} Crítica Retrô: December 2011

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Tuesday, December 27, 2011

Retrospectiva Retrô 2011

Bem vindos ao último artigo de 2011! Este foi um excelente ano para o blog, que ganhou seguidores e notoriedade, o que não foi alcançado em outros sete anos de trabalho não muito duro. Com um pouco de dedicação e profissionalismo, foi possível, em menos de 365 dias, conseguir 143 seguidores, mais de 500 comentários e, o mais importante, muitas trocas culturais com outros excelentes amigos blogueiros. Agora é hora de olhar para trás, destacar o que aconteceu de bom, aprender com alguns deslizes e continuar fazendo um trabalho de qualidade e prazeroso em 2012. Vamos lá?
Janeiro

O blog muda seu nome, endereço e visual, tornando-se “Crítica Retrô”, uma ideia que tive enquanto fazia uma prova (?!).  É neste mês também que são publicadas Astros nas Trincheiras: Parte 1 e Parte 2. Um curioso apanhado de histórias de artistas combatendo no front.

Fevereiro

Ganho um selo do Projeto Creativitè da Dani do blog Tela Prateada, e respondo a um divertido questionário. Gene Kelly aparece com frequência nos posts. Começa a série “Preparação para o Oscar”. Torno-me jurada do Júri de Cinéfilos do Cinebulição.

Março

É celebrado o centenário de Jean Harlow. Começa a série de cinebiografias, com destaque para “Mata Hari, grande atrativo de leitores. Lembramos a importância feminina no Dia Internacional da Mulher. Cinema e carnaval se encontram na avenida. A telona fica mais pobre e o mundo fica menos belo quando perdemos Elizabeth Taylor.

Abril

Recebo o prêmio Blogueiro Amigo da Márcia do blog Clássicos, não Antigos. O Grupo de blogs de Cinema Clássico é criado, uma excelente iniciativa. Três ods mais populares posts sobre cinebiografias são escritos: “Madame Curie”, “Gandhi” (este, o mais popular da história do blog) e “Chaplin”.

Maio

Acaba a série de cinebiografias e saem duas listas: uma sobre diferenças de idade entre atores e seus personagens e outra sobre atrizes baixinhas como esta que vos escreve. O Júri de Cinéfilos faz uma homenagem a Sidney Lumet, falecido em abril.

Junho

Uma mascote ganha destaque: o cãozinho Skippy. Os coadjuvantes também são lembrados, assim como os loucos e o romance retratado nos filmes através dos tempos, em comemoração ao Dia dos Namorados. Começo a escrever minha coluna quinzenal “Papel & Película”, sobre adaptações de livros para o cinema, no portal Leia Literatura.

Julho

Celebro o centenário de Ginger Rogers com um artigo sobre ela e, mais tarde, com uma crítica do filme Seis Destinos / Tales of Manhattan” (1942). A famosa música Cantando na Chuva é mostrada em nove filmes diferentes. Listo filmes sobre o Nazismo e a Guerra do Vietnã. Também escrevo um artigo sobre Orson Welles para o Júri.

Agosto

É a vez dos centenários de Robert Taylor, Lucille Ball e Nicholas Ray, com um dia de diferença entre eles. Em comemoração ao Dia dos Solteiros, escrevo sobre minhas divas solteiras favoritas: Greta Garbo e Lillian Gish, descobrindo algumas curiosidades sobre elas. Uma série de pessoas multitalentosas aparecem em uma lista sobre quem fez de tudo um pouco no cinema. E, por falar em talento, eu publico meu primeiro livro.

Setembro

Através de enquete, os leitores escolhem o filme “Assim caminha a humanidade / Giant” para ser esmiuçado. Mas não é só de coisas boas que vive o cinema, e prova disso é a lista de “Piores Traduções de Títulos”. O realizador alemão Wim Wenders dá o ar da graça com “Alice nas Cidades” (1974) e reflito como a moda praia foi influenciada por Esther Williams. Sou entrevistada no Grupo de Blogs de Cinema Clássico e escrevo um artigo sobre a série FRIENDS para o Cinebulição.

Outubro

Além de elencar os melhores finais do cinema, faço uma lista de coisas assustadoras dos filmes antigos, por ocasião do Halloween. E um filme mudo muito bom me impressiona, gerando uma crítica de tirar o fôlego, assim como a atuação de Lillian Gish em “Inocente Pecadora / Way down east”, de 1920.  Outra estrela a dar as caras é Carole Lombard, acompanhada de seus dois amores reais e um “inventado”.


Novembro

A Literatura e o cinema se entrelaçam na análise comparativa de Myra, de “A ponte de Waterloo / The Waterloo bridge” (1940) e Anna Karenina. Também é o mês em que discuto sobre a figura masculina no western e o grande astro do gênero, John Wayne. Fico com inveja dos felizardos que puderam ir ao TCM Classic Film Cruise. E há um desfile de estrelas em uma lista de all-star movies.


Dezembro

Assisto a uma chanchada e comento sobre este gênero cinematográfico brasileiro tão divertido. É Natal e também o aniversário do superastro Humphrey Bogart.


Foi isso que aconteceu de melhor em 2011. E que venha para todos os blogueiros e cinéfilos um 2012 cheio de novidades, alegrias, boas surpresas e excelentes filmes, de ontem e de hoje.

Monday, December 19, 2011

Humphrey Bogart: fatos rápidos


·Nasceu Humphrey DeForest Bogart, em Nova York, no dia de Natal (há controvérsias) de 1899 e faleceu em Los Angeles, em 14 de janeiro de 1957, com apenas 36 kg, vítima de câncer de esôfago. 
· Atuou em 78 filmes de longa-metragem, dois episódios de séries de TV e dois curtas. 

· No rádio, reprisou alguns de seus mais famosos papéis, como Sam Spade e Rick Blaine.
· Ainda bebê, teve sua imagem veiculada em uma campanha nacional da empresa Mellin’s Baby Food.
· Pensou em estudar medicina na Universidade De Yale, mas foi expulso da escola preparatória por comportamento rebelde.
· Começou a atuar em 1921 e fez várias peças na Broadway. Seu primeiro sucesso no cinema foi “A Floresta Petrificada / The Petrified Forest” (1936), também baseado em uma peça. Ele conseguiu o papel por insistência de seu amigo Leslie Howard.
· No começo da carreira, os bons papéis na Warner iam para George Raft, Edward G. Robinson ou James Cagney, deixando Bogart com o que sobrasse. Ironicamente, os primeiros trabalhos em que se destacou foram recusados por Raft, como “High Sierra” e “Casablanca”.
·Ganhou apenas um Oscar, por sua atuação em “Uma Aventura na África / The African Queen” (1951), em que contracena com a amiga Katharine Hepburn.  Foi indicado em mais duas oportunidades, por “A Nave da Revolta/ The Caine Mutiny” (1954) e “Casablanca” (1943).
· Em 1944, tão certo estava de que iria ganhar o Oscar por sua interpretação de Rick Blaine que se levantou antes de ser anunciado o vencedor. Quando percebeu que o ganhador tinha sido Paul Lukas, Bogart disfarçou e aplaudiu-o de pé.  
·Em 1949 ganhou o estranho prêmio Sour Apple como Ator que menos colabora (?!). Curiosamente, ele era muito atencioso com colegas que estivessem passando por dificuldades ou envolvidos em escândalos.
·Durante as filmagens de “Casablanca”, precisava usar saltos de 7,6 cm nos sapatos para disfarçar o fato de que era mais baixo que Ingrid Bergman. Longe das câmeras, o ciúme da terceira esposa o impedia de se aproximar de Ingrid. Mais tarde ela declarou: “Eu o beijei, mas nunca o conheci”.
·Participou da Primeira Guerra Mundial combatendo na Marinha. Na Segunda Guerra, ele costumava jogar xadrez (seu mais querido passatempo) por correspondência com soldados. Entre 1943 e 1944, ele fez parte da equipe de venda de bônus de guerra, viajando para a Itália e o Norte da África, incluindo Casablanca.
·Trabalhou em cinco ocasiões com o amigo John Huston: “Seu Último Refúgio / High Sierra” (1941, Huston era roteirista), “O Falcão Maltês / The Maltese Falcon” (1941), “O Tesouro de Sierra Madre / The Treasure of Sierra Madre” (1948), “Uma Aventura na África” (1951) e “O Diabo riu por Último / Beat the Devil” (1954).
· Durante as filmagens de “O Diabo riu por Último”, sofreu um sério acidente de carro, perdendo vários dentes e tendo a fala alterada. Para o que faltava do filme, teve de ter diálogos dublados por um hábil imitador: Peter Sellers.
·Apareceu em apenas cinco filmes coloridos: “Uma Aventura na África”, “A Nave da Revolta” (1954), “A Condessa Descalça / The Barefoot Contessa” (1954), “Não somos Anjos / We’re no Angels” e “Do destino ninguém foge / The Left Hand of God”, ambos de 1955. 
·Considerava sua melhor atuação “Uma Aventura na África” e a pior “Swing Your Lady”, um musical de 1938.
· Louise Brooks disse que o personagem que mais se assemelhava à personalidade de Bogart era Dix Steele, de “No Silêncio da Noite / In a Lonely Place” (1951).
·Abriu uma produtora em 1948, a Santana Productions (Santana era o nome de seu iate). Ele estrelou em cinco filmes da produtora, que acabou vendida para a Columbia devido ao fracasso de bilheteria de seus filmes.
·Foi casado quatro vezes, com quatro atrizes: Helen Menken, Mary Philips, Mayo Methot e Lauren Bacall.
·Quando conheceu Lauren, então uma modelo e aspirante a atriz de 19 anos, Bogart tinha 44. Foi durante as filmagens de “Uma Aventura na Martinica / To Have and Have Not” (1944), baseado em um livro de Hemingway e muito semelhante a “Casablanca”.
Bogart e Bacall permaneceram casados por 12 anos. Tiveram dois filhos: Stephen Humphrey Bogart (em alusão ao seu personagem em “Uma Aventura na Martinica”) e Leslie Howard Bogart (em homenagem ao amigo que o ajudou no início da carreira). Em 1988, Lauren apresentou o documentário “Bacall on Bogart”.
·Foi um dos fundadores do famoso grupo “Rat Pack”, em 1955. Ao ser questionada qual era a finalidade do grupo, Lauren Bacall respondeu: “Beber muito Bourbon e ficar acordado até tarde”. Depois da morte de Bogart, Frank Sinatra e sua turma não usaram mais o termo “Rat Pack”.
·Tendo fumado e bebido a vida toda, a saúde Bogart começou a se deteriorar nos anos 50. Em 1954, ele girava uma bolinha entre seus dedos durante as filmagens de “A Nave da Revolta” para compensar a falta do cigarro. Em 1956, retirou o esôfago, dois nódulos linfáticos e uma costela.
·Durante anos, era exibido na noite de Natal o filme “Nasce uma Estrela / A Star is Born”, de 1937, e Bogart chorava muito enquanto assistia. Ele disse que tinha medo de acabar como o personagem Norman Maine e que esperava muito mais de si mesmo, pois era um dos atores que mais tinha feito filmes ruins. Mesmo assim, ele foi escolhido como Melhor Ator de todos os tempos pela Entertainment Weekly e Maior Lenda do Cinema pelo American Film Institution.  

Thursday, December 15, 2011

As Mulheres / The Women (1939)

Muito mais do que uma suntuosa reunião do melhor do elenco feminino da MGM na década de 1930, tal filme é um verdadeiro campo de batalha em que essas talentosas mulheres se engalfinham. Em um all-star movie apenas com intérpretes do chamado “sexo frágil”, foi possível construir uma história divertida em que não poderia faltar ciúme, traição, fofoca, clichês do mundo das mulheres, mas também muito charme. 
Mary (Norma Shearer) fica sabendo, por meio de boatos espalhados em um salão de beleza, que seu marido está tendo um caso com a vendedora Crystal (Joan Crawford, nossa antagonista favorita). Já Sylvia (Rosalind Russell) tem como plano casar-se para em seguida se divorciar, sobrevivendo da pensão do marido. Quando Mary sai de casa, levando a filha em uma viagem de trem, ela conhece Mirian (Paulette Goddard), amante do marido de Sylvia, e a Condessa DeLave (Mary Boland) que, saindo de seu quarto casamento e usando como lema a expressão “l’amour, l’amour”, convida Mary a passar um tempo em um rancho, onde as mulheres vão para conseguir o divórcio mais rápido.
Só faltaram Greta Garbo e Myrna Loy
O filme se originou de uma peça de mesmo nome que estreou dois anos antes da produção cinematográfica. Para a adaptação, uma valiosa contribuição foi o escritor e por vezes roteirista F. Scott Fitzgerald que, contudo, não foi creditado. Outra responsável pelo roteiro foi Anita Loos, que escrevia desde os tempos do cinema mudo e pôs suas mãos em sucessos como “San Francisco” (1936) e “Os Homens preferem as Loiras / Gentlemen prefer Blondes” (1953).

Assim como na peça, no filme todo o elenco é do sexo feminino (incluindo os animais!), somando cerca de 130 mulheres em cena. As únicas exceções, bem pequenas, são o desenho de um touro no desfile de moda e um anúncio em uma revista. Com tantas garotas no mesmo lugar, não podia deixar de acontecer uma rixa: Norma Shearer e Joan Crawford não se deram muito bem. Quando as duas eram chamadas para fotografarem juntas para cartazes do filme, nenhuma atendia o chamado até George Cukor ir chamá-las pessoalmente, quando, então, se tratavam cordialmente. Joan fazia barulho tricotando enquanto Norma precisava de silêncio para rodar suas cenas. Quem disse que a primeira briga de Joan foi com Bette Davis em “O que teria acontecido a Baby Jane / Whatever happened to Baby Jane”? 

O diretor responsável por todas essas moças foi George Cukor, que um mês antes do início das filmagens foi despedido do elenco de “E o vento levou...”. Enquanto dirigia este filme, as atrizes Viven Leigh e Olivia de Havilland iam secretamente à casa dele para ensaiarem seus papéis no épico sobre a Guerra Civil. Curiosamente, ele estava dirigindo Joan Fontaine, irmã de Olivia, em “As Mulheres”.
Norma Shearer, já viúva do poderoso Irving Thalberg (morto prematuramente em 1936), era uma das maiores estrelas da época, sendo, em 1939, a única do elenco a ter um Oscar. Alguns de seus momentos são exagerados, bem ao estilo do cinema mudo, a exemplo da cena em que chora no colo da mãe. Em minha opinião de feminista, sua melhor fala é “I´ve had two years to grow claws, mother. Jungle red!” (Eu tive dois anos para as garras crescerem, mãe. Vermelho selvagem!”), indo lutar pelo marido. 

O elenco coadjuvante dá um show à parte. Paulette Goddard tem um de seus grandes momentos ao ser mordida por Rosalind Russell, quando esta descobre que ela é quem vai se casar com seu ex-marido. Para a divertida cena ambas as atrizes entraram no espírito: Paulette dispensou uma dublê e Roz mordeu-a com força, deixando uma cicatriz em sua perna.
Mesmo se tratando de uma comédia, o filme tem seus méritos ao mostrar a sociedade da época. De um lado estão as mulheres que caçam maridos, casam-se diversas vezes ou vivem de fofocas nos salões de beleza. De outro estão aquelas que decidem deixar uma vida infeliz a dois e recomeçar, não importa quão difícil isso seja, procurando um emprego e novos relacionamentos. Afinal, na década de 1930 as mulheres divorciadas ainda eram um pouco mal-vistas pela sociedade, em especial em lugares mais conservadores (o que nunca foi o caso de Hollywood).
Tendo estreado em 1939, o excelente filme ficou à sombra de estreias maiores, como “E o vento levou / Gone with the Wind”, “Gunga Din”, “O Morro dos ventos uivantes / Wuthering Heights” e “Ninotchcka”. Por isso, o filme não levou uma indicação sequer no Oscar.  Seu visual, porém, é muito belo, contando, ainda, com uma sequência primorosa a cores mostrando um desfile de modas. 

Em 1956 foi filmada uma versão musical do filme com o título “O Belo Sexo / The Opposite Sex”, tendo no elenco Agnes Moorehead, June Allyson e Ann Miller. No ano de 2008, mais uma vez a história foi levada às telas, com um elenco que incluía Debra Messing, Anette Bening, Meg Ryan e Bette Midler. Mesmo assim, nenhuma das duas produções conseguiu o mesmo charme do original. Mas elas mostram uma coisa: divas duelando são sempre bem vindas no cinema.

Monday, December 12, 2011

A primeira chanchada a gente nunca esquece

Em uma manhã nublada de domingo, minha mãe me deu um conselho: “Já que você gosta tanto de filmes antigos, você tem também de assistir às chanchadas!”. Resolvi seguir sua proposta e aproveitei para assistir ao filme que estava começando. Para minha alegria, foi uma divertida comédia de 1959: “Quem roubou meu samba?”. 
O compositor Atanásio Cruz vende, simultaneamente, um mesmo samba para duas gravadoras. Os executivos de ambas saem atrás da melodia, mas Atanásio sofre um acidente e perde a memória, esquecendo a música que compôs. Caberá ao detetive Leovegildo Coruja (Ankito) a tarefa de obter e memorizar a melodia do samba para a Gravadora Aurora. Já a Gravadora Gravapan, por sua vez, envia dois capangas para pegarem Atanásio e impedirem Leovegildo de realizar sua missão.
No meio deste louco enredo há espaço para alguns números musicais protagonizados por lendas do rádio brasileiro, como Ângela Maria, Marlene e Virginia Lane, e divertidas confusões em um hospital, envolvendo a enfermeira e namorada do detetive (Nancy Wanderley) e o faminto doente do leito 34 (Wilson Grey).
Ankito começou a carreira no circo do qual faziam parte seu pai e seu tio, ambos palhaços.Ele era acrobata e até ganhou algumas medalhas quando a atividade ainda era considerada um esporte. Depois de excursionar pela América Latina e Europa, seu sucesso nos palcos chamou a atenção da Atlântida e ele foi chamado para fazer uma participação no filme “É fogo na roupa”, de 1952. De início teria três minutos em cena, mas agradou e acabou filmando 39 minutos. A partir daí construiu uma carreira de sucesso, estrelando em 56 filmes de sucesso, além de alguns programas humorísticos na televisão. No filme, além de provocar boas risadas no público, Ankito também mostra toda sua ginga sambando.
O filme foi produzido pela Atlântida Cinematográfica, produtora fundada em 1941 que sobreviveu até 1962. Depois de quase dois anos produzindo cinejornais, a Atlântida estava pronta para voos mais altos, estreando o filme “Moleque Tião”. A partir daí foram feitas produções de grande apelo popular, alguns dramas bem recebidos pela crítica e as chanchadas, divertidas comédias musicais que muitas vezes parodiavam o cinema americano, a exemplo do que acontece em “Nem Sansão, nem Dalila” e “Matar ou Correr”, ambas de 1954.
A chanchada, como uma espécie de gênero cinematográfico, surgiu com uma das primeiras ficções do cinema brasileiro: “Nhô Anastácio chegou de viagem”, de 1908. Com a chegada do som, o carnaval foi incluído como elemento importante dos filmes produzidos pela Cinédia. A fórmula foi usada também pela Atlântida, com igual sucesso. Outras duas produtoras chegaram para competir, a Herbert Richers e a Cinelândia. Seus filmes, no entanto, tinham qualidade técnica inferior (o som das produções era, inevitavelmente, ruim) e enredos repetitivos. O surgimento do Cinema Novo e a popularização da TV nos lares brasileiros deram fim às chanchadas, já desgastadas pelo uso excessivo da fórmula que as consagrou.  
"Garotas e Samba", de 1957, considerada uma das últimas chanchadas de qualidade
A chanchada nunca foi muito bem aceita pelos críticos, que a consideravam um espetáculo inferior, mas atraía sempre as massas. Há uma teoria que afirma que o temo veio do espanhol, língua em que “chancho” significa porco; logo, “chanchada” significaria “porcaria”. No entanto, é inegável que esses foram os filmes que mais atraíram o público humilde, que gostava de ver sua realidade retratada nas telas. Com a presença de alguns bons malandros cariocas, perseguições, romance, números musicais e muita comédia, as chanchadas, a exemplo de “Quem roubou meu samba?”, continuam sendo uma excelente diversão despretensiosa.

Tuesday, December 6, 2011

Woody Allen: seu segredo é simplicidade

Fãs de carteirinha são os mais fiéis seguidores e admiradores do trabalho de um artista. Alguns conseguem reunir um séquito considerável de tietes mundo afora. Os segredos para tal façanha podem ser carisma, beleza, saber falar com as massas ou satisfazer o ego do público. A fórmula mágica de Woddy Allen, no entanto, não envolve nada disso. Seu segredo é a simplicidade.
Simplicidade que lhe permite fazer um filme por ano, com orçamento relativamente baixo e lucros relativamente altos. Que já lhe fez trabalhar com algumas das maiores estrelas de cada época e eleger uma série de musas memoráveis. Que o fez ganhar três prêmios Oscar, um de diretor (“Annie Hall”) e dois de roteiro (“Annie Hall” e “Hannah e suas Irmãs”). Que fez surgir nas telas filmes tocantes e criativos.
Woody começou aos 15 anos como escritor de colunas para jornais e programas de rádio. Em 1965, já famoso comediante, ele escreveu e estrelou em “Que é que há, gatinha? / What’s new, pussicat?”. No ano seguinte ele dirigiria seu primeiro filme, “O que é que há, tigresa / What’s up, Tiger Lily?”. Mas ainda demoraria para que Woody sentisse o gostinho da fama. Seu maior reconhecimento veio com a simpática comédia “Annie Hall”, em 1977, que conta com Allen e Diane Keaton nos papéis principais. Keaton ganhou o Oscar de Melhor Atriz na ocasião e seu estilo, levado às telas como parte do figurino da personagem, virou moda. E, mais do que isso: este filme inaugurou a história de amor de Woody Allen com Nova York.
A paixão pela Big Apple se viu refletida, mais ou menos explícita, em obras subsequentes, como “Manhattan” (1979), “A Era do Rádio / Radio Days” (1982) e “Hannah e suas Irmãs / Hannah and her Sisters” (1986). Outra marca registrada do diretor é seu alter-ego que se torna personagem. Muitas vezes foi ele mesmo que deu vida ao seu outro eu cinematográfico, um judeu baixinho, neurótico, irônico e com problemas de relacionamentos.
Em minha opinião, entretanto, não são esses filmes tão típicos de Woody Allen os seus melhores. Para mim, as honras cabem a seus dois filmes mais criativos: “Zelig” (1983) e “A Rosa Púrpura do Cairo / The Purple Rose of Cairo” (1985). Zelig, também o nome do personagem principal, é um documentário fictício em preto-e-branco sobre um estranho homem que, sendo muito inseguro, mimetiza a forma física e a personalidade de quem se encontra ao seu redor. “A Rosa Púrpura”, sem Allen atuando, é sobre uma modesta dona-de-casa (Mia Farrow) que tem como único prazer ir ao cinema. Após ver cinco vezes um filme, um personagem sai da tela para conhecê-la. Que cinéfilo não gostaria de estar no lugar dela?
A prova maior da simplicidade de Allen é a maneira como seus filmes são feitos. Os créditos iniciais e finais, ao contrário de outras produções contemporâneas e até mesmo anteriores, são apenas listas de nomes escritos em branco sobre fundos negros, ao som de jazz de primeira qualidade. Ele é, aliás, também clarinetista, apresentando-se com frequência em um clube nova-iorquino.

Woody Allen é um homem de diversas facetas. Combinando todas elas, criou filmes que entraram para a História do cinema, homenageando, em diversos deles, seus cineastas favoritos, como Bergman e Fellini. Simples e criativo, ele continua na ativa, deixando seus fãs sempre ansiosos por seus novos projetos.
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