} Crítica Retrô: January 2018

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Tuesday, January 30, 2018

Série Retrô: Mork & Mindy

Quando eu tinha uns 13 anos, eu tinha uma amiga cujo filme favorito era “Patch Adams – O Amor é Contagioso” (1994). Eu vi o filme, e imediatamente Robin Williams se tornou meu ator favorito. Felizmente, “Mork & Mindy”, o primeiro trabalho de Robin na TV, estava sendo transmitido na TV brasileira pela primeira vez. Três anos depois, o filme favorito da minha amiga tinha mudado para “Um Amor para Recordar” (2002), e meu ator favorito era então James Cagney. Eu perdi contato com esta amiga, mas meu ator favorito ainda é James Cagney – empatado c0m Lon Chaney. Mas este não é um post sobre mim nem minha amiga, mas sim sobre como eu aprendi a amar Robin Williams.

When I was about 13, I had a friend whose favorite movie was “Patch Adams” (1994). I watched it, and instantly Robin Williams became my favorite actor. It also helped that “Mork & Mindy”, his first work on TV, was being broadcasting Brazilian cable television for the first time ever. Three years later, my friend's favorite film had changed to “A Walk to Remember” (2002), and my favorite actor was then James Cagney. I lost touch with this friend, but my favorite actor is still James Cagney – tied with Lon Chaney. But this post is not about me or my friend, but about how I learned to love Robin Williams.
“Mork & Mindy” estreou na TV brasileira neste momento – por volta de 2006, quase 30 anos depois da série ir ao ar nos EUA. No Brasil, ela era parte do bloco de programação Nick at Nite, com outras séries vintage como “A Feiticeira”, “Jeannie é um Gênio”, “A Família Addams” e “Os Monstros”. A série estreou nos EUA em setembro de 1978, como um spin-off da popular “Happy Days” – Mork apareceu pela primeira vez em um episódio de Happy Days de fevereiro de 1978.

“Mork & Mindy” actually had its premiere on Brazilian TV the time I watched it – around 2006, nearly 30 years after it originally aired in the US. In Brazil, is was part of the Nick at Nite programming block, with other vintage series like “Bewitched”, “I Dream of Jeannie”, “The Addams Family” and “The Munsters”. The series premiered in the US in September 1978, and it was a spin-off from the popular series “Happy Days” – Mork had first appeared in a Happy Days episode in February 1978.
In "Happy Days"
Mork (Robin Williams) é um alienígena do planeta Ork que é mandado por seu superior, Orson – que foi, como você pode imaginar, batizado em homenagem a Orson Welles – para estudar a vida primitiva na Terra. Por primitivo você pode imaginar organismos pré-históricos, mas os animais que Mork vai analisar são na verdade dos americanos de classe média dos anos 70. Mork acaba morando de favor em Boulder, Colorado, com Mindy McConell (Pam Dawber), a filha do proprietário de uma loja de discos, Fred (Conrad Janis). A avó de Mindy, Cora (Elizabeth Kerr), também era presença constante na série.

Mork (Robin Williams) is an alien from planet Ork who is sent by his superior, unseen Orson, – who was, as you may imagine, named after Orson Welles – to study the primitive life on Earth. By primitive you may think about pre-Historic organisms, but the kind of animals Mork will analyze are middle-class Americans from the 1970s. Mork ends up boarding in Boulder, Colorado with Mindy McConell (Pam Dawber), the daughter of a record store owner, Fred (Conrad Janis). Mindy’s grandmother, Cora (Elizabeth Kerr), also made constant appearances.  
Por que uma adolescente como eu gostava tanto de “Mork & Mindy”? Mork era um alien ingênuo e com boas intenções vivendo disfarçado na Terra. Ele em geral criava situações cômicas porque não entendia os códigos de convivência e as tradições humanas. Neste sentido, Mork se parece muito com outro personagem que eu também estava aprendendo a amar quando eu tinha 14 anos, um personagem com o qual eu me identifico muito até hoje: Sheldon Cooper de “The Big Bang Theory”. 

Why did a teenager like me like “Mork & Mindy” so much? Mork was a naïve, well-meaning alien trying to live undercover on Earth. He often created funny messes as he misunderstood the codes of human behavior and human traditions. In this sense, Mork is a lot like another character I was learning to love when I was 14, a character with whom I identify a lot until today: Sheldon Cooper from “The Big Bang Theory”.
Young Sheldon = Mork
Eu também gosto muito do estilo extravagante de Mork e de tudo a respeito de Pam Dawber: rosto, sorriso, risada, cabelo e franja! O que eu também gosto em Mindy é que ela não é uma personagem excessivamente sexualizada, embora houvessem planos de torná-la mais sexy – planos aos quais tanto Pam Dawber quanto Robin Williams foram contrários. Ainda bem, porque Mindy é simplesmente perfeita do jeito que é – e é fácil se identificar com ela. Mindy é a pessoa séria na série.

I also really like Mork’s extravagant look and everything about Pam Dawber: her face, her smile, her laugh, her hairstyle, her bangs! What I also like about Mindy is that she isn’t an overly-sexualized character, although there were plans to make her sexier – plans that both Pam Dawber and Robin Williams opposed to. Thankfully, because Mindy is just perfect – and relatable. Mindy is the ‘straight guy’ in the show.
Obviamente, “Mork & Mindy” não seria inesquecível sem Robin Williams. O roteirista Brian Levant o descreveu como “um cara que incorporava todos os três irmãos Marx, Chaplin, os Três Patetas e William F. Buckley em um só corpo”. Williams era muito bom com comédia física e também com improvisação, duas coisas que passaram a inspirar os roteiristas. Para equilibrar o lado cômico, havia o relatório final que Mork sempre mandava para Orson, comentando sobre a vida na terra e fazendo críticas do ponto de vista de um forasteiro.

Of course, “Mork & Mindy” wouldn’t be remarkable without Robin Williams. Screenwriter Brian Levant described him as “one guy who embodied all three Marx brothers, Chaplin, the Three Stooges, and William F. Buckley in one body”. Williams was very good at physical comedy and ad-libbing, things that writers drew inspiration from.  To balance with the comedy there was the final report Mork always sent to Orson, commenting about life on Earth and making some critics from the point of view of an outsider.
A série foi muito popular na primeira temporada – tão popular que Ginger Rogers se tornou fã e esteve presente em muitos ensaios. A série gerou um remake brasileiro em 1979 – provavelmente a razão de “Mork & Mindy” não ter sido exibida até 2006 foi porque o remake, “Super Bronco”, era uma cópia deslavada. Apenas os nomes das personagens foram mudados, todas as situações e detalhes eram os mesmos. “Super Bronco” foi um sucesso, mas foi cancelada após uma temporada.

The show was incredibly popular on its first season – so popular that Ginger Rogers became a fan attended many rehearsals. The series was remade in Brazil in 1979 – probably the reason why “Mork & Mindy” was never broadcasted until 2006 was that the remake, “Super Bronco”, was a shameless rip-off. Only the characters’ names were changed, all the situations and plot details were the same. “Super Bronco” was a success, but was cancelled after one season.
Original
SHAMELESS RIP-OFF
A maior razão por trás da queda de popularidade de “Mork & Mindy” foi provavelmente algo que estraga muitas séries: a insistência em focar em um relacionamento romântico entre os protagonistas. Com o tempo, Robin Williams perdeu o interesse em interpretar Mork – e isso ficou visível na tela. Mesmo assim, a série ainda é lembrada com carinho por aqueles que a viram, e nós seremos eternamente gratos porque ela apresentou a genialidade de Robin Williams para o mundo.

The biggest reason for “Mork & Mindy”’s downfall was probably something that makes many shows jump the shark: the insistence on focusing on a romantic relationship between the leads. With time, Robin Williams lost interest in playing Mork – and it showed on screen. Nevertheless, the show is still fondly remembered by those who watched it, and we’ll be forever thankful because it presented Williams’s geniality to the world.


This is my contribution to the Robin Williams blogathon, hosted by Gill and Crystal at RealWeegieMidget Reviews and In the Good Old Days of Classic Hollywood. Nanu, Nanu!

Sunday, January 28, 2018

Busby Berkeley em cores / Busby Berkeley in color

Os diretores podem adicionar sua marca registrada nos filmes que fazem. O mesmo acontece com atores, alguns roteiristas, cenógrafos e figurinistas. Mas pouquíssimos coreógrafos conseguiram adicionar uma marca registrada aos filmes em que trabalharam. Eu consigo pensar em apenas um que conseguiu fazer isso, e criar um estilo fácil de reconhecer: Busby Berkeley.

Directors can add their touch to the films they work in. The same happens to actors, some screenwriters, set designers and costume designers. But very few choreographers were able to add an indelible touch to the films they worked in. I can think about only one who was able to do that, and create a recognizable style: Busby Berkeley.
Sempre que pensamos em Busby Berkeley, pensamos em preto e branco. Seus filmes mais conhecidos foram feitos no começo dos anos 30, durante a era pre-Code, nos estúdios Warner Bros. Entretanto, ele também levou suas danças caleidoscópicas para filmes em cores, antes e depois do auge de sua carreira. E o efeito foi impressionante como de costume – e talvez até um pouco mais surpreendente.

Whenever we think about Busby Berkeley, we think in black and white. His most famous movies were made in the early 1930s, during the pre-Code era, at the Warner Bros Studios. However, he also worked, with his kaleidoscopic routines, in color films before and after his heyday. And the effect was as impressive as always – if not more.
O primeiro filme em que Busby Berkeley trabalhou foi “Whoopee!”, de 1930, produzido pelo próprio Florez Ziegfeld e Samuel Goldwyn. As estrelas são Eddie Cantor, Paul Gregory e Eleanor Hunt. A maioria do elenco e equipe veio da montagem da peça na Broadway – os direitos da peça foram vendidos por Ziegfeld para Goldwyn logo após a quebra da bolsa de valores de 1929.

Busby Berkeley’s first film was 1930’s “Whoopee!”, a film produced by Florenz Ziegfeld – the man himself – and Samuel Goldwyn. It stars Eddie Cantor, Paul Gregory and Eleanor Hunt. Most of the cast and crew came from the Broadway production of the play, whose rights were sold from Ziegfeld to Goldwyn after the 1929 stock market crash.
Em “Whoopee!” lemos os créditos ‘danças e coro coreografados por Busby Berkeley’. Temos de esperar apenas três minutos para uma sequência de canto e dança, e aí já nos encontramos em território familiar: é o mesmo Busby Berkeley que conhecemos e amamos, com as formas geométricas criadas pelos dançarinos e capturadas por uma câmera suspensa. A única diferença é que a sequência é em cores – em two-strip Technicolor.

In “Whoopee!” we read the credits ‘dances and ensembles staged by Busby Berkeley’. We have to wait only three minutes to have a song and dance sequence, and we find ourselves in familiar territory: it’s the same Busby Berkeley style we know and love, with geometric shapes created by the dancers and captured by the camera from above. The only difference is that it’s in color – two-strip Technicolor.
Este primeiro número de dança é o que mais se aproxima do trabalho posterior de Berkeley – os outros números são muito tímidos e contidos. Perto do fim temos também uma pequena formação em caleidoscópio com índias. E estes são os destaques de um filme muito divertido que tem alguns momentos vergonhosos para manchar sua reputação – uma palavra: blackface.

This first dance sequence is the closest we have from Berkeley’s later work – other ensemble numbers in the film look too timid in comparison. Near the end we also have a small kaleidoscopic formation with Indian girls. These are the highlights of a funny and enjoyable film that has a few shameful moments to stain its reputation – one word: blackface.
Eu adoro o Technicolor primitivo (chamado também de two-strip Technicolor). Como as cores principais neste processo são vermelho e verde, o resultado final é um filme predominantemente bege e cheio de detalhes rosados – destaque para as bochechas e as roupas das dançarinas. O efeito não é psicodélico, mas sim delicado – e não podemos nos esquecer de que a cópia de “Whoopee!” que temos hoje já se desgastou e tem uma aparência diferente da que tinha em 1930, quando o filme foi um sucesso de bilheteria.

I love two-strip Technicolor – probably more than I should. Because red and green were the main colors recorded in the process, the final result was a beige-ish film full of rosy details – like the chorus girls’ cheeks and clothes. The effect is not psychedelic, but delicate – and we shall not forget that the copy of “Whoopee!” we have today has faded in comparison to what it looked like in 1930, when “Whoopee!” was a box-office hit.
Busby Berkeley trabalharia novamente em um filme a cores apenas nos anos 40. Ele havia sido ‘emprestado’ para a 20th Century Fox para criar alguns números de dança hipnóticos para “Entre a Loura e a Morena” (1943). Além de criar estes efeitos incríveis com luzes coloridas, Busby teve seu momento mais ousado e psicodélico com o número ‘The Lady in the Tutti Frutti Hat’. Frutas gigantes foram parte da coreografia e a extravagante Carmen Miranda se mostrou a peça perfeita para ficar no centro do caleidoscópio de Busby Berkeley.

Busby Berkeley would only work in color films again in the 1940s. He was working as a loan to 20th Century Fox when he developed some hypnotic dance numbers for “The Gang’s All Here” (1943). Besides creating some amazing effects with colorful lights, Busby had his most daring and psychedelic moment in the number ‘The Lady in the Tutti Frutti Hat’. Giant fruits were part of the choreography and extravagant Carmen Miranda showed she was a perfect piece to be in the center of Berkeley’s kaleidoscope.
De volta à MGM, Busby Berkeley trabalhou em “Romance em Alto Mar” (1948) e “A Bela Ditadora” (1949). Ambos os filmes têm números de dança com uma profusão de cores, mas nada que se compare ao trabalho pregresso de Berkeley. Há sequências charmosas e com boa coreografia, mas está faltando o toque de Berkeley.

Back at MGM, Busby Berkeley worked at “Romance on the high Seas” (1948) and “Take Me Out to the Ballgame” (1949). Both are films with colorful dance sequences, but nowhere as bold as Berkeley used to do. There are charming, well-choreographed sequences, but not the Berkeley touch.
Berkeley teve mais uma chance de mostrar seu talento para criar coreografias geométricas – e fez isso dentro d’água: o filme foi “A Rainha do Mar” (1952). Este é um aqua-musical e também a cinebiografia da nadadora e estrela de cinema Annette Kellermann. A estrela do filme é Esther Williams, e os números criados por Berkeley são de tirar o fôlego. Somos capazes de reconhecer o estilo dele quando centenas de homens e mulheres que mergulham, nadam e criam formas geométricas em piscinas enormes. Berkeley e Esther Williams trabalharam juntos novamente no ano seguinte em “Fácil de Amar”.

Berkeley had one more chance to showcase his talent for creating geometric choreographies – and he did it at the water: the film was “Million Dollar Mermaid” (1952). It is an acqua-musical and also the biopic of swimmer and film star Annette Kellermann. The star of the movie is Esther Williams, and the numbers staged by Berkeley are just breathtaking. You can recognize his style as hundreds of girls and men dive, swim and create geometric shapes in huge pools. Berkeley and Esther Williams worked together again the following year in “Easy to Love”. 
O último filme de Busby Berkeley foi “A Mais Querida do Mundo” (1962). Ele faleceu 14 anos depois, aos 80 anos. Embora seus trabalhos mais conhecidos possam ser vistos apenas em preto e branco, ele felizmente trabalhou também em filmes em cores, e teve a chance de fazer seu talento brilhar em Technicolor. Estes filmes em cores são o que temos de mais próximo do trabalho de Busby Berkeley nos palcos da Broadway, e devemos agradecer pela oportunidade de ter Berkeley imortalizado em película também em cores.

Busby Berkeley’s last film was “Billy Rose’s Jumbo” (1962). He died 14 years later, in 1976, when he was 80. Although his most famous work can only be seen in black and white, he luckily also worked in color films, and was able to make his talent shine in Technicolor. These colorful films are the closest we’ll have from Busby Berkeley’s work on the Broadway stage, and we must be thankful for the opportunity to have Berkeley immortalized on celluloid also in color. 

This is my contribution to the Busby Berkeley blogathon, hosted by Hometowns to Hollywood.

Wednesday, January 3, 2018

Meu Querido Maluco (1941) / Love Crazy (1941)

Há pouco mais de sete anos, eu me formei no ensino médio e fiz a melhor escolha da minha vida: decidi não ir à formatura e passar a noite vendo dois filmes clássicos na TV. Um desses filmes era o peculiar faroeste “Johnny Guitar” (1954). O outro filme era “A Ceia dos Acusados” (1934) – e foi ele que me apresentou Myrna Loy e William Powell.

A little over seven years ago, I graduated high school and made the best decision of my life: I decided to not attend prom and watch two classic films on TV instead. One of these films was the unusual western “Johnny Guitar” (1954). The other film was “The Thin Man” (1934) – the one that introduced Myrna Loy and William Powell to me.
Os fãs de cinema clássico não podem negar que Powell e Loy são, especialmente quando interpretam Nick e Nora Charles, um exemplo de casal 20. Juntos, eles fizeram 14 filmes, e é uma árdua tarefa escolher o melhor deles. “Meu Querido Maluco”, de 1941, certamente fica entre os 5 melhores porque trata de um assunto que ninguém relaciona com Powell e Loy: o divórcio.

Classic film fans can’t deny that Powell and Loy, especially when playing Nick and Nora Charles, are #relationshipgoals. Together, they made 14 films, and it’s hard to choose the best of the bunch. And “Love Crazy”, from 1941, is among the TOP 5 because it deals with a subject you wouldn’t associate with Powell and Loy: divorce.
É o quarto aniversário de casamento de Steve (Powell) e Susan Ureland (Loy). Eles têm um jeito tradicional de comemorar a data, mas decidem fazer tudo ao contrário... até que a situação foge do controle. Primeiro a mãe de Susan (Florence Bates) chega com um tapete como presente e uma carta para Steve enviar.

It's Steve's (Powell) and Susan Ireland's (Loy) fourth wedding anniversary. They have a traditional way to celebrate, but decide to do it backwards... until everything goes out of control. First Susan's mother (Florence Bates) arrives with a rug as a gift and a letter for Steve to send.
Depois Steve encontra uma velha conhecida, Isobel (Gail Patrick), no elevador, e descobre que eles moram no mesmo andar do prédio – e também descobre que, mesmo sendo casada, Isobel ainda está interessada em conquistar Steve.

Then Steve meets an old acquaintance, Isobel (Gail Patrick), at the elevator, and finds out they now live in the same floor – oh, and also that, even though she is married, Isobel is still interested in pursuing Steve. 
A mãe de Susan, como é de se esperar, é a primeira a reparar que há algo estranho no comportamento de Steve durante e depois do jantar. Quando Susan precisa sair por algumas horas para pegar uma tia na estação de trem, Steve precisa fazer companhia para a sogra. Seguindo o velho estereótipo, ela se mostra uma mulher insuportável, e Steve mente dizendo que vai ver um amigo, mas na verdade sai com Isobel.

Susan's mother, as expected, is the first one to point out that something in Steve's behavior during and after dinner is weird. When Susan has to go out for a couple of hours to get her aunt at the train station, Steve has to stay with his mother-in-law. Following the old trope, she proves to be an unbearable woman, and Steve lies saying he'll meet a friend, but in fact he goes out with Isobel.
Quando Susan descobre como Steve passou a noite, ela fica furiosa. O que se segue é uma sequência muito engraçada envolvendo uma confusão de identidades, e finalmente Susan decide pedir o divórcio. Para que a decisão do tribunal demore o máximo possível, Steve finge ter enlouquecido.

When Susan finds out how Steve spent the evening, she gets mad. A very funny follow-up with a few mistaken identities follow, and finally Susan decides to file for divorce. In order to postpone the divorce from going to court, Steve pretends to be insane.
William Powell está simplesmente perfeito como Steve. “Meu Querido Maluco” é um dos pontos altos de sua longa carreira – Powell trabalhou no cinema de 1922 a 1955, em diversos gêneros. Ele era charmoso, às vezes assustador, e tinha um timing especial para a comédia. Neste filme ele tem falas divertidíssimas e, bem, este momento:

William Powell is nothing but delightful as Steve. “Love Crazy” is a highlight in a long career – Powell worked in films from 1922 to 1955, in several genres. He was charming, sometimes scary, and had a special timing for comedy. In this film he has wonderfully funny lines and, well, this moment:
Já falamos o suficiente sobre Myrna e Bill – vamos falar agora sobre os coadjuvantes. Logo no começo do filme, fique com os olhos bem abertos e você verá que o jovem ascensorista é ninguém menos que Elisha Cook Jr. Jack Carson é Ward Willoughby, morador do mesmo prédio em que Steve, Susan e Isobel vivem. Lá pela metade do filme, você verá que a matrona dona da festa, Mrs. Bristol, é interpretada por Kathleen Lockhart, que era esposa de Gene Lockhart e mãe de June Lockhart. Vladimir Sokolof, ator russo que também trabalhou na Alemanha, interpreta um médico, e outro membro da equipe médica é interpretado por Edward Van Sloan, que fez Van Helsing em “Drácula”, de 1931. A secretária ajudando os médicos é May McAvoy, antiga protagonista de filmes mudos, como “Ben-Hur” (1925).

Enough about Myrna and Bill – let’s talk about the supporting cast. In the beginning of the movie, keep your eyes sharp and you'll realize the elevator boy is no other than Elisha Cook Jr.. Jack Carson is Ward Willoughby, also a resident of the building Steve, Susan and Isobel live in. By the middle of the movie, you'll see the matron at the party, Mrs. Bristol, played by Kathleen Lockhart, who was Gene Lockhart's wife and June Lockhart's mother. Vladimir Sokoloff, Russian actor who also worked in Germany, plays a doctor and you'll also find a doctor played by Edward Van Sloan, who was Van Helsing in 1931's “Dracula”. The secretary helping the doctors is May McAvoy, former leading lady in silents like “Ben-Hur” (1925).


Steve e Susan têm tradições e atitudes peculiares, assim como Nick e Nora. Talvez um hipotético divórcio de Nick e Nora se parecesse muito com o que vemos em “Meu Querido Maluco” – embora eu duvide que Nora possa ser tomada pelos ciúmes. Na verdade, Nora provavelmente riria da ideia de que o marido a traiu, pediria um Martini para si e outro para Nick, e continuaria curtindo a vida.

Steve and Susan are as peculiar in their traditions and actions as Nick and Nora. Maybe a Charles vs. Charles divorce would be just like the one in “Love Crazy” – although I doubt that Nora Charles could be consumed by jealousy. Actually, Nora would laugh all the suspicions off, ask a Martini for her, another for Nick, and would keep on enjoying life.
Meu Querido Maluco” é mais uma das comédias sobre divórcio que – você já deve estar imaginando – não termina em divórcio. Claro que não poderia terminar assim: Powell e Loy tinham muita química, e o apelido de Loy era “A Esposa Perfeita”. Mais uma vez ela teve de provar que era uma nas telas, mostrando como uma esposa deve confiar no marido e aceitar as esquisitices e até criancices dele.

Love Crazy” is another divorce comedy that – I bet you already know – doesn’t end in divorce. Of course it couldn’t: Powell and Loy had great chemistry, and Loy’s nickname was “The Perfect Wife”. Once again she proved she was one onscreen, showing how a wife must trust her husband and keep up with his shenanigans or even childishness.
Meu Querido Maluco” deveria figurar entre as melhores comédias já feitas – em muitos momentos, o filme me fez rir mais do que “Cupido é Moleque Teimoso” (1937). Além de ter uma dupla perfeita e um ótimo grupo de coadjuvantes, ainda há as falas engraçadas e uma boa quantidade de comédia física. Mesmo que tenham se passado mais de 75 anos de sua estreia, podemos dizer que “Meu Querido Maluco” ainda é adorável, amalucado e muito divertido.

Love Crazy” should be among the best screwball comedies ever made – some moments made me laugh harder than I did with “The Awful Truth” (1937). It not only has the perfect duo and a great supporting cast, but also very funny lines and a good amount of physical comedy. Even if more than 75 years have passed after its initial release, we can say something: “Love Crazy” is still lovely, zany and extremely funny.

This is my contribution to the Bill and Myrna New Year’s blogathon, hosted by Emily and Laura at The Flapper Dame and Phyllis LovesClassic Movies.

Monday, January 1, 2018

Resoluções cinematográficas 2017 – Resultado / 12 classics for 2017 – results

Eu falhei.

I failed.
Pela primeira vez desde que me comprometi a cumprir esta tarefa hercúlea, três anos atrás, eu falhei e não assisti a todos os filmes da minha lista. E não foi minha culpa: eu simplesmente não consegui encontrar uma cópia de “Cilada Amorosa” (1929). Ele nunca saiu em DVD onde eu moro e eu não consegui encontrar o filme mesmo através de, hum, meios nem sempre legalizados. Mas eu não desisti: ainda estou procurando por “Cilada Amorosa” como quem procura o Santo Graal, e um dia eu assistirei ao filme e completarei esta lista.

For the first time since I took on this yearly Herculean task, three years ago, I failed to watch all the films on my list. And it was not my fault: I simply couldn't find a copy of “The Love Trap” (1929). It was never released on DVD where I live and it couldn't even be found in, er, less than legal ways. I haven't given up: I'm still looking for “The Love Trap” as one looks for a Holy Grail, and one day I intend to watch it and complete my list.

Agora, vamos esquecer minha vergonha por um momento e ler minhas impressões sobre cada clássico que eu vi pela primeira vez em 2017:

Now, let's forget my shame for a while and read my thoughts on each of the classics I saw for the first time in 2017:

Judith of Bethulia (1914): Esta é a história bíblica de como Jerusalém foi salva quando a mística Judith (Blanche Sweet) seduziu e matou o príncipe Holofernes (Henry B. Walthall.) Não seo fã de Griffith, e não estava tão familiarizada com a história quanto o público de 1914 provavelmente estava, mas este filme me lembrou do estilo das novelas da Record.

Judith of Bethulia (1914): This is the biblical story of how Jerusalem was saved when mystical Judith (Blanche Sweet) seduced and killed prince Holofernes (Henry B. Walthall). I’m not a Griffith fan, and I was not as familiar with story as the 1914 moviegoers probably were, but this film reminded me of the production values of a corny biblical soap opera.
Himmelskibet (1918): É basicamente o que o título em inglês diz – uma viagem para Marte – mas é muito impressionante para algo feito em 1918. E é ainda mais surpreendente o fato de que eles acertaram o tempo que leva uma viagem da Terra à Marte – cerca de seis meses! Os efeitos especiais são muito bons, e você se surpreenderá ao descobrir como os marcianos vivem. Eu também adorei os nomes dos personagens em Latim – Planetaros, Corona, Dubius.

A Trip to Mars / Himmelskibet (1918): It’s basically that – A Trip to Mars – but very impressive for 1918. And it’s even more impressive that they got right the time to travel from Earth to Mars – about six months! The special effects are very good, and you’ll be surprised to find out how Martians live. I also loved the Latin names– Planetaros, Corona, Dubius.
A Morte Cansada / Der Müde tod (1921): Este feito só poderia ter sido feito durante o Expressionismo Alemão. Em Hollywood, o filme teria um final feliz, mais facilmente digerível, mas nada realista. Na Alemanha, a história da mulher (Lil Dagover) que tenta salvar uma das três almas em diferentes lugares e épocas com o intuito de trazer seu amado de volta dos mortos é contada com perfeição – como se “Intolerância” (1916) tivesse sido bem feito.

Destiny / Der Müde Tod (1921): This film could only be made during the German Expressionism movement. In Hollywood, it would have been pushed to a palatable, but not realistic, happy ending. In Germany, the story of a woman (Lil Dagover) who tries to save one of three souls in different places and times to have her boyfriend back from the dead is perfectly developed – like an “Intolerance” (1916) done right.
L’Inhumaine (1924): A história envolve uma cantora fria, Claire (Georgette Leblanc) e seus muitos admiradores. Há um toque dramático e ao fim o filme se transforma em ficção científica. Mas os cenários são a verdadeira atração: idealizados por dois diretores de arte (o brasileiro Alberto Cavalcanti e o francês Claude Autant-Lara), os cenários são ousados, futuristas, assimétricos, cubistas, assustadores e tão impressionantes quanto os de “Metrópolis” (1927) – ou até um pouco mais.

The New Enchantment / L’inhumaine (1924): The story involves a cold singer, Claire (Georgette Leblanc) and her many admirers. There is a dramatic touch and then it becomes science fiction. But the sets are the real attraction here: designed by two art directors (Brazilian Alberto Cavalcanti and French Claude Autant-Lara), they’re bold, futuristic, cubist, asymmetric, awe-inducing and as impressive as the sets in “Metropolis” (1927) – maybe even more.
Uma Página de Loucura (1926): Este clássico japonês é contado sem intertítulos e é, por causa disso e de outras coisas, fascinante. O final é maravilhoso, e trata-se de um filme que você deve assistir muitas vezes para apreciá-lo por completo. Leia minha crítica completa AQUI.

A Page of Madness (1926): This Japanese classic is told without intertitles and is, because of this and other things, fascinating. The ending is wonderful, and it is one film you should watch many times to fully appreciate it. My full review is HERE.
Aurora / Sunrise (1927): Eu devo confessar que na metade do filme pensei ser estranho e até sexista o fato de que a esposa (Janet Gaynor) havia perdoado o marido (George O’Brien) e estava se divertindo muito com ele algumas horas depois de ele ter tentado matá-la. Mas então os 15 minutos finais me deixaram sem palavras. Que surpresa. Bravo, Murnau, você merece ser aplaudido de pé.

Sunrise (1927): I must confess that in the middle of the film I thought it was weird and even sexist the fact that the wife (Janet Gaynor) forgave her husband (George O’Brien) and was having the time of her life with him some mere hours after he tried to kill her. But then the final 15 minutes came and OH MY. What a plot twist. Bravo, Murnau, I ended up giving you a standing ovation.
Cilada Amorosa / The Love Trap (1929)

Ver para Crer / Why Be Good? (1929): Este filme tem um subtexto feminista e Colleen Moore arrasa na pista de dança. Ela é Pert Kelly, uma vendedora que adora festejar – e cuja reputação a prejudica quando o filho de seu patrão (Neil Hamilton) se apaixona por ela. Eu pretendo escrever mais sobre este filme.

Why Be Good? (1929): This film has a feminist subtext and Colleen Moore rocks some dance movements. She’s Pert Kelly, a salesgirl who loves to party – and whose reputation precedes her when the boss’s son (Neil Hamilton) falls in love with her. I intend to write more about this movie.
O Presídio / The Big House (1930): Este filme foi escrito por Frances Marion – a primeira mulher a ganhar um Oscar de roteiro e também a primeira mulher a ganhar um Oscar em categorias diferentes da atuação. É a história de Kent (Robert Montgomery), que dirigia embriagado e matou um homem atropelado, e seus companheiros de cela durões: Butch (Wallace Beery) e Morgan (Chester Morris). O filme também deu a Douglas Shearer o primeiro Oscar de Mixagem Som da história.

The Big House (1930): This film was written by the great Frances Marion – the first woman to win a Screenplay Oscar and also the first woman to win a non-acting Oscar. It’s the story of Kent (Robert Montgomery), who killed a man by driving drunk, and his though cell companions: Butch (Wallace Beery) and Morgan (Chester Morris). The film also gave Douglas Shearer the first Best Sound Mixing Oscar ever.
Glória e Poder / The Power and the Glory (1933): É Cidadão Kane oito anos antes de Cidadão Kane – ou quase isso. Este filme tem um excelente roteiro – obrigada, Preston Sturges! – e traz Colleen Moore naquele que é provavelmente seu melhor momento. Crítica completa AQUI.

The Power and the Glory (1933): It is Citizen Kane eight years before Citizen Kane – kind of. This film is beautifully written – thanks, Preston Sturges! – and showcases Colleen Moore at probably her best moment. Full review HERE.
A Mulher de Branco / Woman in White (1948): É místico, e se parece muito com um conto de fadas noir. O filme também trata de alienação e roubo. Crítica completa AQUI.

Woman in White (1948): It’s mystical, and it’s much like a noir fairy tale. It also involves alienation and robbery. Eleanor Parker is amazing. Full review HERE.
Papai é do Contra / Hobson’s Choice (1954): Charles Laughton está ótimo como o conservador Hobson, mas eu gostei especialmente de Brenda de Banzie como sua esperta filha mais velha e do brilhante John Mill como um funcionário talentoso porém ingênuo. Crítica completa AQUI.


Hobson’s Choice (1954): Charles Laughton is great as old-fashioned Hobson, but I especially loved Brenda de Banzie as his smart older daughter and brilliant John Mills as a talented but naïve employee. Full review HERE.
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