes to a monastery to hide. The monks there
have been through “difficulties”, and then they decide to convince the guest to
marry and give the dowry to the monastery. And they even find a way to make
Lancelot happy with the marriage: he weds a doll and fool them all!
Em um anúncio para
“solteiros, viúvos e misóginos”, Hilarius Gilermund (Victor Janson), o
mundialmente famoso criador de bonecas, diz que consegue fazer uma boneca quase
humana, que se mexe conforme alguns botões são acionados. E a mais nova criação
de Hilarius é uma boneca inspirada em sua filha, Ossi (Ossi Oswalda).
In an add for “bachelors, widowers and misogynists”,
Hilarius Gilermund (Victor Janson), the world-famous dollmaker, says that he
can make a human-like doll, who also moves when some buttons are pushed. And
Hilarius’s newest creation is a doll inspired by his daughter, Ossi (Ossi
Oswalda).
Enquanto Lancelot chega
à loja para comprar a noiva boneca, o jovem e atrevido ajudante de Hilarius acaba
quebrando a boneca Ossi. Para que ele não fique em apuros, a Ossi de carne e
osso promete posar como a boneca até que a boneca seja consertada. Mas o
problema é que Lancelot escolhe justamente Ossi para ser sua esposa. Ele pensa
estar levando para casa uma boneca de “caráter sólido”, mas é a moça que
embarca em sua carruagem.
While Lancelot goes to the store to buy his fiancée
doll, Hilarius’s young and daring helper breaks Ossi the doll. To prevent him
from having troubles, real Ossi promises to pretend to be the doll until the
doll is fixed. But the big trouble comes when Lancelot chooses exactly Ossi to
be his wife. He thinks he is taking home a doll of “solid character”, but it is
the girl the one who goes in his carriage.
Há um ar de conto de
fadas no filme. O cenário da primeira cena é, literalmente, montado na nossa
frente, e algo mágico e infantil começa. Muito antes de a Disney desconstruir
os contos de fada, já tínhamos uma espécie de príncipe bobão, uma heroína
corajosa, um sol sorridente e cavalos que cruzam as pernas e perdem o rabo.
There is a fairy tale touch to this film. The set of
the first scene is, literally, built in front of us, and something magic and
child-like begins. Many decades before Disney deconstructed fairy tales, we
already had a silly prince, a bold heroine, a smiling sun and horses that cross
their legs and lose their tails.
Há espaço, claro, para
problematização. Poderíamos nos perguntar se Lancelot não queria se casar
simplesmente porque não queria, ou seria ele homossexual? Afinal, os religiosos
olham para Ossi com luxúria? Poderíamos fazer estas perguntas, olhando com
olhos de 2016, mas perderíamos a graça do filme, divertidíssimo se visto com
olhos de 1919.
There is room, of course, to find problems. We could
ask ourselves if Lancelot didn’t want to get married because he simply didn’t
want it, or if maybe it was because he was a closeted homosexual? And, do the
monks or don’t they look to Ossi with luxury? We could ask those questions,
looking with eyes of 2016, but the questions would destroy the fun, and the
film is hilarious if watched with eyes of 1919.
Ossi Oswalda era
chamada de “a Mary Pickford alemã”. E aqui vemos perfeitamente o porquê do
apelido: fofa, determinada, adorável, divertida, Ossi tinha apenas 22 anos
quando “The Doll” foi filmado. Ela está muito longe de ser uma vamp, uma sofredora ou uma donzela em
apuros. Ossi, como boneca ou como garota, é uma protagonista maravilhosa, que
sem dúvida se diverte com seu jogo de faz de conta.
Ossi Oswalda was called “the German Mary Pickford”.
And here we see why this nickname: cute, courageous, adorable, funny, Ossi was
only 22 when “The Doll” was made. She is far from being a vamp, a suffering
girl or a damsel in distress. Ossi, as a doll or as a girl, is a fabulous
leading lady, and without a doubt she has fun with her make-believe.
A história é simples,
mas a maioria das piadas se baseia na ironia. Assim, um dos personagens mais
divertidos é o jovem aprendiz (Gerhard Ritterband), que tem frases ótimas e
exagera em suas reações dramáticas. Temos algumas críticas pontuais e
divertidas ao clero, com a exploração da piada constante de que os monges
pregam e recomendam pobreza, mas vivem com luxo e sempre cometem o pecado da
gula. Tal tema foi muito explorado em filmes e, em especial, livros de países
cuja maioria da população é católica.
The plot is simple, but most of the jokes are
ironic. That’s why one of the funniest characters is the young helper (Gerhard
Ritterband), who has great ‘quotes’ and exaggerated dramatic reactions. There
is also criticism against the clergy, and the constant gag involves the monks
advocating the poverty vow, but at the same time overeating. This situation was
already explored in several films and, in special, books from mainly Catholic countries.
Raramente pensamos em
Lubitsch como um diretor que teve uma musa ou uma grande colaboradora, a
exemplo do que aconteceu com Gish e Griffith, Katharine Hepburn e George Cukor
ou Bette Davis e William Wyler. De fato, em seu período hollywoodiano ele não
teve atores constantes, mas em seu período alemão é Ossi Oswalda a colaboradora
que personifica, perfeitamente, o charme das primeiras obras-primas de
Lubitsch.
We rarely think about Lubitsch as a director who had
a muse or top collaborator, like Griffith had Gish, George Cukor had Katharine
Hepburn or William Wyler had Bette Davis. Indeed, in his Hollywood years he
didn’t have constant collaborators, but in his German years it is Ossi Oswalda
the one performer who personifies, perfectly, the charm we find in Lubitsch’s
early masterpieces.
This is my contribution to the Dual Roles blogathon,
hosted by Ruth and Christina at Silver Screenings and Christina Wehner.com
6 comments:
This sounds completely charming! I have never seen a silent Ernst Lubitsch film, but I love his talkies and I love silent movies, so this seems like the perfect combination! :) As a big fan of Mary Pickford, I'm very curious to see Ossi Oswalda, too.
Thanks so much for joining us and highlighting this film!
Based on the terrific gifs you've posted, Ossi Oswalda appears to be utterly charming and beguiling. (And what lovely hair, too!)
I liked what you said about viewing this film with 1919 eyes, and not ruining the fun by asking too many modern-day questions. The guy doesn't want to get married? Just go with it, man.
Thanks for joining the blogathon and for introducing us (me) to The Doll! :)
Hi! This looks great! I definitely want to see if I can track it down to watch! Lovely post!
Once again you have introduced me to something rare and, obviously, delightful. A charming review, my friend.
Wow, this looks like a weird but fun movie! The poster is kind of disturbing ahaha.
I enjoyed your review as always :)
Btw, I've nominated you for a Sunshine Blogger Award! :)
https://thewonderfulworldofcinema.wordpress.com/2016/10/04/my-first-sunshine-blogger-award/
I have never seen a German comedy, but I was reminded of a German comedian I saw on an HBO special, who had, as part of his act, the line "We have ways to make you laugh". (Imagine that in an exaggerated Nazi German movie dialect..."Vee haff vays to make you laff..." The actress in this movie looks extremely attractive. Don't know where I could manage to scrounge up a copy of the film, but I will try.
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